& Moira Bianchi: outubro 2018

sábado, 27 de outubro de 2018

A a Z mortes na Literatura Nacional

Olá, estamos quase no Halloween!
Festa gringa que já fazemos nossa, né?

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Que tal essa dança para a festa? Valsa de Arsênico?
Era sobre a coloração das roupas... Um dia falo disso.

Vi esse artigo muito bacana do Masculinidade Vitoriana (sic) listando mortes trágicas na literatura e resolvi abrazucar! Nem tudo que reluz é ouro, assim como nem todas as obras em Português aqui citadas são Brasileiras. Mas, Suassuna que me desculpe, Eça é fundamental!

Vamos lá?
>> Olha, 
TODOS OS SPOILERS DO MUNDO! 
Siga por sua conta e risco! <<


A é para Arundel, o Condado de onde vêm o Norfolk que em CARTAS À DORA gera um quiquiqui com seu falecimento intrigante

 B é para Bolívar Cambará, filho de Bibiana Terra e Capt Rodrigo Cambará de O TEMPO E O VENTO cuja falta aumenta a inimizade entre a mãe a vó. 

C é para Capitu, minha heroína favorita (rival de Lizzy Bennet) e totalmente injustiçada em DOM CASMURRO.

D é para Diadorim, personagem majestoso e complexo e difícil que faz a gente querer ler GRANDE SERTÃO VEREDAS de novo depois de descobrir seu segredo. Esse spoiler, não conto. Se é que vc não sabe...

E é para D. Emília, mãe de Aurélia de SENHORA. Bonita quando moça, sofrida pelo desdém do sogro e fraqueja do marido, viu a vida degringolar miseravelmente.

F é para a fagueira IRACEMA, índia e poesia e perfeição no romance de mesmo nome. Amor e tragédia perseguem as mulheres, é algo a se aprender: sempre se castiga o feminino que se atreve a amar...

G é para o Galo-da-Serra, vítima do ESCARAVELHO DO DIABO que tem suas penas lindas retiradas uma a uma. Maldade! tsk, tsk

H é para o Homem da roça de todos os nossos corações, Tio Barnabé que na grande imaginação e histórias animadas do Sítio do Pica-pau amarelo acaba sendo devorado por rabicó em A CHAVE DO TAMANHO. Veja só, aquele porquinho preguiçoso, o Marquês.

I é para o Imortal da ABL Euclides da Cunha que ironicamente sucumbiu ao duelo com o amante de sua esposa, Dilermando. Autor de obras importantíssimas como Os Sertões

J é para Juliana, a criada rabugenta e rancorosa e poderosa de PRIMO BASÍLIO que além de achar sua morte, leva Luísa, a patroa com ela.


K é para kkk, a risadaria que no AUTO DA COMPADECIDA é feita em 'ra ra', mas que é igualmente eloquente e nos lembra que há esperança até na morte -  para onde seguem todos os personagens na hora do julgamento. 

 L é para LUCÍOLA que no romance de seu próprio nome encontra a morte tantas vezes quanto se pode contar. Maria da Glória, Lúcia, cortesã, mãe, mulher. Outro feminino punido pelo amor e erotismo.


M é para o marido nº 1 Vadinho, de DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS e um dos cafas mais famosos da literatura. Nem o carnaval aguentou com ele.

N é para o noivo da melhor amiga, primo e mais um tanto da ENGRAÇADINHA, o pobre Sílvio. Vendido, ludibriado, enganado.

O é para a oprimida Macabea de A HORA DA ESTRELA. Datilógrafa, amante traída, amiga traída, morta pela previsão da cartomante. 

P é para os pobres do Lazareto na Bahia, para onde iam os que não tomavam vacina no CAPITÃES DE AREIA. Tantos e por motivo tão bobo. 

Q é para QUINCAS BERRO D'ÁGUA, morto e morto ou nem tão morto e por fim suicidado? Quem não aceitaria a companhia de amigos em momento tão inquietante?

 R é para Runa, Maria Eduarda, mãe do tchuco-tchuco cafa de OS MAIAS, Afonso. Sem a mãe ele fica aos cuidados de Tia Fanny na Inglaterra e daí, quando encontra outra Maria Eduarda... Ah, como eu gosto desse romance onde as mulheres são tão punidas. Por que, por que??

S é para o soldado desconhecido amante da bela Pauline Hopkin de ECLIPSE DO CORAÇÃO que lhe faz propostas irresistíveis e muda o curso de sua vida para sempre.

T é para o Titanic que levou consigo mais de 1500 pessoas e quase mata a sensível e mediúnica heroína de A ÚLTIMA CARTA.

U é para UBIRAJARA índio guerreiro do romance que, almejando casar-se com a mulher que ama, precisa se oferecer em sacrifício.

V é para o querido Vô Ministro de PRECONCEITO, ORGULHO & CAFÉ que mesmo falecido é muito presente na trama desse Mr. Darcy classe média e Lizzy Bennet milionária

X é para Xavier Machado, o pai erudito e dono de livraria cult de BIBLILOVE que precisa partir para unir a bela e seu fera.

Y é para... 

W é para... 
Z é para zombaria, fruto da indiferença, da ausência imensa e mãe dos horizontes sem estímulo ou recompensa do poema de CECÍLIA MEIRELES.

Com essa pérola, termino essa ode ao Halloween!
Como se Morre de Velhice
Como se morre de velhice 
ou de acidente ou de doença, 
morro, Senhor, de indiferença. 

Da indiferença deste mundo 
onde o que se sente e se pensa 
não tem eco, na ausência imensa. 

Na ausência, areia movediça 
onde se escreve igual sentença 
para o que é vencido e o que vença. 

Salva-me, Senhor, do horizonte 
sem estímulo ou recompensa 
onde o amor equivale à ofensa. 

De boca amarga e de alma triste 
sinto a minha própria presença 
num céu de loucura suspensa. 

(Já não se morre de velhice 
nem de acidente nem de doença, 

mas, Senhor, só de indiferença.)

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Já tenho fantasia para o dia 31!
Que tal vampira vitoriana?
buahahahaha

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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Salão Real de Brighton

Olá,
o romance histórico bacanão e cheio de reviravoltas CARTAS À DORA está no ar concorrendo ao Prêmio Kindle de Literatura. 



Eu de Lucy Dib, minha miga e co-autora, traz um lugar muito especial no romance: 



Como os jardins de Vauxhall, este é outro destino popular da Regência Inglesa, período pré-vitoriano quando tudo era menos rígido socialmente. Sob comando do Príncipe beberrão e comilão que teve infância de ferro e por isso, dizem, se rebelou contra tudo e todos, se vivia uma época em que a nobreza gostava mesmo era de 

Sei lá se deixaram de gostar.
Eu gosto, com licença. Agora mesmo deveria estar trabalhando nos próximos volumes da série CUPIDOS EM DEVON, mas estou de papo com minha migs Lucy sobre esse lugar fabuloso.
Enfim...

Vamos com ela nessa viagem rumo ao Sudeste da Inglaterra. Eu, Moira, comento em itálicos.

Quiridonas... minha parceira no crime, Moira, me pediu para contar para vocês sobre um dos cenários mais loucos de CARTAS A DORA.... 



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 O PAVILHÃO REAL DE BRIGHTON

Quiridonas, sou Lucy!... 
Minha parceira no crime, Moira, me pediu para contar para vocês sobre esse lugar que é um dos cenários mais loucos de CARTAS À DORA...

Pensando um pouquito sobre o que contar , decidi começar da escolha... 


COMEÇANDO DO INÍCIO
Nosso Misterioso M tem uma pegada náutica, e seu "special place" é Brighton, então quando precisávamos de um lugar bapho para acontecer uma cena lacradora, fui pesquisar (algo que escritores quase não fazem kkkk) e descobri o lugar mais fascinante e inusitado da Inglaterra, conhecido também como Taj Mahal do Reino Unido.

Deu para ver pela imagem da fachada que colocamos aí em cima, um escracho! Enorme e magnífico.

Então, O pavilhão real é obra da cabeça maluquinha do rei George IV, aquele mesmo, gorduchinho que adorava uma festança regada a muita comida e bebida principalmente. Em 1756 , ele ainda era só príncipe, e morou lá no balneário; depois, em 1786, por ordens médicas, porque doutores achavam que a água do mar poderia melhorar o problema de gota do beberrão, ele arrendou um palacete na zona de Old Steine.
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Desde então, começou a matutar sobre um palácio bem extravagante para um local onde os pescadores costumavam secar as redes de pesca (nada glamoroso por sinal).


Mas por que ele curtia tanto Brighton? 

Londres era agitada e populosa demais, no balneário ele podia esconder sua amante,  Mrs. Maria Anne Fitzherbert, sem muitos fofoqueiros de plantão (ah, se madame Lushington, a fofoqueira-mor de CARTAS À DORA, soubesse desta indiscrição do rei com uma católica!... Vixe!) Dizem que eles chegaram a se casar, mas foi desconsiderado e seu corpo está enterrado em uma capela de Brighton.

Entre 1815 e 1822, John Nash redesenhou o palácio, sendo o resultado dos seus trabalhos o que podemos ver hoje, mas parte da riqueza sofreu alguns desfalques. 
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o arquiteto
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o projeto














Porém, depois que o Rei George morreu , seu sucessor Willian IV ainda usou o pavilhão algumas vezes, mas quando a sobrinha Vic ( para os íntimos) assumiu , resolveu se livrar da lembrança do fanfarrão e botou à venda o palácio! Na verdade ela queria colocar "na chon" tudo aquilo, mas os aradores de Brighton fizeram uma petição publica e impedirão esse pecado, a cidade comprou toda a construção em 1849, tornando o pavilhão o único palácio real que não pertence a coroa. 
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Rainha Victoria te despreza!
Quando isso aconteceu, saíram de lá 143 vagões carregados de móveis e objetos decorativos. Mais tarde alguns itens foram devolvidos pela coroa, mas nunca saberemos como realmente era estar naquele ambiente excêntrico e extravagante.


Agora imagine para nossa Srta. Dora Reuben

Em um baile em um lugar como esse? Fascinante não é?
Sim! Para uma colona vinda da América, foi mesmerizante. Ela já havia lido sobre o lugar, visto ilustrações, mas chegar no Pavilhão em um momento tão periclitante para o seu futuro, com o pescoço a prêmio por suas próprias tramóias, foi enlouquecedor!
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Ah, meus nervos!
Existem vários pontos que se encaixam perfeitamente em nosso romance, tentaremos não dar spoilers. Muitos. Vamos lá.


DECORAÇÃO

Apesar do palácio ser de inspiração indiana por fora, e chinesa por dentro , são referências ocidentais que guiaram o trabalho dos decoradores, visto que o rei George nunca foi visitar o oriente, diferente de certas pessoas que circulam pelas paginas de CARTAS À DORA, que têm bastante familiaridade com terras distantes do sol nascente.
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Outro fator que enlouquece nossa protagonista são os diversos animais escondidos na decoração, o lustre da sala principal é sustentado por um imenso dragão, serpentes fazem parte da decoração , assim como o clima misterioso de tudo que a cerca. 
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Alguém muito estimado por nossa heroína também tem certo fascínio por animais exóticos, paixão compartilhada e incentivada na época da regência pelo rei George IV.
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E por falar no rei, os banquetes e bailes que este costumava dar em seus salões fantasiosos eram bem diferentes dos costumeiros em Londres. 
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Pois é, o clima praiano deveria encorajar os maus hábitos kkkkkk nobres eram bem vindos, mas eram aceitos outros tipos de convidados, uma parcela endinheirada, porém vista com maus olhos pela preconceituosa TON Londrina. 
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as caricaturas o desenhavam assim...
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Mas ele mandou ser retratado assim ao fim das Guerras Napoleônicas!
Isso é um prato cheio para presenças divertidas e inusitadas em nosso romance. Não falamos muito da situação política, mas os personagens ensaboados sabem ir e vir em meio aos conturbados tempos das Guerras Napoleônicas.
Piratas, mercadores, amantes, contraventores, parceiros de jogatina...Talvez nossa Dora se sinta mais bem acolhida em um ambiente como esse... será?


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Quem, eu?
Tão inocente criatura vinda de longe!...
Sequer sei desenvolver situações complicadas...

Veja por fora, por dentro e por trás de portas fechadas

Dora também circula por outros lugares mara, né?
E como! kkk
Bailes de Almack's
Castelo de Arundel, casa de ooops, olha o spoiler!

Se você leu CARTAS À DORA e resenhou, ou vai, avise 
e receberá cartinha do Misterioso M

Até nossa próxima parada nessa 
viagem à Inglaterra Regencial!
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bjs de Moira e Lucy


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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Medos e erotismo na era Vitoriana

olá,
com a chegada do Halloween no final de outubro, festa que é estrangeira para nós e no entanto, tão próxima, somos inundados com estímulos de festa do além. Gosto, admito.


Gosto muito mais de vampiros do que de zumbis.

Daí, quando me deparei com um artigo sobre Drácula de Bram Stocker falando da ligação de vampirismo com os medos da Era Vitoriana, eu achei a conexão muito interessante.

Como sabem, como ando escrevendo muitos romances históricos, envolvidíssima na Era Vitoriana com minha série CUPIDOS EM DEVON que agora está em um momento um tanto periclitante com uma viagem além-mar que desestrutura dois jovens herdeiros em vários níveis, minha cabeça pira com ideias e revoluções e COMO ISSO PODERIA ACONTECER EM MEADOS NO SÉCULO XIX - a brincadeira está aí. 
Nesse artigo fazendo a conexão entre medos comuns à sociedade daquela época, um pouco mais à frente de onde eu estou nos Cupidos, entendemos bastante de como as coisas eram e como chegaram até aqui.

Como no artigo sobre fantasias sexuais ousadas, vou traduzir boa parte, para ler tudo - recomendo - venha aqui. Eu vou comentar em itálicos e juntar com outros assuntos correlatos que acho muito relevantes: Jack o estripador e casas mal-assombradas.


Chegamos no Halloween, estilo Vitoriano.

O vampiro é uma criatura complicada: preso entre a vida e a morte, ao mesmo tempo sedutor e horripilante, figura contraditória da repelente criatura sugadora de sangue que rasteja da sepultura e ao mesmo tempo é uma representação estranhamente sedutora de glamour noturno e sexualidade potente. O conceito horroriza e fascina em medida aparentemente igual, e muito dessa dualidade perversa deriva do mais famoso romance publicado pela primeira vez em 1897. O artigo do British Library considera a forma como 'Dracula' reflete os medos que assombraram a sociedade do final do século 19:
- imigração, 
- promiscuidade sexual 
- degeneração moral
- modernidade.

Ansiedade e o vampiro na Inglaterra vitoriana tardia
Drácula apresenta uma série de contrastes e confrontos entre antigas tradições e novas idéias. Stoker usa a figura do vampiro como uma abreviação velada para muitos dos medos que assombravam a fin de siècle vitoriana. Ao longo do romance, a racionalidade científica é colocada contra o folclore e a superstição; a velha Europa está contra a moderna Londres; e as noções tradicionais de restrição e dever civilizados são ameaçadas a cada passo pela disseminação da corrupção e da depravação desmedida.
Olhe que curioso, o vampiro é figurativo. É um subterfúgio para fazer alusão à situação de insegurança social com todas as revoluções que estavam ocorrendo.
As incursões de Drácula em Londres, sua capacidade de passar despercebido por ruas lotadas carregando seu risco velado tem a ver com a imigração, níveis aumentados de crime e a ascensão de comunidades de gueto. 
Neste ponto, chegamos a Dickens, luxuoso personagem convidado em um determinado nicho dos CUPIDOS, e Oliver Twist. Lá, é mencionada a favela Jacob´s island em Londres.
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Com o avanço das linhas de trem, as demolições para os trilhos e estações, as modernidades, os pobres ficaram cada vez mais pobres. Nos invernos rigorosos, o frio era inimigo muito cruel, tanto quanto a fome e a falta de higiene. Sujeira e degradação era comum, também crimes e insegurança.
Como hoje, um dos trabalhos mais dignos era o doméstico, mas também como hoje, a classe média sofria com crises e falta de grana, então casas com criadagem grande ficavam cada vez mais raras e a figura da maid-of-all-work. Nada incomum hoje em dia, uma funcionária, empregada doméstica para tomar conta da casa toda. Só que não era uma casa moderna, era tudo na dureza...
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Enfim, é na área de favela - diferente da imagem de favela que temos hoje aqui no Brasil e no Rio de Janeiro que é lugar quente - onde acontecerem na verdade os famosos crimes de Jack o estripador. 
Neste site especializado sobre o famoso serial killer (que hoje é fofinho comparado com o que vemos, né non?) você encontra todos e muitos detalhes. Para mim, agora, basta localizar o 'avental de couro' em Whitechapel, mesma área que Drácula e comparar os medos personificados.
Por um tempo se acreditou que Jack era de origem Judaica e que por isso os crimes nunca foram solucionados. O gueto se fechou protegendo a si mesmo, talvez até tenham feito justiça com as próprias mãos. Acho um tanto fantasioso, mas não sou especialista em Jack, nem assisti Ripper Street inteira, assumo. Sorry Mr. Darcy.
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Com isso juntamos os medos em uma ameaça única.
 Jack matava prostitutas - erotismo e luxúria - pobres - instabilidade financeira - que trabalhavam na favela, no gueto - violência- ; poderia ser imigrante ou de origem judaica - imigração. 

Como Drácula.
O vampirão dos vampirões cria vários covis na metrópole, incluindo um em Chicksand Street, Whitechapel - uma área notória pelos assassinatos de Jack, o Estripador de 1888 - e um em Bermondsey, a localização da Ilha de Jacob - o colônia de baixa vida imortalizado por Charles Dickens em Oliver Twist. 
Drácula saiu em 1897, Jack agiu em 1888 e Oliver Twist em 1838 (até é comentado no ótimo seriado Victoria.), é normal que Bram Stocker incluísse no seu romance referências deles. 

O ato do próprio vampirismo, com sua noção de sangue contaminado, sugere o medo de doenças sexualmente transmissíveis como a sífilis e, mais genericamente, o medo de decadência física e moral que muitos comentaristas acreditavam estar afligindo a sociedade. 


Sangue é sexy
Sangue é a essência da vida, o que nos move e recheia, tabu.
Paixão. Na cor, está associado ao coração, vida ou morte. Atrai os instintos primários das pessoas, enquanto outros simplesmente apreciam o elemento doloroso do mesmo.
Emoções. Teoriza-se que as pessoas que gostam de brincar com sangue podem estar subconscientemente deixando escapar emoções não resolvidas. 
Fetiche. Casais têm vida sexual normal durante períodos menstruais, alguns homens vêem como extremamente erótico por causa de todo o aspecto do tabu. Isso também infunde algum tipo de orgulho, saber que eles são "bastante masculinos" para fazer algo que outros são fracos para aguentar. E no BDSM é brincadeira extrema, mais tabu de qualquer tipo de fetiche. Durante uma sessão, usam-se facas ou qualquer coisa afiada para cortar um ao outro, depois espalham o sangue um sobre o outro, bebem ou simplesmente o deixam cair de seus corpos.
Riscos. Contaminação de infecções como o HIV ou qualquer outra DST. É importante fazer testes regularmente.
Responsabilidade. Uma praticante de 'jogos de sangue' diz que há que perceber que o fetiche gera grande responsabilidade e que ela praticou muito com seu bisturi em tomantes vermelhos antes que pudesse usá-lo em uma pessoa real e viva para evitar machucar alguém. Bem, machucar sem ter a intenção, porque tirar sangue é machucar.
Diretrizes. Antes de se envolver em jogos de sangue ou sexo consensual no período atroveram, a pessoa tem que combinar limites, diretrizes, regras até. E ter uma palavra-chave para parar a brincadeira quando chegar no seu ponto. Já falei sobre fantasias sexuais violentas ou ameaçadoras. Leu?
Substituições. Não se precisa fazer cortes ou sangrias, pode-se usar ketchup, vinho tinto ou até mesmo comprar sangue falso. Vale a fantasia.
Não julgais. Fetiches não são nada para se envergonhar, e não se deve julgar alguém que goste de algo diferente. A sexualidade é estranha.
fonte do artigo sobre o interesse sexual das pessoas pelo sangue
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Eric Northman, vampirão de responsa de True blood, Sookie Stackhouse novels.
Recomendo os livros e o seriado.

De volta a Drácula, Mina representa o feminino moralmente correto e respeitável; ela diz que "O conde é um criminoso e, do tipo criminal, Nordau e Lombroso o classificariam" (cap. 25) citando o crítico social húngaro Max Nordau e o criminologista italiano Cesare Lombroso. O primeiro, no seu livro Degeneração havia feito um ataque apaixonado ao que considerava o ar predominante da histeria e do declínio moral na Europa Ocidental baseada na  linguagem pseudo-darwiniana semelhante para analisar a psicologia da mente criminosa do segundo. Era época de dândis afetados,  busca de prazeres e a ascensão e queda de figuras brilhantemente extravagantes como Oscar Wilde, então Stoker deliberadamente alinhou o Conde Drácula com tudo que a respeitável sociedade do fim do período vitoriano consideraria moralmente corrupta. criminoso e perverso.
Um direcionamento perfeito para o vampirismo! Uma alegoria sexual. degenerado e liberado em seus ímpetos! O que se deve evitar a todo custo.


Sexo e a virtude feminina
A literatura vitoriana tende a apresentar a virtude feminina inglesa  ameaçada por vampiros predadores estrangeiros
No conto de Sheridan Le Fanu, "Carmilla" (1872), coloca a virtuosa garota inglesa Laura à mercê do predador vampiro da Europa Oriental do título. 
Drácula segue um padrão semelhante. Mina é uma mulher altruísta (que simbolicamente) passa sua lua de mel amamentando seu marido doente em um convento; a bela Lucy, por contraste, é perigosamente moderna. Ambas estão aparentemente em risco, o conde sugere intencionalmente insultando o professor Van Helsing: "Suas garotas que todos vocês amam já são minhas" (cap. 23). Drácula ataca as duas, mas Mina, devido às tradicionais qualidades vitorianas de determinação e lealdade para com o marido, é capaz de resistir aos seus avanços. A Lucy, um pouco mais livre, não tem tanta sorte. Ela personifica o conceito da Nova Mulher - um termo cunhado no final da era vitoriana para descrever mulheres que estavam aproveitando oportunidades educacionais, de emprego recém-disponíveis para se libertar do intelectual, restrições sociais impostas sobre elas por uma sociedade dominada pelos homens. 
Em um ponto Lucy recebe três propostas de casamento no mesmo dia e lamenta ter que recusar duas: 'Por que eles não podem deixar uma garota casar com três homens, ou quantos quiserem, e salvar? todo esse problema? '(cap. 5). A fraqueza moral de Lucy permite que Drácula a ataque repetidamente durante a noite, e apenas uma série de desesperadas transfusões de sangue de cada um de seus ex-pretendentes - um eco simbólico doentio do desejo de Lucy por três maridos (e, portanto, três amantes). enquanto o inevitável.  Para Stoker, o declínio de Lucy do ideal feminino vitoriano para a percepção da naturalidade egoísta da Nova Mulher é completo.
Ela é punida por assumir seus desejos e fantasias, por ter personalidade e ser mulher. Isso também foi feito em outras obras, muitas das que amamos.


Modernidade e degeneração
Como o romance é apresentado sob a forma de cartas, diários e recortes de jornais, ele reforça o método científico de observar e registrar informações como essencial tanto para a estrutura do livro em si quanto para as tentativas de destruir Drácula. 
Partindo desta atmosfera de avanço científico, no entanto, estão os conceitos intangíveis da fé religiosa e do sobrenatural. Usam-se transfusões de sangue em tentativas de manter Lucy viva, mas também flores de alho e crucifixos para segurar o vampiro a baia. Ao longo do romance há uma sensação de que Drácula, com sua capacidade de passar por buracos de fechadura como uma névoa e sua afinidade com morcegos, ratos e lobos, representa o inexplicável; uma força alienígena que a ciência, por si só, não pode derrotar. 
Se perderiam o controle, daí vai-se tudo para o buraco. Com a modernidade, viria a libertinagem, a facilidade de comunicação, de relações interpessoais, a degeneração dos restritos limites sociais da Era Vitoriana.


E o curioso é que, como disse Cazuza, tudo vira um museu de grandes novidades, né?
Hoje em dia, com o Halloween batendo nossa porta, pensamos em vampiros sexys em fantasias (eróticas) bacanas em casas mal-assombradas que são... Mansões vitorianas abandonadas!
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Era modernidade lá, agora é relíquia.
como se chegou nisso?
Diz-se que foi outra revolução, a do modernismo. 
Veja o que diz o Jstor.
Casas vitorianas foram de lares a horrores no começo do século XX quando todas as coisas “vitorianas” sairam da moda. Artistas como Edward Hopper e Charles Ephraim Burchfield começaram a pintar casas vitorianas abandonadas, imbuindo-as de caráter assustador.
Um movimento cultural mais amplo, longe do vitorianismo, “condenava todas as coisas da época vitoriana posterior como feias, excessivas e antiamericanas”. Os telhados de mansarda e detalhes rebuscados eram ridicularizados como indicativos de dinheiro novo e ostentação. Os estudiosos de arquitetura ansiosos por abraçar um novo modernismo jogaram o suposto excesso brega do passado e promoveram boas alternativas como os projetos "puros" de Frank Lloyd Wright.
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Um mestre, eu amo.
Casa da Cascata, 1935.

Depois da Primeira Guerra Mundial, a América deu as costas ao design vitoriano com mais veemência. Soldados que retornavam da guerra na Europa viram a morte nas fábricas antes edificantes e sonhos brilhantes de seus pais vitorianos, e começaram a retratar casas vitorianas como restos fantasmagóricos de um passado corrupto.
Demolir era o mais indicado, medidas extremas para exorcizar os fantasmas, limpar o presente do passado doente e varrer os excrementos imundos da terra. As casas foram despojadas de sua característica aconchegante de outrora. Mas na imaginação, eles começaram a assumir uma nova arquitetura do medo.


Então, nessa salada que fiz aqui, temos uma receita de Halloween perfeito: vampiros, erotismo, degeneração social na medida, cenário favorável.
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bebidinha caprichada no opióide! 
Delícia!

Onde nos encontramos para uns bons drinks vitorianos no dia 31?
bj.

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