em minhas pesquisas sobre a era Vitoriana Inglesa para criação da série 'CUPIDOS EM DEVON', vira-e-mexe me deparo com modelos anatômicos do corpo feminino.
Autópsia, 1890, de E. Simonet |
Hoje ainda somos, né non?
Os Vitorianos têm uma pitada de morbidez, acho que por conta da evolução tão rápida por que passaram, ou por causa de Jack o estripador que aterrorizou Londres no final da década de 1880, ou talvez, para mim, pela mania de copiar a realidade com artigos artificiais. Sei lá, algumas coisas me dão nervosinho.
Vou listar aqui modelos anatômicos do corpo feminino (alguns) usados por estudantes de medicina, aprendizes de apotecários, parteiros (sim, homens parteiros. Os da família Chamberlen eram bem famosos, p.e.. Inventaram o fórceps e mantiveram segredo por décadas dizendo que tinham maneira mágica de trazer crianças ao mundo.), etc.
Parteiros sempre enfrentaram desconfiança por serem homens cuidando de mulheres na hora H, pela falta de decoro da ação, resistência das parteiras senhoras donas do ofício, pela charlatanice. Ainda hoje há preconceito com enfermeiros na ala de maternidade, imagine no século XIX.
algumas parteiras notáveis
Bridget "Biddy" Mason, nascida em escravidão, foi parteira.
Processou seu dono pelas liberdades de família incluindo a dela própria em 1856
Uma das primeiras mulheres afro-americanas a possuir
propriedade em Los Angeles, CA.
Angélique Marguerite Le Boursier du Coudray
ou, Madame du Courdray,
foi uma parteira influente e pioneira durante, ganhou fama
quando os homens assumiram o campo.
Em 1759 publicou livro sobre partos.
Saiu da classe média para ser notada e contratada pelo próprio rei Luís XV.
Charlotte Heidenreich von Siebold, a parteira que participou do nascimento da rainha Vitória em 1819 no Palácio de Kensington e também do Príncipe Albert, seu futuro esposo, no mesmo ano no Palácio de Rosenau em Coburg. Coincidência, né? Eram primos, ela era parteira famosa e competente... |
O parto era um mistério domado, pero no mucho. O caso desastroso do parto mau sucedido orquestrado por Sir Richard Croft, baronete médico, que não conseguiu garantir a vida da Princesa Charlotte e seu bebê em 1817 foi tão falado, tão estudado, que gerou um avanço na tecnologia de partos.
Princesa Charlotte Augusta, filha de George - o infame Príncipe Regente, futuro Rei foi George IV |
Na série Victoria, Prince Leopold, o tio de Albert marido de Vic, conta dessa tristeza volta-e-meia... Um horror.
"Duas gerações se foram - em um momento!
Eu senti por mim mesmo, mas também senti pelo príncipe regente.
Minha Charlotte foi embora do país - ela a perdeu. Ela era boa, ela era uma mulher admirável. Ninguém poderia conhecer minha Charlotte como eu a conhecia.
Era meu estudo, meu dever, conhecer seu caráter, mas também era meu deleite."
Príncipe Leopold para Sir Thomas Lawrence após a morte dela.
Estátua de mármore em honra da princesa Charlotte na Capela de São Jorge, no Palácio de Windsor Repare que todos choram ao pé da falecida, anjos carregam o bebê em direção ao céu. Tão triste esse monumento... Financiado pelo povo, tamanha foi a comoção. pic de pinterest |
Essa tragédia ocorreu com a herdeira do trono, imagina com o povo comum o que não ocorria?
Por isso os modelos eram tão populares.
Estudar no corpo humano era pecado
Na série Crônicas de Frankenstein se discute muito a lei 'Anatomy act'. Isso é uma coisa que adoro em romances e produções de época, a chance de mostrar fatos reais! Nos CUPIDOS EM DEVON tem um mooooonte disso! Segundo o Wiki, a 'Lei da Anatomia' de 1832 do Parlamento do Reino Unido deu licença a médicos, professores de anatomia e estudantes de medicina para dissecar corpos doados. Foi promulgada em resposta à repulsa pública no comércio ilegal de cadáveres. Bicho, eles eram beeem mórbidos...
Então, estudar o corpo humano era tabu enorme - especialmente o feminino. Saber as partes da vulva e da vagina, como funcionava útero e ovários, trompas! Oh, as safadas trompas!
Daí porque haviam tantos modelos artificiais. Se não era um corpo real, não era pecado, era só ciência. O tabu moral deixava de existir...
E alguns eram tão belos, chamadas de Vênus, deusa do amor da beleza em Roma... Li em algum lugar (que não consegui achar agora) que haviam cientistas que tinham relacionamentos com suas bonecas. É isso mesmo... dureza de ler e pensar.
Cruzes! Mórbidos, não disse?
Vamos aos modelos:
A 'máquina' de Mme. du Courdray. sec XVII wiki |
Também da francesa Courdray 4synapses |
Vênus anatômica, tão bela... Usavam até cabelo real. do Josephinium Museum de Viena |
de outro ângulo. Cordão de pérolas e cabelos arrumados... pic to pinterest |
mais uma, de vários modelos juntos, cada uma em sua caminha... Virge em Cruz! Tb de Vienna, sec XVIII |
Museu Semmelweis, Budapeste. sec XVIII |
tb de Budapeste, Hungria. Sec XVII |
marfim, 20cm, século XIX |
Japão, séc XIX |
papier marchê, séc XIX |
Univ Montpellier, França |
Florença, Itália séc XVII |
Não falei? Dá nervosinho...
Princesinha Charlotte do nosso tempo, que com certeza terá mais sorte com a ciência do parto. |
bj
Fontes:
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