& Moira Bianchi: O piano, damas e cavalheiros!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O piano, damas e cavalheiros!

Olá,
Sigo na pesquisa para escrever romances históricos e a cada nova fonte descoberta, mais interessada fico nas sobras esquecidas dos meandros da sociedade.
Aqui, nesse mundinho indefectível, não poderiam faltar elas, as amigas Janeites que, entendidas dos parangolés do passado, têm sempre uma carta na manga para oferecer. Foi num teretetê de whats com Fran do Adaptações de Jane Austen que apareceu ele, o...


PIANO
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promo do filme 'O piano' de 1993
fimlinc
Claro que fiquei com a pulga atrás da orelha!
Quanto já havia lido sobre, conversado, ouvido?
Mil vezes. Mas agora tinha um fundo de pesquisa.


Sempre que falo 'o piano' me lembro desse filme da imagem, me marcou - nem foi pelo primeiro nu frontal masculino, tsk, tsk, mas pela fotografia e tema tão denso. 
Passado na década de 1850, uma dama solteira com filha bastarda é vendida em casamento a um cavalheiro na Nova Zelândia. Ela é muda e se comunica com o mundo através da filha e da música que produz em seu piano - e que o novo marido larga na praia onde ela aporta dizendo que a casa não tem espaço para a monstruosidade. Um amigo do marido fica com o piano e aceita devolver à mulher, tecla por tecla, em troca de aulas de, daquilo... Ela aceita o trato aceitando como preço somente as teclas pretas.
Se você ainda não viu, veja. É muito legal. Nada erótico doido. Muito bom, mesmo.

Mas, afora o caso do filme em que a pianista era muda, o instrumento tinha papel diferente do que tem hoje em dia. Em tempos que ainda não havia rádio, vitrola, tv, cd, nada, quem fazia música em casa eram parentes que sabiam tocar.
Em bailes, poderia-se contratar músicos profissionais, talvez em jantares especiais, mas no dia-a-dia, recebendo vizinhos e tal, era o pessoal de casa que enchia o ambiente com som.
Isso gerava um mercado enorme de professores de música, instrumentos musicais, livros de cifras. Revistas para ladies continham encartes com novidades em músicas (no volume de dezembro de 1807 de La Belle Assemblée, por exemplo, constava uma cópia de 'A original Waltz de Mr. Kollmann', música composta exclusivamente para ser vendida com a revista, com três furos de modo a ser guardado no álbum musical da mocinha.)
Talvez seja similar ao mercado fonográfico atual.
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feminema
Vamos fazer uma conta especulativa simples...
Um pianoforte custava 30 guinéus em 1808, foi o que Jane Austen disse à Cassandra em carta; 
Um volume da revista La belle assemblée custava 1/2 coroa (2 xelim e 12 1/2p);
Uma aula de música custava 10 xelim, e se faziam 60 por ano mais ou menos

A grana da época era muito difícil... mas era assim:
Sixpence - 2½ p
Um xelim (ou 'bob') - 5p
Meia coroa (2 xelins e seis pence) - 12 ½ p
Uma guinéu - £ 1,05

Donde se conclui que não era qualquer um que tinha um piano em casa... Bem depois, da década de 1830, o pobrezito Oliver Twist foi vendido por £ 5,00... 1/6 de um piano. Veja só!

Enfim... o instrumento gera muita discussão bacana, inegável símbolo de refinamento e feminilidade, até extravagância somente perdoável aos gênios.
Liberace, o inesquecível - daily beast

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Mozart quando criança, já um virtuoso compositor e músicista - ionart

Diz que não?
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Elton John, forever and ever - pinterest

Acho tudo muito interessante, daquelas coisas que pesquiso por uma semana e incluo uma pitada na história, que nem pimenta calabreza na pasta ao pomodoro.

Então resolvi dividir em 4 posts.


Este é o 1º 
Dear ladies and gentlemen,
com vocês,
sua excelência, o piano!
Neste, conto e mostro tipos de pianos usados na Regência e era Vitoriana e seus antepassados. Falo de alguns virtuosos e faço uma brave introdução ao que será discutido.
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portrait of a lady at the piano, Madrazo y Garreta
pictorem

O 2º que tem o artigo que originou tudo:

com comentários.

Depois vem 

e por fim,


A coisa começou a mudar de figura quando resolvi falar que, para mim, tudo que tem tecla ebony & ivory é piano. Só que Noé...


antes vieram... 
o virginal
File:Johannes Vermeer - Zittende Klavecimbelspeelster (1673-1675).jpg
lady seated at a virginal, 1670/72, JVermeer
pic do wiki commons
O virginal tem sua origem no saltério medieval, provavelmente no século XV. A primeira menção da palavra está em Paulus Paulirinus de (1413-1471) Tratado de música por volta de 1460- Praga: O virginal é um instrumento em forma de um clavicórdio, tendo cordas de metal que lhe dão o timbre de um cravo . Ele tem 32 cursos de cordas em movimento, golpeando os dedos nas teclas projetadas, dando um tom doce em ambos os passos inteiros e meio. 
É chamado virginal porque soa como uma voz gentil e imperturbada. 
Sua primeira menção em inglês em 1530, quando o rei Henrique VIII comprou cinco instrumentos assim chamados. 
O auge dos virginals foi a última metade do século 16 para o final do século 17 até o alto barroco, quando foi eclipsado pelo espinet bentside na Inglaterra e na Alemanha pela clavicórdio. wiki


o clavicórdio
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lady playing the chlavichord, 1665, GDou
dulwich picture gallery
O clavicórdio é um instrumento retangular de cordas europeu que foi usado em grande parte no final da Idade Média, através das eras renascentista, barroca e clássica. Historicamente, foi utilizado principalmente como instrumento de prática e como auxílio à composição. O clavicórdio produz som por meio de metais ou cordas de ferro com pequenas lâminas de metal chamadas tangentes.  wiki
o nome deriva da palavra latina clavis = "chave" e da palavra grega stringορδή = "corda", especialmente de um instrumento musical. Um nome análogo é usado em outras línguas européias (Clavicordio, Clavicord, Clavicorde, Klavichord,  Clavicordium, Clavicórdio,  Clavicordio). Outras línguas derivadas do latim manus, que significa "mão" (Manicordo, Manicorde manicordion, Manicordion, manucordio). 
Também usado sordino, uma referência ao seu som tranquilo.
O clavicórdio foi inventado no início do século XIV . Em 1404, o poema alemão "Der Minne Regeln" menciona os termos clavicimbalum (termo usado principalmente para o cravo) e clavichordium, designando-os como os melhores instrumentos para acompanhar as melodias.
O clavicórdio era muito popular do século XVI ao século XVIII, mas floresceu principalmente em países de língua alemã, na Escandinávia e na Península Ibérica, na parte final deste período. Ele havia caído em desuso em 1850.


o cravo
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interior with a lady at a hapsichord, FFieravino
Pinterest
O termo 'harpsichord' (harp + chord ou seja, harpa + acordes) denota toda a família de instrumentos semelhantes de teclado, incluindo os virginals menores, muselar e spinet
O cravo provavelmente foi inventado no final da Idade Média, amplamente utilizado na música renascentista e barroca. No século 16, os fabricantes de cravo na Itália estavam fazendo instrumentos leves com baixa tensão nas cordas.
Lentamente desapareceu da cena musical. No século XX, ressurgiu em encenações históricas,  novas composições e em certos estilos de música popular. wiki

o spinet
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the new spinet, GGoodwin
brushwiz
Um tipo de cravo, porém menor.
spin= rotação
bent= dobrado
bentside= de lado
O spinet bentside tem a maior parte do instrumento de tamanho real, incluindo ação, tampo e construção de caixa. Porém, em um cravo de tamanho normal, as cordas estão em um ângulo de 90 graus em relação ao teclado. wiki

No caso de um espinet bentside, a posição é triangular. O lado à direita é geralmente dobrado de forma côncava (daí o nome do instrumento), curvando-se do jogador para o canto traseiro direito. O lado mais longo será paralelo às cordas graves, indo da direita para a esquerda. A parte da frente do espinete contém o teclado. Normalmente, há lados muito curtos para a direita e o lado esquerdo, conectando a lateral do corpo ao lado longo e o lado longo à frente.

e ele, il piano
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Clara Wieck, virtuosa desde criança. desenho de J Giere. 
Pic de decoded
O mundo da música lembra de Clara (1819-1896) como pianista de concerto que passou sua vida promovendo o trabalho de seu marido, Robert Schumann (1810-1856). 
Poucos sabem é que ela também era uma compositora, com um talento comparável, se não superior ao do marido.

Você sabia?...

A origem da palavra ou termo piano?

wiki, modernoso pai dos burros, explica que a palavra 'piano' é uma forma abreviada de 'pianoforte', o termo italiano para as versões do início do século XVIII do instrumento, que, por sua vez, deriva do gravicembalo col piano e forte e fortepiano


Os termos musicais italiano piano e forte indicam "suave" e "alto" respectivamente, referindo-se às variações de volume (ou seja, intensidade) produzidas em resposta ao toque de um pianista ou pressão nas teclas: quanto maior o velocidade de um pressionamento de tecla, quanto maior a força do martelo batendo nas cordas, e mais alto o som da nota produzida e mais forte o ataque. 
photo 1
Rosewood pianoforte, 1830 
O nome foi criado em contraste com o cravo, um instrumento musical que não permite variação de volume. Os primeiros fortespianos nos anos 1700 tinham um som mais baixo e um alcance dinâmico menor.
the piano lesson, 1896, EBLeighton
pinterest
Em carta à irmã Cassandra, Jane Austen diz: 
'teremos um pianoforte, tão bom quanto for possível adquirir por 30 guinéus, (aprox 30 libras hoje em dia, R$ 145,00) e eu vou praticar danças locais para que possamos ter divertimento com nossos sobrinhos e sobrinhas, quando tivermos o prazer de sua companhia.'
“Yes, yes, we will have a pianoforte, as good a one as can be got for 30 guineas, and I will practice country dances, that we may have some amusement for our nephews and nieces, when we have the pleasure of their company.” 1808 letter to Cassandra

Então, 'piano' veio depois, com a modernização trazida no período entre 1790 e 1860, quando o piano da era Mozart sofreu mudanças tremendas que levaram à forma moderna do instrumento. Sugiro visitar a página e clicar nas duas músicas postadas para comparar o som, é impressionante a diferença. aqui.

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Um evento de classe com esse, além das moças animadas com seus leques em primeiro plano, vejo matronas e senhores na porta, além dos indianos ao fundo, certamente haviam músicos profissionais. Mas as moças em idade casadoira poderiam ser convidadas a mostrar seus dotes caso houvesse um guapo dando sopa...

Isso discutimos em outro post.
O piano e a música para Jane Austen


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para escrever esse artigo, além dos links postados, pesquisei aqui, aqui, aqui, aqui, aqui. ufa!

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