& Moira Bianchi: maio 2020

sábado, 30 de maio de 2020

Belgravia, a minissérie

Olá,
falei dos teasers e das pesquisas curiosas que o livro Belgravia do autor Julian Fellowes, o mesmo de Downton Abbey. Adorei o livro, fiquei cheia de caraminholas na cabeça e até (sem querer) li um outro romance bastante inspirado nessa trama.
Filhos bastardos, herdeiros indignos, segredos & vergonhas é um plot comum para romances de época, e o que mais me seduziu nesta história foram os arranca-rabos entre as mulheres, mães na verdade. Personagens maduras, tanto a esposa do comerciante quanto a Condessa, são muito poderosas e no entanto, o que as difere é a bagagem que carregam: uma é lady, nasceu lady, morrerá lady de fino trato e educação primorosa; a outra é filha de diretor de escola casada com comerciante e por isso, lhe falta o traquejo social - que é a chave da trama.

Daí fui ver a minissérie com toda animação e...
fiquei decepcionada

podia ser dito assim também

A minissérie perde a delicadeza do plot rocambolesco, os embates das duas mulheres são amenizados e adoçados, o que no livro fica dito-pelo-não-dito, na TV é explicadinho. Blergh!

Porque fiquei tão decepcionada, me contive nas confeitarias. Reparei as inúmeras repetições de figurino que achei impensáveis para uma mulher rica como a Trenchard. Adorei as golas de renda da Condessa e... bem, vamos lá.

1- Abertura:
muito similar a Downton Abbey, música e imagens contam a construção do imóvel que abriga a trama. Ok, né, vem do mesmo autor e tal. São imagens bacanas de desenho de arquitetura virando realidade.

As duas são preparativos do que vamos ver, percebe?
Em Downton, vemos a preparação de um jantar que parece ser de gala pelos cuidados e itens dispostos, a movimentação da criadagem, um homem bem apessoado caminhando com o cão. O tema da série, a gente descobre depois, é justo a evolução das relações entre nobres e plebeus, senhores e criados.
Em Belgravia, vemos desenhos de um projeto de arquitetura virando realidade. O tema, a gente vê depois, são as modificações trazidas no pós guerra, dinheiro novo, modernidade.

2- Os figurinos são super repetidos, o que me pareceu estranho pelo nível social das personagens. Claro, imagino que no século 19 as pessoas repetiam roupas. Se eram costuradas à mão (máquinas de costura só ficaram populares depois da década de 1850), cada vestido levava dias, semanas para ficar pronto. As péssimas condições de trabalho das costureiras é famosa, tem casos até de fantasmas. Então, se os vestidos eram tão trabalhosos, as mulheres deveriam usar mais de uma vez.
Mas na minissérie elas repetem toda hora. Me dei ao trabalho de separar os frames. Perceba em qual e onde no espisódio elas repetem. Às vezes, estória são dias diferentes, seguidos até.
a condessa geralmente usa cores lisas com adereços de renda branca
rica de-marré-de-si, ela repete, pete, pete
o bacana aqui é que ela troca a gola (que geralmente era solta do vestido)
na série Victoria é dito que a rainha usava golas e luvas uma só vez!
No início da trama, durante as guerras napoleônicas, o estilo era o grego. Como em Austen.
Anne é rica de dinheiro novo, até acho que ela repetiria bastante as roupas porque
a personagem sempre se lembra de épocas menos prósperas. mas mesmo assim, ela repete pácas!
esse listradinho parece mais xoxo que o bege+azul...
esse eu gostei bastante, amarelo dourado. 
E ela usa em casa, fazendo visitas e em passeios nos jardins.
Susan é a nora gastadeira, mas repete esse modelo cinza que não combina com ela, eu acho
Lady Mary cabelinho-nas-ventas pode usar até jornal, nada ajuda esse penteado horrorível

E você me pergunta: só as personagens principais repetem tanto?
Não, todas repetem. Eu é que perdi o saco de observar todas.
Em outras séries também há esse monte de repetições? Vou passar a reparar...

3- Os homens vestem cravats coloridas. Adorei!
rico de marré-de-si
herdeiro gastando por conta
jovem de alguma educação lutando para fazer fortuna no comércio

Viu alguma diferença nos figurinos?
Alguma graduação por riqueza ou nível social?
Nem eu...

3- O vestido de casamento foi simples e lindo! Poucos bordados, só detalhes de bom gosto.

Engraçado que Lady Mary estava destinada a casar com um conde... É, até dá um plot para um romance: 'A dama que o destino reservou para um Conde'. Quem sabe?

Se nesses dias na gaiola de quarentena você precisar de uma boa dose de fofoca + segredos + tramoias, baixa o CARTAS À DORA. Um romance cheio de cartas que se passa na Era Regencial.
até mais,
M.


sexta-feira, 15 de maio de 2020

Arma Perigosa - um NANOCONTO Vitoriano

Olá,
Sempre é tempo para uma historinha, né? Ainda mais nesses dias trancafiados, nada melhor que uma intriga...
Dia desses me contaram uma anedota. A trama me ficou na cabeça, rolei a ideia por um tempão até chegar aqui e daqui para frente... Me aguardem!

Arma Perigosa
Vitorio Reggianini - The secret

 
Cecille, a Baronesa Westbrook, olhou o amante calmamente lendo o jornal no gabinete, charuto preso entredentes, e suspirou. Ali ela era Cils e ele Cici, simplesmente.
Um aceno para o mordomo que lhe abria a porta e ela saiu. 
En garde, pensou. 
Dez passos para a desgraça, poucos momentos até sua vida ser decidida na saleta de visitas de Bominda, a Baronesa Abominável. Cils odiava aquela vizinhança esnobe, as casas geminadas, a falta de privacidade; odiava ser reconhecida onde quer que fosse, odiava mais ainda ter sido vista na fuga vergonhosa pelo passeio coberto do Albany. 
Imaginava seu nome na boca de todas as damas no chá para onde se encaminhava tal como condenado ao cadafalso. ‘Ela saiu correndo, foi?’ e ‘Do prédio de apartamentos para homens solteiros?’ e ‘Casada com o idoso Westbrook, amante de jovem misterioso!’ A porta da mansão vizinha abriu assim que Cils subiu os três degraus da calçada, o mordomo da Abominável tomou seu casaco e indicou as escadas, ela subiu ouvindo vozes fantasmas na cabeça; torcia as feições em raiva, sentia enrubescer as bochechas. ‘Tarde da noite, de capa escura, mas sei que foi ela!’ e ‘A safadinha, gracejando nas costas do barão!’ O zum-zum-zum de conversa feminina parou quando ela entrou, rosto da cor de cereja. Movida por indignação, dedos trêmulos descalçando a luva de pelica da mão direita, Cils se encaminhou diretamente à Bominda e slap!  
‘Escolha sua arma.’ 
Houve um arfar generalizado, alto e aterrorizado.
Pronto, tinha feito o desafio, resolveria tudo de uma vez. Sorriu já vitoriosa mirando o ombro da baronesa abominável. Cils era exímia caçadora, controlava uma pistola como ninguém. A outra nunca mais usaria decotes amplos, teia que esconder a cicatriz em xales.
Com a mão no rosto onde o tapa ardia mais na humilhação do que na pele, Bominda apertou os olhos. ‘Tinta e pena.’ Respondeu iniciando um novo arfar pela sala. 
Todas entendiam que era guerra.

 * FIM *
 
luvas vitorianas, antiguidade. flickr


Assim como Cloistered, este nanoconto é presente para amigas queridas, companheiras de loucura nessa vida engaiolada de quarentena. Cada uma em seu quadrado, vivemos trocando fofocas de nossas vizinhanças. Cecille e Bominda são fruto dessas nossas tricotagens.

Duelos eram proibidos na época desse Nanoconto, não só na Inglaterra Vitoriana, mas pelo mundo. Na verdade proibidos desde o século 18. No entanto, há relatos de vendetas resolvidas no tête-a-tête, ponta do sabre e cuspida de arma de fogo.
Entre damas, há relatos de duelos incríveis, despidas até a cintura para evitar sujar os trajes, por causa de flores e outras razões que hoje parecem infames.
É um assunto ótimo, estou presa na pesquisa desde que essa anedota me fez pensar em duelo pela defesa da honra. Dia desses faço um post bacana explicando detalhes e curiosidades.
pinterest

Por hora, te convido a se deliciar com a zoom meeting do elenco do musical Hamilton durante o bacanérrimo talk show do gato John Krasinski. O musical é famoso por ter somente atores 'não brancos' na equipe, latinos, negros, orientais, indígenas. Alexander Hamilton é um dos 'founding fathers' dos Estados Unidos. Estadista, político, estudioso das leis, comandante militar, advogado, banqueiro e economista que foi perseguido por duelos a vida toda. Tanto ele quanto seu filho primogênito morreram duelando. E Lin Manuel fez Mary Poppins 2, então ele pode tudo, né? Supercalifragilistespialidoso!


OUTROS NANOCONTOS? Tem, sim! aqui, ó!
até mais,
M.

pesquisas aqui, aqui, aqui, aqui e mais em outro post