& Moira Bianchi: Azul, inspiração no século 19

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Azul, inspiração no século 19

Olá!
Escrevendo tenho a chance de pesquisar coisas bobas e interessantes, detalhes e costumes. Confesso que quanto mais detalhado e mundano, mais me agrada. 
Ultimamente tenho procurado fontes de pesquisas sobre cores e tingimentos de tintas e têxteis no século 19. Hoje escolhemos por gosto, antigamente as cores em roupas, cortinas, almofadas, forro de carruagem, a escolha era no bolso.

AZUL 

- cor da divindade, inteligência, sinceridade -

Azul é cor popular desde sempre, desde os tempos inomináveis. Na Bíblia, Deus instruiu Moisés a construir a 'arca da aliança' para guardar as tábuas dos 10 mandamentos e o templo para guardar a arca. Tá lá no Êxodo, 26, tudo certinho para fazer as cortinas e véus que protegeriam a arca: "Faça o tabernáculo de acordo com o modelo que foi mostrado no monte. Faça um véu de linho fino trançado e de fios de tecido azul, roxo e vermelho e mande bordar nele querubins. ... Pendure o véu pelos colchões e coloque atrás do véu na arca da aliança. O véu separado do Lugar Santo do Lugar Santíssimo. ... Para entrar na apresentação faça uma cortina de linho fino trançada e de fios de tecido azul, roxo e vermelho, peça de bordado." Quando a aliança foi quebrada na morte de Jesus na cruz, esse véu foi rasgado. Há fontes que citam a veste de Jesus que a mulher toca buscando cura era azul. Essa passagem é uma das minhas preferidas porque ele sente o toque na roupa e se vira 'vendo' a mulher pela primeira vez (Mateus, 9).

A cor azul representa confiança, lealdade, sinceridade, sabedoria, 
confiança, estabilidade, fé, céu e inteligência
Em muitas culturas e crenças religiosas, é valorizada por 
trazer paz e afastar os maus espíritos.

Em representações, pinturas, imagens, Maria mãe de Jesus é tradicionalmente retratada usando manto. Essa tradição pode ter sua origem no Império Bizantino, por volta de 500 dC, onde o azul era "a cor de uma imperatriz". Uma explicação mais prática para o uso dessa cor é que, na Europa medieval e renascentista, o pigmento azul era derivado da pedra lápis-lazúli importada do Afeganistão, e tinha mais valor que o ouro. Extremamente caro, na arte renascentista italiana, costumava ser reservado para as vestes da Virgem Maria como expressão de devoção e glorificação. 

No Egito, na Grécia, os Árabes, 
todo mundo adorava a cor azul.

A cor mais bonita vinha da planta Indigofera cultivada na Índia. O nome 'índigo' vem daí, a etimologia da palavra. A Índia foi o principal fornecedor de índigo para a Europa desde a era greco-romana, a palavra grega para o corante, indikón significada indiano. Os romanos latinizaram o termo indicum, que passou para o dialeto italiano e, eventualmente, para o inglês como a palavra indigo. Indigofera, a planta, tem ampla família, todas as variações produzem o corante.

Os europeus usavam roupas coloridas de azul com tintura de vegetais até ser substituído pelo índigo mais fino da América que tinha enormes plantações de anil movidas a trabalho escravo. No século 19, corantes e pigmentos azuis sintéticos substituíram gradualmente os pigmentos minerais e corantes sintéticos.

Mas o azul vem de várias fontes:
- pedra lápis-lazúli, minado no Afeganistão por mais de três mil anos, foi usado para jóias e ornamentos, e em pó é usado como pigmento. Quanto mais fino, mais clara a tonalidade da coloração resultante. O ultramarino natural, produzido pela moagem e purificação de lápis-lazúli, foi o melhor pigmento azul disponível na Idade Média e no Renascimento; 
- azurita, comum na Europa e na Ásia, é produzido pelo desgaste dos depósitos de minério de cobre. Em pó é usado como pigmento desde os tempos antigos. A azurita moída costumava ser usada no Renascimento como um substituto para os lápis-lazúli muito mais caro. Faz um azul rico, mas era instável e poderia ficar verde escuro com o tempo;
azul egípcio, o primeiro pigmento artificial, criado no terceiro milênio aC no Egito antigo, moendo areia, cobre e natron e depois aquecendo-os. Era frequentemente usado em pinturas de túmulos e objetos funerários para proteger os mortos em sua vida após a morte;
- cerulean foi criado com óxido de cobre e cobalto e usado para criar uma cor azul celeste. Como o azurita, ele pode desbotar ou ficar verde;
- azul cobalto (cobalto) é usado há séculos para colorir vidro e cerâmica; foi usado para fazer os vitrais azuis profundos das catedrais góticas e porcelana chinesa começando na dinastia T'ang. Em 1799, um químico francês, Louis Jacques Thénard, produziu um pigmento sintético azul cobalto que se tornou imensamente popular entre os pintores;
- índigo é produzido a partir do pastel (Isatis tinctoria) e da anileira (Indigofera tinctoria), comum na Ásia e na África, mas pouco conhecida na Europa até o século XV. Sua importação para a Europa revolucionou a cor da roupa. Quase todo o corante índigo produzido hoje é sintético, mas na época, o processo de obtenção da cor azul escuro das plantas começava na fermentação com uma solução alcalina que endurecia a substância. Era então vendido em pedaços que tinham que ser feitos em pós para ser solúvel em água fervente. Só quando frio e coado, adicionado de cobre e limão, é que recebia os tecidos que ficavam... amarelos. Só depois de retirar desse banho e deixar oxigenar é que reagia e se tornava azul.
- ultramarino sintético, inventado em 1826, tem a mesma composição química que o ultramarino natural, mas é mais vívido porque as partículas são menores e mais uniformes em tamanho, e assim distribuem a luz de maneira mais uniforme;
- anilina. Em 1856, enquanto tentava sintetizar quinino, William H. Perkin, descobriu a malveína (corante roxo vivo) e entrou na indústria produzindo o primeiro corante sintético comercial. Seguiram-se outros corantes de anilina, como fucsina, safranina e indulina. No momento da descoberta da malveína, a anilina era cara. Logo depois, aplicando um método de A. Béchamp de 1854, passou a ser preparada industrialmente o que permitiu a evolução de uma enorme indústria de corantes na Alemanha- hoje BASF, originalmente Badische Anilin- und Soda-Fabrik.



ALGUMAS DICAS PARA DAMAS...

Vitorianas adoravam manuais e guias, bem sabemos. Dentre todos, havia aqueles para escolher e harmonizar cores, como 'Color in Dress' dos irmãos Audsley (1870 UK e USA), 'Hints on Dress', de Ethel Gale (1872- USA), Godey's Lady's Book (1850's- USA), etc . Lá existem várias dicas para damas, veja só:
Azul cabe em qualquer estação, mas...
- é particularmente lisonjeiro para as loiras avermelhadas em suas tonalidades mais profundas e ricas;
- para loiras claras, melhor usar tons mais claros, como céu azul ou turquesa, por fazerem belo contraste com ouro e laranja nos cabelos e na tez dessas damas;
- para aquelas com cabelos castanhos, a cor azul era completamente inadequada;
- para morenas de tez quente e cabelos castanhos escuros ou pretos, um tom de azul "brilhante e forte" era sempre lisonjeiro.
- para as morenas pálidas com pele clara e cabelos castanhos escuros, o melhor eram os tons mais profundos e escuros de azul, quanto mais próximo do preto, mais adequado, por fazer a tez pálida.
- para as mulheres de cabelos ruivos, era totalmente indicado, especialmente o azul mazarine (profundo, quase roxo) pela manhã e um tom um pouco mais claro para o vestido de noite. 

Mais algumas, s'il vous plaît:
- tons de azul podem ser usados ​​a qualquer hora do dia;
- para a noite, na modernidade da iluminação a gás que tira o brilho das belezas, melhor combinar o azul claro com o branco para vestidos de noite;
- os vestidos de noite de azul mais escuro também podem ser combinados com branco ou outro tom claro, como marfim ou creme;
- tonalidades que harmonizam bem com o azul: branco, cinza, laranja, ouro e chocolate. 
A capa do romance passado na era Regencial Inglesa CARTAS À DORA traz um lindo exemplo de azul, 


E o retrato oficial de Austen lançado pela família após sua morte, azul no vestido e fita na touca.


Até a próxima cor!

Bj
M.

Mais estudos dos antigamentes apaixonantes aqui.

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