Hoje pela manhã postei minhas impressões sobre o trailer do tão esperado filme do livro Cinquenta tons de cinza, mas agora não quero falar disso.
Estou sitiada em casa por conta de uma reforma e a Sessão da Tarde hoje é 'Tudo por amor', um dos grandes sucessos de Julia Roberts do meu tempo de adolescente. E ver este filme está dando um nó na minha cabeça...
A trilha sonora do Tio Kenny G claro traz inúmeras lembranças de sonhos românticos, namoros castos e noites lendo histórias açucaradas. Hoje me dá asco ouvir os intermináveis solos de sax, mas vinte cinco anos atrás (éca!) era muito sofisticado gostar de Leo Gandelman, saber os nomes das musicas de Kenny G ( não era todo o cd uma música só?), comer profiteroles e achar q não tinha flor como a orquídea.
Mas o filme que conta o improvável amor de uma mulher comum de 23 com um homem rico e doente de 28 está rolando e destruindo minhas ilusões românticas.
Sou fissurada em 'Orgulho e Preconceito', fato.
Meu conto de fadas preferido é Cinderela.
Adoro My fair Lady. A estória de Pigmaleão em geral.
Sou romântica mesmo.
Mas agora sou 4.0. (Cruzes!)
Então vejo assim:
1- Victor só contratou Hilary pelas suas pernas e asinha curtinha que ele viu pela porta entreaberta enquanto seu pai milionário e poderoso entrevistava enfermeiras de verdade.
Eu me lembrava de amor à primeira vista...
2- Bonita e sem cultura, Hilary era panicat uma garota fadada ao subemprego mesmo. Ele gostou do corpo mas teve q trabalhar o resto. Deu duro! (Desculpe a piadinha) Ela nunca tinha ouvido falar de Klint, carpaccio ou Van Gogh. Mas ele era rico, doente e diletante então ele começou suas aulas de aprimoramento. Ok, Pigmaleão. Gosto.
Eu me lembrava que ela o havia mostrado uma vida feliz q ele não conhecia...
3- Victor mente para Hilary e a leva para sua casa de campo/praia onde eles moram juntos como amigos, depois namorados. Casa grande, limpa, tem comida, não tem empregada...
Me lembrava que ele abria mão do seu tratamento para viajar com ela e acabaram vivendo uma grande história de amor.
Agora, vinte e tantos anos depois estou vendo assim: um cara rico, gato e doente fica tarado na panicat, mas precisa torná-la palitável. Culto como era ele não conseguiria ter um relacionamento com ela se as pedras verbais e comportamentais continuassem a destrai-lo. Precisou dar um trato na moça para poder traçar.
Ele mente para ela e a leva para longe do seu mundinho refinado e que o lembrava de sua doença. Romântico ssssim, mas... Penso que ele simplesmente escondeu seu relacionamento do seu pai, mordomo, realidade.
Vergonha?
Fuga da realidade?
Da doença?
Na minha época de faculdade, havia uma lenda que no curso de Comunicação havia uma matéria que explicava 'a verdade por trás dos contos de fadas'. Sempre achei muito sedutor o assunto... Está disponível na web, eu mesma postei um ótimo livro com essa temática nos meus '40 páginas 40'. Continuo achando muito interessante mas nunca vi maldade atrás deles. Agora...
Vejo que Victor manipulou a gostosa como quis. Ela caiu, claro. Rico, doente, gato... Ela era dura, saudável, carente (o namorado a traiu no comecinho do filme), instinto maternal aguçado pelo moço dodói... Como resistir a esse apelo todo?
Ela saca que foi enrolada só quando ele cai doente. 'Eu achei que finalmente estava num relacionamento de verdade e foi tudo mentira! Você achou que eu não iria sacar porque sou burra? Porque não sou uma porra de uma enfermeira?'* Ela grita chorando. (Nota: Panicat tem que chorar para ser crível.)
Na época chorei também, devo ter achado que ela pirou afinal ele estás doente, coitadinho!... Mas não é assim q vários caras enrolam mulheres as convencendo a ser amantes, aceitar namoros abertos, e outros infernos particulares?
No final ela vira Pretty Woman (esse filme é de 91, somente um ano depois do grande sucesso que eu ainda sei as falas de cor) e pede desculpas por se ofender por ter sido enrolada por meses. Victor tem crises de raiva, fica pelos cantos a observando... uma pinta de Fantasma da Ópera... Que no básico é a mesma estória do Pigmaleão.
E no final, o happy ending é sugerido e como na 'vida real' a gente torce para dar tudo certo, para a leucemia ir para o espaço, para o mentiroso safado aprender a falar a verdade, para ela caber na vida dele...
Papo de romântica, né?
Mesmo vendo a canalhice, a gente ainda sonha com la vie en rose... *suspiro*
Amanhã na sessão da tarde será Le petit Nicolas. Nem vou ver. Imagina acabar com minhas ilusões das aulas na Aliança Francesa, de freqüentar a biblioteca da Maison?... Não! Se ainda estiver sitiada em casa, vou ver Discovery ID!
Bj
* Tradução livre.
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