& Moira Bianchi: Preconceito, orgulho e CAFÉ - Capítulo 3

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Preconceito, orgulho e CAFÉ - Capítulo 3

olá,
Feliz segundona!
Eu sei, segunda é sempre um sofrimento... Mas olha só: é justo em uma segunda-feira que o que tem que dar certo, dá para Mau e Toni no terceiro capítulo de 



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Charme, café, flerte... ah, que delícia para essa segundona gelada!
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Preconceito, Orgulho & CAFÉ
favim

Livremente inspirado em O&P, fluff, comédia romântica, 18+
Capítulo 3 na íntegra


Havia sido mais uma tarde cansativa em uma audiência estressante com juiz iniciante que provavelmente estava na comarca da capital por ter pai desembargador, ou Ministro da Justiça, ou costas quentes de outra natureza qualquer, pensou desdenhando. Mais um pouco Maurício poderia ter ensinado ao rapazinho como interpretar a lei e sugerir o veredito. Havia feito algo similar, apesar das reclamações da advogada da outra parte que até era esforçada mas sem pulso, coitada da moça. Ainda assim foi estressante e com certeza teria recurso, o que não era de todo mal já que manteria a causa no escritório e o cliente era ótimo. Nesses tempos de escritório novo quando o custo da obra ainda pesava no orçamento dos três sócios, manter bons clientes era primordial.

A tarde de verão quente e estressante pedia uma cerveja, mas ainda eram três e meia de Quinta-feira. Um café então, um pingado para desespero do barista. Era o café que seu pai tomava, também ele homem de estômago fraco, mas agora o pingado trazia o gostinho picante de esfuziantes olhos castanhos claros e a frustração desconsolada do barista.

Na portaria de seu prédio comercial novo e imponente preferiu a grandiosa escada de ferro fundido e subiu mantendo a coluna ereta, carregando o corpo esguio talvez magro demais; vinha faltando aos treinos de remo por causa do trabalho, comendo mal por causa do estômago ruim. Nas férias da irmã iria para Minas por pelo menos quinze dias, pensou chegando ao Café do Pátio com a luz da tarde vindo do teto de vidro filtrada pelas árvores plantadas em enormes vasos, sua tia iria lhe entupir de comida caseira e ele ganharia de volta os quilinhos que faziam falta.

No balcão pediu o pingado, um pão de queijo e olhou em volta indicando a mesa do canto, mas viu feliz que a gata de olhos âmbar estava rindo com a dona do café e o barista esnobe.

Gostaria de sentar com ela, Toni, mas se encaminhou para a mesa do canto como de costume. Foi por sorte que seus acompanhantes levantaram e cumprimentaram Maurício, já um cliente contumaz, chamando a atenção da gata que sorriu. Parou para retribuir o cumprimento rapidamente e como seu pedido chegou, ela recolheu seus papéis fazendo-o prender os lábios em um sorriso. ‘Obrigado.’

‘Pingado, né?’

‘Isso.’ Ele sorriu. ‘Do seu jeito, adotei para sentir primeiro o impacto da cafeína. Acho que meu estômago fica ainda mais indignado porque espera o ataque que não vem, mas mesmo assim, passei a tomar do seu jeito.’

Ela balançou a cabeça prendendo os lábios brilhosos em um sorriso. ‘Café é uma arte e tal, já ouviu?’

Ele balançou a cabeça olhando para ela, a xícara perto do nariz.

‘Tudo balela.’ Franziu o nariz e sacudiu a cabeça. ‘Café é vicio, é sangue correndo nas veias, é... Rotina daquela que faz bem, reconfortante, sabe? Quem não tem coragem de assumir pede uma baboseira como macchiatto, mocha, besteirol. Ou descafeinado.’ Explicou com paixão. ‘Como um fumante finge que se contém com cigarro eletrônico. Mas quando se reconhece o vício, bebe-se shot. Espresso curto, quente, cremoso.’

Ele piscou mesmerizado. ‘Seu caso?’

‘Sim. Forte, preto, sem açúcar.’ Fechou os olhos bem maquiados como se sentisse o perfume do café que descrevia. ‘Se estiver de muito bom humor ou muito mau humor aceito um aromatizado. Amêndoa ou cacau.’ Ela piscou o observando e pela primeira vez considerou que ele tinha cara de fígado acebolado com batata frita. Muita cebola - talvez para disfarçar o gosto. ‘Almoçou hoje ou não deu tempo?’

‘Rapidamente antes de ir ao Fórum.’ Respondeu achando graça da pergunta e provou da mistura de café, espuma de leite e açúcar. Ainda precisava do segundo saquinho de açúcar.

‘Pão de queijo... Um só.’ Apertou os expressivos olhos e balançou a cabeça devagar o analisando. ‘Pingado.’ Prendeu os lábios por um momento. ‘Minas?’

Ele levantou as sobrancelhas.

‘Mineiros são tradicionalistas...’ Ponderou em voz alta. ‘Gosta do passado devagarinho no coador de pano, bem preto, mas longo... Caneca, xícara é pouco. Acertei?’ Apontou o dedo indicador bem manicurado.

‘Na mosca!’

Sorriu satisfeita, convencida.

Linda, gata de lábios brilhantes em rosa avermelhado da cor das unhas.

‘Gosto, mas fui estragada por cursos de barista e aí viciei na exuberância da pressão.’ Deu de ombros e ele acompanhou o movimento da pele que o vestido navy de corpo acinturado e saia listrada de branco deixava aparecer.

‘Luís Maurício Noronha.’

‘Maria Antonia Marisguia.’ Sorriu.

‘Prazer!’ Ele ofereceu a mão para ela apertar achando o apelido (que ela não mencionou e que portanto ele não usaria porque tinha ouvido dos empregados do café) divertido.

‘Encantada!’ Respondeu gaiata debochando dos modos antiquados.

O telefone tocou e ela suspirou.

‘Problemas?’ Ele perguntou entre bicadas no café quente.

‘Talvez, é minha chefe.’ Ela apontou para o aparelho, mas não atendeu. Ele levantou as sobrancelhas abocanhando metade do grande pão de queijo. ‘Vai reclamar que não estou na minha sala e dando muita atenção a cliente. Se não dou o suficiente, ela reclama também. Vai entender...’ Deu de ombros novamente.

‘Vai ter que voltar correndo?’ Perguntou quando engoliu. ‘É longe?’

‘Assembleia, 11.’

Ele balançou a cabeça. Torre de escritórios tradicional em frente ao Fórum, edifício renomado no padrão do Nether Field onde estavam.

‘Tenho que voltar, mas vou devagar. Saltos.’ Indicou os pés dentro de sapatos alinhados de salto fino altíssimo e apoiou o peso nos braços cruzados sobre a mesa.

‘Precisa de escolta?’

‘Acabou de vir do Fórum!’ Ela riu. ‘Parece que sempre tem um herói de plantão aqui nesse prédio.’

‘Está falando do cara que te salvou durante a obra?’

Arregalou os olhos cor de mel e inclinou o rosto para o lado.

‘Seu herói é meu sócio.’ Ele disse engolindo a segunda metade do pão de queijo.

 ‘Não precisava de ajuda, na verdade ele me ajudou a torcer o tornozelo.’ Ela corou e prendeu os lábios.

Maurício segurou o riso e o sorriso. ‘Ele adorou a baboseira de café que lhe serviu semana passada.’

‘Que alívio!’ Ela debochou e ele finalmente riu. ‘Não conta do que te falei ainda agora!’

‘Da baboseira de café ou do tornozelo?’ Ele sacudiu a cabeça negativamente tentando manter o rosto sóbrio. ‘Se fosse minha cliente, não poderia expor seus esquemas por confidencialidade.’

‘Advogado, certo?’

‘Fórum.’ Ele levantou as sobrancelhas.

‘Poderia ser perito de qualquer natureza.’ Ela argumentou levantando uma sobrancelha desenhada. ‘Tabelião. Réu.’

‘Verdade.’ Se deu por vencido. ‘Advogado.’ Tirou a carteira do bolso e lhe estendeu um cartão de visitas.

Ela se inclinou para trás recostando as costas na cadeira. ‘Também.’ Disse distraída em analisar o cartão dele.

‘Verdade?’

Reciprocou o cartão de visitas tirando da carteira de grife caríssima ao lado de seu telefone. ‘Nunca advoguei. Dei minha carteira da Ordem para meu pai de presente, com laço e tudo.’ Ele riu. ‘Mas não preciso de confidencialidade por que não é um esquema.’ Colocou o cartão antiquado entre os cartões de crédito e fechou o zíper vermelho da carteira. ‘Não quero confundir ou enganar seu sócio. Só acho que ele faz muito esforço de graça.’

‘Nenhum apelo para você?’ Ele perguntou a olhando de lado.

Sacudiu a cabeça com pena e novamente se apoiou nos braços sobre a mesa.

‘Melhor não falar mesmo. Rejeição de uma mulher bonita assim é emasculante.’

Ela riu com gosto e o telefone tocou de novo. ‘Lá vou eu...’ Suspirou e juntou seus papeis colocando a carteira por cima.

‘Não, espera.’ Ele levantou a mão e chamou a garçonete. Quando a moça chegou perto, reclamou do café e pediu um formulário para fazê-lo por escrito. A moça tirou do bolso do avental decorado, ele escreveu meia dúzia de palavras com a arrogante caneta tinteiro importada mal rabiscando três linhas da reclamação. A moça pegou e afastou-se. ‘Pronto! Agora tem que ficar para atender a outro cliente.’

Ela grunhiu e ele riu baixinho. ‘Agora terei uma burocracia danada para resolver. Aqui.’ Estendeu um formulário. ‘Vai começando para me poupar tempo.’

Correu os olhos pelo formulário, frente e verso. ‘Tudo isso?’

Deu de ombros. ‘Chefe chata mesmo! Adora burocracia, é cria dos anos de ferro. Sabe? Ainda vê a necessidade de auxiliar para o vice-carimbador.’ Suspirou com tristeza. ‘Somos praticamente uma repartição pública!’

Ele riu encantado.

O telefone dela tremeu e apareceu a foto de um livro. Quase pornográfica, a foto mostrava um dorso de homem nu com braços femininos entrelaçando por trás e mergulhando no cós rebaixado da calça jeans. ‘Minha companhia para o final de semana.’ Ela comentou quando viu que os olhos dele também tinham ido para o telefone dela.

‘O homem da foto?’

‘Seria bom...’ Antonia disse com pena de si mesma. ‘O livro!’ Corou vendo a expressão no rosto dele. ‘A previsão diz que teremos tempo fechado, então nada de praia. Shopping com minhas irmãs, sítio da família ou minha casa. Ganhei uma luminária de piso bacana e uma poltrona de couro, na verdade era do meu avô e minha irmã mandou forrar. Um livro pareceu ótima opção e pedi indicação a uma amiga do mercado editorial.’

‘É, parece.’

Sorriso apertado, incerto, inseguro.

Reciprocado.

‘Você?’

‘Bicicleta na Lagoa depois do remo.’ Manteve o sorriso apertado e fraco.

‘Mesmo com tempo ruim?’

Deu de ombros. ‘Gosto, moro perto.’

‘Ar livre é sempre bom.’ Ela balançou a cabeça, o cabelo dançando ao redor do rosto. ‘Talvez leve meu livro para a varanda se ele merecer, se for bom o suficiente.’

Maurício inclinou a cabeça e a observou por alguns segundos. ‘Fiquei curioso.’

Mommy porn. Nunca achei que homens lessem esse tipo de estórias, mas te falo se gostei na semana que vem.’ Disse e se chutou por dar em cima do cara sem querer. Foi reflexo. Estava indo tão bem, flertando com classe, ia dizer ‘não’ se ele a chamasse para sair... Mas ele não ia. E acebolado não era para se investir mesmo. Além do mais ela estava em condicional ainda.

‘Na verdade...’ Maurício segurou a xícara quase vazia por cima com os quatro dedos da mão direita.

‘Pouco se importa com pornografia para mulheres?’ Antonia sorriu.

‘Nunca me interessei, mas se me disser que é bom, tento ler.’

Sorriu achando o máximo.

‘Na verdade, ia perguntar se pretende comer enquanto se dedica ao playgirl aí.’ Mexeu as sobrancelhas com ironia. Ela inclinou a cabeça para o lado esperando-o se explicar. ‘Se pretender parar de ler por um tempo, te convido para jantar.’ Disse e levou a xícara à boca, cotovelos apoiados na mesa, olhos atentos aos dela.

Antonia piscou e prendeu os lábios.

Cebola. Duas para um único bife de fígado. Picadas bem finas.

Talvez molho Shoyu a julgar pela caneta tinteiro.

Café com leite.

Gravatinha.

Condicional.

Cinco boas razões para dizer não. Seis se contar as duas cebolas. Mas disse sim e ele sorriu muito charmoso. Teria pego o cartão que o tinha dado, riscado ‘Maria Antonia’ e escreveria ‘Toni’ se ele não tivesse guardado imediatamente após ela o entregar. Tinha posto no bolso interno do paletó, no peito. Depois deu aquelas batidinhas por cima para ter certeza que estava seguro.

Pensando bem, deveria ser fígado picadinho. Iscas sob uma montanha de cebola, pensou com desdém.


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Quem não gosta de café?
Quem não sonha em se apaixonar assim, sem querer, em plena segunda-feira?

É a vida deles (re)começando...
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