& Moira Bianchi: 9 vezes Orgulho e Preconceito - capítulo 2

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

9 vezes Orgulho e Preconceito - capítulo 2

Olá!
Como prometido, estou postando os primeiros capítulos do livro novo
9 vezes Orgulho e Preconceito

A Bienal está a todo vapor, uma loucura ver os pavilhões enormes cheios de gente que ama ler e ama livros. Eu que amo tudo isso e ainda amo mais ainda escrever, fico pinto-no-lixo!

Mas vamos aqui neste romance que começa a alçar voo nos sonhos...

9 vezes Orgulho e Preconceito
romance inspirado em Orgulho e Preconceito com Abadia de Northanger + Persuasão
fantasia romântica
contemporâneo + histórico Edwardiano e Regencial
algumas cenas hot (que não serão postadas, pois são de capítulos mais pra frente)
linguagem adulta


Capítulo 2

I- Laços de afeto

O dia anterior à esporádica visita do supervisor nunca era tranquilo para os funcionários da cafeteria, ninguém gostava do cara e seu extremo cuidado com burocracia. Só o cara magrelo se preocupava com regras da franquia, repetindo ‘se os proprietários aparecerem aqui, eles ficariam muito contrariados em ver essas máquinas caras sendo usadas dessa forma quando o manual claramente manda usar daquela forma.’

Esperavam a visita dele na segunda-feira de manhã, então na sexta-feira a equipe toda já trabalhava para colocar tudo em ordem de forma a agradar o cara chato e reduzir sua visita.

Betina tinha ao menos o freelance no Met, um trabalho que sempre lhe agradava. Na bomboniere gourmet ela gostava de apreciar o desfile de gente elegante vestindo roupas bonitas em noites de estreia de opera ou ballet, tanto quanto o encantamento das pessoas que visitavam o teatro pela primeira vez. Pagava mal, mas lhe concedia acesso livre aos bastidores.

O celular de Betina tocou dez minutos depois do final do seu estafante turno de sexta na cafeteria enquanto ela ainda checava a papelada para ter certeza que o supervisor não teria nada para reclamar na sua visita.

Viu o noticiário?
‘Comitê Tradicionalista consegue liminar impedindo estreia de ballet sobre a vida de dançarino gay’
Met fechado neste final de semana em protesto

Betina derreteu em decepção. ‘Ah, não! Que pena!’ Vinha acompanhando os ensaios do ballet tão bonito, tudo estava sendo feito com tanto cuidado... Ela trocou torpedos no grupo de funcionários do teatro, assinou o protesto virtual e fez bico: seus planos para o final de semana estavam destruídos.

Caminhando para casa cansada e chateada, ela não conseguiu achar em si uma boa desculpa para evitar do chá mágico. A grande caneca preta com desenho de asas era já uma ameaça, ela até se sentia um pouco ansiosa quando pensava no objeto.

E então teve uma ideia incrível, melhor, lhe veio da memória: ela tinha outra caneca de asas! Bem menor, mais bacaninha, também velha e querida para ela.

Provar o chá ao invés de se embebedar lhe pareceu uma aventura bem mais palatável, segura.

Em casa ela revirou armários por quase meia hora até achar a xícara de café expresso que havia comprado na liquidação de uma loja cara. Sempre com a grana curta, Betina só pode pagar por aquela peça de design assinado por estar lascada no fundo, um pequenino defeito que fez a belezura ganhar um desconto de 70%.
pura mágica!

Ainda assim, uma graça! Preta, alta, asas de borracha para segurar, nem se notava onde ela passou caneca de retroprojetor para encobrir a lasca faltando.

Betina sorriu segurando a xícara perto dos olhos.

Era pequena. Certamente caberia menos de 100ml, um quarto do que cabia na grande caneca preta. Ahá!

Mais confiante, Betina seguiu os passou que sua amiga Lottie havia lhe explicado: ferver água, colocar uma pitada de belladama, cobrir, tomar banho, relaxar, coar.

Mmmm... Era aquilo, ali estava o momento que temia. Deveria ligar para Lottie? Ela disse que saberia que Betina estaria bem…

Betina cheirou o chá. Deu de ombros.

Provou com cuidado. Não era ruim.

Considerou adoçar. Não viu necessidade.

Ok, então.

Ela tomou o chá todo, era pouco afinal de contas, e esperou um minuto inteiro. Nada aconteceu.

Lavou a louça. Ainda nada.

Zapeou canais na TV. Nada.

Meia hora depois, ela bocejou.

E mais uma vez.

De novo.

E Betina pegou no sono.
.
O despertador disparou às 5:45 da manhã, ela piscou sonolenta e pensou em virar para o outro lado, mas se espreguiçou esticando braços, pernas, pescoço E pulou da cama. Uma rápida visita ao banheiro, roupas de corrida, tênis, chaves, radinho mp3 e ela saiu tentando buscar no fundo da memória quando havia comprado aquele modelo amarelo neon.

O primeiro quilômetro em ritmo acelerado foi difícil. Ar queimava seus pulmões, ela precisou forçar as pernas para continuar indo; mas eventualmente ficou mais fácil e quando ela fechou os cinco quilômetros planejados, se sentiu bem. Assim como subir os 63 degraus para seu apartamento de quarto-e-sala sem parar para respirar com desespero.

Tomou uma chuveirada, café com uma refeição leve, secou o cabelo curto, surpreendentemente usou maquiagem, pegou a bolsa e saiu para a cafeteria se sentindo bem. Segunda de manhã, tudo tinha chance de dar certo – até a visita do supervisor.

Às dez, a loja tinha a fila contumaz de clientes ávidos por uma dose de cafeína, baristas ocupados lidando com as enormes bestas de metal que soltavam fumaça perfumada, e a porta abriu para deixar entrar Mr. Collins, sorriso de plástico estampado no rosto, em companhia de um grande homem alto.

‘Bom dia.’ Collins disse chegando perto do balcão. ‘Tudo em ordem?’ Perguntou tenso.

‘Sim, tudo certo.’ Ela franziu a testa segurando o sorriso de resposta à expressão facial dele.

‘Tenho o cara aqui comigo.’ Ele apontou para o próprio peito.
Ela respirou fundo, como dizer ao supervisor que a presença dele não era assim tão importante?

‘William Darcy, o cara.’ Collins arregalou os olhos. ‘O chefe.’

‘Hein?’

‘Você nunca lê os e-mails, Lizzy?’

‘Recebemos muitos documentos, burocracia demais e eu às vezes tenho que ajudar no balcão. Estamos com um barista a menos, vivo te falando isso, Mr. Collins.’

‘Por favor, faça com que tudo esteja perfeito hoje, ele não tem muito tempo para visitar lojas na minha área, eu escolhi esta porque é uma das grandes, sempre tão direitinha e-’

‘Collins?’ Uma voz forte chamou.

‘Mr. Darcy.’ Mr. Collins se virou imediatamente. ‘Essa é Lizzy Bennett, a gerente do dia.’

Ela abriu um sorriso genuíno, o cara era bonitão. Alto, cabelo escuro, óculos de armação de tartaruga, parecia ter calculado cuidadosamente não se barbear, paletó claro com camisa branca por dentro, jeans caro; qualquer mulher sorriria para ele. Mas o homem tinha o rosto fechado em uma carranca para ela.

‘Bennett.’ Ele repetiu friamente como resposta. ‘Esses...’ Apontou para o peito dela. ‘Bem... bonitos.’

Ela ficou ensandecida, rosto vermelho, pupilas dilatadas, teve que virar o rosto por conta do sol vindo das vitrines frontais. O desgraçado do cara tinha acabado de fazer um comentário indiscreto sobre os dois primeiros botões abertos da camisa polo? Que audácia!
o cara, o chefão!

‘Lizzy é nosso tesouro.’ O sorriso de Collins pareceu crescer.

‘Desculpe.’ Ela interrompeu. ‘Não pode falar assim! Nem aqui, nem em qualquer outro lugar!’

‘Perdão?’ O homem alto inclinou a cabeça um tantinho para o lado como um filhotinho.

‘Isso é sexismo.’ Ela pôs a mão no peito e sentiu os botões fechados, a temperatura do rosto e pescoço subiram como um foguete. ‘Não está certo.’ Palavras saíram da sua boca antes que pudesse parar.

‘Peço perdão se fui mal interpretado, senhorita.’ Ele ainda estava sério. ‘Os aventais.’ Apontou de novo. ‘Muito bacana.’

Lizzy engoliu o orgulho. Cacete, isso foi horrível. ‘Eu quem faço.’ Tentou parecer normal.

Ele balançou a cabeça e deixou Collins levar sua atenção para longe dela. Lizzy pensou se o rei havia acabado de lhe conceder sua aprovação. Huh.

Ao invés da longa inspeção que costumava ocupar a manhã inteira dos funcionários, naquele dia Collins não queria gastar um minuto a mais do que o necessário.‘Mr. Darcy quer ver como sua fortuna é formada, Lizzy. Venha.’ Collins chamou. ‘Vamos dar uma volta na loja com ele.’

Ela recusou ser ama do supervisor e do carrancudo rei dizendo,em um sorriso, que era necessária atrás do balcão. ‘George pode te ajudar.’ Acenou para o homem bem-apessoado fingindo recepcionar clientes nas mesas da calçada.

‘Ah, sim, George Wickham, Mr. Darcy.’ Collins disse. ‘O gerente da noite.’

Homens apresentados e tarefa decidida, eles começaram o passeio. Como Collins estava em missão muito especial, ele usou alguns minutospara avaliar superficialmente a papelada no escritório, rapidamente checou os cômodos de serviço e dedicou a maior parte do tempo ao salão onde observaram o movimento da manhã de segunda-feira.

Quando os funcionários controlaram o serviço e Lizzy não foi mais necessária no caixa, ela não quis ficar à toa e ser forçada a ciceronear o poderoso chefão com atitude altiva em frente de quem ela havia quase feito papel de idiota. Então continuou ajudando como pode, recepcionando os clientes conhecidos – os que apareceram naquele dia.

Para sua vergonha, mais de uma vez o cara a pegou olhando para ele – ou era ela quem o pegava olhando na sua direção?

Na verdade... A observação dele sobre os aventais... Lizzy raramente errava naquele assunto, o cara realmente quis fazer algum tipo de elogio ao corpo dela, ela tinha certeza.

Quando finalmente partiram, ela ficou aliviada que não haviam achado nenhum problema, a loja estava ótima – ao menos no turno dela.

‘O cara é podre de rico.’ Wickham disse com um sorriso irônico enquanto bebericavam café em uma das mesas do fundo.

‘Deve ser, dono de rede de cafeterias...’ Lizzy deu de ombros.

‘Somos só um dos negócios dele, ele tem vários outros. Shopping centers, loteamentos, prédios inteiros.’ Wickham assoviou. ‘Aquela noiva dele deve ser ainda mais rica.’

‘Quem é ela?’

‘Anne DB.’

‘Hein?’

‘Toda hora nas redes sociais, garota magrinha, parece doente, roupas caras e sapatos que vocês adoram invejar.’

‘Nem sei quem é essa.’

‘Procura no seu telefone.’ Ele apontou para o celular dela. ‘Darcy e Anne são parentes, primos em segundo grau ou coisa assim. Talvez ela seja sócia.’ Balançou os ombros. ‘Mas ele nem falou dela, pode ser só um casamento de fortunas.’

‘Em uma visita de trabalho, qual seria a necessidade de mencionar a garota com quem sai, George?’ Lizzy sacudiu a cabeça, olhos na telinha estudando a noiva do cara. Muito magra, vítima da moda, rica, influente... Engraçado, como Darcy era bonitão, ela pensou que ele escolheria uma mulher mais vistosa.

‘Ainda não ganhei o coração da mulher da minha vida, por isso não falo dela a todo momento.’

‘Boa sorte achando esta sortuda.’

Ele riu e segurou a mão dela. ‘Estou livre esse fim de semana.’

‘Se isso é um convite, a resposta ainda é não, obrigada.’

‘Ih, Lizzy, você destrói meu coração.’

‘Que nada! Você sai com mil garotas. O que mais eles disseram? Collins e o cara?

‘Nada.’ Wickham bebeu o café. ‘Collins é puxa-saco demais para deixar Darcy falar qualquer coisa que realmente estivesse pensando. Mas ele ficou bem interessado na nossa loja, especialmente nos seus aventais.’

‘Verdade?’ Lizzy sentiu rosto de pescoço aquecerem de novo.

O cara Darcy pareceu irritado o tempo todo, olhava o telefone e relógio algumas vezes, observava o balcão... Aposto que Collins vai nos proibir de continuar usando suas criações, gatinha.’ Wickham tentou segurar a mão dela de novo. ‘Não se ofenda, pode não ser pessoal.’

‘Pode não ser?’

‘O cara é carrancudo, rico e importante. Essas pessoas olham para a gente de cima para baixo.’

‘Sei.’ Lizzy queria revirar os olhos. ‘Ele nem me conhece.’

‘Exatamente! Ele só viu algo fora do padrão e pode ter sido suficiente para tirá-lo do sério.’

Apesar de saber que Wickham era um cara cheio de meias-verdades e historinhas, Lizzy passou o resto do dia pensando no chefão bonitão e os olhares para ela. Então, quando Collins ligou para o seu celular naquela noite, ela já esperava más notícias.

“Uma reunião!” Lizzy não acreditou. “No escritório central?”

“Sim, Lizzy!” Collins parecia agitado. “Onze, não se atrase. Traga os aventais e outras criações que são usadas na loja.”

“Por que?”

“Eles querem conversar com você sobre isso.”

“Quem são ‘eles’?”

“Os chefes.”

Ah, droga!

“Veja quem pode cobrir seu turno, não se atrase. Te vejo lá.”
.
No escritório refinado, a grande sala de reunião era bem intimidadora, mas Lizzy se manteve calma esperando como Daniel na cova dos leões. Nem o bonitão Darcy, nem Collins estavam lá quando ela foi encaminhada para a sala, somente o time de marketing que a pediu para explicar os aventais e luvas.

‘Os aventais que recebemos com o uniforme são muito finos e nossa máquina de expresso às vezes cospe vapor aqui.’ Ela levantou para apontar as costelas. ‘Então pensei que precisávamos de algo leve, mas forrado, bonitinho, feito com ferragens de alto qualidade para ajustar os cadarços no pescoço.’

‘Está dizendo que o uniforme oficial da companhia é barato e inadequado?’ A mulher magra perguntou acusando.

‘Desculpe.’ Lizzy prendeu os lábios. ‘Os aventais devem nos ajudar durante o expediente, mas não fazem isso. As fitas vivem desamarrando, às vezes quando estamos com as mãos ocupadas, e o tecido é pouco absorvente, nossos sapatos vivem respingados.’

‘Ela deve saber, Caroline.’ Um louro boa praça pareceu interessado. ‘Me mostre seus aventais, Miss Bennett.’

‘Eu fiz esses em preto porque é mais fácil de manter limpos e como nossos uniformes têm detalhes pretos, combina bem. Para os cadarços e logo bordada, eu usei o verde da companhia.’ Ela estendeu o avental na mesa grande. ‘Esse é para os ajudantes de garçons, tem branco nos detalhes por causa das botas plásticas que eles usam.’

‘E as outras cores, uma para cara função?’ O homem sorria.

‘Baristas pediram vermelho, dizem que são o coração da cafeteria.’ Lizzy revirou os olhos.

Ele riu. ‘Concordo. Mas talvez a cor deles devesse ser marrom!’
‘Foi isso que eu disse, Mr.-’

‘Bingley, chefe do marketing.’ Ele alcançou as luvas. ‘Essas combinam detalhes porque aventais são sempre pretos, certo?’

‘Sim. Tentamos usar tudo preto, mas não casou com nosso astral leve e divertido.’

A mulher esnobe, Caroline, tinha as sobrancelhas unidas analisando as peças sobre a mesa sem tocar em nada, ocasionalmente anotando algo no seu tablet.

O homem simpático, Bingley, levantou para experimentar o avental, tirou uma selfie sorrindo e colou a luva. ‘O que gosta mais, Miss Bennett?’ Ele foi à pequena máquina de café no aparador. ‘Latte, cappuccino?’

‘Lizzy, por favor.’ Ela sorriu. ‘Café fresco, grande, puro.’ Sabia que ele estava experimentando suas criações como um funcionário usava todos os dias. Ficou até mais confiante.

‘O mesmo para mim.’ Veio a voz forte.

‘Ia falar isso.’ Bingley balançou a cabeça. ‘Exatamente como Darcy prefere, o que é muito engraçado já que estamos no negócio de drinks de café.’

‘Gosto de simplicidade.’ Darcy prendeu os lábios em um meio sorriso. ‘Miss Bennett.’ Acenou com a cabeça.

‘Mr. Darcy.’ Ela tentou somente sorrir de volta, mas tinha medo de parecer um tique nervoso e sua mão – ah, vergonha! – sua mão direita foi diretamente para o decote. Foi reação impensada, ela não planejou ou raciocinou. E pior, ela percebeu que ele percebeu.

‘Ele já te fez uma proposta?’

‘Estou esperando por você, exatamente como mandou ao responder minha foto.’ Bingley sacudiu o celular, guardou e pegou as duas xícaras grandes de expresso para colocar na mesa para Lizzy e Darcy que sentou perto dela.

‘Proposta de que?’

‘Caroline?’ Bingley voltou à máquina.

‘Macchiato está ótimo, obrigada.’ Ela sorriu sem vontade e se virou para Darcy. ‘Parece bem plausível, os itens podem complementar nossa próxima campanha.’

‘Te falei.’

‘Você está sempre certo, claro.’ O sorriso dela cresceu, mas o olhar apaixonado para o chefe foi cortado pela grande xícara de café fumegante trazida para ela. ‘Bingley, você é o expert em Marketing.’ Caroline gesticulou em direção a Lizzy.

‘E você é a gerente de produto.’ Bingley sorriu de volta.

Darcy grunhiu espantando Lizzy. ‘Miss Bennett, notei os aventais visitando sua loja ontem, e pedi a Bingley e Caroline que avaliassem se poderíamos incluir seus itens em nossa nova linha de merchandising.’

‘E são perfeitos!’ Bingley finalmente retornou à sua cadeira com uma grande caneca de latte. ‘Próxima estação vamos começar a reestruturar a rede. A logomarca vai sofrer algumas mudanças, um toque mais moderno, o tom de verde será um pouco mais escuro e novos itens de merchandising para reforçar as mudanças. Canecas, copos, os produtos de sempre.’

Com o coração acelerado, Lizzy piscou. ‘E meus aventais?’

‘Queremos incluir no uniforme nacional, para que os clientes possam se sentir parte do time fazendo café ou cozinhando em casa. Luvas também.’ Caroline olhou para Bingley. ‘Acha que tem qualidade compatível com nossos padrões?’

‘É ótimo!’

‘Então precisamos falar de números e contrato, Miss Bennett.’

‘Uau.’ Lizzy piscou mais rápido. ‘Estão falando sério?’

‘Caroline abaixou a xícara que levava aos lábios. ‘O que te faz pensar que estamos brincando? Negócios são negócios, não estamos aqui fazendo amigos.’

‘O que quero dizer é que é muito surpreendente, eu não esperava isso...’ Lizzy franziu a testa. ‘George disse que provavelmente iriam me demitir porque mudei os uniformes.’ Ela disse olhando para Darcy que levantou as sobrancelhas.

Bingley abriu um arquivo cheio de folhas. ‘Quem é esse?’

‘George Wickham, o gerente da noite.’

‘O que você contou que insistiu em fazer perguntas da sua vida pessoal e daquela prima doida que você nunca encontra?’

‘Oh, ele encontra com ela.’ Caroline sorriu de lado. ‘Só cego não vê Anne em cada trending topic inútil que existe!’

Darcy limpou a garganta, acertou os óculos de armação de tartaruga no rosto. ‘Miss Bennett-’

‘Lizzy.’ Bingley corrigiu Darcy.

Apesar de não usar ‘Miss Bennett’, Darcy continuou sem usar ‘Lizzy’ também. ‘Há uma tabela de quantidades e datas de entrega e quanto estamos dispostos a pagar.’ Ele apontou Bingley.

‘Aqui estão.’

Tantas informações, aventais, luvas listadas por cor – cada item parecia ter 200, 400 unidades na frente. Uau. ‘Preciso pensar direito.’ Ela respondeu.  ‘Eu faço essas peças depois do trabalho, nos finais de semana. Para cumprir uma encomenda dessas, terei que mudar tudo.’

Na mente dela, Lizzy via passar rápido tudo que precisaria fazer: se demitir da cafeteria e do Met, talvez conseguir um empréstimo no banco para montar uma empresa, contratar uma equipe, organizar entregas, administrar fluxo de caixa e lucros. Seria vida de gente grande.

‘Amanhã teremos uma reunião de staff para apresentar as revitalizações da marca,às três da tarde.  Podemos contar com alguns aventais e luvas?’ Bingley piscou um olho. ‘Dois de cada?’

‘Acho que sim.’ Lizzy considerou suas chances. ‘Um pouco mais que um dia de trabalho, já tenho alguns quase prontos porque o pessoal sempre precisa de reposição...’

‘Ótimo. Caroline vai te enviar por e-mail a nova logo e o tom de verde. Se você conseguir mais de dois de cada, será ainda melhor, excelente seria um extra longo para Darcy usar em uma rápida sessão de fotos e transmissão na intranet.’ Bingley apontou para o homem que nem tirou os olhos do celular. ‘Vamos usar em uma campanha interna para lançamento das novidades.’

‘Preciso das medidas dele.’ Lizzy olhou para Darcy apesar de que ele ainda se mantinha entretido no celular. ‘Suas.’

‘Caroline envia por e-mail o que você precisar. Vou resolver outro problema. Bingley, quando acabar, me encontre.’ Darcy levantou e sorriu com lábios presos para Lizzy. ‘Até amanhã.’
.
Depois de um dia trabalhando sem descanso, mente cansada e dedos avermelhados, Lizzy voltou aos escritórios refinados com sete aventais e quatro luvas perfeitamente costurados. Estava orgulhosa de seu esforço e sabia que os chefes ficariam satisfeitos com a encomenda.

Em seu futuro havia um horizonte totalmente novo para a empreendedora Lizzy. Ela sentiria falta da vidinha simples de empregada quando trabalhava muito e os riscos eram de outra pessoa. Agora seria tudo dela, ela precisaria trabalhar mais ainda e lidar com os riscos. E os bônus.

Quando as portas de inox do elevador abriram, ela encontrou o lobby cheio como uma colmeia de abelhas, muito diferente da calmaria do dia anterior. ‘Lizzy dos aventais’, como era conhecida, foi encaminhada para a sala de reuniões onde a apresentação seria transmitida para todo o país e Caroline acenou os dedos longos nervosamente pedindo a encomenda.

‘Ah, muito bem, Lizzy!’ Ela sorriu com sinceridade desta vez. ‘Esses parecem perfeitos.’ A mulher esnobe levantou um avental na luz para inspecionar o bordado e costuras do cadarço.

‘Obrigada.’ Lizzy sorriu de volta. ‘Quase nem dormi noite passada. Os custos precisam ser revistos, também prazos de entrega, ao menos de início.’

Caroline estava de volta ao mau humor. ‘Isso pode ser um problema.’ Ela pressionou os olhos. ‘Mas para outra hora.’ Sacudiu os dedos de novo. ‘Me dê o resto das coisas, luvas... Sim... Ah, o avental de Darcy você pode entregar a ele.’ Ela apontou para o outro lado da sala enquanto arrumava os itens de merchandising em uma moderna estante.

Antes de sair de casa, Lizzy tinha perdido alguns minutos de fronte a seu armário pensando no que vestir para não passar uma ideia errada a ele ou direcionar os olhos dele para seu decote. Havia o problema de gordurinha na cintura e para resolver as duas situações ela optou por calça legging e camiseta ultra longa, tudo preto, com uma jaqueta jeans bacana por cima. Foi uma grata surpresa ver como tudo caiu bem, como seu cabelo se comportou, quão fácil e satisfatório foi fazer uma maquiagem leve. Confiante o bastante, ela se aproximou do cara que parecia ainda mais bonitão naquela tarde e como se sentisse a presença dela, ele se virou com o celular na mão quando ela chegou perto.

‘Mr. Darcy.’

‘Lizzy.’ Ele prendeu um sorriso. ‘Me chame de Darcy. Ou William.’

‘Darcy.’ Ela devolve o sorriso. ‘O avental.’ Apontou sobre o ombro para onde havia vindo. ‘Caroline me mandou te entregar, sabe, para a sessão de fotos.’
Englishman de óculos

‘Ah!’ Ele guardou o telefone no bolso, pegou o avental e vestiu. ‘Ficou bom?’

‘Posso?’ Com cuidado ela alcançou para ajustar o clip de metal do cadarço perto do pescoço, ele sorriu e se inclinou mais para perto dela. Depois, ela andou em volta dele para atar o laço na cintura dele. ‘Agora acho que está perfeito.’ Lizzy tirou o próprio telefone. ‘Posso guardar esse momento? Tipo... Você é o cara usando meu avental, é uma coisa muito bacana.’

‘O cara?’

‘É como te chamamos.’ Ela deu uns passos para trás e bateu algumas fotos.

‘Agora o cara pode ter seu número?’

Lizzy olhou para cima e quando viu a maneira como ele sorria, a satisfação profissional dela congelou: o cara estava ainda mais bonitão.

‘Quer sair comigo?’

‘Para tomar um café?’Ele riu. ‘Ou alguma coisa mais criativa.’

Ele acabou de?... Não, ele não poderia! Será? Surpresa, ligeiramente envaidecida, um pouco irritada e até intimidada, ela ficou sem palavras.

Ele viu a reação dela como reflexo da ardente atração que sentia, seus olhos lindos piscaram devagar como se ela já escolhesse lugares para lhe dizer onde levá-la.

‘Está na hora.’ Alguém gritou.

‘Hoje à noite?’ Darcy perguntou.

‘Não.’ Lizzy estava de coração partido. ‘Eu pensei que você estivesse interessado no que eu criava.’ Ela apontou para o avental que ele usava. ‘Que eu confundi a maneira que olhou para os meus peitos, mas eu entendi certo. Não foi?’

‘Perdão?’

‘Que bola fora...’ Ela franziu a testa. ‘E eu pensei que seria tão legal...’ Um suspiro triste. ‘Não, eu não quero sair com nenhum pervertido noivo de prima famosa que ele nunca encontra e trai a coitada com qualquer mulher bonita o suficiente para tentá-lo. E a proposta de negócios não é boa o suficiente para mim, o valor que querem pagar por avental e luva é barato demais. Eu preciso conversar sobre preços.’

‘Darcy, aqui está você!’ Bingley chegou perto deles. ‘Oi, Lizzy dos aventais, bom trabalho, as peças estão perfeitas! Pode esperar lá atrás?’

‘Essa é sua opinião de mim?’ Os olhos de Darcy emoldurados pelos óculos de tartaruga não deixaram o rosto de Lizzy.

‘Me diga que estou errada.’ Ela desafiou.

‘Você pensou que seria despedida ontem, ao invés disso te foi oferecido a oportunidade da sua vida.’

‘Um pouco longe disso.’

‘É bem generosa.’

‘Não funciona para mim.’

‘Ninguém recusou negociar com você.’

Lizzy parou a discussão, ele tinha razão.

‘O que está acontecendo aqui?’ Bingley perguntou, sorriso derretendo em seu rosto.

Darcy sacudiu a mão. ‘Nada, vamos.’
.
Enquanto ela assistia a transmissão acontecer com Bingley fazendo a maior parte da explicação como um especialista de Marketing deveria e Darcy ao lado, calmamente ajeitando os esperando para ser chamado na câmera vestido com seu avental, Lizzy pensou quão estranhos os últimos dias estavam sendo... Novos negócios, recusou um encontro com o chefe do seu chefe...

‘Oi!’

‘Lottie!’

‘Desculpe?’

‘Lottie, sou eu!’ Lizzy sorriu.

‘Desculpe, já nos conhecemos? Sou péssima fisionomista e esses eventos no escritório central sempre me deixam nervosa! Sou Charlotte, de Chicago.’ A garota estendeu a mão para um aperto. ‘Estou encarregada das sobremesas, as novas do tamanho de uma bocada só.’ Ela apontou.

‘Eu...’ Em uma crise de gaguice, Lizzy sentiu a garganta fechar. De onde ela se lembrava daquela garota que parecia muito íntima de uma maneira estranha? ‘Sou Lizzy, dos novos aventais e luvas. Eu quem faço.’

‘Oh, adoráveis! Posso ficar com um?’

‘Claro.’

‘Aqui, prova meu doughscuit.’

‘Que isso?’

‘Donut pequeno e crocante como biscoito. O cara gostou com manteiga de mel por cima e ele nunca gosta de nada doce.’ A garota ofereceu o prato da mesa lateral apontando as rosquinhas.

‘Nunca ouvi falar de doughscuits.’ Lizzy disse de boca cheia.

‘Uma invenção dos deuses.’

‘Deliciosos.’ Lizzy riu comendo e arriscou uma olhada em volta a tempo de pegar Darcy de olho nela. Ela corou, ele não disfarçou o divertimento em ver como ela gostava do doce.
yummy!

‘O cara ou meu doughscuit?’ Charlotte implicou.

‘Sua arte. Darcy é…’ Lizzy desviou o olhar. ‘Enigmático.’

‘Ele olha para cá toda hora, você estava abraçada com ele agorinha-’

‘Eu?’

‘Eu pensei que você o entendia muito bem.’

‘Acabamos de nos conhecer.’

‘Engraçado, parece que vocês dois tem um lance rolando há meses, o flerte parece tão fácil.’ Charlotte cutucou Lizzy com o cotovelo e inclinou a cabeça indicando onde Darcy acabava de começar a falar para a câmera. ‘Ele com certeza parece estar interessado.’

‘Hein?’ Lizzy fez careta. ‘Ouvi falar que o cara tem uma noiva, aquela das redes sociais, sua prima.’

‘Duvido, é fofoca.’

‘Como sabe?’

‘Eu sigo os perfis dela.’  Charlotte apontou para os pés. ‘Comprei esse sapato porque ela usou mês passado em uma festa. Se ela tivesse aquele homem, ela estaria postando fotos com ele todos os dias.’

De novo Lizzy parou a conversa, a garota estava provavelmente certa.
.
Engolir seu orgulho era coisa difícil, uma pessoa tinha que fazer um grande esforço. Lizzy precisou tentar e tentar naquele dia. Mas quando o staff começou a deixar a sala de reunião, ela juntou coragem suficiente para chegar perto de Darcy.

‘Experimenta o coberto de chocolate alemão. É menos doce.’ Ela disse.

Ele se virou. ‘O donut recheado de creme fresco e coco é intragável para mim, mesmo para uma mordida só.’ Ele fez uma expressão de dor. ‘Já experimentou? Acha que vai agradar aos seus clientes? Antigos clientes?’

‘Ela alcançou um e enfiou na boca. ‘Sim.’ Cobriu a  boca com a mão. ‘As pessoas vão adorar! Mas é bem doce.’

Darcy deu de ombros. ‘Está decidido, então.’

‘Eu estourei com você mais cedo. Foi desnecessário.’ Ela lambeu os dedos. ‘Desculpe.’

‘Eu mereci.’

‘Está ok, você não precisa-’

‘Algumas coisas eu não entendi como prima e noiva;como ouviu que seria demitida, pode ter ouvido outras mentiras também. Mas os aventais chamaram minha atenção para você, sim.’ Darcy prendeu os lábios, Lizzy corou de novo. ‘Se me permitir me desculpar, haverá uma apresentação bastante segura de ballet no Met amanhã às 6 da tarde. Nenhum pervertido convida uma garota para um encontro de tarde.’

Ela riu. ‘Não, é bem seguro, sim. Eu te levo no Met amanhã.’ Ele inclinou a cabeça como um filhotinho. ‘Me encontre na porta às cinco. Pode? Ou é muito cedo?’

‘Estarei lá.’
.
Outro dia de borboletas no estômago.

Para lidar com a ansiedade, ela correu sete quilômetros, dois a mais, se apressou da cafeteria para casa depois do turno para ter mais tempo de se aprontar, colocar um vestido bonito, sapatos altos, cabelo... O que estava fazendo?

Um encontro com o cara?

Rico e bonitão e... O que seria mais criativo... Sabe, criativo a dois?Ele disse nada de perversão.Só para não correr risco, ele escolheu calcinhas pequenas.
.
Ele chegou dez minutos antes por razão nenhuma a não ser sua atração na garota bonita de grandes olhos expressivos, curvas intoxicantes e mãos habilidosas.

Darcy tinha grandes expectativas para aquele encontro. Se eles se dessem bem como ele esperava, se ela gostasse dele como ele era atraído por ela, se eles conseguissem lidar com as agendas de trabalho, ele adoraria ser o namorado dela.

A excitação de um novo relacionamento o deixava inquieto, Darcy queria causar uma boa impressão. Ele considerou comprar flores, mas era muito antiquado. Fazer reservas para jantar no restaurante de um bom hotel perto dali, mas ela poderia o chamar de pervertido de novo. Ele acabou decidindo por uma única rosa e reservas no restaurante à beira do lago do parque em frente.

Lizzy adorou a atenção, corou e corou, levantou nas pontas dos pés para um beijo na bochecha e pegou a mão dele para andarem juntos contornando o quarteirão até a porta dos empregados do teatro.
Apesar de estarem completamente vestidos como pagantes, ela lhe deu uma visita guiada pelas entranhas do teatro, incluindo os ensaios de última hora e aquecimentos.

Darcy tinha estado no Met várias vezes, se o destino ajudou talvez até tenha comprado doces para garotas das mãos de Lizzy na bomboniere, mas ele nunca tinha visitado as coxias – especialmente logo antes da hora do espetáculo. Foi emocionante.

Quando foram aos lugares caros que ele havia comprado, os dois corações batiam mais rápido que o normal e estavam já adiantados na paixonite.

‘Obrigado.’ Ele, charmosos óculos de armação de tartaruga e tudo,sorriu de maneira que roubou o ar dos pulmões dela, entrelaçou dedos e levou a mão de Lizzy para um beijo.

‘De nada. Eu costumava trabalhar aqui de vez em quando, agora vou precisar me demitir por causa do Laços de Afeto.’

Ele franziu a testa ainda sorrindo. ‘O nome da sua empresa?’

‘Muito boboca?’ Ela torceu a boca.

‘Já estou amarrado.’

‘Você não está me dando muita chance de resistir, não é mesmo?’ Ela provocou enquanto as luzes piscavam indicando o início iminente do espetáculo de ballet.

Darcy se inclinou mais perto dela. ‘Nem seu decote me deu naquele dia. Ou hoje.’

‘Ah!’ Lizzy se afastou dele. ‘Pervertido! Eu sabia!’

Ele riu baixinho. ‘Peço perdão. E tenho certeza que não faltei com o respeito.’ Ele pareceu arrependido, ela acreditou. ‘Está linda.’

‘Estava um pouco insegura para escolher o que vestir...’

‘Perfeita.’

‘...No caso de criatividade incluir morangos e champanhe como na marca de lingerie que estou usando, a das mulheres anjo com grandes asas negras como a xícara de chá...’
o que? já acabou?...
.
Betina acordou devagar de um soninho de bebê, era como se ela nunca tivesse dormido tão bem em toda sua vida.

Suspirou fundo.

E de novo.

Se espreguiçou, esticou os braços e chutou o edredom para esticar as pernas. Ah, que sensação boa...

Se virou de lado e sorriu, fechou os olhos, deixou a realidade voltar à sua mente devagarinho.

Que dia era? O que ela tinha para fazer?

Sábado de manhã, certo?

Onde estava o telefone celular?

Mesa de cabeceira, morto... Que estranho! A bateria sempre durava a noite toda. Ela plugou o cabo, levantou para usar o banheiro e quando voltou sentiu um choque de surpresa: era início da tarde de Domingo.

O dia seguinte, segunda-feira, dia da visita do supervisor, ela inventou uma doença e não foi trabalhar.


~ continua no capítulo 2 ~

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9 vezes Orgulho e Preconceito 
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