& Moira Bianchi: Banalizando a Bienal

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Banalizando a Bienal

olá,
venho aqui fazer um lamento. Acho que esse é o termo certo. Lamento.
Curto muito participar da Bienal como Autora, muito mais do que como leitora. Sempre achei que a feira era uma 'loja grande' onde pouco se festejava a literatura e só passei a curtir mesmo depois que vi meus livríneos expostos lá.
Daí, no meio do burburinho dos autores famosos, engarrafamento para entrar, um monte de gente, sabe o que se vê? Pessoas com sacolinha das lojas de R$ 5,00 - uma sacolinha cada, e 'oh! corre-para-autógrafo-do-autor-famoso-gringo'. Onde está 'gringo' pode-se facilmente ler 'youtuber' ou 'da web' ou 'da moda'. Whatever.
Bacana, curti.
Mesmo.
Acho que a Bienal é para isso. Também.
Mas, na minha opinião, não deveria ser só para isso.

Olha que coisa triste...


Quem já ouviu isso:
'Nossa, eu AMO romance histórico.' '
Só leio Julia Quinn e Loretta Chase!' 
'Fiquei 4 horas na fila de autógrafos da romancista histórica na última Bienal!' 

Nada disso foi por essa modelo vestida de roupa de época nem por Machado de Assis. Triste, né?
Eu já tinha feito selfie com o cartaz da campanha logo que vi, Dom Casmurro é uma das minhas paixonites literárias de adolescência, e de longe vi a moça sozinha (sem óculos sou meio cegueta...). Cheguei perto:
´És Capitu?' Perguntei.
Ela estava de testa franzida e balançou a cabeça.
'Podemos fazer uma selfie?'
´Claro.'
Morri de felicidade! Imagina: eu e Capitu juntas!!! Só faltava o malucão do Bentinho olhando de lado!
'Se você postar com as hashtags da campanha, ganha um brinde.' Ela disse.
'Faço agora! Ia fazer mesmo!' Sorri que nem boba.
Orgulhosa como estava, postei todas as mils hashtags imediatamente. E Capitu? Ficou sozinha...

Dali fui com uma amiga no stand do meu livro 'Querida Jane Austen' que fica logo em frente à Capitu e de lá olhei para ela. Advinha?

Uma criança...
Provavelmente se perguntasse para essa moça passando tão feliz em estar na Bienal: 'Sabe quem é Machado de Assis?' ela não responderia. Ou pior, 'Aquela ali, ó, é Capitu. Sabe quem é?' Será que ela reconheceria os olhos de ressaca? Teria opinião sobre o adultério?

Daí você está pensando que sou chata. Eu sou chata mesmo. Confesso.
Acho que Bienal deveria ser para martelar e repetir e massacrar na cabeça de todo mundo quem foi Machadinho, Eça, Nelson, Clarice, Drummond, José de Alencar, Cecília. Deveríamos estar aproveitando o espaço para apresentar aos nossos pequenos a 'Canção dos sapatinhos' e aos nossos adolescentes as tramoias de 'Aurélia'. 
Quer YA mais apaixonante que Senhora?
Sem falar no meu querido 'Ladeira da Saudade'...
CLARO que a produção contemporânea tem valor, hellooo! Olha eu aqui! Mas isso é Bienal da Literatura. É Internacional, ok. Mas é aqui! Vê se nos EUA ou na França ou no Reino Unido tem isso? Não podemos curtir o novo e o gringo enquanto festejamos a nossa herança maravilhosa?

Daí dirigi para casa pensando nisso e no Fantástico da Globo (pode revirar os olhos) vi um programa sobre Nelson Rodrigues fazendo isso... Discutindo e rindo e analisando a obra. Falei na hora com meu hubs: 'Isso deveria estar acontecendo lá na Bienal!

Meu filho, por exemplo, ficou mega-super-feliz de conseguir autógrafo e bate-papo com os gamers de minecraft que ele gosta. É menino do século 21, faz parte do universo dele. E faz parte da minha responsabilidade ensinar que a Bienal é uma experiência plural, que não é só comprar: é ver os livros da mamãe, ver os ídolos, pegar fila, autógrafos e por fim, comprar o que não se encontra facilmente fora da feira.
Mas queria ter mais para ensinar.
Pena...

Para terminar, aqui estão meus achados.


Isso mesmo! 2 cru-crus


500 páginas, R$ 29,00.
Sabe por quanto sairia se eu fosse fazer um livro assim? 
Muitas vezes esse valor.

Vamos que vamos,
Ainda temos uma semana inteirinha de Bienal...
Ueba!!!

UPDATE: NA Bienal de 2019 terei lançamento de LIVRO NOVO!

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