Este artigo é muito interessante para mim porque o 2º livro da série CUPIDOS EM DEVON, 'O Clube de Florence', tem uma cena em que ela, Florence, toca a harpa sem se dar conta do efeito que imprime no homem bão da porra assistindo a apresentação.
É sedução acidental.
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H Boulet, 1832 |
Vamos ao artigo.
Piano- O instrumento mais adequado para o corpo feminino
disclaimer: Esse artigo foi originalmente publicado no Kilden – informações e notícias sobre pesquisas de gênero na Noruega. Leia o artigo original.
Eu, Moira, vou comentando no meio do texto, ok?
Envolver o violoncelo com as pernas era considerado imoral, sentar-se ao piano era mais adequado para uma lady. Sendo assim, as mulheres se tornaram importantes para o desenvolvimento da composição e execução do piano.
“As bases para quais instrumentos mulheres e homens deveriam tocar já eram estabelecidas na Idade Média”, diz Lise Karin Meling. Já haviam regras e convenções relacionadas ao que mulheres podiam ou não fazer no mundo da música em todos os tempos. “A historiografia é desequilibrada nesta área; não há foco no que as mulheres realmente conseguiram”. Onde pesquisas anteriores se concentraram nas limitações das mulheres, em áreas nas quais as mulheres foram excluídas e nunca entraram, Meling que é professora associada no Departamento de Música e Dança na Universidade de Stavanger, tem procurando por aquilo que as mulheres já fizeram realmente: Elas tocaram piano.
“Praticamente cada composição de piano feita no século XIX, foi escrita por mulheres e meninas,” diz a pesquisadora musical. As mulheres tocavam piano e tiveram enorme importância no desenvolvimento da composição do piano. ”
Um dever para mulheres da burguesia
Os pianos eram considerados o instrumento feminino perfeito, um “par por excelência” no século XIX. Tanto que, durante aquele século, se tornou uma obrigação para todas as mulheres pertencentes à burguesia e às classes altas, ter um bom domínio de piano. Isso não só no caso da Inglaterra, de onde a maioria das fontes de Meling foram coletadas, mas também na Noruega.
“Nenhuma casa culta deveria ficar sem pianoforte… Nenhuma dama que desejasse se tornar uma Lady, podia admitir ser incapaz de tocar pianoforte, e nenhum cavalheiro podia permitir esse desrespeito.” escreveu o escritor norueguês Bjørnstjerne Bjørnson em 1855.
Falamos sobre isso no post anterior, o que ter um piano em casa significava para o status social de uma família. Damas que tinham piano eram de boa família, de boa situação financeira, de boa instrução, então, eram bons partidos. Era uma conclusão em corrente...
Instrumentos musicais Indecentes
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Woman at a Piano - G Boldini |
Mas por que o piano exatamente?
De acordo com as fontes de Meling, porque combinava com o estereótipo da natureza feminina suave e prudente. A flauta, o violino, o oboé são “altamente impróprios para o sexo feminino”, o teórico musical John Essex escreveu em 1721.
O oboé era particularmente masculino; ficaria indecente na boca de uma mulher.
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the oboe player - TEakins, 1903 |
Imagina o que eles não pensavam - e viam em suas mentes - com a imagem de uma dama bonita com um instrumento entre os lábios?
Devassos!
E a flauta tiraria “muito do suco gástrico mais adequados para aguçar o apetite e promover a digestão”.
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retrato de Elizabeth Speigel - DDSantvoort, 1639
Ela toca um recorder - instrumento musical de sopro no grupo conhecido
como flautas de duto interno |
De acordo com Meling, a flauta doce foi de fato considerada altamente erótica por séculos. Ela se refere a pinturas retratando ninfas atraindo homens enquanto tocavam flautas doces.
Achei uma prova cabal da perdição que era a flauta! Olha só isso! tsk, tsk!
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Pastor tocando flauta com quatro ninfas, GV Honthorst |
“Trompa e violoncelo são inadequados para o corpo feminino.”
Para o alemão Carl Ludwing Junker também estava claro em quais instrumentos as mulheres eram eruditas para colocar em seu livro sobre mulheres e músicas em 1783: a trompa, o violoncelo, o contrabaixo, o fagote, e o trompete eram altamente impróprios para o corpo, moda e caráter feminino.
Tocar o contrabaixo de espartilho por exemplo – que ridículo!
Executar largos movimentos corporais enquanto toca instrumentos de corda – não se parece nada com uma dama. E o corset apertava a ponto de deformar o corpo! Já falei disso.
Um som poderoso e forte não combinava com a humildade de caráter de uma mulher.
Tambores e trompetes, nos lembra Junker, eram usados por militares, e trompa era usada na caçada, e, portanto, não poderia ser considerada feminina.
Além disso, algumas posições eram consideradas diretamente imorais, como ao distorcer o rosto para soprar o instrumento, pressionar os lábios e sustentar o som com os músculos do abdome. Isso poderia passar a impressão de uma mulher indecente.
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mulher cantando e tocando alaúde - CBega, 1664
Pernas abertas, instrumento colado no corpo... que perdição! |
E sem mencionar tocar violoncelo – onde a mulher tinha de apertar o instrumento contra seu peito e envolvê-lo com suas pernas. Isso poderia dar às pessoas ideias imorais. Perceba que parece ser coisa da cabeça dos moralistas... As recomendações de Juker eram que as mulheres se mantivessem no piano. “As mulheres podem permanecer sentadas ao piano e tocarem sem flexionar seus corpos” disse Meling. “Elas podem sentar em posições graciosas e femininas com as pernas juntas e exibir suas roupas elegantes.”
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O concerto - LEPomey (1901) |
Tocar podia levá-las ao altar.
As fontes de conhecimento de Meling sobre mulheres tocando piano foram primeiramente coletadas da burguesia e das classes altas. As fontes sobre a prática musical das classes baixas são escassas, de acordo com a pesquisadora. “As classes baixas talvez fossem mais ocupadas com o trabalho. Elas tocavam música popular, mas elas provavelmente não possuíam a mesma cultura musical das classes superiores.”
Nas camadas mais proeminentes da sociedade, tocar piano se tornou uma forma de passar os dias e um jeito de entrar no mercado do casamento. Quando a Lady Middleton no romance Razão e Sensibilidade de 1811 de Jane Austen, finalmente se casa, ela pára de tocar piano. "Ela alcançou o que muitos consideravam o objetivo da música e do piano", diz Meling: "Isso fazia parte da educação das mulheres para promover suas perspectivas de casamento".
Todos os caminhos levam a Austen, não é mesmo? Leia esse trecho:
"À noite, como foi descoberto que Marianne tinha dom musical, ela foi convidada para tocar. O instrumento (pianoforte) foi destrancado, todos se prepararam para ser encantados e Marianne, que cantou muito bem, a pedido deles, passou pela maioria das canções que Lady Middleton trouxera para a família em seu casamento, e que talvez houvessem permanecido desde então na mesma posição no piano, pois a senhora havia celebrado aquele evento desistindo da música, embora, pelo relato de sua mãe, ela tivesse tocado muito bem e, por conta própria, gostasse muito da música."
'In the evening, as Marianne was discovered to be musical, she was invited to play. The instrument was unlocked, every body prepared to be charmed, and Marianne, who sang very well, at their request went through the chief of the songs which Lady Middleton had brought into the family on her marriage, and which perhaps had lain ever since in the same position on the pianoforte, for her ladyship had celebrated that event by giving up music, although by her mother's account, she had played extremely well, and by her own was very fond of it.'
O piano como uma mobília multifuncional
Devido à popularidade do piano, ele se tornou um instrumento relativamente barato para se adquirir. E os fabricantes experimentaram em sua forma e função. Era possível adquirir o piano que também poderia ser usado como uma mesa de salão, escrivania, armário, mesa de trabalho, penteadeira e caixa de ferramentas.
Armário de costura, porta-jóia E piano do jacarandá
- c. 1820 Reino Unido
disponível por R$14.500,00 no Galleries online
Tocar geralmente se dava na privacidade do lar, em alguns casos ao visitar os outros. Mas se você fosse melhor pianista do que a anfitriã, você tinha que escolher a peça mais fácil, para evitar colocá-la em uma posição embaraçosa. #ficadica
Tocar em público era algo simplesmente fora de questão para a maioria das mulheres. Meling se refere as mulheres tocando piano com uma “arte caseira”. Esse tipo de exercício musical não tinha que ser considerado tão importante como aqueles que eram desempenhados em público.
“Mulheres tocavam e cantavam dentro dos limites do lar, esse era o cenário delas. E essa era uma arena importante para a prática musical e de composição. As mulheres tocando piano no século XIX estabeleceram a base da composição do século vinte.”
O piano era o instrumento favorito para acompanhar o canto, e se tornou o instrumento mais popular do século XIX. Mais composições foram publicadas apenas para o piano do que para todos os outros instrumentos juntos durante o século dezenove.
Feminino demais para homens
A inovação também ocorreu dentro de casa. “Muitas coisas foram inventadas pelas pianistas no século dezenove, como tocar sem partituras durantes os consertos.”
Enquanto as garotas exibiam bons desempenhos, esse não era necessariamente o caso dos homens. Isso levou ao desenvolvimento de um gênero musical onde as peças de pianos eram acompanhadas pelo sobretom único de flauta ou de violino. Então o irmão menos talentoso poderia acompanhar sem ter que praticar tanto quanto suas irmãs.
O trabalho dos homens era admirar o desempenho das mulheres, às vezes, virar as partituras para elas. Ele mesmo não deveria tocar piano, o que imediatamente poderia torná-lo feminino.
“O manual de ética para o Cavalheiro Inglês aconselha homens contra a prática do piano,” diz Meling.
Então, nesta parte eu discordo do artigo com base em algumas pesquisas. Como ando escrevendo muito sobre a era Vitoriana, sei que homens de classe e boa educação, nem sempre nobres, tinham conhecimento musical - e isso incluía o piano que era símbolo de status.
Em dois trechos, o Manual de Etiqueta para cavalheiros de Cecil B Hartley, 1873, fala assim:
'Em um sarau, por excelência, música, dança e conversação são todos admissíveis, e se a anfitriã tiver tato e discrição, essa variedade é muito agradável. Como muitas vezes não há pianista ou música engajada à dança, você se sai bem, se for um bom performer no piano-forte, é bom se dedicar a aprender algumas quadrilhas e danças de pares para que possa oferecer seus serviços como orquestra. Não espere ser solicitado a tocar, mas ofereça seus serviços à anfitriã, ou, se houver uma dama ao piano, peça permissão para aliviá-la da função. Para virar as folhas para outra, e às vezes chamar danças, também são ações bem-humoradas e bem-educadas.'
'At a soiree, par excellence, music, dancing, and conversation are all admissible, and if the hostess has tact and discretion this variety is very pleasing. As there are many times when there is no pianist or music engaged for dancing, you will do well, if you are a performer on the piano-forte, to learn some quadrilles, and round dances, that you may volunteer your services as orchestra. Do not, in this case, wait to be solicited to play, but offer your services to the hostess, or, if there is a lady at the piano, ask permission to relieve her. To turn the leaves for another, and sometimes call figures, are also good natured and well-bred actions.'
'Não inicie uma conversa enquanto alguém estiver tocando ou cantando, e se outra pessoa começar uma, fale em um tom que não impeça os outros de ouvir a música. Se você tocar sozinho, não espere o silêncio na sala antes de começar. Se você tocar bem, aqueles que realmente gostam de música deixarão de conversar e ouvirão você; e aqueles que não se importam com isso, não vão parar de falar se você esperar sentado no banquinho do piano até o amanhecer do dia.'
'Do not start a conversation whilst any one is either playing or singing, and if another person commences one, speak in a tone that will not prevent others from listening to the music. If you play yourself, do not wait for silence in the room before you begin. If you play well, those really fond of music will cease to converse, and listen to you; and those who do not care for it, will not stop talking if you wait upon the piano stool until day dawn.'
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la miranda synphony |
E quanto aos grandes músicos do século XIX? Arthur Rubinstein (1887-1982),Sergei Rachmaninov (1873-1943), Franz Liszt (1811-1886), Frédéric Chopin (1810-1849), Ludwig van Beethoven (1770-1827), Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) entre outros. De Clara Schumann (1819-1896) já falamos no artigo anterior, mas sempre vale à pena lembrar. Ouça um pouco de cada aqui.
Por fim, se falamos em virar páginas, sempre me lembro do bate-boca de Lizzy e Darcy em Rosings!...
'Há uma teimosia em mim que nunca me permite ter medo da vontade dos outros. Minha coragem sempre aumenta a cada tentativa de me intimidar.'
Leia o trecho todo aqui...
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femina |
Medo da “epidemia do piano”
Ao mesmo tempo, tocar muito piano levava a uma repreensão. A ideia do século XIX que as mulheres com fortes desejos sexuais eram propícias a desenvolverem histeria, estava ligada à música. Já falei do que era 'histeria feminina na época... tsk, tsk.'
A Música poderia superestimular o sistema nervoso e ser destrutiva para a aparência da mulher e para os órgãos reprodutores. O teórico musical Edvard Hanslick nomeou o fenômeno como “Pianoepidemia” – quando a música levava vantagem e resultava em doenças.
Como resultado dessa preocupação, a afiação do piano se tornou profissão masculina. De acordo com o teórico, mulheres solteiras e, portanto, sexualmente inexperientes poderiam se tornar perigosamente superestimuladas ao afinar um piano.
Os homens tinham muitas cordas para seus arcos
Ainda há grandes diferenças quando se trata de música e gênero, tanto em termos de quais tipos de instrumentos homens e mulheres tocam, como são referidos na mídia e sua presença em arenas públicas como festivais de música e educação. “Nós ainda vemos uma clara divisão entre homens e mulheres quando se trata de tocar piano e violão.” As estatísticas da Noruega escrevem em relação aos números de 2008 de cultura e lazer. Oito por cento dos homens tocam piano, comparado a dezesseis por cento de mulheres. Um reporte no GramArt, festival popular norueguês de música em 2011 constatou que homens, em grande maioria tocam diversos instrumentos, enquanto as mulheres se mantém no instrumento principal, e no vocal geralmente.
Em seu livro, Eksperimentelt kvinneglam (“Glamour feminino experimental”) de 2013, Maja Ratkje chamou atenção para o fato que a Orquestra Filarmônica de Oslo tinha 113 músicas em seu programa naquele ano. Entre essas, 112 foram compostas por homens. Nenhuma das mulheres conduzia nenhuma das 113 peças, e entre os membros da Sociedade Norueguesa de Compositores, as mulheres totalizavam 13%.
“Nós podemos traçar alguma linha de gênero sobre os instrumentos músicas desde a Idade Média, passando pela cultura feminina do piano no século dezenove e chegar aos dias atuais? ”
“Sim, de várias formas podemos” afirma Meling.
Mas ela ainda permanece mais interessada naquilo que a mulher podia de fato fazer, no que naquilo que não podia. “Ao invés, de falar sobre a falta de trompetistas femininas no século XIX, nós deveríamos exaltar as mulheres que tocaram instrumentos e desenvolveram a arte de tocar piano. Nós deveríamos enfatizar as áreas nas quais as mulheres se afirmaram pessoalmente."
Fiquei intrigada, fui pesquisar online para comprar Brasil com a gringa do artigo. Descobri algumas coisas interessantes.
- na visão masculina, mulheres atualmente gostam mais de caras que tocam guitarra;
- homens aprendem a tocar música para seduzir mais facilmente;
- mas eles gostam de mulheres que tocam qualquer instrumento;
- mulheres que tocam 'mais que piano' provam talento, especialmente se for instrumentos considerado masculino como tuba, trompa ou percussão;
- piano é instrumento de homens mais velhos, acima dos 45.
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Garotas ao piano - Renoir |
Bem, ainda há muito para aprender e estudar sobre o piano, certo?
Te vejo no último artigo.
Referências do artigo original.
Meling, Lise Karin, Klaveret – et kvinneinstrument? (“The piano – a women’s instrument?”) (2015) Arr #1/2015. The norm that young cultured women from the bourgeoisie played the piano spread across Europe in the nineteenth century. The painting ?The piano lesson? is from 1896, painted by the British artist Edmund Blair Leighton. (Wikimedia commons.) [7] Lise Karin Meling studies gender and musical instruments. (Photo: Ida Irene Bergstrøm) [8] blair.jpg [9] Booty shake or guitar riff? [10] Parodic, political pop [11] Ida Irene Bergstrøm, Kilden kjønnsforskning.no [12] Cathinka Dahl Hambro April 28, 2016 - 06:20 .This field is not in use. The footer is displayed in the mini panel called "Footer (mini panel)" Source URL: http://sciencenordic.com/piano-%E2%80%93-best-suited-instrument-female-body Links: [1] http://sciencenordic.com/category/section/society-culture [2] http://sciencenordic.com/cultural-history [3] http://sciencenordic.com/gender-and-society [4] http://sciencenordic.com/category/countries/norway [5] http://sciencenordic.com/category/publisher/forskningno [6] http://kjonnsforskning.no/en/2016/04/piano-best-suited-instrument-female-body [7] http://sciencenordic.com/sites/default/files/blair_0.jpg [8] http://sciencenordic.com/sites/default/files/Meling_Lise_Foto_IIB-1000x669.jpg [9] http://sciencenordic.com/sites/default/files/blair.jpg [10] http://kjonnsforskning.no/en/2015/10/booty-shake-or-guitar-riff [11] http://kjonnsforskning.no/en/2015/10/parodic-political-pop [12] http://sciencenordic.com/content/ida-irene-bergstr%C3%B8m-kilden-kj%C3%B8nnsforskningno