& Moira Bianchi: março 2022

sexta-feira, 11 de março de 2022

Juvenília: a Jovenzinha Jane Austen 2 - Uma situação complicada

 olá!

Mais uma parte deste projeto que tem me ocupado por meses! E que lindeza!

JANE AUSTEN JUVENÍLIA 

Os cadernos da Jovenzinha Jane

Faz tempo que tenho me dedicado a este projeto com muito carinho e muito cuidado. Porque traduzir Jane Austen não é moleza! Quando penso nos feras que já fizeram e no quanto amamos Austen sinto um frio na barriga! Conto todos os detalhes aqui.

Pesquisei muito, revisitei meus arquivos dos cursos que fiz e discussões sobre a obra que já participei, revi palestras e li análises críticas, tudo para te trazer textos caprichados!


Este projeto me exigiu muita preparação, meses de pesquisa que, aliados aos meus anos em Austen Nation, me deixaram segura o suficiente para assumir a grande tarefa de traduzir Jane.
Algumas dessas pesquisas eu divido contigo no Instagram JANE AUSTEN PARA INICIANTES, perfil que criei só para falar dela porque o povo não aguentava mais me ouvir repetir Austen isso, Austen aquilo! Assim, quem vem para esse perfil, sabe que é dela mesmo que vou ficar repetindo e repetindo!

VOLUME 1 que é a ÍNTEGRA do Volume Primeiro que Jane Austen nos deixou. E é uma graça!

O VOLUME 2 que sai agora é fogo no parquinho! Você não imagina a boca suja da Jovenzinha Jane! Nem dá para acreditar!...

Todas as revisoras me perguntaram: foi Jane mesmo que escreveu isso??


Nem vou postar as safadezas dela, vou deixar você ler!


Mas quero te mostrar meu conto favorito entre os 13 que compõem esse Volume 2:

*****

Carta de uma jovem dama em situação complicada para uma amiga

Alguns dias atrás eu estava em um baile privado dado pelo Sr. Ashburnham. Como minha mãe nunca sai, confiou-me aos cuidados de Lady Greville, que me deu a honra de me pegar no caminho e de me deixar sentar virada para frente , o que é um favor pelo qual sou muito indiferente, especialmente porque sei que é considerado um grande atenção comigo. 

― Então, senhorita Maria ― disse sua Senhoria ao me ver chegando na porta da carruagem ― você parece muito bem vestida esta noite. Minhas pobres meninas estarão bastante em desvantagem em relação a você. Eu só espero que sua mãe não tenha feito muito esforço para prepará-la. Você está com um vestido novo?

― Sim, senhora. ― respondi com tanta indiferença quanto possível.

― Sim, e é bem bonito, eu acho ― acreditando ser esta a permissão dela, eu me sentei ao seu lado ― Eu ouso dizer que é muito bonito. Mas eu devo dizer, porque você sabe que eu sempre falo o que penso, que eu acho foi um gasto bastante desnecessário. Por que você não pode usar o seu velho listrado? Não é meu jeito de criticar as pessoas porque elas são pobres, porque eu sempre acho que elas são mais para desprezar & lamentar do que culpar por isso, especialmente se elas não podem remediar, mas ao mesmo tempo devo dizer que, na minha opinião, seu velho vestido listrado teria sido bastante bom para quem o usa, porque para dizer a verdade - sempre falo o que penso - tenho muito medo de que metade das pessoas na sala não saberá se você porta um vestido ou não. Mas suponho que você pretende fazer seu destino esta noite. Bem, quanto antes melhor; & desejo-lhe sucesso.

― Na verdade, senhora, eu não tenho essa intenção -

― Quem já ouviu uma jovem admitir que ela era uma caçadora de fortunas? ― Miss Greville riu, mas tenho certeza de que Ellen ficou constrangida por mim.

― Sua mãe foi para a cama antes de você sair? ― disse Sua Senhoria.

― Cara senhora ― Ellen disse ― são apenas nove horas. 

― Verdade Ellen, mas velas custam dinheiro, e a Sra. Williams é sábia demais para ser extravagante.

― Ela estava sentando para cear, Madame -

― E o que ela ia comer?

― Eu não observei.

― Pão e queijo, suponho.

― Eu nunca desejaria uma ceia melhor. ― disse Ellen. 

― Você nunca tem motivo algum ― respondeu sua mãe ― pois uma melhor é sempre fornecida para você. 

Srta. Greville riu excessivamente, como ela sempre faz com a sagacidade de sua mãe. 

Tal é a situação humilhante em que sou forçada a estar enquanto andava na carruagem de sua Senhoria - não ouso ser impertinente, pois minha mãe está sempre me aconselhando a ser humilde e paciente se eu quiser viver na sociedade. Ela insiste em que eu aceite todos os convites de Lady Greville, ou você pode ter certeza de que eu nunca entraria em sua casa ou em sua carruagem com a desagradável certeza que sempre tive de ser maltratada por minha pobreza enquanto estou nelas. 

Quando chegamos a Ashburnham, eram quase dez horas, o que era uma hora e meia mais tarde do que desejávamos ter chegado; mas Lady Greville é elegante demais (ou ela imagina que é) para ser pontual. A dança, porém, não tinha começado pois esperavam pela Srta. Greville. Eu não tinha estado há muito na sala antes de ter combinado dançar com o Sr. Bernard, mas quando íamos tomar a posição, ele se lembrou de que seu criado havia pego suas luvas brancas & imediatamente correu para buscá-las. Neste meio tempo a dança começou & Lady Greville, a caminho de outra sala, passou exatamente na minha frente. Ela me viu & instantaneamente parando, disse-me apesar de que havia várias pessoas perto de nós:

― Ei, senhorita Maria! O que, você não consegue arranjar um parceiro? Pobre jovem! Receio que seu vestido novo foi usado para nada. Mas não se desespere; talvez você possa dar um passo antes que a noite acabe.  

Dito isso, ela se foi sem ouvir minhas repetidas garantias de estar apenas esperando & e partiu muito irritada por ter sido tão exposta diante de todos. Porém, Sr. Bernard voltou logo & vindo para perto de mim no momento que entrou na sala e me conduzindo para  junto dos dançarinos, espero que minha imagem tenha sido limpa da insinuação que Lady Greville lançara sobre ele, aos olhos de todas as velhas damas que ouviram sua fala. Eu logo esqueci todos os meus aborrecimentos no prazer de dançar e de ter o parceiro mais agradável na sala. Como ele é, acima de tudo, herdeiro de uma grande propriedade, eu pude ver que Lady Greville não pareceu muito satisfeita quando descobriu que foi a escolha dele. Ela estava determinada a me humilhar e, portanto, quando estávamos sentados entre as danças, ela veio até mim com mais do que sua habitual presenção insultante, acompanhada pela Srta. Mason e disse alto o suficiente para ser ouvida por metade das pessoas na sala,

― Diga, Mary, em que trabalhava seu avô? Pois a Srta Mason & eu  não conseguimos concordar se era uma verdureiro ou encadernador.

Eu percebi que ela queria me humilhar e eu estava decidida que se possível, evitaria que ela visse seu plano dar certo.

― Nem um dos dois, madame; ele era um comerciante de vinho.

― Sim, eu sabia que ele estava de alguma forma xinfrim. Ele faliu, não foi?

― Eu acredito que não, Madame.

― Ele não fugiu?

― Eu nunca ouvi falar disso.

― Pelo menos ele morreu devedor?

― Nunca me disseram isso antes.

―  Ora, seu pai não foi tão pobre quanto um rato? 

―  Acho que não.

― Não esteve na Corte de apelações  uma vez?

― Eu nunca o vi lá.

Ela me fulminou com o olhar & se afastou com grande aborrecimento; enquanto eu estava meio encantada comigo mesma por minha impertinência, & meio com medo de ser considerada muito atrevida. 

Como Lady Greville estava extremamente brava comigo, ela me ignorou o restante da noite e mesmo se eu a agradasse também teria sido igualmente negligenciada, já que ela estava em um grupo de gente importante & ela nunca fala comigo quando pode conversar com qualquer outra pessoa. Srta. Greville estava com o grupo de sua mãe na ceia, mas Ellen preferiu ficar com os Bernards & eu. Desfrutamos de uma dança muito agradável & como Lady G. dormiu todo o caminho para casa, eu tive um passeio muito confortável.

No dia seguinte, enquanto jantávamos, a carruagem de Lady Greville parou na porta, pois essa é geralmente a hora do dia que ela pensa ser correta. Mandou um recado do criado para dizer que "ela não sairia, mas que a Srta. Maria devia ir até a porta da carruagem porque queria falar com ela, e que devia se apressar e vir imediatamente..."  

― Que messagem impertinente Mama! ― disse eu.

― Vá, Maria ― ela respondeu. 

Assim eu fiz & fui obrigada a ficar parada lá à mercê de sua Senhoria, embora o vento estivesse extremamente forte e muito frio.

― Ora, senhorita Maria, você não está tão bem vestida quanto ontem à noite. Mas eu não vim examinar seu vestido, mas para lhe dizer que você pode jantar conosco depois de amanhã. Amanhã não, lembre-se, não vá amanhã, pois esperamos a família de Lord e Lady Clermont & a família de Sir Thomas Stanley. Não haverá ocasião para você estar muito elegante, pois enviarei a carruagem. Se chover, você pode levar um guarda-chuva.

Eu mal pude deixar de rir ao ouvi-la me dar licença para me manter seca.

― E por favor, lembre-se de ser pontual, pois não vou esperar, detesto minhas comidas passadas. Mas você não precisa chegar antes da hora. Como vai sua mãe? Ela está jantando, não está?

― Sim, senhora. Estávamos no meio do jantar quando Vossa Senhoria chegou. 

― Temo que você esteja com muito frio, Maria. ― disse Ellen.

― Sim, é um vento leste horrível ―  disse sua mãe ―  asseguro-lhe que mal posso suportar a janela abaixada. Mas você está acostumada a ser golpeada pelo vento, senhorita Maria, e é isso que tornou sua pele tão corada e grossa. Vocês, jovens damas que muitas vezes não podem andar em uma carruagem, não se importam qual o tempo que você enfrentam, ou como o vento mostra suas pernas. Eu não deixaria minhas meninas paradas fora de casa como você faz em um dia como esse. Mas alguns tipos de gente não sentem nem frio, nem delicadeza. Bem, lembre-se de que esperamos você na quinta-feira às 5 horas. Você deve dizer à sua criada para vir buscá-la à noite. Não haverá lua, e você fará uma caminhada horrível para casa. Meus cumprimentos à sua mãe, temo que seu jantar estará frio. Siga em frente, cocheiro. 

E ela foi embora, deixando-me muito irritada com ela como sempre faz.

Maria Williams

coitadinha da Maria...

mais um conto que eu ADORARIA continuar!

~ além desta, existem mais 4 cartas na 'Coleção de cartas' incluída neste Volume 2 ~


Gostou?

Uma graça, não é?

Eu devo dizer que continuo apaixonada pela Juvenília!

Eu incluí um sem número de notas te explicando as citações que Austen fez, quem era quem nas dedicatórias, significado escondido nos trocadilhos e datas que ela cita. E olha, Austen neste volume está sem limites! Nossa, cada piadinha suja...


Amei me dedicar a Austen Nation!


**O Volume 2 está disponível em ebook no Kindle Unlimited.**


**O Volume 1 já está disponível na Amazon em ebook Kindle Unlimited. **


** O Volume 3 já está na Kindle Unlimited também. **



As versões em papel brochura e capa dura vêm logo em seguida. Assim como o caderno guia!...

   


Leia um trecho do Volume 1 aqui.

Leia um trecho do Volume 3 aqui.

Saiba mais do caderno guia aqui.



bjs, M.


quinta-feira, 10 de março de 2022

Tem um romance escondido no MANUAL DO BOM COMPORTAMENTO!

 Um projeto lindo que está no forno há anos!



O 'Bom Comportamento, um manual comentado para moças' 

é a tradução comentada, editada, e muito pesquisada do clássico de Florence Hartley, a mestra da etiqueta no século 19.

leia agora mesmo!

Uma das coisas que eu mais gosto na pesquisa para montar um romance de época é mergulhar nos detalhes e regras minuciosas da convivência social na era Vitoriana.



Por gostar tanto, eu achei os manuais para pesquisar na fonte primária, adorei ler o que as garotas liam na época. É legal como imaginar que a minha personagem poderia ter existido de verdade!


Escondido nas muitas regras e dicas que listamos, escondemos um romance lindinho para te guiar na leitura.



É a história de Dorca, ou melhor, Cassy, um moça simples que herda uma inesperada fortuna e precisa aprender a viver na cidade grande. Tal qual My fair Lady, essa moça é transformada pelas regras da vida aristocrática e precisa descobrir seu lugar nesse mundo.

Olha, vou te mostrar os primeiros capítulos de Dorca Cassy:


Capítulo 0 - CONDUÇÃO

Há males que vêm para o bem. 

Melhor dito, há males de uns que vêm para o bem de outros.

Esse foi o caso de Dorca e da família Higgins, em 1860. 

O abastado senhor dos negócios de seguro, Sr. James Higgins, rumava com a esposa Mary e filha Catherine pelo interior em direção à propriedade de Lord Tanbridge a fim de oficializar o noivado destes últimos. O longo dia no trem deu lugar a uma jornada de carruagem que, infelizmente, foi interrompida logo no início por um horroroso acidente. Já caía a noite, eram desconhecidos, socorro foi demorado e dali sobreviveram somente um lacaio e um dos cavalos. 

Dessa tragédia que levou Sr. Higgins, Sra. Higgins e Srta. Higgins, única herdeira viva dos cinco que o casal teve, veio o revés de Dorca Smith. Alguns poderiam – e o fizeram – chamar de boa sorte, mas no turbilhão que seguiu, a vida de Dorca foi um tormento.

Sr. Higgins fazia força para esconder suas origens humildes e, portanto, foi um choque para os procuradores descobrir que ele tinha parentes no interior. Rose Smith era essa pessoa, prima distante do falecido segurador, e como empobrecida meeira de fazenda de ovinos, não resistiu ao se descobrir rica: morreu de ataque apoplético assim que os senhores procuradores bem-vestidos lhe deram a notícia, ainda em meio às malcheirosas ovelhas que ela criava.

Sua única filha era Dorca, moça de 19 anos de vida, possuidora de alguma beleza, talento para a lã e pouquíssima educação. Sabia suas letras e números, tinha um sorriso cativante, mas era como um coelho selvagem – de tudo corria!

Com muito custo, os procuradores convenceram a enlutada herdeira a rumar à cidade para tomar posse de suas heranças: imóveis, investimentos, fundos no banco.

Mal havia chegado à mansonete abandonada há quase dois meses, tempo gasto na procura e convencimento dela, Dorca ouviu batidas na porta. Inocente, incerta, gentil, ela atendeu.

— Ah, olá. — Disse a elegante dama parada nos degraus. — É nova aqui?

— Sim, senhora.

A mulher entrou sem esperar convite. — Sou a Sra. Von Vauteigh, vizinha. —  Apontou sua mão enluvada para trás do ombro. — Era muito amiga de Mary, que Deus a tenha.

— Amém.

— Vim dar boas-vindas à herdeira.

— Agradecida.

A mulher uniu as sobrancelhas sob o bonnet rebuscado, desgostava de criadas atrevidas. — Pode ir chamá-la.

— Estou aqui, senhora. — Dorca limpou a mão no avental que usava sobre o vestido obviamente tingido de negro e ofereceu. — Dorca Smith.

Ouvir aquilo foi um choque para a mulher. — Não!... 

— Sim, minha mãe... — Um suspiro triste. — Era prima do Sr. Higgins, Smith é nome do meu pai. Os dois morreram. Ele, faz bastante tempo, ela caiu dura quando ouviu a quantidade de dinheiro que ganhou. — Dorca olhou em volta. — Se tivesse resistido, ia morrer vendo tudo que tem para limpar aqui...

— Você não é a criada?

— Não, senhora.

— Mas está vestindo um trapo surrado.

— Era o vestido que dava para tingir. Luto não é barato.

— Você herdou fundos, Mary era rica.

— Só recebi o dinheiro quando cheguei aqui. — Dorca balançou os ombros. — Nem sei onde comprar roupa a bom preço, conheço nada aqui, nenhuma loja de segunda mão. Sabe indicar?

Jane Von Vauteigh estava boquiaberta. Nunca, jamais, sua amiga Mary cogitaria usar roupas usadas. Nem permitia que sua filha usasse as suas! — Sei da modista de Mary que também atendia Catherine, é para lá que você deve ir! 

— Cataporas... É careira?

— Não para você, Srta. Smith.

— Dorca. —  Mais um aceno de ombros. — Prefiro.

— Que nome horrível. — Jane fez careta. — De onde vem isso? 

A garota levantou o nariz. — Minha mãe escolheu.  

— Me desculpo pela impertinência. Estou tomada pelo assombro. Você é a única herdeira da minha boa amiga e a vejo vestida de criada cuidando da limpeza! — Uma sacudida de cabeça. — Por que faz isso?

— Alguém tem que fazer.

— Criados.

Dorca corou. — Eu, tendo criados? Cataporas!

— A mansão Higgins sempre teve criados. Onde estão?

— Acho que todos foram demitidos, ou partiram quando descobriram que o Sr. Higgins deixou algum dinheiro para eles.

— James era um bom homem. Mau marido, mas bom homem, que Deus o tenha. 

— Amém.

— Ao menos é religiosa.

Dorca fechou o rosto.

— É moça?

Dorca alisou as saias do vestido surrado.

— Já foi deflorada? É isso que pergunto.

— Dona Vovo...

— Von Vauteigh.

— Vovo...

— Fon-Vo-tiss. — Jane disse pausadamente com bastante ênfase no último fonema sibilado entredentes. — Von Vauteigh. 

— Vovoti.

— Von Vauteigh.

Doca esticou o pescoço para frente, testa franzida. — Vo-vo-ti.

— Von Vauteigh! — Jane perdeu a paciência. — Diga, Von Vauteigh! 

— Dona Vovoti, por que quer saber das minhas... — Gesticulou às saias. — Intimidades.

Vovoti, oh céus! Era ela realmente avó, chamada de vovó por seus netos crescidos entrando na idade casadoira; ela havia contraído matrimônio cedo, cedo demais, teve rebentos demais, agora, era avó cedo demais. Tinha tez fina, cabelos fartos, viço... Considerava um desperdício já ser avó. — Pergunto porque se você não tem marido ou pretendente apalavrado, logo vai ter. É rica.

— Acha mesmo? — Rosto corado de novo.

— Certeza. — Um decisivo aceno de cabeça. — Então, deflorada?

— Ainda não. Billy queria adiantar as intimidades, mas esteve adoentado e quando voltou a insistir, mamãe faleceu e...

— Acertou o que com Billy quem? 

— Billy, ajudante do curtume. Lá de onde eu morava. 

— Céus, céus... — Jane tirou o bonnet. — Seu noivo. 

— Não! — Um risinho. — Só um... sabe... um...

— Sem vergonha com quem fazia sem-vergonhice.

— Dona Vovoti!

— Pois bem, é solteira, desimpedida, despreparada, inocente, quase bela. Precisa de mim.

— Como sabe disso tudo?

— Deixou uma estranha entrar quando está sozinha, obviamente não conhece os riscos da vida na cidade. Usa roupa antiga mal tingida enquanto seus fundos jazem no banco. Faz limpeza ao invés de se hospedar em um hotel enquanto os novos criados cuidam da casa. Me parece que tem alguma beleza por trás desses cabelos desgrenhados e pele bronzeada. — Jane pousou o bonnet na mesa mais próxima, tirou as luvas e segurou a cintura. — Pois bem, será meu presente de despedida para Mary. Sinto falta de minha amiga a cada dia, dolorosamente. Estávamos animadas com os preparativos para o casamento da filha espevitada dela com o lorde falido, campeão dos investimentos infelizes. Planejávamos anos tranquilos depois que ela se livrasse da dor de cabeça que era controlar a filha. Mary merecia mais da vida... — Piscou para esconder lágrimas. — Você tem que honrar a memória dela. Está de luto, ninguém vai suspeitar se você não aparecer em sociedade por algum tempo. — Torceu o nariz olhando para a garota. — Um bom tempo, precisaremos de um ano, no mínimo.

— Um ano para quê, dona Vovoti?

— Te transformar em uma dama! 

— Cataporas! E eu preciso disso?

— O palavreado tem de melhorar. Também postura, costumes, aparência, tudo. Primeiro, o mais fácil, esse nome... Não, não... 

— Dorca Smith é meu nome.

— E será nas suas mais íntimas intimidades. Na sociedade, você precisa de um nome que não lhe cause desvantagem. Ao ser apresentada, você deve causar boa impressão em todos os aspectos... — Jane andou pela saleta empoeirada. — Dora, Orca, Morta, Móca, Cassy! —  Estalou os dedos. — Cassy Higgins.

A garota emudeceu.

— A partir de hoje, será Cassy Higgins, herdeira dos falecidos Higgins, jovem dama cumprindo luto até que faça sua entrada em sociedade. — Bateu as palmas sorrindo. — Ao trabalho, Cassy!


Que tal?

Gostou do início da jornada de Cassy?



Venha com ela nesta caminhada pela transformação rumo a se tornar uma lady da sociedade e, quem sabe, achar um grande amor.


São mais de 30 capítulos explicando de um tudo na vida Vitoriana de uma mulher. 

Veja mais detalhes aqui.



Leia agora mesmo!