Depois de amargar um feriado cavernoso, hoje temos um solzinho no Rio! Vamos para a praia!
Estive ocupada esses últimos dias editando 'Coisas do coração' e uma vignette de 'Friendship of a special kind'. Viram? Ocupadíssima. Claro que isso quer dizer que os homens aqui de casa têm jantado pizza queimada e macarrão instantâneo, mas tudo pela arte, certo?
Estou bem feliz com o resultado das duas, mesmo que ainda não estejam 'redondinhas'. Como prometi, já dá para dividir com vocês a primeira parte da songfic 'Coisas do Coração'.
Quem foi adolescente no Brasil durante os anos 80 tem uma história com o Legião Urbana. Alguns eram fanáticos, outros apaixonados, outros curtiam (quase) tudo que eles faziam. Eu era do terceiro time. Sei até hoje cantar as músicas de cor mas nunca comprei um LP deles. (É meus amigos, LP... ou fita k7!) Tocava em qualquer lugar a qualquer hora, e era uma unanimidade. Ainda é, acho. Eu tive o prazer de estar no tributo feito ao grupo no Rock in Rio ano passado e bicho, tenho que dizer. Arrepio é para os fracos: o que sentimos foi a terra tremer! Vendo esse video que linkei, dá para ver os músicos da Orquestra Sinfônica sorrindo enquanto tocam, sabe porque? Por quê a gente respondia cantando aos berros. Você estava lá? Então você sabe!
Eduardo & Mônica é de longe a música do Legião urbana que eu mais gosto. Não cantaram no show do Rock in Rio, que pena! Adoro outras tantas como Sexo Verbal ('Eu sei', eu sei), Ainda é cedo, Geração Coca-cola. Mas fofa como Eduardo & Mônica não tem. A música conta uma estória que todo mundo gostaria de viver, ou viveu ou vive, um final feliz possível, uma vida de adultos para os jovens de coração.
Agora depois de Balzaquiana quando pensei em colocar Darcy & Lizzy na pele de Eduardo & Mônica, achei de cara que eles encaixavam que nem feijão com arroz.
Bem, aqui está. Dividi em 3 partes, mas ou menos seguindo o andamento da música e da vida deles. Acho que está bacana e que é boa diversão.
Nessa estória eu tive Betas de luxo: Mischa que leu traduzindo para o Inglês pelo Google (fofa demais!), Renatinha e Maria Souza. Obrigadíssima às três.
Como sempre, classificação MA (+18) e cada capítulo tem uma música para dar o clima.
Songfic inspirada
em Orgulho & Preconceito
e ‘Eduardo e Mônica’ do Legião Urbana
e ‘Eduardo e Mônica’ do Legião Urbana
parte 1
Quem pode,
Me entender
Depois de você, os outros são os outros e só
Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer que não existe razão?
William Darcy acordou, mas fez esforço para não mexer nenhum músculo
além das pálpebras. Eram seis da manhã de sábado e finalmente ele poderia ficar
na cama além da hora. Apesar de estar de férias, ele estava fazendo estágio na
empresa da família, Darcy Inc. e seu pai estava exigindo demais dele esse ano.
Thiago Lacerda novinho como William Darcy |
Esse ano, seu último antes de entrar na faculdade, Darcy Sr estava lhe tirando o couro. Além de acompanhá-lo
nas reuniões e no dia-a-dia da Presidência, Darcy tinha que cuidar do arquivo
do financeiro com os outros estagiários. Sempre um menino sério, ele achava que
deveria fazer mais que os outros já que era o herdeiro e sempre fazia esforço
para aprender o máximo possível.
Mas como ele estava cansado! Darcy suspirou e fechou os olhos de novo,
pensando em dormir mais uma hora pelo menos até que Nanny Rey viesse lhe
chamar para o café da manhã. Mrs. Reynolds tinha sido sua babá desde que nasceu
e agora se disfarçava de governanta, mas no fundo ela nunca deixou de ser babá.
Nem dez minutos depois, quando ele estava conseguindo pegar no sono, seu
celular tocou.
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Isis Valverde como Lizzy Bennett |
A comemoração tinha começado cedo no dia anterior, logo depois de
encerradas as aulas. Lá pela meia noite, no meio da festa, os seus amigos de
infância Charleston Longborn e Dennise Lucas chegaram de Meryton trazendo com eles mais animação. Pelas contas dela,
já faziam doze horas de festa no Botequim da Austen.
Fazendo faculdade em Yale, Lizzy estava perto e longe de sua cidade
natal ao mesmo tempo. Meryton era perto suficiente de New Haven para ela ir e
vir pilotando sua Ducati, mas longe suficiente para ela escapar da
vigilância de sua mãe coruja que abominava ver sua filha montada naquela máquina
assassina.
Naquela hora, seis da manhã de sábado, ela dançou até o bar e pediu um
conhaque ao bartender. Férias! Êba!
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‘Cara, são seis da manhã. Eu lá quero saber de festa? Ainda mais no
outro lado do país.’ Darcy resmungou ao telefone para o amigo Bings.
Darcy tinha ficado dois anos sozinho longe de casa no caro colégio
interno em Nova York. O garoto taciturno e caladão teve que se virar
socialmente até que seu irmão falante e alegre pudesse se juntar a ele.
Charles Bingley havia se tornado um dos melhores amigos dos irmãos Darcy
logo que Richard o conheceu na sua turma. Richard sempre teve facilidade em
fazer amigos e com o aval de Darcy, ele e Bingley haviam sido acolhidos no seu
seleto grupo de amigos composto por jovens de diferentes origens e excelente
condição financeira.
‘Darce, festa de faculdade! Yale, brother! Yale!’ Bingley
exclamou na sua contumaz alegria.
‘Não sei se você sabe Bings, mas Yale é em New Haven e não em Boston.’
Darcy resmungou denovo com os olhos fechados.
‘Tá, Darce. Mas a festa é em Boston. Nós fomos convidados porque somos
os melhores. Yale tem planos para nós!’ Bingley disse eufórico.
‘Dificilmente, Bings. Eu tenho um ano todo pela frente. Você e Ricky pelo
menos três. Nem adianta me enrolar.’ Darcy reclamou de novo.
‘Bem...’ Bingley titubeou.
‘Aí, Bingley. Me liga depois. São seis e dez da manhã.’ Darcy desligou o
telefone, virou-se para o lado e tentou cochilar de novo.
Meia hora depois Ricky entrou falando alto no quarto dele, muito animado
com a ideia de pegar um vôo ainda naquela manhã para uma festa legal em Boston.
Uns caras que estavam se formando passaram e-mail para os mais chegados
convidando para uma festa de final de semestre da Escola de Finanças de Yale.
Seria uma celebração especial já que um projeto de pesquisa da Escola tinha ganhado
uma premiação nacional então todos os melhores estavam convidados, inclusive os
futuros alunos que tinham alcançado as melhores notas no SAT. Isso
incluía alguns dos caras da escola deles e, depois de um e-mail encaminhado a
outro e-mail, mais de vinte caras do colégio deles ia a tal festa.
Darcy reclamou e se opôs ao irmão dizendo que preferia ia a Pemberley
como estava combinado, mas não teve jeito.
Ricky estava decidido. Darcy nunca deixaria seu irmão de dezesseis anos
(recém-completados) cruzar o país para uma festa de faculdade sozinho.
Will que faria dezoito em poucos dias era de longe o mais responsável do
grupo de amigos. Pai e filhos Darcy – William Darcy Sr, William Darcy Son e
Richard Fitzwilliam Darcy - faziam aniversário no mesmo mês e desde a morte de
sua mãe Anne, eles comemoravam juntos em um único almoço de família. Assim eles economizavam a tristeza de sentir
falta dela na hora do bolo.
Uma festa de faculdade no outro lado do país para a qual eles foram
convidados através de Bingley em cima hora só podia ser uma roubada. Ricky garantiu que a chata irmã
mais velha de Bingley tinha conseguido reservar passagens e hotel, mas que ela
não iria. Muito contrariadamente Darcy aceitou arrumar a mochila e ir para o
aeroporto.
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Lizzy trançou seu longo cabelo ondulado rindo com seus amigos na parada
da estrada a caminho de Boston. Uma mega festa patrocinada pelo ótimo
escritório de auditoria Hertford & Shire estava esperando por eles,
seria uma noite memorável. Ela colocou seu capacete e seguiu a linha de
motoqueiros que fazia parte da caravana de Yalies determinados a
continuar a comemoração de final de semestre.
Com ela, seguiam também seus amigos de infância Charlo e Dennie dentro
do camaro amarelo ovo velho de guerra do Charlo. Apesar de não estudarem em
Yale eles não perderiam uma boa festa por nada nesse mundo. Também no carro ia
Bill Collins, amigo de turma e ex da Lizzy que era também amigo de infância
deles todos.
‘Por quê ela tem que ir de moto?’ Bill não se conteve e mais uma vez
reclamou como uma criança mimada, cruzando os braços sobre o peito.
‘Porque ela curte.’ Charlo respondeu seco, sem tirar os olhos da estrada.
‘Mas não está certo. Ela tinha que estar aqui conosco. Dentro do carro.
Do meu lado. Quietinha.’ Collins fez bico.
Dennie se remexeu no banco da frente do camaro, suspirou e virou os
olhos. Mas, apesar do ‘Pssst’ que
Charlo fez, ela não se aguentou. Virou para trás e explodiu.
‘Olha aqui, Bill. É por isso que ela não quer nada mais com você. Você é
um saco! Você vive querendo controlar
a Lizzy o tempo todo, dizendo a ela o que fazer, quando e com quem. Ninguém te
aguenta, cara!’
‘Dennie, qual é? Ela é minha namorada.’ Bill respondeu. ‘Minha mãe disse
que ela...’
‘Sua mãe é o cace-’
‘Dennie!’ Charlo e Bill gritaram ao mesmo tempo.
Dennie parou o grito e o gesto no meio. Ela suspirou fundo e recomeçou.
‘Bill, sua mãe enche a porra do saco
de todo mundo também. Passa pra outra. Lizzy não está na sua. Cai na real. ’
Collins teve que segurar o desespero. Ele tinha quase certeza que Lizzy
não queria nada com ele mesmo. Ele era louco por ela, sempre foi, desde que a
conheceu de maria-chiquinha no primeiro dia de jardim de infância, décadas
atrás. Ele tinha seguido Lizzy desde então, feito força para sempre estar ao
lado dela como seu amigo de turma, parceiro de laboratório e tudo mais que
conseguiu.
Mas agora, depois da terceira vez que eles tinham terminado, Lizzy
estava diferente. Bem no fundo ele sabia que ela estava escapando dele.
‘Bill, ela tá em outra. Deixa a fila andar.’ Charlo falou num raro
momento de seriedade, se compadecendo da cara de cachorro abandonado de Collins
que ele via pelo retrovisor.
‘Como assim ‘tá em outra’?’ Collins tomou um choque. A reação foi
totalmente diferente do que Charlo tinha imaginado. ‘Tem algum cara dando em
cima da minha namorada?’
Charlo suspirou. ‘Não viaja, Bill... Não foi isso que eu quis dizer. ’
‘Foi o que você disse sim. Eu
sei que você é mais amigo dela do que meu, não protege ela, Charlo. Ela está me
traindo?’ Collins engrossou.
‘Nada a ver! ’ Charlo se explicou.
Dennie sacudiu a cabeça sem paciência.
‘Foi isso que entendi!’ Collins franziu as sobrancelhas.
Charlo sacudiu a cabeça exageradamente. ‘Ih, Bill, deixa para lá. Você é
um mala mesmo. ’
Lizzy estava numa ótima fase. Tudo ia bem na faculdade, ela tinha
ganhado um prêmio de prestígio nacional, o H&S que estava bancando a
festa de hoje já estava sondando-a para um estágio de verão em Boston e
possivelmente um emprego assim que ela se formasse e bem lá no fundo ela sabia
que estava melhor sem ter que carregar Bill nas costas.
Bill era um fofo que gostava muito dela e de quem ela gostava muito também.
Só que ele não era para ela. Fran Bennett, sua mãe tinha toda razão.
‘Elizabeth! Eu dou esse duro todo e você se deixa enrabichar pelo filho
da lampreia da Lady Kate? Pelo
amor de Deus!’ Fran não se cansava em repetir jogando os braços para cima
melodramaticamente. ‘Pagamos essa faculdade cara, você estuda tanto e ainda tem
que carregar esse pateta nas costas! Tem dó!’ Fran reclamava aos gritos,
contando nos dedos as razões pelas quais a adorada filha mais velha tinha que
se livrar do bobalhão filho da mulher que ela abominava.
Fran estava certa. Bem no fundo, Lizzy sabia. Bill não era para ela.
Bill precisava de uma esposa-dona-de-casa. Lizzy queria abraçar o mundo.
Aos vinte e quatro anos, Lizzy achava que o mundo estava todo ao seu
alcance.
Ducati 250 |
Essa festa em Boston era o início de uma nova fase para Lizzy. Ela tinha
muito a comemorar.
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Uma verdade universalmente
conhecida, tanto quanto temida, é que o destino
costuma brincar com as nossas vidas.
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Darcy torceu o nariz de novo e pegou mais um copo de cerveja. Essa festa
estava sendo a maior roubada, assim
como ele tinha previsto. Mas não teve jeito, nenhum de seus amigos quis lhe
ouvir e Darcy não ia deixar nenhum amigo seu se dar mal sem que ele pudesse estar
junto para criticar.
De início, a festa foi um marasmo. Até discurso dos donos de um
escritório pequeno de auditoria ele teve que aguentar. Só porque eles tiveram
um bom ano não quer dizer que eles estavam no patamar da Darcy Inc. Perda de
tempo total. Depois que os discursos acabaram a festa melhorou um pouco.
Uma coisa ele tinha que admitir: as mulheres da Escola de Finanças de
Yale eram lindas. E algumas chegaram de moto! Para sua cabeça de pirralho
adolescente, mulheres mais velhas de moto eram o máximo.
Entre todas, uma delas logo lhe chamou a atenção. Uma morena linda, de
longos cabelos ondulados e calça de couro, botas de salto alto e batom vermelho
que deixava seus lábios ainda mais lindos. Ela não era uma princesinha como as meninas que ele namorava, ela era uma deusa.
Porém, assim como as outras, ela nem olhou para ele. Ou para seus
amigos. Eles estavam amontoados num canto da festa sem conseguir se misturar
como os caras de faculdade. Sua única alternativa era beber, mesmo que pouco já
Darcy não era de beber.
Conforme a festa foi esquentando, a cerveja rolou solta e aí os caras do
colégio interno conseguiram se misturar. Mais ou menos, de qualquer forma. Eles
ainda eram olhados de lado, mas pelo menos eles estavam circulando e as pessoas
já falavam com eles.
Apesar de Ricky e Bingley estarem se divertindo no meio da pista de
dança com uma garota alta e loura, Darcy como sempre taciturno se mantinha no
canto ao lado do bar. Dali ele tinha vista privilegiada da pista de dança e de
uma certa silhueta escultural dentro de calças de couro e longas madeixas que
não parava de dançar nem por um minuto. Sem perceber, parado ao lado do bar,
ele bebeu um pouco demais. Ele também não percebeu que Lizzy tinha ido pegar
uma bebida depois de se acabar na pista de dança.
Ela havia reparado em Darcy assim que chegou. Apesar de parecer bem
novo, esse garoto era bem bonitinho. Alto e forte, se não fosse tão garoto ela
diria elegante, um olhar tão intenso... Provavelmente era mais um geniozinho
que entrava na faculdade no meio da escola. Ela suspirou. Agora ele parecia que
estava procurando alguém na pista de dança. Uma namoradinha do campus? Quem
seria a geniazinha? Será que ele era só irmão de alguém, por isso estava na
festa da turma dela?
Sem nada melhor para fazer na festa além de fugir do Bill, a curiosa Lizzy
ficou de olho em Darcy. Ele bebeu seu copo de cerveja num gole grande e pediu
outro, mas seu rosto tão bonito se contorceu numa careta assim que provou do
copo novo. Ela não pode conter seu sorriso, chegou perto dele por trás e
cochichou.
‘Não está boa?’
‘Não. Está choca.’ Darcy reclamou muito arrogante, como se fosse
especialista em cerveja aos (quase) dezoito anos.
‘Não está não. Você é que está misturando tipos de cerveja. Primeiro
tomou a de trigo e agora a pilsen. Cuidado, moleque. ’ Lizzy falou, mal
contendo seu riso.
‘Moleque? Só me faltava
essa... ’ Darcy falou quase gritando de raiva e resmungando ‘Festa estranha com
gente esquisita.’ se virou para olhar quem o estava insultando.
Ele ficou paralisado ao ver que era a deusa motoqueira de cabelos longos
e calça de couro, linda e perto dele. Perto demais para sua cabeça cheia de
álcool. “Caralho, que mulher linda!”
Darcy passou a mão no cabelo, humilhado.
‘Você não é um pouco novo para estar aqui? Nunca te vi no campus... ’
Lizzy falou apertando os olhos bem pintados e olhando Darcy de lado, mal
escondendo o sorriso.
Darcy estava hipnotizado por ela. Ela era tudo que seus sonhos de garoto
poderiam conjurar. Mas antes que ele dizesse algo inteligente seu estômago deu
sinal de vida.
‘Caralho... Não aguento mais birita. ’ Ele fez uma careta e apertou a
barriga.
Lizzy riu, incapaz de segurar o deboche.
‘Vem, vou te ajudar. ’ Ela se virou e flertando chamou-o dobrando o dedo
indicador por cima do ombro.
Darcy focou na unha pintada de preto e seguiu Lizzy. Ela o levou para os fundos da festa, passando
pela cozinha de onde ela roubou uma lata de refrigerante do cooler. Do lado de
fora do salão, no pátio do clube, Lizzy apontou para um banco no jardim e Darcy
sentou, apoiou os cotovelos nos joelhos, abaixou a cabeça nas mãos e grunhiu.
‘Droga. ’
Lizzy riu de novo, encostada no muro lateral ao banco e apontou para a lata
que ela colocou ao lado dele.
‘Bebe aos poucos. Vai melhorar. ’ Ela estudou o garoto, ele era
realmente bonito. Com certeza ia ser um homem lindo quando crescesse. Lizzy
balançou a cabeça mentalmente para si mesma. Atacando garotinhos, a que ponto
ela tinha chegado. ‘Seus pais sabem que você fugiu de casa?’
‘Pô, tia! Tá pensando que tenho dez anos?’ Ele falou olhando pra
cima. Mas logo seu estômago se revirou e vingou Lizzy pela alfinetada.
Lizzy estremeceu. ‘Nossa, essa doeu! Golpe baixo. ’
‘Desculpe. Mas você me chamou de moleque. ’ Darcy falou e tomou
um gole da água tônica fazendo careta.
‘E você me chamou de esquisita, já que essa festa é da minha turma. ’
Ela levantou uma sobrancelha bem desenhada pra ele.
‘Desculpe de novo. Você é tudo menos esquisita. Você é linda. ’ Ele
disse e não acreditou que a danada da cerveja estava soltando sua lingua. Darcy
sempre foi caladão e retraído, ele nunca teria coragem de falar algo assim para
uma uma mulher do calibre da Lizzy. ‘Caramba, quase duas. Vou me ferrar se não
levar Ricky para o hotel logo. ’ Ele abaixou a cabeça de novo.
Lizzy teve que rir. Ele era lindinho e fofo. Mas um garoto de qualquer
forma. Seria muita baixaria da parte dela, não seria? Lindinho, gostosinho e
cheirando a leite. ‘Então você fugiu do seu quarto de hotel?’ Ela ajeitou o
cabelo longo atrás do ombro.
‘Não, gata. Não fugi. ’ Ele juntou suas forças para olhar para cima e
adorou a expressão de interesse dela. ‘Nós viemos de Seattle para essa festa.
Eu e meu irmão Richard. ’
‘Então, qual é o problema?’ Lizzy perguntou, mais uma vez ajeitando o
cabelo.
Darcy estava encantado. ‘Meu pai sempre dá umas incertas quando a gente
está longe de casa ou da Trinity...’
Lizzy levantou as sobrancelhas. Ele estudava na Trinity, simplesmente o
melhor colégio interno da costa Leste? Mauricinho rico da costa Oeste que cruza
o país para dar uma de penetra em festa de faculdade Ivy League. É, realmente não era pra ela.
‘Nesse caso, é melhor você achar seu irmão e ir embora. Consegue andar
ou precisa que eu ache alguém para te ajudar?’ Lizzy perguntou desencostando do
muro.
Darcy não pôde conter o desapontamento quando Lizzy ameaçou ir embora.
‘Consigo. Mas não quero que acabe. ’
Lizzy inclinou levemente a cabeça para o lado e esperou ele continuar.
‘Não quero... ir embora da festa. ’ Darcy falou miseravelmente.
‘Mas se é uma festa estranha... ’ Lizzy levantou uma sobrancelha para
ele segurando o riso.
‘Olha, desculpa de novo. ’ Darcy resmungou.
Lizzy abanou a mão para ele e riu. Darcy adorou o riso dela.
‘Olha, eu estou no Back Bay. Você mora aqui?’ Ele falou numa
tentativa desesperada de não perder contato com ela.
Lizzy deu um meio sorriso condescendente.
´Claro que não, você faz Yale então mora em New Haven. Burro!’ Ele bateu
na própria testa, na vã tentativa de fazer seu cérebro funcionar apesar da
cervejada. ‘Vou tentar de novo, ok?’ Ele estendeu as mãos como que implorando
uma chance.
Lizzy riu de novo e acenou que sim com a cabeça, cruzou os braços e esperou.
‘Agora eu não consigo falar nada inteligente para você, mas gostaria de
tentar. Estou hospedado no Back Bay até o fim da semana quando vou para
Nova York. Você vai ficar aqui em Boston? Posso te ligar?’ Darcy precisou
respirar fundo depois de um discurso tão longo.
Lizzy se afeiçoou ao moleque gostosinho. Ela se virou e voltou na
cozinha. Darcy não perdeu a esperança porque podia ver que ela foi pegar uma
caneta emprestada. Lizzy voltou e esticou a mão pedindo a dele. Ele sorriu e
colocou a mão na dela para que ela escrevesse, antecipando o momento que se
tocariam.
‘Não lava a mão, moleque.’ Ela
disse rindo da cara feia dele. ‘Nem vomita!’
‘William, meu nome é William. Chega de moleque, tá tia?’ Ele implicou.
‘Credo! Ok, William. Sou Lizzy.’ Ela sorriu e ele sentiu seu
coração bater mais forte.
‘Lizzy. Estou no quarto 601. Do hotel.’ Darcy disse, oferecendo-lhe uma
maneira de entrar em contato. Vai que ela queira entrar em contato com ele?
Lizzy acenou com a cabeça de novo, devolveu a caneta e se despediu do
bêbado Darcy quando viu duas amigas passando às gargalhadas pelo jardim.
Darcy ficou triste de perder a companhia da deusa, mas ele estava incapaz de lutar. Com alguma dificuldade ele
conseguiu se mexer alguns minutos depois, achou Ricky e foram embora.
Quando chegaram ao quarto do hotel ele imediatamente salvou o número da
Lizzy no seu celular com cuidado para não errar nenhum dígito. Ouro,
esse número era como ouro. Uma deusa dando condição para ele!
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‘Putz, Will. Pára com essa merda!’ Ricky grunhiu e jogou um travesseiro
em Darcy que na manhã seguinte andava de um lado para outro no quarto de hotel
de luxo onde eles estavam hospedados.
‘Vira para o lado e dorme, Richard. ’ Darcy ordenou.
Ele tinha que pensar, e pensar bem. Já era meio dia. Com certeza a deusa já tinha acordado e ele já podia
ligar. Ela não ligou para ele, claro. ‘Moleque.’ Uma gata daquela nem deveria
lembrar-se dele.
“Moleque não, tosco.” Ele pensou.
Finalmente ele achou que tinha uma boa ideia na cabeça, pegou o celular
e olhou de novo para o número dela. Mas antes de clicar em ‘ligar’ ele
olhou para Richard roncando seu porre da noite anterior e achou melhor procurar
um lugar mais reservado para fazer a ligação.
No corredor luxuoso e vazio do hotel ele fechou a porta do quarto atrás
de si e ligou. Seu coração bateu forte perto da garganta por um minuto inteiro
até que após o décimo toque ele desistiu e desligou. Darcy olhou de um lado
para o outro no largo corredor e sentou numa das poltronas amarelas
confortáveis. Ficou olhando desolado para o telefone por alguns minutos e ligou
de novo num ímpeto. Mais uma vez ela não atendeu.
“É Will... Seu babaca! Acreditou que uma deusa daquela ia te dar o
número certo.” Darcy
sacudiu a cabeça lamentando sua ingenuidade e a perda de tamanha oportunidade.
De repente seu telefone tocou em sua mão e ele não acreditou.
‘Lizzy chamando.’
Ele teve que respirar fundo e acalmar sua respiração. Teve que se forçar
a sentar de novo, porque tinha pulado da cadeira quando leu o nome dela no
celular dele.
“Alô?” Ele falou afoito. Teve que pigarrear para impostar a voz. “Alô.”
Ele disse mais confiante.
“Alô?” Lizzy disse, franzindo as sobrancelhas. “Quem é?”
“Foi você quem me ligou. Não sabe para quem ligou?” Darcy tentou
flertar.
“Ih, que brincadeira é essa? Alguém me ligou desse número duas vezes.”
Lizzy perguntou impaciente.
“E você ligou para alguém que não sabe quem é? Que perigo...” Darcy
continuou audacioso, certo de que seria bem recebido.
“Ai, que droga. Deixa para lá.” Lizzy reclamou e quando ia desligar
ouviu um pedido urgente.
“Não, não desliga Lizzy!” Darcy esqueceu de fazer tipo e gritou.
“Quem é?” Lizzy perguntou de novo, ainda impaciente.
“William!” Ele disse, quase sem fôlego.
“Quem?” Lizzy perguntou, apertando os olhos.
“William. Da festa de ontem!” Darcy tentou se explicar, passando a mão
na nuca. Nada bom, essa ligação não estava dando certo.
Lizzy continuou em silêncio, Darcy sentiu o desespero crescer dentro
dele.
“O moleque!...” Ele falou triste, humilhado.
“Ah!... O bonitinho de porre?” Lizzy perguntou rindo.
“Eu mesmo...” Darcy concordou sorrindo. ‘Bonitinho! Ela me achou
bonitinho!’ Ele pensou.
“Não se atreva a me chamar de tia!” Lizzy avisou rindo e levantando o
dedo indicador no ar.
“Não, pode deixar.” Darcy falou. Pelo menos ela estava de bom humor.
“Então, como está a ressaca?” Lizzy perguntou, lisonjeada que o
garotinho tinha ligado. Ela só tinha lhe dado o seu número por curtição.
“Curada!” Darcy falou afoito de novo. Ela lembrava!
“Mesmo? Não acredito...” Lizzy riu.
“Bem, quase. Mas estou bem melhor do que estava ontem.” Ele assegurou.
“Ok. Então?...” Lizzy esperava que ele fosse rápido. Ela já estava
arrependida de ter ligado de volta para o número desconhecido.
“Err... já é meio dia e pensei que se você topasse a gente podia almoçar
em algum lugar.” Darcy tentou. Um convite para almoço era algo digno de uma
mulher mais velha.
“William, Will?” Ela perguntou e Darcy foi pateta o suficiente para
fazer que sim com a cabeça.
“Will.” Ele concordou verbalmente, mentalmente se estapeando.
“Will, eu estou ocupada agora. Na verdade saí de um almoço que pode ser uma
entrevista de emprego para atender quem não parava de me ligar. Tenho que
voltar.” Lizzy disse, já pretendendo desligar.
“Desculpe.” Darcy balbuciou se lamentando pela sua falta de sorte.
Lizzy ficou com pena do tom de voz do garoto... tão triste. Ela
suspirou. “Olha, mais tarde vou estar livre...”
“Que tal um lanche? TGI´s?”
Darcy sugeriu num supetão, preocupado em não perder a oportunidade pela
terceira vez.
“Mmmm... Na verdade eu estava querendo ir num festival de filmes cult.
Hoje à tarde tem ‘Nouvelle Vague’ do Godard.” Lizzy disse. Se o garotinho
não sabia quem era Godard nem o quê era filme cult, bem, não era para ela. Que
bobagem, ele não era para ela de qualquer forma.
“Filme cult? Caralho!”
Darcy pensou. “Claro, se você prefere. Onde nos encontramos?”
Eles marcaram de se encontrar no Boston
Public Garden. Darcy estava muito ansioso para esperar calmamente até às
cinco da tarde, então ele alugou uma bicicleta e pedalou pela cidade. Boston
era uma cidade linda no verão e ele passou tempo passeando, tomando cuidado
para não suar demais.
Vinte minutos antes da hora marcada ele já estava no parque, fazendo
força para não andar de um lado para outro, se concentrando na voz de Mark Knopfler
berrando no seu ouvido. Até que dois minutos depois das cinco ele
viu uma Ducati vintage incrível estacionar perto da grade do parque e a deusa Lizzy soltar o capacete, mas
manter os óculos escuros.
Com certeza, ela era bonita demais para ele. “Nossa!”
Lizzy viu que o moleque estava sentado num banco perto de onde ela
estacionou a moto, tão quietinho com seus fones de ouvido, sobrancelhas
franzidas sob o boné dos Mariners. “Ai, ai...” Ela pensou. Veio
andando na direção dele pensando o que ela estava fazendo ali, mas logo que ele
levantou quando a viu se aproximando ela lembrou por que. Fofo e gostosinho.
Era quase um crime. Será que ele já era maior de idade?
‘Oi!’ Darcy gritou e acenou com a mão no alto antes que Lizzy chegasse
perto dele.
Lizzy sorriu. Fofo!
‘Olá!’ Ela falou baixo quando chegou perto. ‘Chegou há muito tempo?’
‘Não! Você foi pontual. ’ Darcy falou, muito sem jeito, se concentrando
em não corar.
Lizzy riu.
De perto, à luz do sol, Darcy achou estranho que Lizzy tinha uma mecha
ruiva bem na frente da cabeça. Mesmo assim achou isso um charme.
Eles não tinham nada parecido. Lizzy falava francês e alemão, estava
entrando na reta final da faculdade, tinha tantos planos para sua vida profissional
e especializações, determinada a não deixar nenhum romance atrapalhar seus
planos.
Darcy estava na escola, se preparando para fazer seus SATs esse
ano, pensando em Harvard e no seu MBA em Cambridge. Tinha acabado de entrar
para o time de natação e estava fazendo aulinhas de línguas no colégio.
Lizzy fazia esforço para se manter antenada apesar da dedicação ao final
da faculdade e dos seus planos para o futuro. Ela ouvia Indie rock,
grandes nomes da música da América Latina, artistas clássicos e curtia design.
Seu dormitório na faculdade tinha um quadro na parede com várias fotos pinadas:
de amigos, família, citações de livros, artistas plásticos famosos, ícones das
artes, formadores de opinião.
Will gostava de andar de bicicleta tanto em casa quanto no colégio,
fazia pouco tempo que ele podia dirigir legalmente e ainda não tinha deixado o
hábito de usar o camelo. Ele sentia falta do seu avô que tinha morrido
no ano passado, e da sua querida mãe que tinha morrido há quase quatro anos.
Por isso, ele vinha passando mais tempo possível em Pemberley. E ele também
gostava de ver Beavis e Butthead na tv.
Naquela tarde no parque eles conversaram por horas, até que o guarda
veio avisar que os portões estavam quase fechando. Acabaram perdendo a hora do festival de filmes
cult, todos os assuntos eram interessantes para eles. Política, magia,
meditação, qualquer coisa. Lizzy estava achando engraçado que o garoto – Will –
estava interessado em todos os assuntos que ela começasse. Mesmo quando ele
obviamente não entendia nada do que ela estava se referindo.
Will estava fazendo força para parecer inteligente. Depois do fiasco da
bebedeira da noite anterior, ele não podia fazer feio. Ela falava de coisas que
ele nunca tinha se interessado antes, mas se Lizzy estava conversando com ele
sobre isso, ele achava que o assunto era fabuloso. Para ele, que estava
preocupado nas notas da escola, Pemberley e MTV;
Lizzy era totalmente incrível.
Mesmo assim, mesmo tão diferentes, eles adoraram passar a tarde juntos
batendo papo. Will fez Lizzy sorrir quando comprou sorvetes da carrocinha para
eles no parque. Por alguns instantes, Lizzy - envaidecida pelo interesse dele -
se deixou levar por Darcy e seu rosto tão novinho, sua voz tão grave e suave,
seu olhar intenso. Ele realmente era um cara bonito.
Como ela tinha marcado de sair com Dennie e Charlo naquela noite, eles
se despediram no portão do parque, mas combinaram de se ver no dia seguinte. Apesar
de Darcy querer muito impressionar Lizzy, ele com muito tato sugeriu que eles
fossem assistir ‘Máquina mortífera 3’ para a gargalhada de Lizzy.
Tudo bem, ela também gostava de Mel Gibson. Mas após aceitar ir ao
cinema ver o block buster da vez ela ficou pensando na idade dele.
Caramba! Será que ela estava cometendo um crime?
No dia seguinte, após o cinema, eles jantaram juntos na lanchonete que
ele gostava e foi um programa ótimo. Galantemente Darcy pagou pelas entradas no
cinema, pela pipoca e pelo taxi. Lizzy passou boa parte do tempo na lanchonete
explicando a liberação feminina mas não teve jeito, ele pagou pelo lanche
também. Como os dois tinham planos de passar alguns dias em Boston, eles
acabaram se vendo todos os dias.
Lizzy precisava comprar um presente para a mãe e até nesta árdua tarefa Darcy
se prontificou para acompanhá-la. Quando ele tentou pagar pelo presente, ele
teve que ouvir um sermão sobre dificuldade de perceber limites. Para se
desculpar, ele lhe deu o novo cd do Red Hot Chilly Peppers e ela teve
que sorrir para ele. Como dizer não ao Anthony Kiedis?
De maneira geral, Darcy era cativante. Novinho, cheirinho de leite, mas
tão educado. Caladão, atencioso, encantado com ela e com tudo que ela falava.
Por algumas vezes Lizzy teve quase certeza que ele estudava os assuntos que ela
mencionava porque no dia seguinte ele conversava sobre o assunto do dia anterior
com a maior desenvoltura.
Num assunto ela tinha certeza que eles estavam em pé de igualdade:
baseball.
Fãs ardorosos, eles marcaram de assistir a um jogo com os amigos dos
dois. Lizzy teve algumas dúvidas sobre o programa, seria como uma luta de
gladiadores com leões: os moleques mauricinhos contra seus amigos de infância
munidos de suas línguas ferinas. Mas ela realmente queria passar tempo com
Darcy.
Para a diversão de Charlo e Dennie, quando eles chegaram ao estádio
Darcy já tinha comprado o ingresso da Lizzy. Ela corou e agradeceu. Corou mais
de vergonha da graça que os amigos de Meryton iam fazer dela e de Darcy do que
pelo gesto atencioso dele.
Os amigos foram apresentados uns aos outros, e ingressos comprados, eles
procuraram assentos na arquibancada de forma a ficarem próximos. No meio da
multidão, Darcy fez questão de não soltar a mão da Lizzy até que ela estivesse
sentada com segurança em seu lugar. Ele sentou ao seu lado e apontou
discretamente para os amigos ficarem na fileira de baixo. Charlo e Dennie
sentaram do outro lado de Lizzy.
Vendo Darcy e Lizzy interagindo durante o jogo, os dois amigos de
Meryton, companheiros de Lizzy de longa data, não conseguiam segurar o riso.
‘Liz, pelamordeDeus!’ Charlo falou às gargalhadas no intervalo
quando os três amigos conseguiram ter alguma privacidade na arquibancada do
estádio, assim que Darcy levantou após se oferecer para comprar refrigerante
para ela.
‘Meu bem, um bebezinho. Você percebeu, né?’ Dennie debochou.
‘Ah, vai Dennie. Pode falar, ele não é gato?’ Lizzy cutucou Dennie com o
cotovelo.
‘E como! Puta merda... Imagina quando virar homem de verdade... O
irmãozinho também. ’ Dennie falou abaixando os óculos escuros para a ponta do
nariz e virou o rosto para acompanhar Darcy e Ricky subindo as arquibancadas.
As duas amigas gargalharam.
‘Mas é bebezildo...’ Dennie
torceu os lábios para o lado e levantou as sobrancelhas para Lizzy.
‘Claro, girafa... Mas é tão fofo!’ Lizzy disse. ‘E gostosinho!’
‘Ai. Pára.’ Dennie levantou as mãos e ficou séria. ‘Você não... ’
‘Não!’ Lizzy franziu as sobrancelhas. Mas ela tinha pensado nisso várias
vezes.
Darcy também. Nem dormia mais. Tomava banhos longuíssimos.
‘Lizzybee... Ele nem deve saber o que fazer. Mal saiu da fralda...
’ Charlo debochou.
‘Posso aprender a ser bem didática... ’ Lizzy deu um sorrisinho
malicioso...
‘Cacilda! Tá louca. ’ Charlo sacudiu a cabeça.
‘Lizzy, o menino está ficando vesgo. Você já reparou como ele fica de
olho na sua bunda?’ Dennie falou rindo.
Lizzy sorriu.
‘Ai, que safada! Você sabe que ele só pensa naquilo!’ Dennie deu um tapinha nas costas da Lizzy.
‘Eu tenho estudado tanto que não tenho tempo nem de comer. Pelo menos
para isso serve.’ Lizzy sorriu. ‘Sabia que minha 501
do tempo de escola
está folgada?’ Ela disse orgulhosa.
‘Então você pode ficar com o fedelho. Você tem corpinho de cavaquinho
como as coleguinhas de turma dele!’ Dennie bateu palminhas sarcasticamente.
‘Cavaquinho?’ Lizzy fez uma careta.
‘Violãozinho. ’ Dennie falou. ‘Não!’ Ela levantou a mão e se contorceu
na cadeira para olhar Lizzy no rosto. ‘Violino, porque o menino é tão novinho
que deve ter uma varetinha bem fininha, como chama a varetinha do
violino?... ’ Dennie fingiu pensar seriamente que não lembrava que violino era
tocado com um arco e não vareta, e as duas riram.
‘As duas encalhadas estão no cio. ’ Charlo interrompeu debochando, mas
as duas só riram mais. Ele então se levantou e abanou seu boné do Red Sox
gritando: ‘Corram meninos, corram! Protejam suas virgindades! As depravadas de
Meryton estão à solta!’
Lizzy e Dennie levantaram fazendo ‘Pssst!’ e afundaram Charlo na sua
cadeira. Enquanto os três amigos
gargalhavam, Lizzy levantou os olhos e viu Darcy voltando com dois copos
enormes nas mãos. Ele vinha descendo as arquibancadas com os olhos fixos nela e
um sorriso preguiçoso no rosto bonito.
Mesmo de maneira torta, seus amigos tinham conseguido aumentar o
desconforto de Lizzy e ela ficou remoendo a diferença de idade.
Finalmente tomando coragem, depois do jogo quando fez questão de levá-la
na porta do hostel onde ela estava hospedada com os amigos, Darcy a
convidou para comemorar seu aniversário jantando com ele dali a dois dias. Lizzy
não aguentou mais a curiosidade e perguntou a idade dele. Quando ele lhe disse
que faria dezoito no final da semana, Lizzy gelou e perdeu a fala.
‘Praticamente dezoito.’ Darcy falou com urgência, como se estivesse se desculpando.
‘Ai, caramba!’ Lizzy sentiu o chão lhe fugir. Ela desabou numa
espreguiçadeira do jardim, pôs as mãos na cabeça e fechou os olhos.
‘Não é tão ruim, Liz...’ Darcy argumentou e sentou perto dela.
‘Como não, Will? Eu tenho vinte e quatro! São seis anos de diferença!’
Lizzy levantou seis dedos para ele contar.
Darcy era um garoto rico superprotegido e em sua agonia de perder a
chance de ficar mais próximo da Lizzy e ele não percebeu a razão do desespero
dela. Ela também estava triste de abrir mão da chance de ser próxima dele.
‘Agora parece muito, mas daqui a alguns anos nem vamos notar... ’ Ele
tentou argumentar mais uma vez.
‘O quê?’ Lizzy perguntou chocada.
‘Você não é nada diferente das garotas com quem eu já saí. ’ Darcy falou
seriamente.
‘Ai, putz!...’ Lizzy sacudiu a cabeça.
‘Lizzy, você parece que tem dezenove. No máximo. ’ Ele elogiou.
Lizzy teve que sorrir apesar do seu desconforto.
‘E se fosse o contrário? Você não ia querer sair comigo?’ Ele
argumentou.
‘Olha Will, tudo bem. Você é uma graça, muito bacana, mas não vai dar.’
Ela disse e balançou a cabeça.
‘Liz... ’ Darcy tentou.
‘William, a gente se fala daqui a alguns anos. Quem sabe?’ Lizzy estava
começando a suar. “Caracoles! Dezoito! Garotinho mesmo!”
‘Alguns anos. Não mesmo. ’ Agora foi a fez de Darcy sacudir a cabeça.
‘Bom, boa noite. ’ Lizzy levantou da espreguiçadeira e se virou para ir
embora.
‘Não, Elizabeth. Espera. ’ Darcy levantou num salto e segurou o braço
dela. ‘Eu te convidei para sair comigo, passar meu aniversário comigo.’
‘Hã? Caraca!’ Lizzy fechou os olhos. “Que
loucura, ele ainda não entendeu que isso é muito errado?”
‘Liz, eu estou louco por você. ’ Darcy abriu o coração como somente um
coração inocente pode fazer. ‘Eu quero te ver todo dia. ’
Os seus olhos se encontraram e Lizzy não conseguiu piscar. Os olhos do
Will eram perfeitos, profundos, ansiosos, apaixonados. Mas ele era tão novo, e
ela tinha pensamentos tão picantes sobre ele...
Darcy se inclinou para frente e abaixou a cabeça. Seu coração explodia
na sua garganta, finalmente ele ia conseguir beijar a boca estonteante da
Lizzy. Mas na hora agá ela olhou para baixo e virou o rosto. Ele só
conseguiu beijar sua bochecha.
‘Will... não.’ Ela deu um passo para longe dele e se virou. ‘A gente se
fala depois. Boa noite. ’
Mas ele não saiu da sua cabeça, nem por um minuto. Lizzy tentou achar
alguma maneira de burlar sua consciência, a lei, seu tesão. Mas acabou com dor
de cabeça e insone.
---
O dia do aniversário de Darcy chegou e ele teve que decidir como ia
resolver a situação. Ele não tinha visto Lizzy depois que se despediram no
jardim do hostel, ela mal tinha atendido suas várias ligações dizendo que
estava ocupada com uma oferta de estágio. Ele estava fissurado em Lizzy e na
ideia de tê-la ao seu lado. Era incrível que ele conseguisse segurar o
interesse de uma gata tão linda e inteligente por mais que dez minutos.
O quê mais Darcy poderia querer de aniversário? Ele só poderia querer
passar tempo sozinho com ela.
Mas como de costume, ele, Ricky e Darcy Sr haviam combinado de passar o
dia juntos. Seu pai viria de Seattle para uma comemoração simples e no dia
seguinte ele acompanharia-os até o colégio interno em Nova York.
Ricky era fácil de se livrar já que os amigos da escola estavam em
Boston também, mas com o seu pai, Darcy precisaria de mais cuidado. Depois de
pensar no que seria mais eficaz, Darcy tomou coragem e ligou pedindo que o pai
não viesse a Boston. Mesmo tendo que explicar que tinha conhecido uma garota
incrível, ele achou que valia a pena.
"Como assim você não quer que eu vá?" Darcy Sr. perguntou ao filho mais
velho com o telefone preso no ombro enquanto assinava documentos no seu
escritório.
"Você está enrolado com o novo contrato do escritório de Nova York. Não
precisa vir. A gente se vê lá quando as aulas começarem." Darcy disse coçando a
cabeça.
"Ainda tenho alguns detalhes para acertar, mas o contrato até está indo
bem. Você está fazendo falta aqui, Will!" Darcy Sr disse orgulhoso do filho
promissor que mesmo como estagiário tinha feito diferença esse verão.
"Então. Quando o contrato estiver fechado, nos vemos em Nova York."
Darcy disse na esperança de resolver tudo tão fácil assim.
"Ah, o trabalho não é mais importante do que vocês. Nós sempre passamos
os aniversários juntos." Darcy Sr disse.
"Não tem problema, pai." Darcy disse.
"O quê está havendo Will? Parece que você não me quer aí." Alguma coisa
na voz do filho fez com que o pai ficasse desconfiado.
"Nada! Tá tudo certo aqui." Darcy franziu o rosto. “Lá vem.”
"William." Darcy Sr
bufou. "É o Richard? O quê ele
fez agora?"
"Nada, pai. Tudo certo."
Darcy Sr ficou calado esperando que a consciência do filho mais velho
falasse por ele.
Darcy suspirou alto. "Eu conheci uma garota." Ele disse, orgulhosamente reivindicando
intimidade com Lizzy para falar dela para alguém que ele tinha respeito.
"Ah... agora está fazendo sentido." Darcy Sr sorriu e desfez o franzido
da testa.
"Ela é o máximo, pai. Linda, simpática, inteligente. Ela assiste a festivais
de filmes de Godard e ela votou para presidente! Ela até fala alemão fluente,
agora tenho com quem praticar!" Ele disse sem parar para respirar e sorrindo.
"Nossa, Godard!" Após procurar na mente quem era Godard, o pai sorriu
percebendo a animação do filho. "Espera, ela votou para presidente?"
"É... Pai, Lizzy é perfeita." Darcy disse sentindo que a batalha estava
só começando.
"William, quantos anos essa sua Lizzy tem?" Darcy Sr perguntou sério.
"Minha Lizzy tem vinte e
quatro." Ele disse “Minha” sorrindo e
continuou rápido sem dar espaço para que seu pai continuasse. "Ela faz finanças
em Yale e acabou de ganhar um prêmio nacional. Ela é um gênio, linda e eu a convidei
para jantar comigo no meu aniversário."
"Vinte e quatro?" Darcy Sr gritou. "Vinte e quatro! Ela está curtindo
com a sua cara!" Ele riu alto.
"Caralho, eu pensei que a tia Elly não ia entender, mas você?..." Darcy
sabia que essa frase ia derreter o pai que sempre fazia força para ser próximo
dos filhos.
"Não tenta me chatagear, William. Ela já é uma mulher, você é um
garoto."
"Você está falando a mesma coisa que ela disse." Darcy resmungou.
"Ela disse? Pelo menos parece que ela tem juízo..." Darcy Sr disse
exasperado e mandou sua secretária sair quando ela entrou na sua sala.
"Ela é perfeita, pai. Deixa eu explicar." Darcy disse e contou ao pai o
que havia acontecido entre eles até então.
De Richard, falastrão e cheio de si, Darcy Sr. esperaria qualquer
problema relacionado a meninas ou bebedeira, mas não de William que sempre foi centrado
e sério desde menino. Agora ele estava encantado com uma mulher mais velha e
experiente. O pai ouviu em silêncio, indeciso se essa estória era boa ou ruim.
Várias alternativas passaram pela sua cabeça, algumas envolvendo uma vampira e
o seu filho inocente; outras ponderando que essa experiência poderia ser boa
para Will aprender como as mulheres eram complicadas.
"E você acha que ela está te evitando? Ela é muito madura para você e
você não vê porque é um menino excitado com uma mulher bonita. Filho, você está
pensando com o seu pau, e essa moça parece ter alguma inteligência." Darcy Sr.
acusou.
"Não é nada disso, pai..."
"Não é?" O pai riu baixo na garganta. "Não precisa mentir para mim. Já
tive dezoito anos."
"Bem... é!" Darcy riu sem graça e coçou a barba rala que teimava em
aparecer no seu rosto. "Claro que ela é linda e gostosa, e quando ela usa calça
de couro..." Ele ajeitou-se dentro das calças. "Mas ela nem me deixou
beijá-la... Acho que é assim, mas só para mim."
Darcy Sr riu alto e se recostou na sua cadeira. "Ela vai te dar uma
canseira! Filho, essa moça está gozando com a sua cara!"
Inseguro, Darcy ficou calado e franziu a testa. “Será?”
"Você tentou beijá-la e ela disse não?" Darcy Sr perguntou contendo o
riso.
"Ela me acha muito novo. Olha só, pai, o lance é o seguinte:" Darcy
disse, de repente impaciente com a conversa. "Ela meio que me deu um fora
quando eu contei minha idade. Lizzie pirou quando eu disse que tinha
dezessete-"
"Claro, William! Ela pode ser presa, eu posso mandar prendê-la!" Darcy
Sr falou igualmente sem paciência.
"Nem pensa nisso. Eu não sou criança. Você sabe muito bem que eu não me
meto em encrencas como Richard." O filho disse ao pai misturando ameaça,
súplica e racionalização. "E se fosse o
contrário e eu fosse mais velho que ela? Além do mais, Lizzy parece que tem
dezenove." Como o pai não retrucou ele se sentiu confiante o suficiente para
continuar. "No meu aniversário vou ter dezoito oficialmente e ela não vai mais
pirar com isso." O pai continuou em silêncio, Darcy teve que continuar falando. "Pai, eu sou louco por ela. Preciso mostrar para Lizzy que não sou um garotinho
levando-a para jantar no meu aniversário. Entende?"
"Você não é louco por ela,
você está louco por ela." Darcy Sr.
disse. Ele não estava satisfeito com essa novidade que poderia causar muita dor
ao seu querido William. Uma mulher mais velha poderia lhe ensinar muitas coisas
na cama, poderia lhe ajudar a amadurecer mais rápido mas também poderia lhe
causar muita dor de cotovelo. Porém seu pedido fazia sentido. Se o papai aparecesse, aí mesmo que a moça -
que já havia lhe negado um beijo - não ia lhe dar a mínima chance.
"Pai, eu sou louco por ela.
Lizzy não é nada como as meninas que costumo sair. Muito diferente das filhas
das amigas da Tia Elly. Ela sabe conversar, ela não concorda com tudo que eu
falo, ela tem um sorriso tão bonito... E ela ri com os olhos." Darcy disse
encantado, olhando para o infinito e vendo na sua cabeça Lizzie arrumar o longo
cabelo atrás no ombro.
"Se você der esse mole perto dela, ela vai te fazer de gato e sapato." Darcy Sr sorriu para si mesmo.
"Quê?" Darcy perguntou.
"Filho, não se pode deixar uma mulher ver que a gente está assim tão
caído por ela."
"Eu disse isso para ela."
Darcy franziu a testa.
"O quê?" O pai riu da inexperiência do filho. "Você está perdido,
filho!"
No final o pai concordou em ficar em Seattle na condição de ser mantido
a par do andamento da conquista do filho, mas não antes de anotar todos os
dados de Lizzy. Se ela realmente tinha ganho um prêmio de tanto prestígio
nacional na área de finanças, não iria ser difícil para Darcy Sr. pesquisar
sobre ela.
E não foi. Difícil foi explicar em poucas palavras para Helen, a irmã de
sua falecida esposa, e tia coruja que o ajudava a criar os meninos porquê ele
decidiu deixar Will se envolver com uma mulher mais velha.
Darcy sabia que só a primeira batalha estava ganha. Agora ele tinha que
convencer Lizzy a jantar com ele a sós. Não foi fácil.
Ele teve que argumentar muito no telefone, surpreendê-la na porta do
hostel com uma única flor na mão e finalmente ela acabou seduzida por sua
insistência. Mesmo sabendo que seria um potencial problema, Lizzy decidiu dar
uma chance a Darcy. Conforme as coisas se desenvolvessem, ela tomaria novas
decisões improvisando enquanto ia. Era tudo errado, a vontade de vê-lo sempre,
de ouvir sua voz grave, de olhar no seus olhos quando ele parecia se perder
admirando-a. Tudo errado. “Seja o que
Deus quiser.” Lizzy pensou consigo mesma.
Como presente de aniversário ele pediu um beijo. Ela corou e ele ainda
mais. Ele sentia o corpo todo pegando fogo e os segundos que ela levou para
deixar o medo de lado, levantar os braços e abraçar o pescoço dele pareceram
uma eternidade.
Mas ela deu sim o beijo de aniversário, o melhor beijo que ele já tinha
provado até então. Delicioso, perfeito, quente.
Lizzy esperava que ele fosse afobado e sem jeito, mas não foi. Foi uma combinação
perfeita. Do planejado único beijo, ela se deixou beijar várias vezes. E muitas
mais no dia seguinte.
Mas Lizzy tinha compromissos de família em Meryton e Darcy tinha que ir
embora de Boston. Mesmo tendo trocado somente beijos, eles sentiram como se
quebrando um laço de anos quando se despediram.
Lizzy subiu na sua Duke e dirigiu para longe atrás do camaro
amarelo barulhento. Darcy ficou parado na calçada do hostel abraçando o
peito com mágoa. De alguma forma ele queria inverter a situação, fazer com que
ela fosse seis anos mais nova que ele, não, só dois anos. Ele queria ficar com
Lizzy com toda a sua força.
Música: Os outros - Kid Abelha.
---
Na próxima parte:
"Para os amigos dela, Lizzy estava enlouquecendo. Com tantos gatos na
faculdade, um monte deles dando em cima dela, ela estava perdendo tempo com um
garotinho que mal tinha saído das fraldas.
‘Você sempre quis chocar todo mundo, Lizzy. É quase previsível isso. ’
Elinor a acusou entre copos de chope um dia após as aulas.
‘O que isso quer dizer mesmo?’ Lizzy torceu o nariz. Ela estava sentada entre
suas amigas em uma das mesas do agradável Botequim da Austen.
‘Que você está curtindo com cara desse garotinho rico!’ Mary King, sua
amiga de várias matérias traduziu num risinho.
‘Ah, qual é? Por quê? Não posso estar mesmo interessada no Will? Só
porque ele é mais novo? Que antiquado!’ Ela respondeu rindo e gesticulando.
‘Papa anjo!’ Elinor acusou.
‘Mary Poppins do mal!’ Mary debochou para o riso das três.
‘Elizabeth, isso não tem mais graça. Nunca teve na verdade. Está na hora
de você parar com essa brincadeira. ’ Uma voz séria deu a ordem."
leia na íntegra aqui.
---
E aí?
Valeu a espera?
Prometo, sim! |
Espero que sim. Posto todo domingo, prometo.
Ah, só para me despedir: hoje o blog vira 12 mil visitas! Uau!
brigaduuuu!!!
para comprar meus livros Austenites ou de inspiração livre,
vem aqui, ó!
Notas:
- Com esta fic eu não pretendo de maneira nenhuma agredir ninguém nem fazer apologia à corrupção de menores. Eu apenas segui livremente a música que adoro - Eduardo e Mônica do Legião Urbana fazendo cálculos a partir do verso: "Ela (Mônica) se formou no mesmo mês que ele (Eduardo) passou no vestibular". Numa licença poética, Darcy já começa com 18 e não com 16 como na música.
- Fanfic minha registrada no EDA da FBN - 2012.
- Nem Thiago Lacerda nem a lindinha Isis Valverde estão envolvidos neste projeto. Eles são atores talentosos e lindos que eu admiro.
- Todas imagens são do google, exceto poucas manipuladas por mim.
Moira, estava curiosíssima por essa nova fanfic, amei é claro! Parabéns!
ResponderExcluirBJS... Anna Paula.