Outro dia alguém me perguntou no Facebook qual foi o livro que me fez gostar de ler. Nem respondi o post, mas fiquei alguns minutos sonhando com Marília de Dirceu...
Ah, o amor adolescente...
Já tentei escrever sobre o amor jovem algumas vezes como na minha versão de Eduardo e Mônica Orgulho-e-Preconceitualizado, mas nunca o amor adolescente.
Ah, como era bom... né?
Essa viagem através das 40 páginas 40 está quase no fim e eu não poderia encerrar esses 40 livros incríveis sem ESSE:
Ganymédes José
Capítulo 14
A Ladeira da Saudade
página 40
" — Porque você é Marília, eu já disse! Agora, vamos! Quero mostrar-lhe uma coisa! — e, agarrando-a pela mão, puxou-a ladeira acima.
Dirceu era ágil,
elástico, cheio de vida.
— Já viu a casa
de Tiradentes? — perguntou, quando chegaram ao topo da ladeira.
— Onde foi a
casa de Tiradentes — corrigiu ela. — Tampinha me disse que a verdadeira casa
dele era baixa e pequena. Como era Tiradentes, Dirceu? O homem, quero dizer;
não o herói.
Dirceu franziu a
testa:
— Foi soldado,
minerador, mineralogista, bufarinheiro, almocreve, físico, dentista, um sujeito
honesto com ele próprio, apesar de ter-se desiludido com os homens. Vivia com
uma mulher, tinha uma filha, era pobre. Um idealista, um sonhador, um romântico.
Tiradentes acreditava em um mundo livre, com oportunidades iguais para todos,
sem distinção entre o pobre e o rico. . . porque ele próprio era pobre e sofria
com os preconceitos. Foi um injustiçado que acreditava naquilo que você viu em
nosso teatrinho: na paz que os gregos cantaram em seus versos. Ele acreditava
nas colinas, nas flores, na natureza. Veja bem a paisagem aqui de Ouro Preto:
não é cheia de paz como as paisagens da antiga Grécia? Os morros... as
pedras... as ruas... o ouro... oh, o ouro!
Os olhos de
Dirceu faiscaram.
— Joaquim José
não era de família rica. O ouro extraído deste solo custou muitas vidas e era
todo levado para Portugal. O Brasil, os brasileiros, todos viviam escravizados
ao ouro... Os homens sempre serão escravos do ouro! Tiradentes foi um tímido,
um gigante, um homem que carregou a culpa pelos pecados de muitos, sei lá. A
História está aí, viva em Ouro Preto. Pergunte a ela!
— Não! —
respondeu Lília. — Na História os vultos são impessoais como as figuras de cera
de museus. Prefiro perguntar a você, porque aqui em Ouro Preto os nomes têm
vida, calor e... garra! Eles continuarão vivos para sempre!
Atravessando a
cidade, os dois tomaram a direção do bairro onde morava a tia Ninota — a Lapa.
Dirceu explicou que ali ficava a saída para Mariana e para a mina do Chico Rei.
Enquanto andavam, ele ia apontando, falando, mostrando, explicando. Era como se
a história de Ouro Preto fosse a sua própria.
— Sabe que
antigamente os negros tinham uma igreja só deles?
— Verdade? Mas
se eram escravos, como tinham dinheiro para construir sua própria igreja?
— Os negros que
bateavam, isto é, que procuravam ouro, escondiam pepitas de ouro nos cabelos. À
noite, ao chegarem em casa, abriam um pano, passavam as mãos no cabelo, e as
pepitas caíam dentro. Com esse ouro, eles iam comprando material para erguerem
a capela.
Continuaram
descendo, passaram pelas últimas casas da cidade. Para a frente, os morros. A
seu pé, o córrego do Sobreira, em cujas margens cresciam folhas de plantas
aquáticas verde-ervilha. Em longas hastes, os perfumados lírios brancos eram
embalados pelo vento. Pouco adiante, uma ponte. Dirceu parou e olhou para a
frente:
— Está vendo
aquele prédio? — apontou. — É a escola das normalistas. E aquele outro? —
mostrou à direita. — O Clube Recreativo 15 de Novembro. Dizem que em um destes
lugares existia uma construção imponente, de telhado avançado, sustentado por
“cachorros” e com oito janelões. Era toda circundada por palmeiras. Bem ao
meio, existia uma frondosa árvore: uma olaia. Havia uma gigantesca porta que
desembocava em uma escada de nove degraus, mais largos na parte térrea. Era ali
a Casa Grande."
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Pensando bem, meu amor por Austen, Darcy e romances açucarados já estava definido quando me apaixonei por
Dirceu de Marília, né?
Com licença, vou (re)ler esse livro fofo.
Até.
Pensando bem, meu amor por Austen, Darcy e romances açucarados já estava definido quando me apaixonei por
Dirceu de Marília, né?
Com licença, vou (re)ler esse livro fofo.
Até.
Anúncio: 40 páginas 40 é meu jeitinho de engolir celebrar meu aniversário de 40 anos.
Divulgando esses 40 livros bacanérrimos, de maneira nenhuma quero prejudicar os autores.
Se você, como eu, gosta do que lê, compre o livro!
Todos os 40 livros estão listados aqui na barra lateral. ►
Achei as imagens no Google. Créditos a quem postou primeiro.
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