& Moira Bianchi: Ao mestre, com amor

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ao mestre, com amor

olá,

Tenho estado tão envolvida no meu mundinho, enrolada com uma reforminha em casa, trabalho, versões em Português dos meus livros, um novo manuscrito, trabalho - em suma, vida que nem tenho ido aos encontros das Amigas Darcy. Mas, enquanto meu universo na casca de noz gira, Robin Williams morreu.

Tenho um amigo que sempre me manda zap-zap dizendo 'Saudades eternas de...' quando alguém famoso morre. Até achei que fosse brincadeira do William Boner, porque meu zap-zap não apitou. Liguei pro meu amigo.
'Está tudo bem aí?' Perguntei.
'Claro.' Ele disse.
Suspirei aliviada. 'Jornal Nacional disse que Robin Williams morreu.' Falei com medo.
'Mentira!' Ele respondeu. 'Espera, vou dar F5 na minha página de notícias.' 
Gelei.
'Nossa... que pena...' Ele disse três segundos depois.

Brasileira que sempre viveu aqui, nunca tive o prazer de assisti-lo ao vivo. E mesmo depois que ele andou falando mal de nós, ainda assim eu o admirava. Assisti seus filmes milhões de vezes e tenho alguns na minha mísera coleção de DVDs. Sabe que fiquei chateada quando descobri que o desenho animado de abertura da Babá era só para o filme?




Acima de tudo, Robin Williams mandou que aproveitássemos nossos dias quando eu estava no Curso Normal. Segui os passos dos meus pais e irmã fazendo formação de professores no segundo grau como um passo para minha vida adulta. Naquela época pós ditadura, a educação era um assunto espinhoso, nossas taxas de analfabetismo eram enormes, no interior onde eu morava as classes multi seriadas eram uma triste realidade apesar de toda a grana dos royalties. Apenas uma ou outra pessoa na turma dizia que queria ser professor de carreira (principalemente pública), a maioria estava no curso por falta de opção mesmo.

O ponto central dos nossos três anos de didática, psicologia, técnica de alfabetização e etc era a discussão dos novos horizontes da educação. A revista 'Nova Escola' era nossa bíblia que avidamente liamos tentando descobrir onde nos encaixariamos.

Foi aí que Robin Williams nos ensinou o que queríamos aprender:
como dar show em sala de aula inspirando não só os alunos, mas a nós mesmos.


Parecia que ele estava falando para nós, que o filme foi feito para a turma de Formação de Professores que ia se formar naquele ano! Ninguém pensava no diretor Peter Weir, roteirista Tom Schulman ou na Montgomery Bell Academy. Era ele sozinho, Robin Williams, que falava conosco. Ele que tanto nos confundia porque hora queríamos ser o Professor Keating, hora morríamos de inveja de Neil, Todd, Knox, Charlie, Richard, Steven e Gerard.

(Tenho que deixar registrado que a turma era 95% composta de meninas e que também queríamos namorar os gatos do filme.)

Enfim, 
Carpe Diem 
era tudo que queríamos dizer e ouvir.

Fico muito triste em saber que esse ator tão competente se foi e que meu filhinho de cinco anos não vai ter a oportunidade de ser assim tão movido por Mr. Williams. Vai que ele fizesse um filme sobre... ciência espacial logo quando meu filho estivesse fazendo vestibular/ ENEM? 

Meu filho ainda vai ter muito tempo para escolher o que fazer da vida, falta muito. Mas se sua profissão for médico, piscólogo, marinheiro, locutor de rádio, lutador, escritor (melhor que eu), presidente do país, dono de boate, dublador, professor, ator ou para minha satisfação plena ele decidir parar de crescer e virar Peter Pan, vou fazer questão que ele aprenda as lições que Robin Williams nos deixou.




Descanse em paz, 
Captain, 
nosso Captain.

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