Como Jane Austen Tecia Suas Tramas
Wentworth e Edmund se declararam,
Darcy e Churchill se explicaram,
Susan contou seus planos...
Jane Austen sempre usava cartas em seus romances
No universo literário de Jane Austen, onde bailes cintilantes, conversas espirituosas e olhares furtivos ditavam o ritmo da vida social, um elemento discreto, mas de poder inquestionável, tecia as complexas tramas de seus romances: a carta.
Jane era exímia correspondente, dizem que chegou a escrever milhares! Imagine se ela não ia incluí-las também em seus romances?!
As cartas trocadas entre personagens eram verdadeiros motores narrativos, ferramentas afiadas que Jane usava para moldar destinos, revelar segredos e aprofundar a psicologia de seus inesquecíveis protagonistas - seja no meio ou ao final das tramas.
Por isso criei o PACK DE CARTAS DOS ROMANCES FAMOSOS, um conjunto de 7 cartas escritas em fontes de caligrafia diferentes, dobradas e seladas com cera, atadas por uma fita rústica. Um mimo!
Na era Regencial, a comunicação por cartas era uma arte e uma necessidade. Sem telefones ou e-mails, correspondência era o principal elo entre pessoas distantes, um repositório de notícias, sentimentos e intenções. Jane Austen, com sua genialidade observacional, compreendia profundamente o potencial dramático e social desse recurso. Ela elevou a carta de um simples meio de comunicação a um dispositivo literário multifacetado, capaz de avançar a trama, desenvolver personagens de maneira sutil e, por vezes, criar um suspense de tirar o fôlego.
Papel Multifacetado das Cartas
As cartas nos romances de Jane Austen são muito mais do que simples correspondências; elas são espelhos da alma, catalisadores de eventos e, por vezes, armas poderosas. Sua função se desdobra em diversas camadas, cada uma contribuindo para a riqueza e a complexidade das narrativas.
As cartas do PACK são:
- Orgulho e Preconceito: a carta de Mr. Darcy para Lizzy
- Persuasão: a carta do Capitão Wentworth para Anne
- Mansfield Park: a última carta de Edmund para Fanny
- Emma: a carta de Mr. Churchill que é contrabandeada para Emma
- Razão e Sensibilidade: a carta de Willoughby para Marianne
- Northanger Abbey: a carta de Isabella para Catherine
- Lady Susan: uma das cartas de Susan para Alicia
Todas cheias de Revelações de Sentimentos e Intenções
Uma das funções mais impactantes das cartas é a capacidade de expor os sentimentos e as intenções mais íntimas dos personagens, muitas vezes de uma forma que o diálogo falado não permitiria.
Em uma sociedade onde a etiqueta e as convenções sociais ditavam o que podia ou não ser dito em voz alta, a carta oferecia um refúgio para a expressão sincera e, por vezes, dolorosa.
O exemplo mais emblemático disso é a famosa carta de Mr. Darcy a Elizabeth Bennet em Orgulho e Preconceito. Após a humilhante recusa de Elizabeth à sua proposta de casamento, Darcy entrega-lhe uma carta detalhada. Esta missiva não é apenas uma defesa de seu caráter e uma explicação de suas ações em relação a Jane Bennet e Mr. Wickham; é uma janela para sua alma orgulhosa, revelando a profundidade de seus sentimentos por Elizabeth e a verdade por trás de sua fachada reservada. Sem essa carta, Elizabeth (e o leitor) jamais teria acesso à complexidade de Darcy, e a reviravolta em sua percepção seria impossível. A carta permite que a verdade, por mais inconveniente que seja, venha à tona, forçando Elizabeth a confrontar seus próprios preconceitos.
Moldando Percepções e Desfazendo Mal-entendidos
As cartas têm o poder de alterar drasticamente a percepção que os personagens têm uns dos outros, e consequentemente, a do leitor.
A já mencionada carta de Darcy é um exemplo primoroso de como uma correspondência pode remodelar uma visão. Elizabeth, inicialmente cega por seu orgulho e preconceito, é forçada a reavaliar tudo o que acreditava sobre Darcy e Wickham. A carta não apenas corrige, mas também questiona sua própria capacidade de julgamento. A correspondência, assim, torna-se um campo de batalha onde as verdades se confrontam com as percepções, e onde a ignorância dá lugar ao conhecimento.
Já imaginou ter a emoção de abrir uma carta dessas? Quebrar o lacre de cera e ler as palavras impactantes?
Avanço da Trama e Criação de Suspense
Jane Austen era uma mestra em usar as cartas como catalisadores para o avanço da trama e para a construção de suspense. Eventos cruciais, reviravoltas inesperadas e revelações chocantes são frequentemente comunicados ou desencadeados por meio de cartas, muitas vezes ocorrendo "fora de cena", mas com impacto direto na narrativa principal.
O escândalo do rapto de Lydia Bennet por Mr. Wickham em Orgulho e Preconceito é um exemplo clássico. A notícia do elopement chega à família Bennet por meio de cartas, mergulhando-os no desespero e na vergonha. A subsequente carta de Mr. Gardiner, informando sobre o casamento de Lydia e Wickham (e a intervenção secreta de Darcy), é o que permite que a trama se desenrole para um desfecho, ainda que agridoce.
Sem essas cartas, o leitor não teria conhecimento dos eventos que ocorrem longe dos olhos dos personagens principais, e a tensão e o drama seriam significativamente diminuídos. As cartas, portanto, funcionam como um elo vital entre os eventos, impulsionando a narrativa para frente.
Reflexo da Sociedade e Etiqueta
Além de suas funções narrativas e psicológicas, as cartas nos romances de Austen também servem como um reflexo fiel das normas sociais e da etiqueta da época. A forma como as cartas eram escritas, enviadas e recebidas, e as expectativas em torno de sua privacidade, revelam muito sobre as convenções sociais do século XIX. A quebra dessas regras, intencional ou não, frequentemente gerava drama e consequências.
Em Razão e Sensibilidade, a falta de discrição de Marianne Dashwood ao trocar cartas apaixonadas com Willoughby, e a subsequente publicidade de sua correspondência, a expõe à fofoca e ao sofrimento. Em contraste, a prudência de Elinor em suas próprias correspondências reflete sua natureza mais reservada e racional. As cartas, assim, não apenas contam a história, mas também ilustram as complexas regras de conduta que governavam a sociedade da época, e como a transgressão dessas regras podia ter um impacto devastador na reputação e no destino de um indivíduo.
Persuasão: A Declaração Mais Romântica da Literatura
Em Persuasão, a carta de Capitão Wentworth a Anne Elliot é considerada por muitos como uma das mais belas e emocionantes declarações de amor da literatura inglesa. Escrita apressadamente após Wentworth ouvir Anne falar sobre a constância do amor feminino, a carta é um grito apaixonado de um coração que esperou por anos. "Eu sou metade agonia, metade esperança..." ele escreve, expressando a profundidade de seu sofrimento e a persistência de seu afeto.
A carta é entregue a Anne em um momento de grande incerteza, e sua leitura sela o destino do casal. Ela permite que os dois amantes, que foram separados por anos devido a conselhos externos e mal-entendidos, finalmente se reconectem em um nível profundo e íntimo. A carta é um testemunho do poder do amor verdadeiro e da capacidade de Austen de criar momentos de intensa emoção através da palavra escrita.
É de cair de amores, não é?
Jane, por meio de seus personagens, nos escreve cartas em seus romances que são verdadeiros veículos para revelação de caráter, construção de suspense, resolução de conflitos e a exploração das complexas normas sociais de sua época.
Elas nos permitem espiar a alma dos personagens, testemunhar suas vulnerabilidades e triunfos, e acompanhar de perto as reviravoltas que moldam seus destinos.
Através das cartas, Jane nos convida a refletir sobre a natureza da comunicação e seu impacto nas relações humanas. Em um mundo onde a troca de mensagens é instantânea e muitas vezes efêmera, a profundidade, a deliberação e o peso emocional de uma carta da era Regencial nos lembram do poder duradouro da palavra escrita. A genialidade de Austen reside em sua capacidade de usar um elemento tão comum para criar drama, humor e emoção que ressoam até hoje.
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