& Moira Bianchi: 2022

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Lady Susan, de Jane Austen: todos os personagens

 olá! 

Fim de ano está chegando, também aniversário de Jane Austen é daqui a uma semana (dia 16) e o meu logo depois (dia 19). 

Continuando o estudo do romance Lady Susan, te trago todos os personagens analisados e, em alguns casos, explicados. Essas pessoas são complicadas, elas têm motivos escondidos, mas à medida do possível e das minhas pesquisas, eu procurei ao menos linkar suas ações para você entender o caminho torto que eles seguem.

Lady Susan Vernon, a poderosa, tem seu próprio post. Veja aqui.

Vamos aos seus amiguinhos, os demais personagens.

Para começar, neste esquema, estão organizadas as relações que cada personagem tem com Susan. Perceba que é uma família com seus agregados e interesses amorosos:

A família De Courcy é agregadada aos Vernon que se misturam com os Mainwarings por intermédio dos Johnsons. 

Aí é que começa a treta...

obs: usei imagens do filme 'Amor e Amizade' de 2016. Mas as descrições que eles colocam nos letreiros não estão completamente corretas...



Lady Susan


⭐ Catherine Vernon

Resumo 

Cunhada de Lady Susan por parte do marido, Charles Vernon, com quem é casada com há seis anos. 

Irmã de Reginald De Courcy. 

Crianças: muitas, entre elas Frederick e Catherine

Saiba mais  

é a esposa do cunhado de Lady Susan, Charles Vernon; ela é filha de boa família, possivelmente um cavaleiro, Sir Reginald e Lady De Courcy e tem um único irmão: Reginald. 

Catherine é uma mulher prática e voltada para a família, cuida do bem estar do marido, filhos, pais e irmão. 

 “Minha querida mãe, lamento muito dizer-lhe que não estará em nosso poder cumprir nossa promessa de passar o Natal com vocês... Fico feliz em saber que meu pai continua tão bem; e sempre, com muito amor, etc., Catherine Vernon” 

LS- carta Catherine – nº3

Características

Na trama, Catherine é a principal antagonista de Lady Susan porque não cai nos encantos da bela viúva.

Seu foco principal é impedir que seu irmão Reginald se case com Lady Susan, já que esta tem uma má reputação e foi particularmente cruel quando tentou impedir o casamento de Catherine. É dito que, seis anos antes do início da trama, Susan fez muita força para convencer o cunhado solteiro, Charles, irmão do seu marido, a não se casar com a então Srta. Vernon. 

 “...mas confesso que estou igualmente insatisfeita com o comportamento da Sra. Vernon. Ela é perfeitamente bem-educada, de fato, e tem o ar de uma mulher elegante, mas suas maneiras não são tais que possam me convencer de que ela está disposta a me agradar. Eu queria que ela ficasse encantada em me ver. Fui o mais amável possível na ocasião, mas tudo em vão. Ela não gosta de mim. De certo, quando consideramos que me esforcei para impedir que meu cunhado se casasse com ela, essa falta de cordialidade não é muito surpreendente, mas mostra um espírito feio e vingativo ressentir-se de um projeto de seis anos  atrás, e que não deu certo.” 

LS - Carta de Lady Susan – nº 5


Além da filha de Lady Susan, Frederica Vernon, Catherine é a única personagem central que não se apaixona pelas mentiras de Lady Susan e por isso, é a diretriz do leitor para entender a realidade do que acontece. Em cartas para sua mãe, Catherine lamenta a paixão de Reginald por Lady Susan e, fiel à sua natureza lógica e lúcida, tenta salvar o irmão. 

Primeiro, ela diz à mãe para chamar para Reginald de volta para casa sob falsos pretextos. Quando isso não funciona, ela espera ajudar Frederica, que está apaixonada por Reginald, a atrair sua atenção. 

Embora Catherine seja bastante educada como a “decência comum” exige, enojada com a manipulação contínua que testemunda, ela eventualmente a confronta Lady Susan sobre sua crueldade de mãe para com a filha. 

Rainha do seu lar

Embora tanto Catherine quanto Lady Susan tenham pouco poder real na sociedade porque as mulheres em seu tempo (século 19) geralmente tinham menos direitos e oportunidades do que os homens, Lady Susan é mais habilidosa do que Catherine em exercer o pouco poder que ela tem. Quando as mulheres se contentavam em ser rainhas da política doméstica dentro de suas casas, Catherine age com doçura enquanto Susan usa artifícios mais mundanos.

Austen nos mostra a falta de poder de Catherine quando, apesar dos seus esforços, Reginald termina seu noivado com Lady Susan não por causa da interferência de Catherine, mas porque ele descobriu e teve corroboração de outros homens (desconhecidos da família) sobre o caso de Lady Susan com o Sr. Manwaring. A opinião de outros teve mais importância que a da irmã.

Comparativo

Na comparação, Catherine é o oposto de Susan, e assim Austen nos apresenta dois exemplos de feminilidade: a agressiva e a cordial. 

Susan é atirada, ambiciosa, chamativa, sensual, usa seus atributos físicos e de inteligência para manipular outros em prol de si mesma além de ser péssima mãe

Catherine é a dama ideal, boa esposa e mãe amorosa, centrada, cautelosa e discreta.

Mais tarde na sua obra, ela também vai nos mostrar isso em vários momentos. Podemos comparar duas mães em Orgulho e preconceito com Sra. Bennet e Sra. Gardiner; no mesmo romance temos comparação constante em Lizzy e Jane, Lizzy e Lydia, Lizzy e Caroline Bingley. Porém, como a trama é mais desenvolvida, vemos os papeis alternando para que a heroína Lizzy possa experimentar os prós e contras de todas as características femininas.

⭐ Charles Vernon

Resumo

Senhor da propriedade Churchill, em Sussex. 

Irmão mais novo do primeiro marido de Lady Susan. 

Casado com Catherine, née De Courcy, seis anos antes. 

Crianças: Frederick e Catherine, entre muitos outros.

Saiba mais

Charles é cunhado de Lady Susan (o irmão mais velho de seu falecido marido) e marido de Catherine. Antes dos eventos da trama, Susan tentou impedir que Charles se casasse com Catherine - e enquanto Catherine ainda se ressente dela por isso, Charles parece tê-la perdoado. 

“Acho que o Sr. Vernon foi gentil demais com ela quando esteve em Staffordshire; seu comportamento para com ele, independentemente de seu caráter geral, tem sido tão indesculpavelmente astuto e mesquinho desde o início de nosso casamento que ninguém menos amável e dócil do que ele poderia ter esquecido tudo; e embora, como viúva de seu irmão, e em circunstâncias difíceis, fosse apropriado prestar-lhe assistência pecuniária, não posso deixar de pensar que seu convite insistente a ela para nos visitar em Churchhill é perfeitamente desnecessário. Disposto, no entanto, como ele sempre está a pensar o melhor de todos, suas demonstrações de pesar, declarações de arrependimento e resoluções gerais de prudência foram suficientes para abrandar seu coração e fazê-lo realmente confiar em sua sinceridade...” 

LS - Carta de Catherine – nº 3

Como resultado, quando Lady Susan se convida para visitar os Vernons em sua luxuosa propriedade, Churchill, Charles tem a mente muito mais aberta e aceita ela do que Catherine. 

Quando Frederica, filha de Susan, foge da escola e precisa de abrigo, é ele quem vai ao seu socorro, fazendo o papel de figura paterna por seu irmão falecido.

Na verdade, ele parece totalmente ingênuo, dando dinheiro a Lady Susan e permitindo que ela fique com eles, apesar de sua reputação de mentirosa e manipuladora. 

Importância na trama

Embora Charles não desempenhe um papel particularmente ativo na trama, sua visão ingênua de Lady Susan é o que coloca a história em movimento e permite sua teia de mentiras.

A aceitação bastante imprudente de Lady Susan em sua casa é o que permite que os eventos da história se desenrolem: quando o irmão de Catherine, Reginald, vem visitar os Vernons também, Lady Susan é capaz de seduzi-lo (o tempo todo tendo um caso com o Sr. Manwaring). 

De certa forma, Austen vai repetir esse personagem cordial e ligeiramente desinteressado no dia-a-dia da intimidade do seu lar em várias obras. Temos o Sr. Bennet de O&P, Sr. Allen de Abadia de Northanger, Sr. Musgrove de Persuasão. 

O marido gente-boa

Enquanto os Vernons aparentemente têm um casamento feliz, é revelador que Catherine nunca é capaz de confiar diretamente no marido por suspeitar demais de Susan - provavelmente porque, na sociedade educada, as mulheres são mantidas em um padrão mais alto de decoro e discrição do que os homens. 

⭐ Reginald De Courcy

Resumo 

filho mais novo de Sir Reginald e Lady De Courcy de Parklands, Sussex. 

23 anos. 

Irmão da Sra. Catherine Vernon. 

Apaixona-se pela mãe, mas casa-se com a filha, Frederica Vernon.

Características

É filho e herdeiro de Sir Reginald e Lady De Courcy que além dele, tem a primogênita Catherine ( casada com Charles Vernon). Bonito, jovem e agradável – porém menos que Sr. Mainwaring.

Nele, Austen juntou muitas qualidades de um cavalheiro exemplar: alegre, amigável, ingênuo e bem-humorado, bom-vivant sempre predisposto a achar diversão em qualquer situação. Reginald é um rapaz educado e culto, esperança do legado da família, um tipo de Charles Bingley de O&P. 

O leitor tem noção clara de como a família tem preocupação com a inconsequência de Reginald e como mãe e irmã o enchem de atenção e cuidados.

“Não esconderei de você meus sentimentos sobre a mudança (no comportamento de Reginald), minha querida mãe, embora ache melhor não comunicá-los a meu pai, cuja ansiedade excessiva em relação a Reginald o sujeitaria a preocupação que poderia afetar seriamente sua saúde e seu ânimo.” 

LS – carta de Catherine, nº 8

Vítima perfeita

Em busca de diversão como uma criança que brinca com fogo, Reginald visita a irmã sabendo que a bela Susan estará lá também. Depois de ouvir muito sobre ela, ele espera se divertir com as travessuras da cunhada da irmã.

“Minha querida irmã, parabenizo você e o Sr. Vernon por estarem prestes a receber em sua casa a coquete mais talentosa da Inglaterra. Sempre ouvi que ela flerta melhor do que qualquer outra, mas ultimamente corre notícia de alguns detalhes de sua conduta em Langford: o que prova que ela não se limita a paquera honesta que satisfaz a maioria das pessoas. , mas aspira à gratificação mais deliciosa de tornar toda uma família miserável.”

LS - Carta de Reginald – nº 4

 Em sua primeira carta, ele se mostra disposto a ver por si só como a mulher se enrola em seus atributos femininos. É ele quem conta as fofocas dando ao leitor uma imagem mais clara da conduta de Susan – e do que ela foge. Compare:

Acontecimentos na visão de Lady Susan:

“No momento, nada corre bem; as mulheres da família estão unidas contra mim. Você previu como seria quando cheguei a Langford, e Mainwaring é tão extraordinariamente agradável que não deixei de temer por mim mesma. (...) Mas eu estava determinada a ser discreta, a ter em mente que estava viúva há apenas quatro meses e a ficar o mais quieta possível: e tenho sido assim, minha querida amiga.Não admiti as atenções de ninguém além de Mainwaring. Evitei qualquer flerte geral; não distingui ninguém entre todos que aqui estiveram, exceto Sir James Martin, a quem dei pouca atenção, a fim de separá-lo da Srta. Mainwaring; mas, se o mundo pudesse conhecer meu motivo, me honrariam. Fui chamada de mãe indelicada, mas foi o impulso sagrado do afeto materno, foi a vantagem de minha filha que me conduziu.” 

LS - Carta de Lady Susan, nº 3

Fofoca de Reginald para a irmã:

“Por seu comportamento com o Sr. Mainwaring, ela fez ciúme e criou sofrimento à esposa dele, e por suas atenções a um jovem anteriormente ligado à irmã do Sr. Mainwaring, privou a garota amável de seu pretendente. (...) Que mulher ela deve ser! Anseio por vê-la e certamente aceitarei seu gentil convite, para que eu possa ter uma ideia dos poderes fascinantes que podem fazer tanto - envolver ao mesmo tempo e na mesma casa as afeições de dois homens, nenhum deles na liberdade para concedê-los - e tudo isso sem o encanto da juventude!” 

Carta de Reginald – nº 4

Percebe-se que Reginald estava já a meio caminho do encantamento antes mesmo de chegar à casa da irmã, assim como Sr. Bingley assim que chegou a Merryton: “Nunca vi tantas garotas bonitas em minha vida como esta noite; e há várias delas que você vê extraordinariamente lindas.” O&P, cap 3. Para um jovem cavalheiro rico em idade casamenteira que frequentava a sociedade de Londres, é bastante questionável que ele nunca tenha visto várias garotas bonitas juntas. 

Reginald é igualmente vítima de seu entusiasmo. Ele rapidamente cai nos encantos de Susan, acredita mentiras que ela conta para explicar o que ele achava que era verdade e sob a influência dela, ele se apaixona perdidamente.

Mesmo estando certo de sua natureza perversa antes da visita, cara-a-cara, a beleza, inteligência e manipulação habilidosa de Susan o convencem de que sua má reputação não passa de " contos caluniosos”. 

“... esta circunstância, embora explique os verdadeiros motivos da conduta de Lady Susan e remova toda a culpa que foi tão imputada sobre ela, também pode nos convencer quão pouca credibilidade o falatório geral deve ter; já que nenhum personagem, por mais correto que seja, pode escapar da malevolência da calúnia.” 

LS – carta de Reginald, nº 14

Eventualmente Susan fica noiva de Reginald não porque ela o ama, mas porque ela quer puni-lo por duvidar dela em vários pontos da trama. Apesar de ser herdeiro da fortuna do pai, esse goza de boa saúde e nada indica que casando com ele, Susan ficaria rica logo. Dessa forma, ela vê o casamento com ele como um desagradável investimento a longo prazo.

Triângulo amoroso

Enquanto o leitor está distraído com as façanhas de Susan, Frederica aparece quase desapercebida se mostrando interessada em Reginald. Desta forma temos quase uma ‘Quadrilha’ de Carlos Drummond de Andrade:

“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.” 

CDA, 1930.



Na versão de Jane Austen temos:

“Frederica que amava Reginald que amava Susan que amava Sr. Mainwaring que era casado com Sra. Mainwaring que sofria por ele.”

A bondade e a simpatia de Reginald para com Frederica o desiludem brevemente sobre o caráter de Susan. O encantamento que ela exerce sobre ele é quebrado por alguns dias, mas ele não rompe sua ligação com ela até o final da trama, quando descobre seu caso com o Sr. Manwaring durante um encontro casual com o Sr. Johnson. 

Prêmio de consolação

Na Conclusão, um ano depois dos eventos principais da trama e na voz de um narrador onipresente (marca do estilo de Austen), o leitor é informado que sua família pressiona Reginald a conviver com Frederica, identificar qualidades nela e desenvolver um sentimento bom o bastante para um casamento. 

 “Frederica foi, portanto, fixada na família de seu tio e tia até o momento em que Reginald De Courcy pudesse ser persuadido, lisonjeado e induzido a ter uma afeição por ela que, permitindo tempo para a conquista do sentimento que nutriu pela mãe dela, desistir qualquer contato futuro e aversão ao sexo poderia ser razoavelmente trocados no decorrer de um ano. Em geral, três meses teriam bastado, mas os sentimentos de Reginald não eram menos duradouros do que ardentes.” 

LS - conclusão

Entende-se então que ele continua sendo facilmente influenciado, mesmo depois de sua experiência com Lady Susan.

 Frederica Vernon

Resumo

filha única de Lady Susan, negligenciada e com pouca educação formal

16 anos

É enviada para uma escola em Londres

considerada a maior simplório do mundo por sua mãe 

Casa-se com Reginald De Courcy.

Características 

é a filha gentil e submissa de Lady Susan. Frederica é um personagem quase sem voz. Apesar de ser mencionada em 21 das 41 cartas, somente uma é escrita por ela mesma.

Lady Susan a deixa no internato antes do início da trama, mas no meio do caminho, ela foge e acaba ficando com Lady Susan na propriedade dos Vernons. 

O leitor é apresentado a Frederica pela mãe em uma carta para a amiga e comparsa, Alicia Johnson.

“Fui chamada de mãe indelicada, mas foi o impulso sagrado do afeto materno, foi o futuro de minha filha que me conduziu; e se aquela filha não fosse a maior simplória da terra, eu poderia ter sido recompensada por meus esforços como deveria. (...) Sir James me fez propostas para Frederica; mas ela que nasceu para ser o tormento da minha vida, decidiu colocar-se tão violentamente contra o casamento que achei melhor deixar o esquema de lado por enquanto.” 

LS – carta nº 2

Antes de conhecer Frederica, Charles e Catherine Vernon têm a impressão de que ela é uma garota mal-comportada e pouco inteligente, muito influenciada pelas fofocas do irmão Reginald.

“Fico feliz em saber que a srta. Vernon não acompanhará a mãe a Churchhill, pois ela nem mesmo tem educação para recomendá-la; e, de acordo com o relato do Sr. Smith, é igualmente monótona e orgulhosa. Onde o orgulho e a estupidez se unem, não pode haver dissimulação digna de nota, e a Srta. Vernon está condenada a implacável desprezo; mas, por tudo o que pude perceber...” 

LS – carta de Reginald, nº 4

A garota foge da escola para onde é enviada e o tio Charles Vernon vai ao seu resgate. Depois que ela chega em Churchill, eles percebem que ela é apenas "tímida" e tem medo de sua mãe, que fala mal dela para os outros e tenta microgerenciar sua vida. 

“Nunca vi nenhuma criatura parecer tão assustada quanto Frederica quando ela entrou na sala. (...)Frederica explodiu em prantos assim que nos sentamos para o chá. (...) Frederica não parece ter o tipo de temperamento que torna necessária a severidade (de sua mãe). Ela parece perfeitamente tímida, conformada e penitente. Ela é muito bonita, embora não tão bonita quanto a mãe, nem é nada parecida com ela. Sua tez é delicada, mas não tão clara nem tão exuberante quanto a de Lady Susan, e ela tem o semblante dos Vernon, o rosto oval e os olhos escuros suaves, e há uma doçura peculiar em seu olhar quando ela fala com seu tio ou comigo, pois ao agirmos gentilmente com ela, é claro que conquistamos sua gratidão. Sua mãe insinuou que seu temperamento é intratável, mas nunca vi um rosto menos indicativo de qualquer disposição maligna do que o dela; e pelo que posso ver do comportamento de uma para com a outra, a severidade invariável de Lady Susan e o desânimo silencioso de Frederica, sou levada a acreditar, como até agora, que a primeira não tem nenhum amor verdadeiro por sua filha.” 

LS – carta de Catherine – nº 17

Na verdade, o leitor vê Frederica pela visão dos outros, até quando ela tenta pedir ajuda a Reginald na tentativa de se livrar da presença avassaladora da mãe. 

Peça de tabuleiro 

O controle de Lady Susan sobre a passiva Frederica é absoluto: ela espera forçá-la a se casar com Sir James Martin, a quem Frederica despreza, e a mandou para um internato como punição temporária por se recusar. 

Ao longo da trama, no entanto, os personagens a usam como um peão - Catherine até planeja usar a paixão da garota por Reginald para incentivá-lo a romper o relacionamento com Lady Susan. 

Eventualmente, Lady Susan abandona Frederica quando ela decide se casar com Sir James, e Frederica acaba por se casar com Reginald (depois que sua família o convence a fazê-lo). 

Filha de peixe

Depois que Sir James chega inesperadamente à casa dos Vernons, Frederica apela para o irmão de Catherine, Reginald De Courcy, que está apaixonado por Lady Susan, pedindo-lhe que a proteja e rompa seu noivado com Sir James. 

“Em resumo, descobri que ela, em primeiro lugar, havia realmente escrito para ele para solicitar sua interferência e que, ao receber sua carta, ele havia conversado com ela sobre o assunto, a fim de entender os detalhes e garantir-lhe de seus desejos reais. Não tenho dúvidas de que a garota aproveitou a oportunidade para fazer amor com ele. Estou convencida disso pela maneira como ele falou dela. Que bem esse amor pode fazer a ele! Sempre desprezarei o homem que se sente gratificado pela paixão que nunca desejou inspirar, nem solicitou. Sempre detestarei os dois. Ele pode não ter verdadeira consideração por mim, ou não a teria ouvido; e ELA, com seu coraçãozinho rebelde e sentimentos indelicados, para se jogar na proteção de um jovem com quem ela quase nunca havia trocado duas palavras antes! Estou igualmente confusa com a impudência DELA e com a credulidade DELE.” 

LS – carta de Lady Susan, nº 22

Susan tem razão em questionar a ação de Frederica. Antes na trama, havia sido o tio quem a resgatou e no entanto, a garota escolheu o jovem bonito e solteiro para pedir ajuda.

Desde esse momento, começamos a desconfiar de Frederica e ver que, por observar as atenções mútuas dele com sua mãe,  a garota começa a desenvolver uma queda por Reginald, que anteriormente a ignorou, e ele se torna temporariamente solidário com sua situação após seu pedido de ajuda. 

Porque Frederica tem tanto medo de Lady Susan, seu apelo demonstra que, apesar de não ser ser corajosa o suficiente para enfrentar a mãe, consegue ter a petulância de recorrer ao amante de Susan. 

“Senhor, espero que desculpe esta liberdade; sou forçada a isso pela maior angústia, ou teria vergonha de incomodá-lo. Estou muito triste por causa de Sir James Martin e não tenho outra maneira de me ajudar a não ser escrevendo para o senhor, pois estou proibida até mesmo de falar com meus tios sobre o assunto;  (...)Nenhum ser humano além do senhor poderia ter alguma chance de prevalecer com ela. Se você, portanto, tiver a bondade indescritível de tomar o meu partido com ela e convencê-la a mandar Sir James embora, ficarei mais grato a você do que é possível para mim expressar. (...) Prefiro trabalhar pelo meu pão do que me casar com ele. Não sei como me desculpar o suficiente por esta carta; eu sei que está tomando uma liberdade tão grande. Sei como isso vai deixar mamãe furiosa, mas me lembro do risco.”

LS – carta de Frederica – nº 21

Recompensa 

Em suas obras subsequentes, Austen passou a recompensar suas boas meninas e punir as assanhadas. Mas em Lady Susan, ela deixa Susan casar com um homem rico e dá a Frederica a recompensa agridoce de casar com o homem que havia sido perdidamente apaixonado por sua mãe.

A passividade de Frederica, brevemente rompida no episódio de pedido de ajuda a Reginald, aparentemente continua mesmo sem a presença de sua mãe, já que ela aceita os esforços dos De Courcy e Sra. Vernon em prol de seu relacionamento com Reginald.

Embora seu caráter moral seja recompensado com um casamento razoavelmente feliz, mesmo que seja como prêmio de consolação.

 Alicia Johnson

Resumo

Jovem e bonita

casada com o Sr. Johnson, rico e muitos anos mais velho que ela 

Mora em Edward Street, no bairro elegante Mayfair - Londres. 

confidente e comparsa de Lady Susan.

Saiba mais

é confidente e comparsa de Lady Susan; mulher bonita e jovem que gosta da vida Londrina de festas e flertes. Para isso, precisou aceitar casamento com o homem velho e doente Sr. Johnson. 

“Minha querida Alicia, que erro você cometeu ao se casar com um homem desta idade! Idade suficiente para ser formal, ingovernável e ter gota; velho demais para ser agradável, jovem demais para morrer.” 

LS - carta de Susan, nº 29

E Alicia é igualmente cruel: como seu marido odeia Lady Susan, coloca limites para suas liberdade inclusive a impedindo se ver Susan, as duas mulheres esperam pela queda de sua saúde e morte. Como viúva, ela ao menos terá a liberdade de Susan.

“Minha querida Alicia, eu me rendo à necessidade de nos separarmos. Nestas circunstâncias, você não poderia agir de outra forma. Nossa amizade não será prejudicada por isso, e em tempos mais felizes, quando sua situação for tão independente quanto a minha, nos uniremos novamente na mesma intimidade de sempre. Por isso esperarei impacientemente, (...) Adeus, mais querida dos amigas; que o próximo ataque de gota (de seu marido) seja mais favorável! "

LS – carta de Susan – nº39

E quando ela ri do sofrimento da Srta. Mainwaring por perder o noivo rico:

“Eu o repreendi (Sir James Martin) pela afeição de Maria Mainwaring; ele protestou que estava apenas brincando, e nós dois rimos muito da decepção dela; e, em suma, (a visita dele) foi muito agradável. Ele está tão bobo como sempre.” 

LS – carta de Alicia – nº 9

Apesar de todas as fofocas e confidências, não há provas de que Alicia seja desleal no matrimônio. O leitor desconfia que ela seja igualmente ardilosa já que é tão amiga de Susan, mas além de ajudar nas tramoias de enganar os pretendentes da amiga, Alicia não age para seu próprio lucro.

Papel na trama

As cartas de Lady Susan para Alicia revelam seu verdadeiro caráter para o leitor, pois ela admite abertamente seus esquemas cruéis para sua amiga, mas os esconde de sua família pessoalmente. 

Por um acidente infeliz, Alicia acaba se envolvendo no rompimento de Reginald De Courcy com Lady Susan. É em sua casa que Reginald fica sabendo da continuidade do caso de sua noiva secreta, Susan, com o casado Sr. Mainwaring. 

Auto preservação feminina

Talvez por ser uma dama casada com homem de posses, e por isso, segura na vida, quando lhe é dado um ultimato, Alicia escolhe seu conforto em primeiro lugar. 

“Esteja certa de que compartilho de todos as suas aflições e não fique zangada se eu disser que nossa relação, mesmo por carta, deve ser abandonada em breve. Isso me deixa infeliz; mas o Sr. Johnson jura que, se eu persistir na amizade, ele se estabelecerá no interior pelo resto de sua vida, e você sabe que para mim é impossível me submeter a tal extremo enquanto restar qualquer outra alternativa.” 

LS – carta de Alicia – nº 38

No final do romance, o Sr. Johnson força Alicia a cortar o contato com Lady Susan, ameaçando fazê-la mudar-se para o campo se ela se recusar. Essa perda de uma colega conspiradora é parte da punição leve de Lady Susan por suas ações. 

No entanto, o tom alegre de suas últimas cartas (nº 38 de Alicia para Susan e nº 39 de Susan para Alicia)  até o fim, sugerindo que o vínculo entre ela nunca será particularmente profundo ou importante para nenhuma delas.

 Sir James Martin

Resumo

homem de fortuna 

jovem e desprezivelmente fraco na personalidade, um bobo, impertinente, insuportável (cada mulher da trama usa adjetivos pouco lisonjeiros para ele)

tem formação de Universidade

inicialmente comprometido com Maria Mainwaring, mas Lady Susan o faz quebrar o compromisso para que ele se case com sua filha, Frederica

casa-se com Lady Susan Vernon

Saiba mais 

é um homem rico, despreocupado, bem-humorado e um tanto desligado que conheceu Lady Susan enquanto ela estava visitando os Mainwaring. 

Na época, ele estava noivo da Srta. Mainwaring, mas logo foi seduzido por Lady Susan, que esperava tê-lo como marido para sua filha, Frederica. 

“Sir James certamente é péssimo (suas maneiras infantis o fazem parecer pior)” 

LS – carta de Catherine Vernon – nº 24

Lady Susan e Frederica não gostam de Sir James; em uma carta a Reginald De Courcy, Frederica chama Sir James de “bobo, impertinente e desagradável”, e ela se esforça ao longo da novela para terminar o noivado. 

“Sempre desgostei dele desde o início: não é uma fantasia repentina, garanto-lhe, senhor. Sempre o achei tolo, impertinente e desagradável, e agora ele está pior do que nunca. Prefiro trabalhar pelo meu pão do que me casar com ele.”

LS – carta de Frederica – nº 21

Curiosamente, Sir James parece querer se casar com Frederica principalmente por causa de seu relacionamento com Lady Susan; como Alicia diz:

“Falei com ele sobre você e sua filha, e ele está tão longe de tê-los esquecido, que tenho certeza de que se casaria com qualquer um de vocês com prazer.” 

LS – carta de Alicia Johnson – nº 9

Eventualmente, é exatamente isso que acontece: após seu rompimento com Reginald, Lady Susan se casa com Sir James (contra a vontade da Srta. Mainwaring que continua tentando recuperar seu noivo). 

Na conclusão da trama, o narrador pede aos leitores que tenham pena de Sir James – embora o casamento de Lady Susan certamente seja infeliz, Sir James é ingênuo o suficiente para que ela possa manipulá-lo facilmente.

 Sr. Mainwaring

Resumo

senhor de Langford. 

casado

irmão de Maria Mainwaring. 

amante preferido de Lady Susan.

Saiba mais

Homem muito bonito e atraente, boa companhia, bom flerte e excelente amante, ele é a perdição da coquete Lady Susan e o único na trama que realmente tem poder sobre ela.

“... quando cheguei a Langford pela primeira vez, (vi que) Mainwaring é tão extraordinariamente agradável que não deixei de ter apreensões por mim mesma. Lembro-me de dizer a mim mesmo, enquanto me aproximava da casa: ‘Gosto deste homem, tomara que não aconteça nenhum mal!’” LS – carta de Susan – nº 2

Amor bandido

Antes dos eventos da trama, Lady Susan estava hospedada com os Mainwarings. A princípio era uma visita agradável entre pessoas elegantes da sociedade, mas à medida que o encantamento entre o Sr. Mainwaring e a viúva Lady Susan aumenta, a tensão fica insuportável.

Por seduzir o Sr. Mainwaring ( e deixar-se seduzir pelo homem mantido pela fortuna da esposa), Susan causa caos suficiente que ela teve que fugir abruptamente de Langford. 

“Estamos agora em um estado periclitante; nenhuma casa esteve mais alterada; todo o grupo está em guerra e Mainwaring mal ousa falar comigo. É hora de partir. Eu, portanto, decidi deixá-los...” 

LS – carta de Susan – nº 2

No entanto, o Sr. Mainwaring - que é infiel e ciumento - continua a persegui-la de longe, e quando Lady Susan retorna a Londres após sua estadia com Charles e Catherine Vernon, o Sr. Mainwaring a encontra lá. 

Como Lady Susan está planejando se casar com seu atual amante, Reginald De Courcy, ela precisa encontrar uma maneira de lidar com os dois homens ao mesmo tempo. 

Mas Lady Susan parece genuinamente gostar dele: ela compara Reginald negativamente a ele e diz que se o Sr. Mainwaring pudesse se casar com ela, ela concordaria com isso. 

Finalmente, ele é a razão da desgraça social de Susan e a força a casar com Sir James para ter sustento e assim poder manter o caso com ele.

 Sir Reginald De Courcy

Resumo 

senhor de Parklands, Sussex. 

casado com Lady de Courcy 

pai de Reginald e Catherine (casada)

tem fortuna e saúde prejudicada

avô de várias crianças

Saiba mais

 Homem de temperamento impulsivo e reativo, mas também é facilmente persuadido pelos outros. 

Depois que ele acidentalmente descobre sobre o apego de Reginald a Lady Susan, ele escreve a seu filho uma carta com palavras fortes se opondo ao casamento - porque isso deixaria Reginald infeliz, porque Lady Susan está sem um tostão e porque o bom nome da família estaria em jogo devido à má reputação de Lady Susan. 

“Sinceramente, digo-lhe meus sentimentos e intenções: não desejo alimentar seus medos, mas seu bom senso e afeição. Destruiria todo conforto de minha vida saber que você se casou com Lady Susan Vernon; seria a morte daquele orgulho honesto com que até então considerei meu filho. Eu deveria me envergonhar de vê-lo, de ouvir falar dele, de pensar em ti.” 

LS – carta de Sir Reginald – nº 12

Reginald responde, dizendo que não tem intenção de se casar com Lady Susan. Catherine sabe que isso não é verdade, mas Sir Reginald acredita, sugerindo que ele é facilmente influenciado, como seu filho.

 Lady De Courcy

Resumo

Esposa de Sir Reginald De Courcy de Parklands, Sussex

Mãe de Reginald e Catherine

Avó de várias crianças

Saiba mais

Mãe dedicada de dois filhos adultos (Catherine, casada e Reginald, em idade de casar) ela é a correspondente mais frequente da filha.

Pelos relatos que ela recebe de Catherine, o leitor fica sabendo dos vários esquemas de Lady Susan que alimentam a trama. Ela se preocupa com seu filho e inicialmente espera manter sua ligação com Lady Susan em segredo do marido.

“Como é irritante, minha querida Catherine, que esta seu hóspede indesejada não só impeça nosso encontro neste Natal, mas seja a causa de tantos aborrecimentos e problemas! Beije as queridas crianças por mim.” 

LS – carta de Lady de Courcy – nº 13

Ela e Catherine planejam separar os dois, mas seus esforços não dão resultado deixando claro que o poder feminino, apesar de grande no seio da família, era bastante limitado. 

 Sr. Johnson

Resumo

mora em Edward Street, Mayfair, Londres

casado com Alicia, mulher muitos anos mais jovem que ele

guardião da Sra. Mainwaring. 

tem tias velhas em Bath

homem “respeitável” atormentado pela gota

detesta Lady Susan 

Saiba mais 

Homem de posses que casa com uma mulher jovem e bonita e é tutor de uma jovem casada, Sr. Johnson precisa lidar com as vontades femininas.

Enquanto lida com a gota, doença muito popular na época, ele enfrenta a odiosa amiga da esposa e os choramingos da tutelada que reclama com ele que a amiga odiosa quer roubar seu marido.

Por ser um home respeitável, ele cortou a afilhada depois que ela se casou com o Sr. Mainwaring, um homem claramente sem honra. Mas, no final da trama, a Sra. Mainwaring chega à casa dos Johnsons em busca de seu marido, e chora seus sofrimentos exigindo que o Sr. Jonhson resolva o problema. 

Como resultado da bagunça, ele exige que a esposa corte relações com Lady Susan.

 Sra. Mainwaring

Resumo 

senhora de Langford 

esposa traída do Sr. Mainwaring 

Saiba mais

 é a esposa do Sr. Mainwaring e descobre, na sua própria casa, que seu marido está tendo um caso com Lady Susan. É muito ciumenta, embora seja impotente para impedir que o caso aconteça. 

No final da novela, ela visita a casa de seu tutor, o Sr. Johnson, na esperança de encontrar o Sr. Manwaring lá. Esta visita alerta Reginald De Courcy sobre a infidelidade de Lady Susan e faz com que ele rompa o noivado.

 Srta Mainwaring

Resumo 

irmã do Sr. Mainwaring de Langford 

solteira à procura de um marido

Saiba mais

 Ela começa a trama como noiva de Sir James Martin, mas o compromisso é quebrado porque Lady Susan seduz Sir James, na esperança de assegurá-lo como marido para sua filha, Frederica Vernon. 

Miss Mainwaring continua a tentar recuperar Sir James - no final da novela, ela volta a Londres em busca de dele, apenas para descobrir que Lady Susan já se casou com ele.

⭐ Personagens menores 

⭐ Charles Smith

 Conta histórias escandalosas sobre Lady Susan para Reginald

 Clark

 de Staffordshire. Os únicos amigos de Frederica

 Hamiltons

 uma família amiga dos Johnsons

 James

valete de Reginald de Courcy 

 Srta Summer

 da Wigmore Street, Londres. Professora de uma das melhores Escolas Particulares da Cidade que Frederica frequenta e foge.

 Wilson

 criada de chambre de Lady Susan.


Ufa!

Você já tinha notado que cabia esse monte de gente em um romance tão enxuto?! 

para mais detalhes sobre Lady Susan, veja aqui

fontes: original de Austen e meus arquivos pessoais


Está gostando de saber dos detalhes desta obra de Jane Austen?
Tenho muito mais guardado para te contar!

Se você ainda não viu, aqui estão minhas pesquisas de Austen Nation e pesquisas históricas aqui.

LINKS para Lady Susan

Bjs, e até mais!

M.


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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Lady Susan, de Jane Austen, em números

 Olá!

tenho procrastinado nos estudos de Lady Susan, mas eu persisto!


Enquanto eu preparava o post grande sobre os personagens (exceto Susan que ganhou seu próprio post), senti necessidade de uma lista das cartas. Uma vez fazendo a lista, vi necessidade de listar o tipo de carta. Depois o tamanho, e tal e tal.

Então, aqui está um post dedicado aos números de Lady Susan.

PA Wille - Portrait of a woman reading a letter - 1776

são 41 cartas, veja a lista:

I -         Lady Susan Vernon para Sr. Vernon

II -       Lady Susan Vernon para Sra. Johnson

III -     Sra. Vernon para Lady de Courcy

IV -     Sr. de Courcy para Sra. Vernon

V -     Lady Susan Vernon para Sra. Johnson

VI -     Sra. Vernon para Sr. de Courcy

VII -     Lady Susan Vernon para Sra. Johnson

VIII -     Sra. vernon para Lady de Courcy

IX -     Sra. Johnson para Lady S. Vernon

X -     Lady Susan Vernon para Sra. Johnson

XI -     Sra. Vernon para Lady de Courcy

XII -     Sir Reginald de Courcy para seu filho

XIII -     Lady de Courcy para Sra. Vernon

XIV -     Sr. de courcy para Sir Reginald

XV -     Sra. Vernon para Lady de Courcy

XVI -     Lady Susan para Sra. Johnson

XVII -     Sra. Vernon para Lady de Courcy

XVIII –     da mesma para a mesma

XIX -     Lady Susan para Sra. Johnson

XX -     Sra. Vernon para Lady de Courcy

XXI –     Srta. Vernon para Sr. de Courcy

XXII -     Lady Susan para Sra. Johnson

XXIII -     Sra. Vernon para Lady de Courcy

XXIV –     da mesma para a mesma

XXV -     Lady Susan para Sra. Johnson

XXVI -     Sra. Johnson para Lady Susan

XXVII -     Sra. Vernon para Lady de Courcy

XXVIII -     Sra. Johnson para Lady Susan

XXIX -     Lady Susan Vernon para Sra. Johnson

XXX -     Lady Susan Vernon para Sr. de Courcy

XXXI -     Lady Susan para Sra. Johnson

XXXII -     Sra. Johnson para Lady Susan

XXXIII -     Lady Susan para Sra. Johnson

XXXIV -     Sr. de Courcy para Lady susan

XXXV -     Lady Susan para Sr. de Courcy

XXXVI -     Sr. de Courcy para Lady Susan

XXXVII -     Lady Susan para Sr. de Courcy

XXXVIII -     Sra. Johnson para Lady Susan Vernon

XXXIX -     Lady Susan para Sra. Johnson

XL -             Lady de Courcy para Sra. Vernon

XLI -             Sra. Vernon para Lady de Courcy

mais detalhadamente:



Note que algumas estão marcadas com * porque essas cartas são consideradas proibidas pelas regras de etiqueta e bom comportamento. Eu já falei de regras aqui e aqui, mas em resumo, uma mulher só poderia se corresponder com um homem se ele fosse:

  • da família,
  • um profissional (advogado, banqueiro, etc),
  • marido,
  • noivo.

Mas tanto mãe quanto filha enviam cartas para Reginald de Courcy, o herói de bom caráter e altamente manipulável.

Analisando quem fala mais - e por isso controla a narrativa, temos Catherine Vernon, a principal antagonista de Lady Susan.


Porém, Susan envia e recebe mais cartas.


Também vale a pena saber que a maior carta é de Catherine (contando para a mãe que a vaca foi para o brejo) e a menor de Reginald (terminando tudo com a vaca a noiva secreta, Susan).



Que tal? Interessante?

Eu adoro esse tipo de estudo das obras de Jane Austen porque me ajuda a entender melhor a trama e o processo criativo dela.

VM Corcos (1a metade sec XX) - Signora in nero
.

para mais detalhes sobre Lady Susan, veja aqui

fontes: original de Austen e meus arquivos pessoais


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Se você ainda não viu, aqui estão minhas pesquisas de Austen Nation e pesquisas históricas aqui.

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sábado, 19 de novembro de 2022

Lady Susan de Jane Austen, quem é essa mulher?

 olá, blz?

Estive mergulhada no estudo da natureza profunda de mulheres complicadas. Não, não estive defronte do espelho, haha. Eu fiz maratona de 'Minha amiga genial', do podcast sobre Ângela Diniz e...

Confesso que dei umas piradas básicas e, eventualmente, farei um post sobre a relação complexa que eu fiz sobre a vida das personagens literárias e a socialite dos anos 70. Altamente indico que você ouça o podcast e veja a série ou leia os livros.

Por isso, eu achei bom fazer um post dedicado a Lady Susan, a personagem principal do romance de Jane Austen.

Susan é uma mulher complexa, cheia de motivações e tramóias. Para mim, é uma das melhores criações de Austen.

Aviso: esse post contém SPOILERS HORROROSOS.


A PERSONAGEM PRINCIPAL
para os demais personagens, veja aqui

✧ Resumo ✧

- filha de um nobre (ela é 'Lady primeiro nome' o que nos diz que nasceu de um pai com título de nobreza. Compare com Lady de Courcy, que é 'Lady sobrenome' indicando que o título é do marido)

- quando começa a história, ela é viúva de Mr. Vernon há quatro meses

- amante de Mainwaring, homem casado

- tem aproximadamente 35 anos 

- tem uma filha, Frederica Susanna. 

- anteriormente morava em Vernon Castle, Staffordshire 

- locais de residência em Londres são Upper Seymour Street, e mais tarde de 10 Wigmore Street, ambos em Mayfair, o bairro elegante de Londres. 

- tem fama de ser 'a coquete mais talentosa da Inglaterra', manipuladora e fabulosamente perversa. 

- riqueza por si só não a satisfaz, ela é uma conquistadora. 

- termina o romance casada com Sir James Martin, inicialmente escolhido por ela para casar com sua filha Frederica.

Portrait of a beautiful lady by George Papperitz

✧ Saiba mais 

Viúva falida depois da morte do marido e mãe de uma única filha, Frederica Vernon, Lady Susan instiga os acontecimentos da história ao se convidar para passar uma temporada na casa de seu cunhado (irmão do falecido marido), Charles Vernon, e sua esposa, Catherine. 

✧ Intenção

O real motivo para esta visita revela sua natureza egoísta: ela precisava fugir da casa dos Mainwaring onde esteve anteriormente hospedada, por ter seduzido o dono da casa (Sr. Mainwaring, marido dependente da esposa rica) e encantado seu amigo rico Sir James Martin (que era noivo da irmã de Mainwaring)  quem Susan decidiu forçar a se casar com sua filha Frederica. 

‘No momento, nada corre bem; as mulheres da família estão unidas contra mim. Você previu como seria quando cheguei a Langford, e Mainwaring é tão extraordinariamente agradável que não deixei de ter apreensões por mim mesma. Lembro-me de me dizer: "Gosto muito deste homem, tomara que nenhum mal venha disso!" 

LS – carta 2

✧ Características✧ 

Lady Susan é uma manipuladora habilidosa. Bonita, inteligente e educada, ela é capaz de convencer os outros de sua inocência, embora seu verdadeiro caráter seja prontamente revelado aos leitores em suas cartas para sua amiga e conspiradora Alicia Johnson. Ao contrário dos personagens, os leitores tem acesso total ao andamento dos planos e interesses reais de Susan – bem como a reação de suas vítimas.

‘Pretendo conquistar o coração de minha cunhada por meio de seus filhos; Já sei todos os seus nomes e vou me apegar com a maior sensibilidade a um em particular, um jovem Frederic, a quem pego no colo e suspiro por causa de seu querido tio.’ 

LS – carta 5

A duplicidade de Lady Susan é particularmente clara em seu relacionamento com o irmão de sua cunhada Catherine, Reginald De Courcy: ele inicialmente desconfia de Lady Susan, mas logo se apaixona por ela e começa a acreditar e defender suas mentiras. Os dois acabam ficando noivos, mas depois que Reginald descobre seu caso com o Sr. Mainwaring, ele rompe o noivado, e no final da história Lady Susan se casa com Sir James sem que o leitor tenha certeza se o apaixonado caso com Mainwaring acabou. 

✧ Motivações 

Ao longo da novela, as motivações de Lady Susan giram entre segurança financeira e poder (na sociedade imediatamente próxima dela). 

Seu falecido marido, por quem ela não era apaixonada, estava falido, o que significa que ela precisava de dinheiro - mas suas ações nunca indicam que ela é mercenária. Por exemplo, sua insistência para que Frederica se case com Sir James não parece motivada apenas por dinheiro - ela insiste no casamento de Frederica principalmente para punir a garota forçando-a a aturar uma união infeliz.

‘Não quero dizer, portanto, que as instruções de Frederica devam ser mais do que superficiais, e eu me gabo de que ela não permanecerá tempo suficiente na escola para entender qualquer coisa profundamente. Espero vê-la como esposa de Sir James dentro de um ano. Você sabe em que baseio minha esperança, e certamente é uma boa base, pois a escola deve ser muito humilhante para uma garota da idade de Frederica. (...) desejo que ela ache sua situação o mais desagradável possível. (...) Algumas mães teriam insistido para que suas filhas aceitassem uma oferta de casamento tão boa na primeira proposta; mas não consegui me convencer a forçar Frederica a um casamento para o qual seu coração se revoltou e, em vez de adotar uma medida tão dura, apenas propus que fosse sua própria escolha, deixando-a totalmente desconfortável até que ela o aceitasse.’ 

LS – carta 7

a bela Emma Hamilton. minha gatinha tem o nome dela

Talvez por querer garantir um futuro seguro para a filha e para si própria (motivação comum na época que vemos também nos esforços da Sra. Bennet em Orgulho e Preconceito) ou para punir Frederica por tê-la desafiado ao recusar a proposta do rico Sir James, Lady Susan exerce seu poder sobre a garota com mão de ferro.

Ela parece simplesmente gostar de controlar os outros, especialmente porque sua influência como viúva pobre na sociedade do século 19 era limitado. Por exemplo, ela diz a Alicia que flerta com Reginald não porque ela gosta dele, mas porque ela gosta de como ela conseguiu mudar completamente a opinião dele. 

‘...irmão da Sra. Vernon, um jovem bonito, que promete ser de alguma diversão. Há algo nele que me interessa bastante, uma espécie de atrevimento e familiaridade que devo ensiná-lo a corrigir. Ele é animado e parece inteligente, e quando eu o inspirar com mais respeito por mim do que os bons ofícios de sua irmã implantaram, ele pode ser um flerte agradável. Há um prazer requintado em subjugar um espírito insolente, em fazer uma pessoa predeterminada a não gostar de mim reconhecer minha superioridade. Eu já o desconcertei com minha calma reservada, e será meu esforço humilhar ainda mais o orgulho desses auto-importantes De Courcys. Este projeto servirá pelo menos para me divertir ...’ 

LS – carta 7

No final da novela, Lady Susan não mudou significativamente - embora ela se  case com Sir James, ele é facilmente manipulado, o que significa que os esquemas de Lady Susan provavelmente continuarão. 

✧ Mensagem oculta

Durante a trama, Frederica desenvolve uma queda por Reginald e o manipula a defendê-la contra os desmandos da mãe, mostrando que Lady Susan está errada, sua filha é sim parecida com ela. O leitor então tem a chance de ver o herói Reginald ser joguete de mãe e filha provando sua fraqueza de caráter. A ironia de Austen neste personagem é deliciosa de ler.

Esse é um dos assuntos recorrentes na história: o poder de persuasão e controle que as mulheres exerciam no lar. Homens da virada dos séculos 17 para 18 podiam ter todo poder fora de casa, mas quem controlava dentro eram as mulheres. Neste romance curto, Jane Austen nos dá a oportunidade de avaliar como Reginald (jovem herdeiro de boa fortuna) é manipulado Susan (amante mais velha), Frederica (noiva ideal por ser jovem e casta), Catherine (irmã dele) e Lady De Courcy (mãe dele). Ele tenta seguir os próprios instintos escolhendo Susan sob os protestos da mãe e irmã, mas no final, por desilusão total, humilhado e de coração partido, ele aos poucos aceita Frederica quase como prêmio de consolação.

‘Frederica foi, portanto, fixada na família de seu tio e tia até o momento em que Reginald De Courcy pudesse ser persuadido, lisonjeado e induzido a ter uma afeição por ela que, permitindo tempo para a conquista do sentimento que nutriu pela mãe dela, desistir qualquer contato futuro e aversão ao sexo poderia ser razoavelmente trocados no decorrer de um ano.’ 

LS - conclusão

Austen usaria esse recurso logo depois em Razão e Sensibilidade, escrita logo após Lady Susan. Em R&S, Marianne é a heroína de coração aberto que acredita nas mentiras do belo cavalheiro e quando descobre a verdade sobre ele, chora e sofre muito até que aceita casar com seu admirador muito mais velho.

✧ Finalmente

Independente do valor dos casamentos consumados – tanto Reginald com Frederica quanto Marianne com Coronel Brandon – vemos corações partidos emendados pela dor e curados por um amor substituto. Mais tarde em sua obra, Austen vai refinando essa punição para suas mocinhas assanhadas dando-lhes uniões infelizes ou solteirice crônica.

Quanto a Susan, ela casa com a melhor opção possível: o rico, bobo e incoveniente Sir James que certamente seria presa fácil na mão dela. 

Pode ser acridoce e ter punição branda para a assanhada, mas Lady Susan tem final feliz para todos.


para os demais personagens, veja aqui

fontes: Austenprose, litcharts, bookrags, supersummary, jasna, the guardian, meus arquivos pessoais


Está gostando de saber dos detalhes desta obra de Jane Austen?
Tenho muito mais guardado para te contar!

Se você ainda não viu, aqui estão minhas pesquisas de Austen Nation e pesquisas históricas aqui.

LINKS para Lady Susan

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M.


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