& Moira Bianchi: novembro 2022

sábado, 19 de novembro de 2022

Lady Susan de Jane Austen, quem é essa mulher?

 olá, blz?

Estive mergulhada no estudo da natureza profunda de mulheres complicadas. Não, não estive defronte do espelho, haha. Eu fiz maratona de 'Minha amiga genial', do podcast sobre Ângela Diniz e...

Confesso que dei umas piradas básicas e, eventualmente, farei um post sobre a relação complexa que eu fiz sobre a vida das personagens literárias e a socialite dos anos 70. Altamente indico que você ouça o podcast e veja a série ou leia os livros.

Por isso, eu achei bom fazer um post dedicado a Lady Susan, a personagem principal do romance de Jane Austen.

Susan é uma mulher complexa, cheia de motivações e tramóias. Para mim, é uma das melhores criações de Austen.

Aviso: esse post contém SPOILERS HORROROSOS.


A PERSONAGEM PRINCIPAL
para os demais personagens, veja aqui

✧ Resumo ✧

- filha de um nobre (ela é 'Lady primeiro nome' o que nos diz que nasceu de um pai com título de nobreza. Compare com Lady de Courcy, que é 'Lady sobrenome' indicando que o título é do marido)

- quando começa a história, ela é viúva de Mr. Vernon há quatro meses

- amante de Mainwaring, homem casado

- tem aproximadamente 35 anos 

- tem uma filha, Frederica Susanna. 

- anteriormente morava em Vernon Castle, Staffordshire 

- locais de residência em Londres são Upper Seymour Street, e mais tarde de 10 Wigmore Street, ambos em Mayfair, o bairro elegante de Londres. 

- tem fama de ser 'a coquete mais talentosa da Inglaterra', manipuladora e fabulosamente perversa. 

- riqueza por si só não a satisfaz, ela é uma conquistadora. 

- termina o romance casada com Sir James Martin, inicialmente escolhido por ela para casar com sua filha Frederica.

Portrait of a beautiful lady by George Papperitz

✧ Saiba mais 

Viúva falida depois da morte do marido e mãe de uma única filha, Frederica Vernon, Lady Susan instiga os acontecimentos da história ao se convidar para passar uma temporada na casa de seu cunhado (irmão do falecido marido), Charles Vernon, e sua esposa, Catherine. 

✧ Intenção

O real motivo para esta visita revela sua natureza egoísta: ela precisava fugir da casa dos Mainwaring onde esteve anteriormente hospedada, por ter seduzido o dono da casa (Sr. Mainwaring, marido dependente da esposa rica) e encantado seu amigo rico Sir James Martin (que era noivo da irmã de Mainwaring)  quem Susan decidiu forçar a se casar com sua filha Frederica. 

‘No momento, nada corre bem; as mulheres da família estão unidas contra mim. Você previu como seria quando cheguei a Langford, e Mainwaring é tão extraordinariamente agradável que não deixei de ter apreensões por mim mesma. Lembro-me de me dizer: "Gosto muito deste homem, tomara que nenhum mal venha disso!" 

LS – carta 2

✧ Características✧ 

Lady Susan é uma manipuladora habilidosa. Bonita, inteligente e educada, ela é capaz de convencer os outros de sua inocência, embora seu verdadeiro caráter seja prontamente revelado aos leitores em suas cartas para sua amiga e conspiradora Alicia Johnson. Ao contrário dos personagens, os leitores tem acesso total ao andamento dos planos e interesses reais de Susan – bem como a reação de suas vítimas.

‘Pretendo conquistar o coração de minha cunhada por meio de seus filhos; Já sei todos os seus nomes e vou me apegar com a maior sensibilidade a um em particular, um jovem Frederic, a quem pego no colo e suspiro por causa de seu querido tio.’ 

LS – carta 5

A duplicidade de Lady Susan é particularmente clara em seu relacionamento com o irmão de sua cunhada Catherine, Reginald De Courcy: ele inicialmente desconfia de Lady Susan, mas logo se apaixona por ela e começa a acreditar e defender suas mentiras. Os dois acabam ficando noivos, mas depois que Reginald descobre seu caso com o Sr. Mainwaring, ele rompe o noivado, e no final da história Lady Susan se casa com Sir James sem que o leitor tenha certeza se o apaixonado caso com Mainwaring acabou. 

✧ Motivações 

Ao longo da novela, as motivações de Lady Susan giram entre segurança financeira e poder (na sociedade imediatamente próxima dela). 

Seu falecido marido, por quem ela não era apaixonada, estava falido, o que significa que ela precisava de dinheiro - mas suas ações nunca indicam que ela é mercenária. Por exemplo, sua insistência para que Frederica se case com Sir James não parece motivada apenas por dinheiro - ela insiste no casamento de Frederica principalmente para punir a garota forçando-a a aturar uma união infeliz.

‘Não quero dizer, portanto, que as instruções de Frederica devam ser mais do que superficiais, e eu me gabo de que ela não permanecerá tempo suficiente na escola para entender qualquer coisa profundamente. Espero vê-la como esposa de Sir James dentro de um ano. Você sabe em que baseio minha esperança, e certamente é uma boa base, pois a escola deve ser muito humilhante para uma garota da idade de Frederica. (...) desejo que ela ache sua situação o mais desagradável possível. (...) Algumas mães teriam insistido para que suas filhas aceitassem uma oferta de casamento tão boa na primeira proposta; mas não consegui me convencer a forçar Frederica a um casamento para o qual seu coração se revoltou e, em vez de adotar uma medida tão dura, apenas propus que fosse sua própria escolha, deixando-a totalmente desconfortável até que ela o aceitasse.’ 

LS – carta 7

a bela Emma Hamilton. minha gatinha tem o nome dela

Talvez por querer garantir um futuro seguro para a filha e para si própria (motivação comum na época que vemos também nos esforços da Sra. Bennet em Orgulho e Preconceito) ou para punir Frederica por tê-la desafiado ao recusar a proposta do rico Sir James, Lady Susan exerce seu poder sobre a garota com mão de ferro.

Ela parece simplesmente gostar de controlar os outros, especialmente porque sua influência como viúva pobre na sociedade do século 19 era limitado. Por exemplo, ela diz a Alicia que flerta com Reginald não porque ela gosta dele, mas porque ela gosta de como ela conseguiu mudar completamente a opinião dele. 

‘...irmão da Sra. Vernon, um jovem bonito, que promete ser de alguma diversão. Há algo nele que me interessa bastante, uma espécie de atrevimento e familiaridade que devo ensiná-lo a corrigir. Ele é animado e parece inteligente, e quando eu o inspirar com mais respeito por mim do que os bons ofícios de sua irmã implantaram, ele pode ser um flerte agradável. Há um prazer requintado em subjugar um espírito insolente, em fazer uma pessoa predeterminada a não gostar de mim reconhecer minha superioridade. Eu já o desconcertei com minha calma reservada, e será meu esforço humilhar ainda mais o orgulho desses auto-importantes De Courcys. Este projeto servirá pelo menos para me divertir ...’ 

LS – carta 7

No final da novela, Lady Susan não mudou significativamente - embora ela se  case com Sir James, ele é facilmente manipulado, o que significa que os esquemas de Lady Susan provavelmente continuarão. 

✧ Mensagem oculta

Durante a trama, Frederica desenvolve uma queda por Reginald e o manipula a defendê-la contra os desmandos da mãe, mostrando que Lady Susan está errada, sua filha é sim parecida com ela. O leitor então tem a chance de ver o herói Reginald ser joguete de mãe e filha provando sua fraqueza de caráter. A ironia de Austen neste personagem é deliciosa de ler.

Esse é um dos assuntos recorrentes na história: o poder de persuasão e controle que as mulheres exerciam no lar. Homens da virada dos séculos 17 para 18 podiam ter todo poder fora de casa, mas quem controlava dentro eram as mulheres. Neste romance curto, Jane Austen nos dá a oportunidade de avaliar como Reginald (jovem herdeiro de boa fortuna) é manipulado Susan (amante mais velha), Frederica (noiva ideal por ser jovem e casta), Catherine (irmã dele) e Lady De Courcy (mãe dele). Ele tenta seguir os próprios instintos escolhendo Susan sob os protestos da mãe e irmã, mas no final, por desilusão total, humilhado e de coração partido, ele aos poucos aceita Frederica quase como prêmio de consolação.

‘Frederica foi, portanto, fixada na família de seu tio e tia até o momento em que Reginald De Courcy pudesse ser persuadido, lisonjeado e induzido a ter uma afeição por ela que, permitindo tempo para a conquista do sentimento que nutriu pela mãe dela, desistir qualquer contato futuro e aversão ao sexo poderia ser razoavelmente trocados no decorrer de um ano.’ 

LS - conclusão

Austen usaria esse recurso logo depois em Razão e Sensibilidade, escrita logo após Lady Susan. Em R&S, Marianne é a heroína de coração aberto que acredita nas mentiras do belo cavalheiro e quando descobre a verdade sobre ele, chora e sofre muito até que aceita casar com seu admirador muito mais velho.

✧ Finalmente

Independente do valor dos casamentos consumados – tanto Reginald com Frederica quanto Marianne com Coronel Brandon – vemos corações partidos emendados pela dor e curados por um amor substituto. Mais tarde em sua obra, Austen vai refinando essa punição para suas mocinhas assanhadas dando-lhes uniões infelizes ou solteirice crônica.

Quanto a Susan, ela casa com a melhor opção possível: o rico, bobo e incoveniente Sir James que certamente seria presa fácil na mão dela. 

Pode ser acridoce e ter punição branda para a assanhada, mas Lady Susan tem final feliz para todos.


para os demais personagens, veja aqui

fontes: Austenprose, litcharts, bookrags, supersummary, jasna, the guardian, meus arquivos pessoais


Está gostando de saber dos detalhes desta obra de Jane Austen?
Tenho muito mais guardado para te contar!

Se você ainda não viu, aqui estão minhas pesquisas de Austen Nation e pesquisas históricas aqui.

LINKS para Lady Susan

Bjs, e até mais!

M.


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antes que esse projeto chegue ao fim!


quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Lady Susan, de Jane Austen, explicada

Olá! Continuo com o estudo de

Como eu já disse anteriormente, quem não conhece a Juvenília acha que Lady Susan é um dos romances mais surpreendentes de Jane Austen. Além de bem mais curto que os outros, é picante, desconcertante, atrevido e perverso. 

Provavelmente por ser (erroneamente) considerado um ponto fora da curva, LS recebe muito pouca atenção ou elogios – há quem chame de aberração! Os estudiosos de Austen desprezando-o como um trabalho menor; um experimento inicial de uma autora em formação que nunca retornaria ao formato epistolar, nem perseguiria sua publicação durante sua vida.

Não há nada sutil ou gentilmente reprovador sobre o enredo ou personagens pelos quais ela é famosa – mas é Austen – uma versão mais jovem e menos polida; crua, enérgica, ultrajante.

Após a morte de Austen em 1817, o manuscrito passou para sua família e mais tarde foi vendido para a Biblioteca Morgan em Nova York. Uma vez que todos os manuscritos originais de seus seis principais romances não existem mais, Lady Susan é o único exemplo existente de um romance completo escrito por sua própria mão hoje.

Em posts seguintes, trarei Temas, Símbolos, Personagens, Resumos. Vamos aos detalhes, uma ficha cadastral da adorável Lady Susan.

Título

Lady Susan

Em 1805, Jane Austen transcreveu uma cópia fiel de um manuscrito sem título que mais tarde seria nomeado Lady Susan por seu sobrinho James Edward Austen-Leigh que publicou o romance pela primeira vez em 1871 em sua biografia de sua tia, A Memoir of Jane Austen. Veja este manuscrito aqui.

Tecnicamente, Lady Susan pode ser chamado de ‘novella’, termo dado a contos de 17 a 40K palavras e é escrita no formato epistolar popular na juventude de Austen. Tem 41 letras entre os personagens e uma conclusão do narrador, e estima-se (por estudiosos) ter sido escrito quando Austen estava no final da adolescência entre 1793-94.

Susan era um nome que Jane Austen adorava, ela usou em várias obras. A primeira versão de Abadia de Northanger era ‘Susan’, foi escrita de 1798 a 1803 quando foi vendido para um editor que nunca publicou. 

Na Juvenília, várias obras são intituladas pelo nome dos protagonistas, mas na maturidade, ela sempre renomeou. Assim foi ‘Elinor e Marianne’ trocado para ‘Razão e Sensibilidade’.

Frances Burney, autora de Evelina – livro que certamento influenciou Austen, tinha uma irmã chamada Susanna, também famosa autora de cartas e documentos sobre música.

Enredo

As tramas giram em torno de uma viúva inescrupulosa e intrigante, Susan Vernon, que “sem o charme da juventude”, consegue seduzir qualquer homem. A fim de garantir sua segurança financeira, ela planeja se casar com sua filha adolescente contra a vontade da garota.

“Ela é inteligente e agradável, tem todo aquele conhecimento do mundo que torna a conversa fácil e fala muito bem, com um bom domínio da linguagem, que é muito usada, acredito, para fazer o preto parecer branco.” – carta VI

Ao visitar o cunhado (irmão de seu falecido marido), Susan conhece um jovem herdeiro (irmão de sua cunhada) e decide casar-se com ele. Seus planos vão de vento em popa até que sua filha foge da escola e precisa ser levada para perto dela. 

Como aliada, Susan tem Alicia Jonhson, esposa do guardião da esposa do homem com quem Susan tem um caso amoroso.

Muito sagaz, Susan consegue se desvencilhar de quase todos os problemas que lhe acometem. E são muitos.

Autor

Jane Austen, aos 24 anos

Gênero 

Romance epistolar (em cartas) – uma novella

Língua

Inglês

Tamanho

23K palavras

42 capítulos: 41 cartas + conclusão

Data de criação

1794 – escrito sem uma conclusão

1805 – concluído  

Data da primeira publicação

1871 – post morten

Data da trama

Não especificada

Local da trama

Lugarejo de Churchill, Londres

Narrador

cartas:

Lady Susan
Sra. Vernon
Frederica
Lady De Courcy
Alicia Johnson
Reginald De Courcy
.
veja detalhamento das cartas aqui

conclusão:

Narrador 

Protagonista

Lady Susan 

Antagonista

Sra. Vernon

Sr. Johnson 

CJ Soulacroix - Flirtation


Ponto de vista

Discurso direto (cartas com narrativa em 1ª pessoa)

Discurso indireto livre (conclusão)

Tempo verbal

passado

Promessas escondidas

A infidelidade nos relacionamentos onde Susan se envolve contrasta com o bom casamento dos Vernon

Tom 

Satírico

Subversivo

Petulante

Especulativo e pernicioso

Estilo da escrita

Altamente sarcástico, intenção de confundir o leitor com várias versões dos acontecimentos, cômico e cruel em alguns momentos

Temas

. relacionamentos amorosos;

. lealdade;

. maternidade;

. situação feminina na sociedade;

. poder de persuasão;

. perigo do preconceito;

. importância do casamento.

Motivos

Casamento, sobrevivência.

Ações marcantes

. chegada de Lady Susan a Churchill

. esforços de Lady Susan para encantar Reginald 

. chegada de Frederica a Churchill contraria os planos da mãe

. ida de Susan e Reginald a Londres

CS Soulacroix - The conversation

Clímax

Apesar das diversas reviravoltas da trama, o clímax acontece quando Reginal encontra Sra. Mainwaring justamente no momento em que ela contava ao seu guardião – Sr. Johnson - sobre o relacionamento adúltero que Lady Susan nutria com seu marido. O leitor sabe deste encontro bombástico pela narrativa de Alicia Johnson:

“Minha querida criatura, estou em agonia e não sei o que fazer. O Sr. De Courcy chegou exatamente quando não deveria. A Sra. Mainwaring entrou naquele instante e se forçou à presença de seu tutor, embora eu não soubesse nada disso, pois eu estava fora quando ela e Reginald chegaram, ou o teria mandado embora. Mas ela estava com o Sr. Johnson, enquanto Reginald esperava por mim na sala de visitas e ouviu tudo. (...) O que eu poderia fazer! Fatos são coisas tão horríveis!”

Final

Apesar do bem ser recompensado e os sofredores acharem amor, a maquiavélica Lady Susan também alcança seu objetivo em um perverso troca-troca de pretendentes. A viúva casa com o rico cavalheiro que ela havia escolhido para sua filha Frederica, enquanto esta acaba por conquistar o amor de Reginald, herdeiro de larga fortuna que passou boa parte do romance apaixonado por sua mãe.


fontes: Austenprose, litcharts, bookrags, supersummary, jasna, the guardian, meus arquivos pessoais


Está gostando de saber dos detalhes desta obra de Jane Austen?
Tenho muito mais guardado para te contar!

Se você ainda não viu, aqui estão minhas pesquisas de Austen Nation e pesquisas históricas aqui.

Bjs, e até mais!

M.


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