olá!
Persuasão é o último romance que a querida Jane Austen completou e, na minha opinião, o mais afiado que ela compôs. Ele é curto, direto e tão emocionante!
Por ocasião da Leitura Coletiva do Clubinho do Canal/Podcast Sincericídio Literário, resolvi postar na íntegra a tradução encontrada no Free-Ebooks.net e Biblioteca Digital.
Agradeço a gentileza de postar.
Direitos autorais são interamente ligados a estas fontes, eu não fiz alterações e/ou correções. Clique nos nomes para ter acesso a essas versões que, infelizmente, não incluem os famosos 'CAPÍTULOS DELETADOS' que foram traduzidos por mim em julho de 2025.
O uso de imagens capas de diversas edições é meramente decorativo.
Persuasão
Jane Austen
Resumo:
O enredo gira em torno dos amores de Anne Elliot que se apaixona pelo pobre, porém ambicioso jovem oficial da marinha, capitão Frederick Wentworth. A família de Anne não concorda com essa relação e a persuade a romper o relacionamento amoroso. Anos após, Anne reencontra Frederick, agora cortejando sua amiga e vizinha, Louise Musgrove.
PERSUASÃO é amplamente apreciado como uma profunda história de amor, de trama simples e bem elaborada, e exemplifica o estilo de narrativa irônica de Jane Austen, sendo original por diversos motivos, entre eles, pelo fato de ser uma das poucas histórias da escritora que não apresenta a heroína em plena juventude.
O romance também é um faz referência ao homem "novo homem do século XIX" que tinha iniciativa, através do personagem do capitão Frederick Wentworth que parte de uma origem humilde e que alcança influência e status pela força de seus méritos e não através de herança.
Disponibilização em Free-Ebooks: Toca da Coruja com formatação de Gisa
Volume I
Capítulo Um
Sir Walter Elliot, do Solar de Kellynch, em Somersetshire, era um homem que, para se distrair, nunca pegava num livro, com excepção dos Anais dos Baronetes; aí encontrava ele ocupação para as horas de ócio e consolação para as horas tristes; aí sentia ele estimulados o respeito e a admiração, ao contemplar o pouco que restava dos primeiros títulos nobiliárquicos; aí, quaisquer sensações desagradáveis provocadas por assuntos de natureza doméstica transformavam-se naturalmente em pena e desdém. Quando acabava de folhear a quase interminável lista de pares criados no último século - e aí, se todas as outras páginas não surtissem efeito, ele lia a sua própria história com um interesse que nunca esmorecia-chegava à página em que o seu volume favorito era sempre aberto: ELLIOT DO SOLAR DE KELLYNCH.
Walter Elliot, nascido em 1 de Março de 1760, casado em 15 de Julho de 1784, com Elizabeth, filha de James Stevenson, de South Park, condado de Gloucester; desta senhora (falecida em 1800) nasceram Elizabeth, nascida a 1 de Junho de 1785; Anne, nascida a 9 de Agosto de 1787; um filho nado-morto a 5 de Novembro de 1789; Mary, nascida a 2 de Novembro de 1791.
- Fora exatamente assim que o parágrafo saíra originalmente da impressão; mas Sir Walter tinha-o beneficiado, acrescentando estas palavras, na informação sobre si próprio e a sua família: depois da data de nascimento de Mary - casada, em 16 de Dezembro de 1810, com Charles, filho e herdeiro de Charles Musgrove, Esq. de Uppercross, condado de Somerset - e introduzindo, com maior exactidão, o dia do mês em que perdera a mulher.
Depois, seguia-se a história da ascensão da antiga e respeitável família, nos termos habituais; como viera para Cheshire, como era mencionada em Dugdale - ocupando o cargo de xerife, representando a vila em três sessões parlamentares sucessivas; manifestações de lealdade, o título de baronete, no primeiro ano do reinado de Charles II, e todas as Marys e Elizabeths com quem se tinham casado; formando, ao todo, duas belas páginas duodecimal e concluindo com as armas e a divisa: ®Residência principal, Kellynch Hall, no condado de Somerset¯, e de novo a letra de Sir Walter no fim:
Presumível herdeiro, William Walter Elliot, Esq., bisneto do segundo Sir Walter. A vaidade era o princípio e o fim do carácter de Sir Walter: vaidade pela sua pessoa e posição. Ele tinha sido extraordinariamente belo na sua juventude; e, aos 55 anos, ainda era um homem muito atraente. Poucas mulheres se preocupavam mais com o seu aspecto do que ele; nem o criado pessoal de um lorde que tivesse acabado de receber este título se sentiria tão satisfeito com o seu lugar na sociedade. Ele considerava a bênção da beleza inferior apenas à bênção de ser baronete; e Sir Walter Elliot, que possuía ambos os dons, era o objecto constante do seu mais caloroso respeito e admiração.
Ele sentia gratidão pela sua elegância e posição social, pois certamente lhes devia o fato de ter arranjado uma mulher de carácter muito superior ao que o seu próprio carácter merecia.
Lady Elliot tinha sido uma excelente mulher, sensata e dócil, cujo discernimento e conduta, se lhe for perdoada a paixoneta juvenil que fez dela Lady Elliot, nunca, depois disso, mereceram a menor censura. Durante dezassete anos, ela minimizara, escondera ou desculpara os defeitos dele e promovera a sua verdadeira respeitabilidade; e, embora ela própria não fosse a pessoa mais feliz do mundo, acabou por encontrar, nas suas obrigações, nos seus amigos e nas filhas, satisfação suficiente para que tivesse apego à vida e não se sentisse indiferente quando chegou a hora de os
deixar. Três meninas, as duas mais velhas com 16 e 14 anos, constituíam uma herança terrível para qualquer mãe deixar; ou, por outra, para confiar à autoridade e orientação de um pai presunçoso e tolo. Ela tinha, porém, uma amiga muito íntima, uma mulher sensata e digna que ela tinha convencido, com a sua grande amizade, a vir viver perto dela, na aldeia de Kellynch; e Lady Elliot confiava sobretudo na sua generosidade e nos seus bons conselhos para ajudar a manter os bons princípios e ensinamentos que ela transmitira empenhadamente às filhas.
Esta amiga e Sir Walter não se casaram, ao contrário do que as suas relações poderiam levar a supor. Passados treze anos sobre a morte de Lady Elliot, ainda eram vizinhos e amigos íntimos; e ele continuava viúvo, e ela, viúva.
O fato de Lady Russell, uma mulher com maturidade de idade e de carácter e com uma situação económica extremamente boa, não pensar num segundo casamento, não necessita de qualquer justificação perante o público, o qual tende a ficar, absurdamente, mais descontente quando uma mulher volta a casar-se do que quando ela não se casa; mas o fato de Sir Walter continuar viúvo exige uma explicação. Faça-se saber, pois, que Sir Walter, como um bom pai (tendo sofrido uma ou duas desilusões com pretendentes muito pouco razoáveis), orgulhava-se de continuar solteiro por causa da sua querida filha. Por uma filha, a mais velha, ele teria desistido de qualquer coisa, o que não se sentira muito tentado a fazer. Elizabeth tinha, aos 16 anos, sucedido À mãe em direitos e importância, em tudo que era possível, e, sendo muito bonita e muito parecida com o pai, exercera sempre grande influência sobre ele; davam-se muito bem.
As outras duas filhas tinham menor importância. Mary adquirira alguma notoriedade artificial ao tornar-se Sr.a Charles Musgrove; mas Anne, com uma elegância de espírito e doçura de carácter que lhe teriam granjeado a admiração de pessoas de discernimento, não era ninguém aos olhos do pai, nem dos da irmã; a sua palavra não tinha qualquer peso; era sempre obrigada a ceder - era apenas Anne.
Para Lady Russell, contudo, ela era uma afilhada predileta e uma amiga muito querida e estimada. Lady Russell gostava delas todas; mas era apenas em Anne que ela imaginava que a mãe pudesse reviver.
Alguns anos antes, Anne Elliot tinha sido uma menina muito bonita, mas cedo perdera a sua frescura; e, como mesmo no seu auge da sua beleza, o pai tinha visto muito pouco nela que fosse digno de admiração (tão diferentes dos dele eram os seus traços delicados e os suaves olhos escuros), agora, que ela estava murcha e magra, não podia haver nada neles que pudesse provocar o seu apreço. Ele nunca tivera muita esperança, e agora não tinha nenhuma, de ler o nome dela em qualquer outra página da sua obra preferida. Toda a esperança de uma aliança de termos de igualdade residia em Elizabeth; pois Mary tinha-se apenas ligado a uma respeitável família rural antiga com uma grande fortuna e tinha, portanto, concedido toda a honra sem ter recebido nenhuma; Elizabeth faria, mais cedo ou mais tarde, um casamento vantajoso.
Acontece, por vezes, que uma mulher é mais bonita aos 29 anos do que dez anos antes; e, de um modo geral, se não se sofreu de doença ou ansiedade, é uma idade em que pouco encanto se perdeu. Era o que se passava com Elizabeth; ainda era a bela Menina Elliot que começara a tornar- se assim treze anos antes; poder-se-á , pois, desculpar Sir Walter por ele se esquecer da idade dela ou, pelo menos, considerá-lo apenas meio tolo, por julgar que ele próprio e Elizabeth conservavam a mesma frescura de sempre, no meio da ruína da beleza de todos os outros, pois ele via claramente como o resto da sua família e os seus conhecidos estavam a envelhecer. Anne, magra, Mary, grosseira, todos os rostos da vizinhança pioravam; e há muito que o rápido aumento dos pés de galinha nas têmporas de Lady Russell o entristecia.
Elizabeth não sentia exatamente a mesma satisfação pessoal que o pai. há treze anos que era senhora de Kellynch Hall, supervisionando e dando ordens com uma autoconfiança e decisão que nunca poderiam ter dado a ideia de ela ser mais nova do que realmente era. Durante treze anos, tinha feito as honras da casa, repreendendo, tomando a dianteira ao dirigir-se para o coche e seguindo imediatamente atrás de Lady Russell ao sair de todas as salas de visitas e de jantar do país. As geadas de treze Invernos tinham-na visto abrir todos os bailes dignos de registo que uma pequena localidade conseguia dar; e, durante treze Primaveras, as plantas tinham mostrado as suas flores quando ela viajava para Londres com o pai, para disfrutar, uma vez por ano, das diversões do grande mundo. Ela lembrava-se de tudo isto, tinha consciência de ter 29 anos, o que lhe provocava alguma pena e apreensão. Sabia que ainda era muito bonita; mas sentia os anos perigosos aproximarem-se, e gostaria de ter a certeza de que um verdadeiro baronete iria pedir a sua mão dentro de um ano ou dois. Nessa altura, talvez voltasse a pegar no livro dos livros com tanto prazer como nos anos da sua juventude; mas, naquele momento, ela não gostava dele. Deparar-se constantemente com a data do seu nascimento e não ver nenhum casamento à frente desta excepto o de uma irmã mais nova tornavam o livro um mal; e, mais de uma vez, depois de o pai o ter deixado aberto em cima da mesa a seu lado, ela tinha-o fechado e empurrado para longe, desviando os olhos.
Além disso, ela sofrera uma desilusão que aquele livro, especialmente a história da sua família, lhe fazia sempre recordar.
O presumível herdeiro, o mesmo William Walter Elliot, Esq., cujos direitos tinham sido tão generosamente apoiados pelo pai, tinha-a desiludido.
Desde menina, desde que soubera que, se não tivesse irmãos, ele seria o futuro baronete, que ela tencionava casar-se com ele; e o pai sempre quisera que ela o fizesse. Eles não o tinham conhecido em pequeno, mas, pouco depois da morte de Lady Elliot, Sir Walter esforçara-se por se aproximar dele e, embora os seus esforços não tivessem sido recebidos com calor, ele insistira em fazê-los, atribuindo a falta de entusiasmo à timidez da juventude; e, numa das viagens de Primavera a Londres, quando Elizabeth acabara de desabrochar, o Sr. Elliot fora-lhe forçosamente apresentado.
Ele era, nessa altura, muito jovem e iniciara recentemente os seus estudos de Direito. Elizabeth achara-o extremamente simpático, e todos os planos a favor dele tinham sido reforçados. Ele fora convidado a ir ao Solar de Kellynch; falaram nele e esperaram-no o resto do ano, mas ele nunca apareceu. Na Primavera seguinte, encontraram-no de novo na cidade, acharam-no igualmente simpático, e foi mais uma vez encorajado, convidado e esperado e, novamente não apareceu; as notícias seguintes foram que ele se tinha casado. Em vez de agir de acordo com a linha traçada para o herdeiro da casa de Elliot, ele comprara a independência unindo-se a uma mulherárica, de nascimento inferior.
Sir Walter ficara ofendido. Como chefe da família, ele achava que deveria ter sido consultado, especialmente depois de o ter acompanhado em público:
- Porque nós devemos ter sido vistos juntos – comentou ele -, uma vez no Tattersal e duas vezes no trio da Casa dos Comuns - O seu desagrado foi manifestado, mas, aparentemente, pouca importância lhe foi atribuída. O Sr. Elliot não tentou apresentar quaisquer desculpas nem mostrou qualquer interesse em ser notado pela família; do mesmo modo, Sir Walter considerou que ele não merecia fazer parte dela; todas as relações entre eles tinham cessado.
Ao fim de vários anos, esta embaraçosa história do Sr. Elliot ainda provocava raiva em Elizabeth, que tinha gostado do homem por ele próprio e ainda mais por ser o herdeiro do pai, cujo forte orgulho familiar via somente nele um partido adequado para a filha mais velha de Sir Walter Elliot. Não havia, de A a X, um baronete que os seus sentimentos reconhecessem tão facilmente como seu igual. No entanto, ele tinha agido tão miseravelmente que, embora usasse actualmente (no Verão de 1814) uma fita de luto pela mulher, ela não punha a hipótese de ele merecer que voltasse a pensar nele. A vergonha do seu primeiro casamento talvez pudesse ser ultrapassada, pois não havia motivo para supor que o mesmo tivesse sido perpetuado através de quaisquer filhos, se ele não tivesse feito pior; mas ele fizera pior, conforme tinham sido informados pela habitual intromissão de amigos amáveis, e falara muito desrespeitosamente de todos eles, e com muito desdém do próprio sangue que lhe corria nas veias e do título que futuramente seria seu. Isto não podia ser perdoado.
Estes eram os sentimentos e as sensações de Elizabeth Elliot; estas eram as preocupações que a incomodavam, a agitação que perturbava a monotonia, a elegância, a prosperidade e o vazio da cena da sua vida - estes eram os sentimentos que conferiam interesse a uma longa e rotineira residência numa pequena localidade, preenchendo o vazio que não podia ser ocupado comhábitos de serviço no estrangeiro nem com talentos ou feitos levados a cabo no país.
Mas, agora, outra ocupação ou preocupação da mente começava a ser adicionada a estas. O pai estava a ficar aflito com falta de dinheiro. Ela sabia que, quando ele agora pegava no registo de baronetes, era para afastar do pensamento as pesadas contas dos comerciantes e as desagradáveis insinuações do Dr. Shepherd, seu procurador. O património Kellynch era bom, mas não igualava a concepção que Sir Walter fazia da magnificência exigida ao seu dono. Enquanto Lady Elliot fora viva, tinha havido método, moderação e economia, o que mantivera os gastos dentro dos seus rendimentos, mas, juntamente com ela, tinham morrido também todos esses bons princípios e, desde então, ele excedia-os constantemente. Não lhe tinha sido possível gastar menos; ele não tinha feito nada a não ser o que Sir Walter Elliot era obrigado a fazer; mas, embora não tivesse qualquer culpa, ele não só estava a endividar-se terrivelmente como ouvia esse fato referido com tanta frequência que se tornara inútil escondê-lo,
mesmo parcialmente, da filha. Chegara a fazer algumas alusões a esse fato na Primavera anterior, na cidade; até tinha dito:
- Será possível economizar? Ocorre-te algum artigo em que possamos poupar?
E Elizabeth, justiça lhe seja feita, tinha, no primeiro ardor de alarme feminino, começado a pensar seriamente no que poderia ser feito e propusera duas linhas de economia: cortar pois algumas acções de caridade desnecessárias e não remodelar a sala de visitas; a essas medidas ela acrescentou mais tarde a feliz idéia de não levar nenhum presente a Anne, como era costume fazerem todos os anos. Mas estas medidas, por muito boas que fossem, mostraram-se insuficientes para a extensão do mal, cuja magnitude Sir Walter se viu obrigado a confessar-lhe pouco depois. Elizabeth não tinha nada de maior eficácia a propor; sentiu-se, tal como o pai, maltratada e infeliz; e nenhum deles conseguiu imaginar meios de diminuir as despesas sem comprometer a sua dignidade nem sem se verem privados do conforto mínimo.
Sir Walter podia vender apenas uma pequena parte dos seus bens; mas, ainda que ele pudesse vender todas as suas terras, isso não teria feito qualquer diferença. Ele tinha concordado em hipotecar tanto quanto lhe fora possível, mas nunca concordaria em vender. Nunca faria recair tamanha vergonha sobre o se nome. O património Kellynch seria transmitido completo e integral, tal como o recebera.
Foi pedido aos seus dois amigos íntimos, o Dr. Shepherd, que vivia na cidade vizinha onde o mercado se realizava, e Lady Russell, que viessem aconselhá-los; e, tanto o pai como a filha, pareciam esperar que um ou outro tivesse uma ideia que fizesse desaparecer os seus problemas e reduzisse as despesas sem que isso acarretasse o sacrifício da satisfação dos seus prazeres ou do orgulho.
Capítulo Dois
O Dr. Shepherd, um advogado educado e cauteloso que, independentemente da sua opinião sobre Sir Walter, preferia que a palavra fosse dita por qualquer outra pessoa, pediu desculpa e recusou-se a dar quaisquer conselhos, limitando-se a pedir autorização para fazer uma referência implícita à excelente opinião de Lady Russell, cujo bom senso, ele sabia, iria aconselhar as medidas firmes que ele esperava ver finalmente adoptadas.
Lady Russell foi apreensivamente solícita em relação ao assunto e pensou seriamente nele. Ela era uma mulher de capacidades mais sólidas do que rápidas, com grandes dificuldades em chegar a uma decisão sobre este caso, devido à contradição entre dois princípios fundamentais. Ela própria era de uma Integridade rígida, com um delicado sentido de honra, mas estava igualmente desejosa de poupar os sentimentos de Sir Walter, preocupada com a boa reputação da família, tão aristocrática nas suas ideias sobre o que eles mereciam como qualquer pessoa sensata e honesta podia estar. Era uma mulher bondosa, caridosa, amável, capaz de amizades fortes, com uma conduta extremamente correcta, severa nas suas noções de decoro e com maneiras que eram consideradas um padrão da boa educação.
Ela possuía uma mente cultivada e era, de um modo geral, racional e coerente - tinha, porém, preconceitos no que dizia respeito à linhagem; atribuía grande valor à posição social e à importância, o que a tornava um pouco cega em relação aos defeitos dos que as possuíam. Ela própria, viúva de um simples cavaleiro, atribuía à dignidade de baronete tudo o que ela merecia, e Sir Walter, além dos seus direitos como velho conhecido, como vizinho atencioso, senhorio amável, marido da sua querida amiga, o pai de Anne e das suas irmãs, era, no seu entendimento e devido às suas dificuldades actuais, merecedor de bastante simpatia e consideração, simplesmente devido ao fato de ser Sir Walter.
Tinham de economizar; disso não havia qualquer dúvida.
Mas ela queria muito que isso acontecesse com o mínimo de sofrimento para ele e para Elizabeth. Fez planos de economia, fez cálculos exatos e fez o que ninguém mais pensara fazer: consultou Anne, que nunca era considerada pelos outros como tendo um interesse no caso. Consultou-a e foi, até certo ponto, influenciada por ela ao traçar o esquema de poupança que foi, por fim, submetido a Sir Walter. Todas as correcções de Anne se situavam do lado da honestidade, em oposição À importância. Ela queria medidas mais vigorosas, uma reforma mais completa, um pagamento da dívida mais rápido, um maior tom de indiferença por tudo o que não fosse justiça e igualdade.
- Se conseguirmos convencer o teu pai a fazer tudo isto - disse Lady Russell, passando os olhos pela folha de papel -, muito poderá ser feito. Se adoptar estas normas, dentro de sete anos estará livre de dívidas; e espero que possamos convencê-lo, a ele e a Elizabeth, de que Kellynch possui uma respeitabilidade própria que não será afectada por estas reduções; e que, por ele agir como um homem de princípios, a verdadeira dignidade de Sir Walter Elliot não ficará absolutamente nada diminuída aos olhos das pessoas sensatas. O que ele estará a fazer, de fato, se não o que muitas das nossas famílias jáfizeram... ou deveriam ter feito? O seu caso não é único; e é a singularidade que constitui a pior parte do nosso sofrimento, tal como sucede com a nossa conduta. Tenho grande esperança de que consigamos fazê-lo.
Temos de ser severas e firmes... pois, afinal de contas, quem contrai dívidas tem de as pagar; e, embora os sentimentos de um cavalheiro e chefe de família como o teu pai mereçam o maior respeito, mais respeito merece ainda o bom nome de um homem honesto.
Este era o princípio que Anne queria que o pai seguisse e que os amigos lhe aconselhassem. Ela considerava uma obrigação essencial pagar as dívidas aos credores com a maior rapidez que as economias globais conseguissem levar a cabo, e achava que nenhum outro comportamento seria digno. Ela queria que isso fosse recomendado e considerado um dever. Ela atribuía grande valor à influência de Lady Russell e, quanto ao elevado grau de sacrifício que a sua própria consciência exigia, sabia que talvez fosse tão difícil convencê-los a efectuar uma reforma completa como meia reforma. O que ela conhecia do pai e de Elizabeth levavam-na a pensar que o sacrifício de um par de cavalos seria tão doloroso como o de dois, e assim por diante, ao longo de toda a lista das suaves reduções de Lady Russell.
Pouco importa qual teria sido a reacção às exigências mais rígidas de Anne. As de Lady Russell não tiveram qualquer êxito - eram impossíveis, insuportáveis.
Quê? Retirar todos os confortos da vida? Viagens, Londres, criados, cavalos, mesa... reduções e restrições em tudo. Deixar de viver sem sequer o decoro de um criado pessoal! Não, ele preferia abandonar imediatamente o Solar de Kellynch a permanecer em condições tão vergonhosas."
- Abandonar Kellynch Hall.
O Dr. Shepherd pegou-lhe imediatamente na palavra. Ele tinha um grande interesse na realidade das economias de Sir Walter e estava perfeitamente convencido de que estas não poderiam ser feitas sem uma mudança de residÊncia. Uma vez que a ideia tivera início exatamente no local que devia ditar o comportamento, ele não sentia qualquer escrúpulo, disse, em confessar que a sua opinião era exatamente essa. Não lhe parecia que Sir Walter pudesse alterar materialmente o seu estilo de vida numa casa em que tinha de manter um tal carácter de hospitalidade e dignidade tradicionais. Em qualquer outro local, Sir Walter poderia pensar e proceder como quisesse; e, qualquer que fosse o modo como ele dirigisse a sua casa, seria considerado um padrão de estilo de vida.
Sir Walter iria abandonar Kellynch Hall; e, depois de mais alguns dias de dúvida e indecisão, a questão do local para onde ele iria ficou decidida, e o primeiro esboço desta importante alteração foi traçado.
Havia três alternativas, Londres, Bath, ou outra casa no campo. Todos os desejos de Anne eram em favor desta última. A sua ambição era uma casa pequena na mesma região, onde ainda pudessem contar com a companhia de Lady Russell, estar perto de Mary e ter, por vezes, o prazer de ver o relvado e os bosques de Kellynch. Mas a sorte habitual de Anne estava atenta e destinara- lhe algo muito diferente dos seus desejos. Ela não gostava de Bath e achava que Bath não lhe fazia bemá- e iria viver em Bath.
A princípio, Sir Walter pensara mais em Londres, mas o Dr. Shepherd pensava que não era possível confiar nele em Londres, e fora suficientemente hábil para o dissuadir e fazer optar por Bath. Era um local muito mais seguro para um cavalheiro com os seus problemas; ali, poderia ser importante com relativamente pouca despesa. Duas vantagens concretas de Bath sobre Londres tinham, obviamente, sido acentuadas; a sua distância de apenas cinquenta milhas de Kellynch, o que era mais conveniente, e o fato de Lady Russell passar sempre lá parte do Inverno; e, para grande satisfação de Lady Russell, cuja opinião sobre a projectada mudança fora, desde o início, a favor de Bath, Sir Walter e Elizabeth foram levados a acreditar que, com a mudança, não iriam perder importância nem deixariam de se divertir.
Lady Russell sentiu-se obrigada a opor-se aos desejos da sua querida Anne. Seria esperar demasiado que Sir Walter passasse a viver numa casa pequena na sua própria região. A própria Anne teria sentido uma humilhação maior do que antecipara, e a mesma teria sido terrível para os sentimentos de Sir Walter.
E, com respeito ao fato de Anne não gostar de Bath, ela considerava-o um preconceito e um erro, resultante, em primeiro lugar, da circunstância de ter andado lá na escola durante três anos, depois da morte da mãe, e, em segundo lugar, de ela não se ter sentido muito bem-disposta no único Inverno que lá passara com ela.
Lady Russell gostava de Bath e achava que era um bom lugar para todos eles; e, quanto à saúde da sua jovem amiga, todo o perigo seria evitado se ela passasse todos os meses quentes em sua companhia em Kellynch Lodge; e era, de fato, uma mudança que seria benéfica tanto para a saúde como para o espírito.
Anne tinha estado demasiado pouco tempo longe de casa, tinha vistodemasiado pouco. Ela não era uma pessoa muito alegre. Um pouco mais de convívio far-lhe-ia bem. Ela queria que Anne fosse mais conhecida.
O fato de não ser aconselhável que Sir Walter se instalasse em qualquer outra casa na mesma região foi certamente acentuado por uma parte, uma parte muito objectiva do esquema, que, felizmente, fora realçada no início. Ele não só teria de abandonar a casa mas também iria vê-la nas mãos de outras pessoas; uma prova de coragem que tinha sido excessivamente dura para espíritos mais fortes do que o de Sir Walterá- Kellynch iria ser alugada. Isto era, porém, um segredo bem guardado que não era referido fora do seu próprio círculo.
Sir Walter não suportaria a humilhação de ser tornada pública a sua intenção de alugar a casa. O Dr. Shepherd mencionara uma vez a palavra ®anúncio¯, mas nunca mais ousou referir-se ao assunto; Sir Walter rejeitou a ideia de ela ser oferecida sob qualquer forma; proibiu a mais pequena alusão ao fato de ele ter essa intenção; e ele só a alugaria se tal lhe fosse espontaneamente solicitado por um candidato excepcional, estipulando ele as condições, e como grande favor.
Como surgem depressa razões para concordarmos com aquilo que nos agrada! Lady Russell tinha outra excelente razão para se sentir extremamente satisfeita por Sir Walter e a sua família irem sair da região. Elizabeth iniciara recentemente uma grandeamizade que ela desejava ver interrompida. Era com uma filha do Dr. Shepherd que tinha regressado para casa do pai após um casamento infeliz, sobrecarregada com dois filhos. Era uma mulher jovem e inteligente, que compreendia a arte de agradar; a arte de agradar, pelo menos, no Solar de Kellynch; e que se insinuara tão bem junto da Menina Elliot, que jálá estivera hospedada mais de uma vez, apesar de todos os conselhos de Lady Russell, que considerava aquela amizade bastante despropositada.
Na realidade, Lady Russell tinha muito pouca influência junto de Elizabeth, e parecia gostar dela, mais por querer do que por ela o merecer. Nunca recebera dela mais do que uma atenção superficial, nada para além de formalidades condescendentes, nunca tinha conseguido convencê- la a mudar de ideias. Sensível à injustiça e ao egoísmo dos preparativos que deixavam Anne de fora, ela tinha tentado, repetidas vezes, que Anne fosse incluída na visita a Londres, e, em muitas outras ocasiões, tentara dar a Elizabeth o benefício do seu melhor discernimento e experiência - mas sempre em vão. Elizabeth fazia como queria - e nunca se opusera tão decididamente a Lady Russell como na escolha da Sra. Clay, afastando-se da companhia de uma irmã tão boa e manifestando afecto e confiança por uma mulher que deveria ser apenas objecto de delicadeza distante.
Sob o ponto de vista da posição social, a Sr.a Clay era, na opinião de Lady Russell, muito inferior, e, quanto ao carácter, ela considerava-a uma companhia muito perigosa; e uma mudança que deixasse a Sr.a Clay para trás e colocasse ao alcance da Menina Elliot uma variedade de companhias mais adequadas constituía, portanto, um objectivo primordial.
Capítulo Três
Peço autorização para observar, Sir Walter- disse o Dr. Shepherd uma manhã no Solar de Kellynch, pousando o jornal -, que a conjuntura atual nos é muito favorável. A paz fará desembarcar os nossos oficiais da Marinha, ricos. Vão todos querer casa. Não podia haver melhor altura, Sir Walter, para escolher inquilinos, inquilinos muito responsáveis. Fizeram-se muitas fortunas respeitáveis durante a guerra. Se um almirante rico nos aparecesse, Sir Walter...
Ele seria um homem de sorte, Shepherd- respondeu Sir Walter-, É tudo o que eu tenho a dizer. Para ele, o Solar de Kellynch seria um premio, o maior premio de todos, por mais premios que ele tivesse recebido antes, hem, Shepherd.
O Dr. Shepherdá riu-se do dito espirituoso, como sabia que devia fazer, depois acrescentou:
-Atrevo-me a afirmar, Sir Walter, que, em questões de negócios, é bom lidar com os cavalheiros da Marinha. Sei alguma coisa sobre os seus métodos de tratar de negócios, e devo dizer que eles têm idéias muito liberais e são uns ótimos inquilinos.
-Assim, Sir Walter, o que eu gostaria de sugerir é que, em consequência da propagação de quaisquer rumores sobre as suas intenções... e devemos considerar isso uma possibilidade, pois sabemos como é difícil manter as ações e os desígnios de uma parte do mundo secretos da observação e da curiosidade da outra... a nobreza tem os seus inconvenientes; eu, John Shepherd, posso esconder todas questões de família porque ninguém vai achar que vale a pena perder tempo a observar-me. Mas há olhares fixos em Sir Walter Elliot a que talvez seja muito difícil escapar; e, assim, atrevo-me a dizer que não ficaria muito surpreendido se, mesmo com toda a nossa cautela, qualquer rumor sobre a verdade viesse a transpirar. Nesta suposição, como eu ia dizer, uma vez que haver , sem dúvida, pretendentes, eu penso que qualquer dos comandantes da Marinha abastados merecerá ser considerado; e peço autorização para acrescentar que, em qualquer altura, eu estaria aqui dentro de duas horas, para lhe poupar o trabalho de responder.
Sir Walter limitou-se a acenar com a cabeça em sinal de concordância. Mas, pouco depois, levantando-se e começando a andar de um lado para o outro da sala, comentou, num tom sarcástico:
Suponho que muito poucos cavalheiros da Marinha não se sentiriam surpreendidos ao encontrarem-se numa casa desta natureza.
Sem dúvida, olhariam em volta e dariam graças à sua sorte - disse a Sra. Clay; pois a Sra. Clay estava presente; o pai tinha-a trazido consigo, uma vez que nada fazia tão bem à saúde da Sra. Clay como um passeio até Kellynchá-, mas concordo absolutamente com o meu pai e também acho que um oficial de Marinha seria um ótimo inquilino. Eu já conheci muitos; e, além da sua liberalidade, eles são muito arrumados e cuidadosos!
-Estes seus valiosos quadros, Sir Walter, se decidisse deixá-los cá, estariam perfeitamente seguros. Tudo o que está dentro e à volta da casa seria extremamente bem cuidado! Os jardins e os bosques seriam tão bem tratados como são agora. Não tenha receio, Menina Elliot, de que o seu belo jardim seja negligenciado.
Quanto a isso - retorquiu friamente Sir Walter-, supondo que me deixo convencer a alugar a minha casa, certamente ainda não tomei uma decisão sobre os privilégios que o aluguer acarretará. Não estou particularmente interessado em beneficiar um inquilino. O parque estaria à sua disposição, claro, e poucos oficiais da Marinha, ou quaisquer outros homens, terão usufruído de tamanha extensão; mas as restrições que poderei impor quanto à utilização dos terrenos de recreio são outra coisa; não gosto da idéia de poderem andar sempre nos meus bosques, e
aconselharia a Menina Elliot a tomar precauções a respeito do seu jardim. Garanto-vos que me sinto muito pouco disposto a conceder um favor especial a um inquilino do Solar de Kellynch, seja ele da Marinha ou da Infantaria.
Após uma breve pausa, o Dr. Shepherd atreveu-se a dizer:
Em todos estes casos, existem costumes estabelecidos que tornam tudo mais claro e simples entre o senhorio e o inquilino.
Os seus interesses, Sir Walter, estão em boas mãos. Pode contar comigo para garantir que nenhum inquilino terá mais do que aquilo a que tem direito. Atrevo-me a dizer que John Shepherd será muito mais zeloso dos bens de Sir Walter Elliot do que ele próprio poderia ter.
Nesta altura, Anne falou:
Julgo que a Marinha, que tanto tem feito por nós, possui, pelo menos, os mesmos direitos a todos os confortos e privilégios que uma casa pode dar do que qualquer outra categoria de homens. Temos todos de concordar em que os marinheiros trabalham muito para conseguir obter o seu conforto.
Lá isso é verdade. O bem da verdade o que a Menina Anne diz - foi a resposta do Dr. Shepherd.
E:
Oh, com certeza - foi a da filha.
Mas o comentário que Sir Walter fez, pouco depois, foi:
Esta profissão tem a sua utilidade, mas eu lamentaria ver um amigo meu ingressar nela.
Quê?! - foi a resposta, com um olhar de surpresa.
Sim, há dois pontos em que ela me desagrada; tenho duas fortes objeções em relação a ela. Em primeiro lugar, por ser um meio de elevar pessoas de nascimento obscuro a lugares de imerecida distinção e de lhes conceder honras com que os seus pais ou avós nunca sonharam; e, em segundo lugar, porque destrói a juventude e a força de um homem; tenho reparado nisso toda a minha vida. Na Marinha, mais do que em qualquer outra carreira, um homem corre um maior risco de ser insultado pela promoção de alguém com cujo pai o seu não se teria dignado a falar, ou de se tornar, ele próprio e prematuramente, objeto de repulsa.
Um dia, na Primavera passada, em Londres, vi-me na companhia de dois homens, exemplos flagrantes do que estou a dizer, Lorde St. Ives, cujo pai, como todos sabemos, foi pároco de aldeia, sem ter sequer pão para comer; tive de ceder o meu lugar a Lorde St. Ives, e a um certo almirante Baldwin, um personagem com o aspecto mais deplorável que se pode imaginar, com o rosto da cor do mogno, extremamente áspero e encarquilhado, todo ele cheio de sulcos e rugas, nove cabelos grisalhos num lado e apenas um pouco de pó no topo. Por amor de Deus, quem é aquele velho?, perguntei eu a um amigo que estava próximo... Sir Basil Morele... Velho!", exclamou Sir Basil, É o almirante Baldwin. Que idade pensas que ele tem?" Sessenta, disse eu, ou talvez sessenta e dois.
Quarenta-, respondeu Sir Basil, quarenta, não mais. - Imaginem o meu espanto; não esquecerei facilmente o almirante Baldwin. Nunca vi um exemplo tão terrível do que uma vida passada no mar pode provocar; e, até certo ponto, passa-se o mesmo com todos eles; andam de um lado para o outro, expostos a todos os climas, a todas as intempéries, até se tornarem desagradáveis à vista. Uma pena que não apanhem uma pancada na cabeça antes de atingirem a idade do almirante Baldwin.
Sir Walter- exclamou a Sra. Clay -, isso é ser muito severo. Tenha um pouco de misericórdia pelos pobres homens. Não nascemos todos para ser belos. O certo que o mar não contribui para a beleza; os marinheiros envelhecem prematuramente. Tenho-o observado; eles perdem muito cedo o ar de juventude. Mas não acontece o mesmo em muitas outras profissões, talvez com a maior parte delas? Os soldados no serviço ativo não têm melhor sorte; e mesmo nas profissões mais calmas há um esforço mental, se não físico, que raramente deixa o aspecto do homem sujeito apenas ao efeito natural do tempo. O advogado trabalha arduamente e preocupa-se; o médico tem de estar a pé a qualquer hora e tem de andar debaixo de todas as intempéries; e até o sacerdote - ela fez uma pausa por um momento para refletir sobre o que poderia afetar o sacerdote -, e até o sacerdote, sabe, tem de entrar em quartos infectados e expor a sua saúde e o seu aspecto a todos os danos de um ambiente contaminado.
De fato, há muito que estou convencida de que, embora todas as profissões sejam necessárias e honrosas, só os que não são obrigados a exercer nenhuma profissão, os que podem ter uma vida regular, no campo, escolhendo os seus próprios horários, fazendo o que querem e vivendo dos seus rendimentos, sem o tormento de tentarem conseguir mais, só eles conservam a bênção da saúde e do bom aspecto durante o máximo de tempo possível; não conheço nenhuma outra categoria de homens que não perca qualquer coisa da sua beleza quando deixam de ser jovens.
Parecia que o Dr. Shepherd, na sua ansiedade de assegurar que Sir Walter aceitasse um oficial da Marinha como inquilino, tinha tido o dom da previsão; pois o primeiro pretendente à casa foi o almirante Croft, que ele conheceu pouco depois, ao assistir a uma sessão do Tribunal em Taunton; na realidade, ele recebera uma informação sobre o almirante Croft de um correspondente de Londres. Segundo o relatório que se apressou a ir fazer a Kellynch, o almirante Croft era oriundo de Somersetshire e, tendo adquirido uma bela fortuna, desejava instalar-se na sua região: ele tinha vindo a Taunton ver alguns dos locais anunciados nos arredores, os quais, contudo, não lhe tinham agradado; ao ouvir acidentalmente - (era tal como ele dissera, comentou o Dr. Shepherd, os negócios de Sir Walter não podiam ser mantidos secretos)-, ao ouvir acidentalmente falar na possibilidade de o Solar de Kellynch vir a ser alugado e ao saber da sua (do Dr. Shepherd) ligação com o proprietário, apresentara-se a ele para fazer algumas perguntas práticas e tinha, durante uma longa conversa, expressado uma inclinação pelo local, tanto quanto pode sentir um homem que o conhecesse apenas pela descrição; e dera, na descrição pormenorizada de si próprio, todas as provas de vir a ser um bom inquilino, muito responsável.
E quem é o almirante Croft? - foi a pergunta fria e desconfiada de Sir Walter.
O Dr. Shepherd respondeu que era de uma família nobre e mencionou uma localidade; e Anne, após a pequena pausa que se seguiu, acrescentou:
Ele é contra-almirante. Esteve na batalha de Trafalgar e, desde então, tem estado nas Índias Ocidentais; foi destacado para lá, creio, há vários anos.
Então, suponho - comentou Sir Walter- que o rosto dele é tão avermelhado como os canhões e as capas das librés dos meus criados.
O Dr. Shepherd apressou-se a assegurar-lhe que o almirante Croft era um homem bem- parecido, robusto e alegre, um pouco estragado pelo tempo, é certo, mas não muito; e um perfeito cavalheiro em todas as suas ideias e comportamentos – não deveria levantar o menor problema quanto às condições -, só queria uma casa confortável, e o mais depressa possível sabia que teria de pagar pelo conforto -, sabia a quanto podia ascender a renda de uma casa mobilada - não teria ficado surpreendido se Sr. Walter tivesse pedido mais -, tinha feito perguntas sobre os terrenos - certamente gostaria de caçar neles, mas não fazia grande questão -, disse que por vezes pegava numa espingarda, mas nunca matava - um verdadeiro cavalheiro.
O Dr. Shepherd foi muito eloquente sobre o assunto, referindo toda a situação da família do almirante, o que o tornava particularmente atraente como inquilino. Era um homem casado e sem filhos; exatamente como seria desejável. Uma casa nunca era bem cuidada, observou o Dr. Shepherd, sem uma senhora; ele não sabia se a mobília não correria o mesmo perigo quando não existia uma senhora, como quando havia muitas crianças. Uma senhora, sem filhos, era a melhor forma de conservar o mobiliário em bom estado. Também tinha visto a Sra. Croft, estava ela em Taunton com o almirante e mantivera-se presente durante quase todo o tempo em que tinham discutido o assunto.
E pareceu ser uma senhora muito bem-falante, educada e inteligente - prosseguiu ele. - Fez mais perguntas sobre a casa, sobre as condições e sobre os impostos do que o próprio almirante.
E, além disso, Sir Walter, descobri que ela tem algumas ligações familiares com esta região, tal como o marido; quero dizer que ela é irmã de um cavalheiro que viveu há alguns anos em Monkford. Meu Deus! Como é que ele se chamava? Neste momento, não me consigo recordar do nome, embora o tenha ouvido ultimamente. Penélope, minha querida, podes ajudar-me a recordar o nome do cavalheiro que vivia em Monkford... o irmão da Sra. Croft?
Mas a Sra. Clay estava tão entretida a conversar com a Menina Elliot que não pareceu ouvir.
Não faço a mínima idéia a quem se poderá estar a referir, Shepherd; não me lembro de nenhum cavalheiro a viver em Monkford desde o tempo do velho governador Trent.
Meu Deus! Que estranho! Um dia destes até me vou esquecer do meu próprio nome. Um nome que me é tão familiar; eu conhecia o homem tão bem de vista! Vi-o umas cem vezes; ele foi consultar-me uma vez, recordo-me, sobre a violação da sua propriedade por um dos vizinhos; um rendeiro assaltou-lhe o pomar... parede deitada abaixo... maçãs roubadas... apanhado em flagrante; e depois, contrariamente à minha opinião, fizeram um acordo amigável. E, realmente muito estranho!
Depois de esperar mais um momento, Anne disse:
Está a referir-se ao Sr. Wentworth, suponho. O Dr. Shepherd era todo gratidão.
O esse mesmo o nome! O Sr. Wentworth, era esse o homem. Foi cura de Monkford, sabe, Sir Walter, há algum tempo, durante dois ou três anos. Chegou lá por volta de 1805, suponho. Certamente que se recorda dele.
Wentworth? Oh! sim... o Sr. Wentworth, o cura de Monkford. Iludiu-me com o termo cavalheiro. Eu pensei que estivesse a falar de um homem de bens. Lembro-me de que o Sr. Wentworth não era ninguém; sem relações, não tinha nada a ver com a família Strafford. Pergunto a mim próprio como é que os nomes de muitos dos membros da nossa nobreza se tornam tão vulgares.
Ao compreender que esta ligação com os Croft não os beneficiava aos olhos de Sir Walter, o Dr. Shepherd não voltou a referi-la e insistiu, com todo o empenho, nas circunstâncias mais inquestionavelmente a seu favor; a idade, número e fortuna; a idéia que eles faziam do Solar de Kellynch, e o enorme desejo de terem o privilégio de o alugar; fazendo parecer que, para eles, a felicidade consistia em serem inquilinos de Sir Walter Elliot; um bom gosto extraordinário, seguramente, se soubessem o que Sir Walter pensava a respeito das obrigações dos inquilinos.
Ele teve êxito, porém. E, embora Sir Walter visse sempre com maus olhos qualquer pessoa que tencionasse habitar a casa, e os considerasse extremamente afortunados por terem sido autorizados a alugá-la por uma renda elevadíssima, deixou-se convencer e permitiu que o Dr. Shepherd avançasse com o acordo, tendo-o autorizado a encontrar-se com o almirante Croft, que ainda estava em Taunton, e a marcar um dia para ele ver a casa.
Sir Walter não era muito sensato, mas tinha a experiência do mundo suficiente para saber que não seria fácil encontrar um inquilino menos exigente, em todos os aspectos essenciais, do que o almirante Croft prometia ser. Até aí ele compreendia; e a posição do almirante, que era suficientemente elevada, mas não demasiado, servia de um pouco mais de consolação para a sua vaidade.
Aluguei a minha casa ao almirante Croft – soaria extremamente bem; muito melhor do que um simples Sr.; um Sr . (exceto, talvez, uma meia dúzia no país) precisa sempre de uma explicação. Um almirante falava da sua própria importância e, ao mesmo tempo, não poderia fazer que um baronete parecesse insignificante a seu lado. Em todas as negociações e conversas, Sir Walter Elliot tinha de ter sempre a primazia.
Nada podia ser feito sem a opinião de Elizabeth; mas ela estava com cada vez mais vontade de mudar de casa e ficou satisfeita por o assunto se poder resolver rapidamente graças a um inquilino que aparecera de repente; não pronunciou uma só palavra que suspendesse a decisão.
O Dr. Shepherd recebeu plenos poderes para agir; e, assim que o assunto chegou ao fim, Anne, que fora a ouvinte mais atenta, saiu da sala para procurar o alívio do ar fresco para as suas faces coradas; e, enquanto passeava ao longo do seu bosque predileto, disse, com um suave suspiro:
Daqui a alguns meses, ele talvez ande a passear por aqui.
Capítulo Quatro
Não era o Sr. Wentworth, o antigo cura de Monkford como as aparências poderiam levar a supor, mas sim um capitão Frederick Wentworth, seu irmão, que, tendo sido promovido a comandante em sequência de uma batalha ao largo de São Domingos e não tendo sido imediatamente destacado, viera para Somersetshire no Verão de 1806; e, como já não tinha os pais vivos hospedara-se, durante meio ano, em Monkford. Ele era, nessa altura, um jovem esplêndido, muito inteligente, ativo e brilhante; e Anne era uma menina extremamente bonita, meiga, modesta e com bom gosto e bons sentimentos. Metade da atração sentida por cada uma das partes teria bastado, pois ele não tinha nada que fazer e ela não tinha praticamente ninguém para amar, mas a confluência de tão abundantes qualidades não podia falhar. Foram-se conhecendo gradualmente e, depois de se conhecerem, apaixonaram-se rápida e profundamente. Seria difícil dizer quem vira a maior perfeição no outro, ou qual deles e sentira mais feliz, se ela a receber as suas declarações e respostas, se ele ao vê-las serem aceites.
Seguiu-se um curto período de extasiante felicidade, um período mesmo muito curto. Os problemas não tardaram em surgir.
Sir Walter, ao ser-lhe feito o pedido, sem, na realidade negar a sua autorização nem dizer que nunca seria possível dá-la, manifestou o seu desacordo através de um enorme espanto, uma enorme frieza, um enorme silêncio e uma resolução declarada de não fazer nada pela filha. Ele achava que era uma união muito degradante; e Lady Russell, embora com um orgulho mais comedido e desculpável, considerava-a extremamente infeliz.
Anne Elliot, com todas as vantagens que a classe, a beleza e a inteligência lhe conferiam, desperdiçar a vida aos 19 anos; envolver-se aos 19 anos num noivado com um jovem que não tinha algo a recomendá-lo a não ser ele próprio, e sem esperança de alguma vez ser rico; pelo contrário, correndo o risco de uma profissão incerta, e sem ligações que garantissem a sua promoção naquela profissão, seria, de fato, um desperdício em que lhe era doloroso pensar! Anne Elliot, tão jovem, conhecida de tão pouca gente, arrebatada por um desconhecido sem ligações nem fortuna; ou, melhor, mergulhada num estado da mais penosa e preocupante dependência que lhe destruiria a juventude! Isso não iria acontecer, se ela conseguisse evitá-lo, através de uma interferência sincera de amizade e dos conselhos de alguém que tinha quase um amor e direitos de mãe.
O capitão Wentworth não possuía fortuna. Tinha tido sorte na sua profissão, mas gastara com prodigalidade o que ganhara facilmente, não guardara nada. Mas estava confiante de que em breve seria rico - cheio de vida e de entusiasmo, ele sabia que em breve teria um barco e que em breve seria colocado num posto que o conduziria a tudo o que desejava. Sempre tivera sorte e sabia que continuaria a ter. Tal confiança, poderosa no seu entusiasmo e encantadora pelo modo como era expressa, deveria ter sido suficiente para Anne; mas Lady Russell via a situação de um modo diferente. O temperamento otimista dele e a sua ousadia de espírito funcionavam de um modo muito diferente nela. Ela via-os como uma intensificação do mal. Só tornavam o carácter dele ainda mais perigoso. Ele era brilhante, obstinado.
Lady Russell gostava pouco de ditos espirituosos e, para ela, tudo o que se aproximasse da imprudência era um horror.
Ela censurava a união sob todos os pontos de vista.
Estes sentimentos produziram uma oposição que Anne não conseguiu combater. Jovem e meiga como era, talvez lhe fosse possível suportar a má vontade do pai, talvez conseguisse mesmo passar sem uma palavra ou olhar amável por parte da irmã - mas Lady Russell, que ela sempre tinha amado e em quem sempre confiara, não podia, com opiniões tão firmes e modos tão suaves, aconselhá-la repetidamente em vão. Ela foi levada a acreditar que o noivado era um erro - imprudente, inadequado, com poucas probabilidades de ser bem sucedido, e ela não merecia que isso acontecesse. Mas não foi por mera precaução egoísta que ela agiu, pondo-lhe termo. Se não pensasse que agia para bem dele, mais do que para seu próprio bem, ela não teria conseguido renunciar a ele. A idéia de estar a ser prudente e altruísta e de ter em mente, principalmente, o bem dele, foi a sua principal consolação no desgosto da separação – uma separação definitiva; e foi necessária toda a consolação, pois teve de enfrentar a dor adicional de o ver completamente inconformado e intransigente, magoado com uma renúncia forçada. Em consequência, ele acabara por sair do país.
Tinham mediado alguns meses entre o início e o fim da sua ligação, mas o sofrimento de Anne durou mais de alguns meses.
O seu afeto e o seu desgosto tinham, durante muito tempo, ensombrado todo o prazer da juventude; e os seus efeitos duradouros tinham sido uma perda prematura da frescura e da alegria.
Tinham-se passado mais de sete anos desde que essa pequena e triste história chegara ao fim; o tempo esmorecera muito, talvez quase todo o seu afeto por ele - mas ela tinha dependido demasiado só do tempo; não lhe fora dada qualquer ajuda sob a forma de mudança de lugar (exceto uma visita a Bath pouco depois do rompimento) nem qualquer novidade ou alargamento do círculo social. Não chegara ninguém ao círculo de Kellynch que se pudesse comparar a Frederick Wentworth, tal como ela o retinha na memória. Nos limites estreitos da sociedade que os rodeava, o seu espírito delicado e o seu gosto refinado não tinham conseguido encontrar um segundo afeto, a única cura completamente natural, feliz e suficiente na sua idade.
Quando tinha cerca de 22 anos, fora pedida em casamento pelo jovem que, pouco depois, encontrou uma mente mais dócil na sua irmã mais nova; Lady Russell lamentou a sua recusa, pois Charles Musgrove era o filho mais velho de um homem cujas propriedades e importância só ficavam atrás das de Sir Walter, e tinha um bom caráter e uma bela figura; e, embora Lady Russell tivesse desejado algo mais quando Anne tinha 19 anos, ter-se-ia regozijado ao vê-la, aos 22 tão respeitavelmente afastada do ambiente de parcialidade e injustiça da casa do pai e instalada permanentemente perto de si. Mas, neste caso, Anne não se deixou levar pelos seus conselhos; e, embora Lady Russell, segura como sempre da sua própria opinião, nunca se tivesse arrependido do passado, começou a sentir uma ansiedade que tocava as raias do desespero, de que Anne fosse
tentada, por um homem de talento e meios, a entrar num estado civil para que ela a considerava particularmente dotada, com a sua afetividade e hábitos domésticos.
Elas não conheciam a opinião uma da outra, quer a sua constância ou a sua transformação, sobre a única causa do comportamento de Anne, pois o assunto nunca era referido – mas Anne, aos 27 anos, pensava de um modo muito diferente de como fora levada pensar aos 19.
Não culpava Lady Russell, não se culpava a si própria por ter seguido os seus conselhos; mas achava que, se uma jovem, em circunstâncias semelhantes, lhe viesse pedir conselhos, estes não lhe provocariam tamanho sofrimento imediato, com vista a um futuro feliz incerto. Estava convencida de que, embora tivesse sofrido todos os inconvenientes da censura em casa e toda a ansiedade própria da carreira dele, todos os prováveis receios, demoras e desilusões, teria sido mais feliz se tivesse mantido o noivado do que fora, sacrificando-o; e isto, acreditava ela, mesmo que eles tivessem sofrido a quantidade habitual, mais do que a quantidade habitual de preocupações e ansiedades, e sem ter em conta o resultado real do caso dele, o qual, afinal, acabara em prosperidade, mais cedo do que seria razoável esperar. As suas entusiásticas expectativas, toda a sua confiança tinham sido justificadas. O seu talento e entusiasmo pareceram prever e abrir o caminho da prosperidade.
Ele tinha, pouco depois do fim do noivado, sido colocado; e tudo o que ele lhe dissera que iria suceder aconteceu. Ele tinha-se distinguido e fora promovido - e agora, devido a aprisionamentos sucessivos, já devia ter uma bela fortuna. Ela só podia basear-se em registros da Marinha e nos jornais, mas não duvidava de que ele fosse rico - e, quanto à sua constância, ela não tinha motivos para supor que ele se tivesse casado.
Como Anne Elliot podia ter sido eloqüente - como, pelo menos, os seus desejos eram eloqüentes a favor de uma ligação afetuosa precoce e uma alegre confiança no futuro, em oposição àquela cautela demasiado ansiosa que parece insultar o esforço e não confiar na Providência! Ela fora forçada a ser prudente na juventude e, à medida que envelhecia, ia aprendendo o que era o romance - a seqüência natural de um início nada natural.
Com todas estas circunstâncias, recordações e sentimentos, ela não conseguia ouvir dizer que era provável que a irmã do comandante Wentworth viesse viver em Kellynch sem que a dor antiga se reavivasse; e foram necessários muitos passeios e muitos suspiros para acalmar a agitação provocada pela idéia.
Ela disse muitas vezes a si própria que era uma loucura, antes de ter conseguido dominar os nervos o suficiente para conseguir ouvir calmamente a contínua discussão sobre os Croft e os seus negócios. Foi auxiliada, porém, pela completa indiferença e aparente desinteresse das únicas três pessoas do seu círculo de amigos que conheciam o segredo do passado, que quase pareciam negar qualquer recordação do episódio. Ela reconhecia a superioridade dos motivos de Lady Russell em relação aos do pai e de Elizabeth; respeitava os seus sentimentos e a sua serenidade - mas, qualquer que fosse a sua origem, o ambiente geral de esquecimento era muito importante; e, no caso de o almirante Croft alugar realmente o Solar de Kellynch, ela regozijava-se com a convicção, por que sempre se sentira grata, de que o passado só era conhecido dessas três pessoas das suas relações, que ela sabia que nunca diriam uma palavra, e com a suposição de que, entre as dele, só o irmão com quem ele morava soubera alguma coisa sobre o seu curto noivado. Aquele irmão há muito tinha saído da região - e, sendo um homem sensato e, além disso, solteiro na altura, ela estava segura de que ele não tinha contado a ninguém.
A irmã, a Sra. Croft, estivera fora de Inglaterra, a acompanhar o marido num posto no estrangeiro, e sua própria irmã Mary, estava no colégio quando tudo acontecera, e o orgulho de uns e a delicadeza de outros nunca tinham permitido que ela viesse a saber alguma coisa depois.
Com estes apoios, ela esperava que as relações entre ela e os Croft, que certamente iriam ter lugar, uma vez que Lady Russell ainda vivia em Kellynch e Mary estava apenas a três milhas de distância, não acarretassem quaisquer embaraços.
Capítulo Cinco
Na manhã marcada para a visita do almirante e da Sra. Croft ao Solar de Kellynch, Anne achou muito natural dar o seu passeio diário até à casa de Lady Russell e manter-se longe até a visita ser dada por terminada; depois, achou muito natural ter pena de ter perdido a oportunidade de os conhecer.
O encontro das duas partes interessadas foi altamente satisfatório, e o assunto ficou imediatamente decidido. Ambas as senhoras estavam, à partida, interessadas num acordo, e só viram boas maneiras uma na outra; e, quanto aos cavalheiros houve uma tão grande cordialidade, uma generosidade tão confiante por parte do almirante, que Sir Walter não pôde deixar de se sentir influenciado; além disso, a garantia do Dr. Shepherd de que fora informado por terceiros de que o almirante era um modelo da boa educação tinha-o lisonjeado e suscitado nele o seu melhor e mais bem educado comportamento.
A casa, os terrenos e a mobília foram aprovados, os Croft foram aprovados, condições, prazos, tudo e toda a gente, estavam corretos; e os empregados do Dr. Shepherd começaram a trabalhar, sem lhes ter sido dada a indicação preliminar de que era possível que tivessem de alterar qualquer cláusula da escritura. Sir Walter, sem hesitação, disse que o almirante era o marinheiro mais bem-parecido que já conhecera e chegou mesmo a afirmar que, se ele tivesse sido penteado pelo seu próprio criado, não teria vergonha de ser visto com ele em qualquer lugar; e o almirante, com amável cordialidade, comentou para a mulher, ao regressarem pelo parque:
Sempre achei que iríamos chegar a acordo, minha querida, apesar do que nos disseram em Taunton. O baronete nunca irá descobrir a pólvora, mas não parece ser má pessoa. – Elogios recíprocos, que poderiam ser considerados equivalentes.
Os Croft deveriam tomar posse do Solar de Kellynch no dia de São Miguel, e, uma vez que Sir Walter pretendia mudar-se para Bath durante o mês anterior, não havia tempo a perder para fazer os preparativos.
Lady Russell, convencida de que não seria atribuída a Anne qualquer utilidade ou importância na escolha da casa que iriam ocupar, não tinha vontade de a ver partir tão cedo e queria que ela ficasse até ela própria a levar a Bath depois do Natal; mas ela tinha já compromissos que a afastariam de Kellynch durante algumas semanas e não lhe foi possível fazer o convite que gostaria de lhe dirigir; e Anne, embora receasse o possível calor de Setembro na luminosidade de Bath e lamentasse perder a doçura e a melancolia dos meses de Outono no campo, não pensou que, afinal, queria ficar. Seria mais correto e mais sensato e, por conseguinte, menos penoso, ir com os outros.
Algo ocorreu, porém, que a fez agir de modo diferente. Mary, que andava com frequência adoentada e pensava constantemente nos seus próprios achaques, tinha o hábito de chamar Anne sempre que tinha algum problema; na altura, ela sentia-se indisposta e, prevendo que não teria um dia de saúde em todo o Outono, pediu-lhe, ou melhor, exigiu-lhe, pois não foi exatamente um pedido, que, em vez de ir para Bath, viesse para o chalé de Uppercross e lhe fizesse companhia enquanto precisasse dela.
Eu não posso passar sem Anne - foi o argumento de Mary. Ao que Elizabeth respondeu:
Então é melhor Anne ficar, pois ninguém a vai querer em Bath.
Ser considerada um bem, embora num estilo pouco apropriado, é melhor do que ser rejeitada como não servindo para nada; e Anne, satisfeita por poder ser útil, satisfeita por ter algo para fazer e seguramente nada triste por continuar no campo, no seu querido campo, concordou prontamente em ficar.
Este convite de Mary pôs termo aos problemas de Lady Russell, e, pouco depois, ficou decidido que Anne só iria para Bath quando Lady Russell a levasse e, entretanto, ela ficaria dividida entre o chalé de Uppercross Cottage e a sua casa em Kellynch.
Até agora, tudo corria perfeitamente bem; mas Lady Russell ficou indignada com uma parte do plano do Solar de Kellynch quando lhe foi comunicado, e este consistia no fato de a Sra. Clay ter sido convidada para ir para Bath com Sir Walter e Elizabeth a fim de ajudar esta última nas suas tarefas. Lady Russell ficou extremamente aborrecida com este procedimento aborrecida, admirada e receosa - e a afronta que ele significava para Anne; o fato de a Sra. Clay ser considerada tão útil, enquanto Anne era posta de lado, constituía um insulto. A própria Anne já estava habituada a estas desconsiderações, mas ela sentiu a imprudência da situação tanto como Lady Russell.
Com o seu poder de observação e conhecendo bem o caráter do pai - que ela frequentemente desejava não conhecer tão bem-, tinha a percepção de que a convivência iria produzir efeitos gravíssimos para a sua família. Ela não acredita que uma idéia dessas passasse atualmente pela cabeça do pai.
A Sra.Clay tinha sardas, um dente saliente e pulsos grossos sobre os quais ele fazia constantemente comentários desagradáveis na sua ausência; mas era jovem e certamente bonita, e a sua agudeza de espírito e os seus modos agradáveis constituíam atrativos infinitamente mais perigosos do que quaisquer dotes meramente físicos.
Anne sentiu tanto a gravidade do perigo que não conseguiu deixar de chamar a atenção da irmã para ele. Ela tinha pouca esperança de êxito, mas não quis que Elizabeth, que, no caso de tal revés, seria mais digna de pena do que ela própria, tivesse motivo para a censurar por não a ter avisado. Ela falou, e pareceu apenas ofender.
Elizabeth não conseguia imaginar como é que lhe podia ocorrer uma desconfiança tão absurda; e respondeu, indignada, que ambos estavam perfeitamente conscientes da posição que cada um deles ocupava.
A Sra. Clay - respondeu ela acaloradamente - nunca se esquece de quem é; e, como eu conheço melhor os sentimentos dela do que tu, posso garantir-te que, a respeito do casamento, eles são particularmente respeitáveis; e que ela reprova toda a desigualdade de posição social e estatuto mais energicamente do que a maior parte das pessoas. Quanto ao pai, não me parece que, ao fim de ele se ter mantido viúvo por nossa causa durante tantos anos, haja motivo para desconfiar dele agora. Se a Sra. Clay fosse uma mulher muito bela, concordo que talvez fosse um erro tê-la tanto tempo comigo; não que haja alguma coisa no mundo, tenho a certeza, que possa levar o pai a fazer um casamento abaixo da sua condição social; mas ele talvez se sentisse infeliz. Mas a pobre Sra. Clay, apesar de todas as suas qualidades, nunca poderá ser considerada toleravelmente bonita! Eu acho realmente que a estada da Sra. Clay entre nós não irá causar quaisquer problemas. Quem te ouvisse havia de pensar que nunca escutaste o pai a falar dos seus defeitos físicos, mas eu sei que já ouviste dezenas de vezes. Aqueles dentes dela!- e -Aquelas sardas!-. As sardas não me desagradam tanto como a ele; já vi rostos que não ficam desfigurados só com algumas, mas ele detesta-as. Tu já o deves ter ouvido comentar as sardas da Sra. Clay.
Não existe praticamente defeito físico nenhum- respondeu Anne - que uns modos agradáveis não possam, a pouco e pouco, fazer esquecer.
Eu penso de maneira muito diferente - respondeu Elizabeth, secamente -, uns modos agradáveis podem realçar uns traços bonitos, mas nunca podem alterar um rosto feio. De qualquer modo, eu tenho, neste ponto, muito mais em jogo do que qualquer outra pessoa, por isso penso que é desnecessário dares-me conselhos.
Anne fizera-o; e sentia-se satisfeita por o assunto estar encerrado, e convencida de não ter sido absolutamente em vão.
Elizabeth, embora não tivesse gostado da suspeita, talvez ficasse mais atenta. A última viagem da carruagem e dos quatro cavalos foi para levar Sir Walter, a Menina Elliot e a Sra. Clay para Bath. O grupo partiu muito bem-disposto. Sir Walter ensaiou vênias condescendentes a todos os rendeiros e camponeses que tinham recebido discretamente instruções para se mostrarem, e Anne dirigiu-se a pé, numa espécie de tranquilidade desolada, para a casa de Lady Russell, onde iria passar a primeira semana. A sua amiga não estava mais alegre do que ela. Lady Russell sentia- se muito triste com a separação da família. A respeitabilidade deles era-lhe tão cara como a sua própria, e o hábito tornara preciosa a comunicação diária com eles. Era penoso olhar para os jardins desertos, e pior ainda imaginar as novas mãos para que eles iriam passar; para fugir à solidão e à tristeza de uma aldeia tão modificada e para estar longe quando o almirante e a Sra. Croft chegassem, ela decidira fazer a sua ausência de casa coincidir com a altura em que teria de se separar de Anne.
Assim, partiram juntas, e Anne ficou no chalé de Uppercross, a primeira etapa da viagem de Lady Russell. Uppercross era uma aldeia de tamanho médio que, alguns anos antes, possuíra, integralmente, o velho estilo inglês, contendo apenas duas casas de aspecto superior ao das casas dos pequenos proprietários e camponeses - a mansão sólida e antiquada do grande proprietário com os seus muros altos, portões enormes e árvores antigas, e a casa compacta da paróquia circundada pelo seu jardim bem cuidado, com uma trepadeira e uma pereira à volta das janelas; mas, quando o filho do proprietário se casou, uma das casas de lavoura sofrera melhoramentos e transformara-se num chalé para os noivos; e o chalé de Uppercross, com a sua varanda, as portas de vidro e outros adornos, tinha tantas probabilidades de atrair o olhar do viajante como o aspecto mais sólido e majestoso da Casa Grande, a cerca de meio quilometro de distância.
Anne hospedara-se frequentemente ali. Ela conhecia os hábitos de Uppercross tão bem como os de Kellynch. As duas famílias encontravam-se tão frequentemente, tinham tanto o hábito de entrar e sair das casas uns dos outros a qualquer hora, que ela ficou um tanto surpreendida ao encontrar Mary sozinha, mas, se encontrava só, era certo estar adoentada e deprimida. Embora fosse mais prendada do que a irmã mais velha, Mary não tinha a inteligência e o temperamento de Anne. Quando se sentia bem, feliz e rodeada de atenções, ela tinha um ótimo humor e uma excelente disposição; mas a mais leve indisposição deixava-a completamente abatida; não possuía quaisquer recursos para suportar a solidão e, tendo herdado um quinhão considerável do orgulho dos Elliot, tinha muita tendência para acrescentar a todos os outros sofrimentos a angústia de se sentir abandonada e desprezada. Fisicamente, era inferior às duas irmãs e, mesmo no auge da frescura, alcançara apenas a distinção de ser uma menina engraçada. Estava agora deitada no sofá desbotado da bonita salinha de visitas, cuja mobília, outrora elegante, se estragara gradualmente sob a influência de dois verões e duas crianças; ao ver Anne, saudou-a com:
Até que enfim que chegaste! Já estava a pensar que nunca mais te via. Estou tão doente que mal consigo falar. Não vi ninguém a manhã inteira.
Lamento vir encontrar-te doente - respondeu Anne. Na quinta-feira mandaste dizer-me que estavas bem!
Sim eu disse que estava bem; digo sempre isso; mas, na altura, estava longe de me sentir bem; e acho que nunca me senti tão doente em toda a minha vida como esta manhã... tenho a certeza de que não estou em condições de ficar sozinha.
Imagina que, de repente, tinha um ataque tão terrível que não conseguia tocar a campainha! Então Lady Russell não quis descer. Eu penso que ela, durante todo este verão, não veio cá a casa três vezes.
Anne deu a resposta apropriada e perguntou-lhe pelo marido.
Oh! Charles foi caçar. Não o vejo desde as sete horas.
Insistiu em ir, mesmo sabendo como eu estava doente. Disse que não se demoraria muito; mas ainda não voltou, e é quase uma hora. Garanto-te que não vi ninguém durante toda a manhã.
Os teus garotos não vieram fazer-te companhia?
Sim, enquanto consegui suportar o barulho deles; mas são tão irrequietos que me fazem mais mal do que bem. O pequeno Charles não me obedece em nada, e Walter está a ficar na mesma.
Bem, agora vais ficar boa depressa - respondeu Anne, num tom alegre. - Tu sabes que, quando chego, ficas sempre curada. Como vão os teus vizinhos da Casa Grande?
Não te posso dar notícias deles. Não vi nenhum deles hoje, exceto o Sr. Musgrove, que parou e falou através da janela, mas sem descer do cavalo; e, embora eu lhe tivesse dito que estava muito doente, nenhum dos outros veio visitar-me. Suponho que essa visita não fazia parte dos planos das Meninas Musgrove, e elas nunca os alteram.
Talvez ainda as vejas, antes do fim da manhã. Ainda é cedo.
Não estou interessada em vê-las, garanto-te. Elas conversam e riem-se demasiado para o meu gosto. Oh! Anne, eu estou tão doente! Foi muito pouco amável da tua parte não teres vindo na quinta-feira.
Minha querida Mary, lembra-te de que me mandaste dizer que te sentias muito bem! Escreveste uma carta muito alegre, dizendo que estavas de perfeita saúde e que não tinhas pressa em que eu viesse; e, sendo assim, deves saber que eu queria ficar junto de Lady Russell até ao último momento; além disso, para além dos meus sentimentos em relação a ela, tenho andado realmente muito ocupada, tenho tido tanto que fazer que não teria sido possível deixar Kellynch mais cedo.
Deus do céu! Que é que tu podias ter para fazer?
Muita coisa, garanto-te. Mais do que me lembro de momento, mas digo-te algumas. Tenho estado a fazer um duplicado do catálogo dos livros e dos quadros do pai. Estive várias vezes no jardim com Mackenzie, a tentar saber e a fazê-lo entender quais as plantas de Elizabeth que são para Lady Russell. Tive as minhas coisas para organizar... livros e música para separar, todas as minhas malas para desfazer e voltar a fazer, por não ter compreendido na altura o que deveria ir nas carroças. E tive de fazer uma coisa, bem mais triste, Mary: ir a quase todas as casas da paróquia, como uma espécie de despedida. Disseram-me que eles queriam que o fizesse. E todas essas coisas tomam muito tempo.
Oh, bem! - E após uma pequena pausa: - Mas tu ainda não me perguntaste nada sobre o nosso jantar em casa dos Poole ontem.
Então foste. Não te perguntei porque supus que te tinhas visto obrigada a desistir de ir.
Fui, sim. Ontem senti-me muito bem; até esta manhã estava perfeitamente bem. Teria parecido estranho não ir.
Fico muito satisfeita por saber que te sentias bem, e espero que tenha sido uma festa agradável.
Nada de especial. Já se sabe de antemão o que será o jantar e quem lá vai estar. E é tão pouco confortável não ter a nossa própria carruagem. O Sr. e a Sra. Musgrove levaram-nos, e íamos apertadíssimos! Eles são os dois enormes e ocupam tanto espaço. E o Sr. Musgrove senta-se sempre à frente. E eu ia muito apertada no banco de trás com Henrietta e Louisa. É possível que a minha doença de hoje seja devida a isso.
Um pouco mais de perseverança, de paciência e de alegria forçada por parte de Anne produziram quase uma cura em Mary.
Ao fim de pouco tempo, ela conseguiu sentar-se direita no sofá e começou a acalentar a esperança de se poder levantar à hora do almoço. Depois, tendo-se esquecido de pensar na doença, dirigiu-se ao outro extremo da sala para arranjar um ramo de flores; seguidamente comeu as suas carnes frias; e, por fim, sentiu-se suficientemente bem para propor um pequeno passeio.
Onde havemos de ir? - perguntou quando estavam prontas. Suponho que não queres ir à Casa Grande antes de elas te virem visitar, pois não?
Não tenho a mínima objeção a esse respeito – respondeu Anne. -Eu nunca pensaria em fazer cerimônia com pessoas que conheço tão bem como a Sra. e as Meninas Musgrove.
Oh!, mas elas tinham obrigação de te vir visitar o mais cedo possível. Elas deviam saber a atenção que te devem como minha irmã. No entanto, agora, vamos conversar um pouco com elas e depois podemos dar o nosso passeio à vontade.
Anne sempre considerara aquele estilo de relações altamente imprudente; mas tinha deixado de se lhe opor, pois acreditava que, embora houvesse de ambos os lados motivos permanentes de ofensa, nenhuma das famílias poderia passar sem a outra.
Assim, dirigiram-se à Casa Grande, onde se sentaram durante meia hora na antiquada sala quadrada com uma carpete pequena e o chão brilhante, a que as filhas da casa estavam, a pouco e pouco, a dar um ar de confusão com um piano, uma harpa, floreiras e mesinhas colocadas por todo o lado. Oh!, se os originais dos retratos que ornamentavam as paredes revestidas de madeira, se os cavalheiros trajados de veludo castanho e as senhoras de cetim azul pudessem ver o que se passava, se tivessem consciência de uma tal derrocada da ordem e da arrumação! Os próprios retratos pareciam ter os olhos muito abertos de espanto.
Os Musgrove, tal como as suas casas, encontravam-se num estado de mudança, talvez de aperfeiçoamento. O pai e mãe eram do velho estilo inglês, e os jovens, do novo. O Sr. e Sr.a Musgrove eram pessoas muito boas, amáveis e hospitaleiras, não muito instruídas e nada elegantes. Os filhos tinham mentes e modos mais modernos. A família era numerosa; mas os únicos filhos crescidos, com exceção de Charles, eram Henrietta e Louisa, jovens de 19 e 20 anos que tinham trazido de um colégio de Exeter os dotes habituais e agora, tal como milhares de outras jovens, viviam uma vida elegante, feliz e alegre. As suas roupas eram requintadas, os seus rostos bastante bonitos, a sua disposição alegre, os seus modos desembaraçados e agradáveis; eram apreciadas em casa e estimadas fora dela.
Anne sempre as considerara entre as pessoas mais alegres que conhecia; mesmo assim, salva, como todos nós, por uma confortável sensação de superioridade que nos leva a não desejarmos trocar a nossa vida pela de outros, ela não teria trocado a sua mente mais elegante e culta por todas as diversões delas; e não lhes invejava nada, a não ser aquela aparente compreensão, aquele afeto mútuo bem-humorado que ela conhecera tão pouco com qualquer das suas irmãs.
Foram recebidas com grande cordialidade. Parecia correr tudo bem na família da Casa Grande, que era geralmente, como Anne bem sabia, quem menos censuras merecia. A meia hora de conversa decorreu de um modo bastante agradável; e, no final, ela não ficou surpreendida com o fato de as duas Meninas Musgrove as acompanharem no passeio, a convite de Mary.
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