& Moira Bianchi: Vermelho, inspiração no século 19

sábado, 6 de junho de 2020

Vermelho, inspiração no século 19

Olá!
Tenho feito algumas pesquisas sobre cores e tingimentos de tintas e têxteis no século 19. Hoje escolhemos por gosto, antigamente as cores em roupas, cortinas, almofadas, forro de carruagem, a escolha era no bolso.

VERMELHO 

- cor da riqueza, realeza, pecado -

A curadora da exposição 'Red' do Textile Museum de Washington, EUA diz que "quando os espanhóis chegaram ao México em 1500, a cochonilha se tornou a maior exportação do Novo Mundo para a Europa. Os espanhóis colhiam os insetos raspando-os das plantas de cactos e deixando secar. Os insetos secos, que pareciam pequenas bolinhas, eram enviados para a Europa. Os importadores da Europa não sabiam se as bolinhas eram uma fruta, um inseto ou um mineral. Os espanhóis gastaram muito tempo e dificuldade mantendo o segredo para proteger suas fontes".

Aqui sabemos bem da importância do Pau Brasil, nossa primeira riqueza natural a ser explorada por Portugueses, lá em 1500. Foi um milagre achar terras selvagens onde havia abundância da madeira prima da 'sappanwood' ou 'redwood' das Índias (Biancaea sappan) que já custava uma fortuna pq oferecia um vermelho vivo. Além da extração desmedida autorizada pela coroa Portuguesa, o pau Brasil tb aguçava a cobiça de corsários que interceptavam navios para roubar carregamentos inteiros.

Vermelho, por ser tão caro e difícil, era cor de rico. Só usava quem tinha muita grana e em alguns lugares através dos tempos, como no Japão imperial, as pessoas normais eram proibidas de usar a cor.

Por milênios, vestir roupas vermelhas 
expressava legitimação de status social, autoridade política, 
posição religiosa, ancestralidade e identidade cultural.



A prova mais antiga de fios tingidos de vermelho vem do sexto milênio aC na Turquia. Os egípcios embrulhavam suas múmias em panos de linho vermelho, cor ligada a Osíris, governante do submundo. Era cor divina, também cor do ardor, da coragem e do sacrifício. Em batalha, os Espartanos, Persas e Romanos usavam escarlate. Em Roma, o vermelho estava associado a Marte, o deus da guerra, expressava força de vontade e energia; o significado está enraizado na etimologia da palavra - rubrum em Latim. 
O hábito de usar vermelho para fins simbólicos continuou por séculos, compartilhando características semelhantes em toda a Europa.

No século 19, durante o império napoleônico, o vermelho ainda incorporarava o poder, mas foi perdendo importância conforme a sociedade se tornava mais sóbria, permeada por idéias democráticas e valores burgueses. Mal visto, o vermelho tornou-se geralmente associado à aristocracia e aos excessos sexuais, mantendo conotações bastante negativas. 
The naughty maid, L.Knaus - sec 19

Na década de 1870, uma nova geração de vermelhos sintéticos se tornou disponível. O primeiro desses corantes vermelhos foi chamado de alizarina, pigmento vermelho derivado da raiz da garança da espécie Rubia tinctorum. A palavra deriva do árabe al-usara, significando suco. Alizarina também é o nome genérico de uma variedade de corantes modernos, como "Verde Alizarina Cyanina G" e "Azul Brilhante Alizarina R".
Wiki diz que a alizarina era conhecida usada como corante por Tutancâmon (1300 aC), Carlos Magno (750 dC) e vikings (sec 8); raiz de rubia (flor, Rubiaceae) foi popular em corantes até a década de 1860 quando foi reconhecida por Graebe e Liebermann, 1868, como um derivado do antraceno, e posteriormente por estes sintetizada, quando trabalhavam sob Adolf von Baeyer, em um processo de três etapas, vendido posteriormente à então Badische Dye Company (depois BASF), devido ao seu custo e requerimento de bromo. 

Em 1869/70 transformou-se no primeiro pigmento natural a ser sintetizado. Mesmo com as limitadas técnicas do século 19, o pigmento obtido artificialmente tinha a metade do custo do natural, fazendo o mercado de cultivo da planta

Depois, melhores corantes sintéticos foram desenvolvidos. Estes representaram o golpe final para o outrora próspero mercado cochonilha. Bom para o meio ambiente, ao menos! O pau Brasil foi quase extinto pela busca ao vermelho perdido!

Até a próxima cor!
Bj
M.

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