& Moira Bianchi: Vauxhall e outros Jardins para o deleite no século XIX

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Vauxhall e outros Jardins para o deleite no século XIX

Olá!
Hoje estamos muito animadas, eu e minha partner Lucy Dib, por comunicar o lançamento de nosso livro 'CARTAS À DORA', um amor conquistado letra a letra E escrito a 4 mãos.
romance histórico participando do PRÊMIO KINDLE DE LITERATURA
Para Dora, a sortuda que recebe cartas anônimas galantes e instigantes, tudo começa em sua primeira visita aos Jardins de Vauxhall. Muitas atividades, música, gente bonita, divertimento, fogos e ela nem notou estar sendo observada...
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Mas o que exatamente era o Vauxhall? E um 'pleasure garden'?

Vamos por partes.

Em tradução literal, JARDIM DE PRAZER, me parece um tanto grosseiro, tento achar termo mais polido. No dicionário, prazer tem como sinônimos (no sentido de 'festejar' como era o caso): júbilo, regalo, contentamento, deleite. Acho esse termo bacana.


JARDINS para o DELEITE, era bem o objetivo dessa empreitada. Um comércio como muitos, nossas casas de festas atuais, talvez mais para uma rave ou festival como o Rock in Rio onde várias coisas acontecem ao mesmo tempo, tudo voltado para o entretenimento.
O objetivo principal era deixar o visitante feliz. Então era...
Acredito que sim.

Além de Vauxhall, o mais famoso, existiram quase 70 jardins para o deleite na Inglaterra de meados do século XVII a meados do século XIX, eram muito populares. Também foram copiados na América - a Colônia Rebelde de onde Dora veio, e pela Europa.
Quando em Bath, Jane Austen morou perto de um, o Sydney Gardens que ainda existe e está aberto a visitação, mas sem as festanças.
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Durante a 'temporada elegante' quando Londres ficava lotada não só de seus moradores, mas todos os proprietários ricos e nobres que inundavam a capital do Reino seguindo o funcionamento do Parlamento, havia muita atividade social. 
Isso era, geralmente, de Novembro a Maio, mais ou menos. Anos mais quentes, anos mais frios - isso quer dizer que os eventos para entreter esse pessoal todo deveria prover conforto ambiental - aquecimento ou frescor. E como muita gente vivia no interior ou tinha casas de campo, suportar o fedor de Londres era dureza... Aí os Jardins ganham sucesso.
E funcionava quando? Na primavera quando já começa a ficar mais quente, os Jardins já estavam abertos para arrebanhar esses visitantes e seus tostões $.
As moças solteiras precisavam casar, os rapazes solteiros precisavam achar esposas, os homens gostavam de passear de braços dados com suas bonitas esposas mostrando seu sucesso na vida em roupas e acessórios, carruagens, cavalos, e ainda fariam negócios estreitando amizades. Todo mundo precisava estar na vitrine, ver e ser visto. Para isso, com a concorrência, quanto mais extravagante o evento, melhor.
Antes do puritanismo exacerbado iniciado pelo casamento da Rainha Victoria com Príncipe Albert de Saxe-Coburg e levado aos extremos com o luto infinito dela, as pessoas eram bem... saidinhas nas baladas.
Os jardins para o deleite eram amostras disso.


After Thomas Rowlandson, Dr Syntax at Vauxhall Gardens, engraving, 1817, Private Collection
pic de Foundling Museum

Veja nessa imagem de Vauxhall que um grupo faz refeição em uma cabine - nota-se que existem outras no andar de cima - enquanto outro grupo passeia conversando animadamente. Tudo-ao-mesmo-tempo-agora.

Já nessa, vemos a orquestra, cavalheiros, damas, oficiais do exército assistindo -até empoleirados na árvore para ver melhor- enquanto um ladino rouba o bolso dos distraídos à esquerda. 

Vauxhall ficava em Kennington, localidade de Lambeth na margem Sul do Tâmisa e a princípio se chegava de barco até ser construída uma ponte em 1810, quando o lugar já funcionava há várias décadas. 

Diz-se que muito do que conhecemos hoje de apreciação de arte contemporânea vem dessas wild nights de Vauxhall. A intenção era oferecer um refresco da cidade lotada e mal-cheirosa estimulando os sentidos: olfato, audição, visão, coração, libido...

De tão famoso, o Vauxhall virou sinônimo para Jardins de deleite. Lá eram lançadas modas de todas as naturezas: vestimentas, artes, comportamento...
Haviam músicos, cantores, pintores, escultores residentes e os convidados que se apresentavam em coretos erigidos de forma que todos à volta tivessem acesso visual e pudessem fazer pedidos especiais.
Exposições de arte dando acesso a todas as pessoas – que pudessem pagar a entrada. Quem tinha fundos comprava tiket anual (como os parques da Disney hoje em dia, acredito), semestral ou só para a visita daquele dia.
As entradas eram medalhões banhados a ouro (permanente), prata, latão... Um phynno, né?
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Podia-se reservar um box logo que entrava – abria por volta das 17hs e já encomendar o jantar que era pago à parte. Vauxhall era famoso por seus cortes finíssimos para os frios, por exemplo. (o que era motivo de piada, como o péssimo lanche oferecido nos concorridos bailes Almack's)

Os Sampsons, tutores de Dora no ‘Cartas à Dora’, eram falidos. Provavelmente abririam mão do luxo de jantar enquanto os lampiões a óleo dos postes dos jardins eram acessos e passariam a visita vagando pelos belos canteiros retangulares  de sicômoros, ulmeiros e limas. Imagine o perfume no ar?...
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alquimia das árvores
E imagine encontrar seu contatinho sob um Olmo?...

Fora as flores, esculturas espalhadas, passeios de gôndola, pavilhões e shows...
Isso era a fama de Vauxhall.

Música 
instrumental e cantores – era o básico, mas havia teatro, dança, balonismo, números circenses.
Dora, recém-chegada em Londres vinda de Boston, provavelmente viu o espetáculo da Francesa Madame Saqui, dançarina e equilibrista da corda bamba. A longa corda era esticada bem alto para que ela se exibisse aos olhos maravilhados e no final, ela corria enquanto música e fogos de artifício explodiam. Imagine que estupendo!


Mais tarde, na época dos ‘Cupidos em Devon’, Juba foi a sensação nas apresentações. O negro americano dançava bem e rápido, fazia os expectadores pensarem que ele ‘tinha oito pés’ como diz o ‘The Illustrated London News’ de Agosto de 1848.

Acontecimentos corriqueiros eram os ‘Masquerades’, bailes de gala que aparecerão nos ‘Cupidos em Devon’ com muita importância. Já em Eclipse do Coração, o Masquerade é evento pivotante da história de Pauline e Cary Devon. Mais tarde falamos disso.
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museum of London
Ah, a ressaca!...
Moral & física, sempre um terror!

Vauxhall, como todos os Jardins para o deleite, era um lugar devotado à exuberância, a maravilhar o expectador mostrando o exótico, o novo. A tarde com as luzes naturais do entardecer era lugar de famílias, apreciação das artes. À noite quando os postes eram acesos, virava era terra-de-ninguém! Flertes, festas de arromba, pequenos furtos e até avanços amorosos indesejados. Imagine um jardim à noite?

Claro, Vauxhall tinha muitos criados, garçons, responsáveis pelas latrinas públicas (é, isso também... Como nas pontes sobre o Tâmisa na idade média, era um banco comprido com vários buracos onde uma pessoa poderia até bater papo com um amigo enquanto fazia suas necessidades. Viu, miga?), mas criados particulares só eram aceitos no Jardim com roupas normais, as melhores que tinham. Era uma exigência dos donos que faziam questão de que ninguém se sentisse inferiorizado ali que era lugar para hedonismo geral.
Mas tinha seguranças? Sim, mas não era polícia. Hoje em dia não acontece tudo isso em eventos como mencionei acima? Mesma coisa.

Em suma, visitar o Vauxhall era uma experiência sensorial e sensual quando todas as suas sensações eram estimuladas. Perfumes, pessoas bonitas em belas roupas, fofocas, música, arte, fogos, shows, comida, bebida... 
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Entende como esse cenário atuou no encantamento que fez ‘M’ enviar cartas anônimas à garota que ele nunca havia visto? Imagine ver Dora, uma garota bonita, cochichando com um chihuahua em meio aos fogos em uma festa generalizada?... Irresistível, não é?
queima de fogos no fim da noite? Disney, much?


Jardins para o deleite e Vauxhall são assunto para post e papo infinito, fiz uma pegada geral. Ainda tem curiosidade? 
O blog Romances Históricos tem mil dados interessantes como preço comparado com pratos populares e a encenação da batalha de Waterloo, tão importante no 'Eclipse do Coração', vem ver. 
O blog Austenonly fez algumas reviews de livros sobre Vauxhall.
O site dos autores de Vauxhall Gardens, a history tem muita informação específica, visite. O livro é uma beleza.


E aqui está 
contando a história de amor que começa nesse lugar mágico.

bj, 
até

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