Feliz segundona!
Eu sei, segunda é sempre um sofrimento... Mas olha só: é justo em uma segunda-feira que o que tem que dar certo, dá para Mau e Toni no terceiro capítulo de
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Charme, café, flerte... ah, que delícia para essa segundona gelada!
Leia!
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Preconceito, Orgulho & CAFÉ
Livremente inspirado em O&P, fluff, comédia romântica, 18+
Capítulo 3 na íntegra
Havia sido mais uma tarde cansativa em uma audiência
estressante com juiz iniciante que provavelmente estava na comarca da capital
por ter pai desembargador, ou Ministro da Justiça, ou costas quentes de outra
natureza qualquer, pensou desdenhando. Mais um pouco Maurício poderia ter
ensinado ao rapazinho como interpretar a lei e sugerir o veredito. Havia feito
algo similar, apesar das reclamações da advogada da outra parte que até era
esforçada mas sem pulso, coitada da moça. Ainda assim foi estressante e com
certeza teria recurso, o que não era de todo mal já que manteria a causa no
escritório e o cliente era ótimo. Nesses tempos de escritório novo quando o
custo da obra ainda pesava no orçamento dos três sócios, manter bons clientes
era primordial.
A tarde de verão quente e estressante pedia uma cerveja, mas
ainda eram três e meia de Quinta-feira. Um café então, um pingado para desespero do barista. Era o café que seu pai tomava, também
ele homem de estômago fraco, mas agora o pingado trazia o gostinho picante de
esfuziantes olhos castanhos claros e a frustração desconsolada do barista.
Na portaria de seu prédio comercial novo e imponente
preferiu a grandiosa escada de ferro fundido e subiu mantendo a coluna ereta, carregando
o corpo esguio talvez magro demais; vinha faltando aos treinos de remo por
causa do trabalho, comendo mal por causa do estômago ruim. Nas férias da irmã
iria para Minas por pelo menos quinze dias, pensou chegando ao Café do Pátio
com a luz da tarde vindo do teto de vidro filtrada pelas árvores plantadas em
enormes vasos, sua tia iria lhe entupir de comida caseira e ele ganharia de
volta os quilinhos que faziam falta.
No balcão pediu o pingado, um pão de queijo e olhou em volta
indicando a mesa do canto, mas viu feliz que a gata de olhos âmbar estava rindo
com a dona do café e o barista esnobe.
Gostaria de sentar com ela, Toni, mas se encaminhou para a
mesa do canto como de costume. Foi por sorte que seus acompanhantes levantaram
e cumprimentaram Maurício, já um cliente contumaz, chamando a atenção da gata
que sorriu. Parou para retribuir o cumprimento rapidamente e como seu pedido
chegou, ela recolheu seus papéis fazendo-o prender os lábios em um sorriso. ‘Obrigado.’
‘Pingado, né?’
‘Isso.’ Ele sorriu. ‘Do seu jeito, adotei para sentir
primeiro o impacto da cafeína. Acho que meu estômago fica ainda mais indignado porque
espera o ataque que não vem, mas mesmo assim, passei a tomar do seu jeito.’
Ela balançou a cabeça prendendo os lábios brilhosos em um
sorriso. ‘Café é uma arte e tal, já ouviu?’
Ele balançou a cabeça olhando para ela, a xícara perto do
nariz.
‘Tudo balela.’ Franziu o nariz e sacudiu a cabeça. ‘Café é
vicio, é sangue correndo nas veias, é... Rotina daquela que faz bem, reconfortante,
sabe? Quem não tem coragem de assumir pede uma baboseira como macchiatto, mocha,
besteirol. Ou descafeinado.’ Explicou com paixão. ‘Como um fumante finge que se
contém com cigarro eletrônico. Mas quando se reconhece o vício, bebe-se shot.
Espresso curto, quente, cremoso.’
Ele piscou mesmerizado. ‘Seu caso?’
‘Sim. Forte, preto, sem açúcar.’ Fechou os olhos bem
maquiados como se sentisse o perfume do café que descrevia. ‘Se estiver de
muito bom humor ou muito mau humor aceito um aromatizado. Amêndoa ou cacau.’
Ela piscou o observando e pela primeira vez considerou que ele tinha cara de
fígado acebolado com batata frita. Muita cebola - talvez para disfarçar o
gosto. ‘Almoçou hoje ou não deu tempo?’
‘Rapidamente antes de ir ao Fórum.’ Respondeu achando graça
da pergunta e provou da mistura de café, espuma de leite e açúcar. Ainda
precisava do segundo saquinho de açúcar.
‘Pão de queijo... Um só.’ Apertou os expressivos olhos e
balançou a cabeça devagar o analisando. ‘Pingado.’ Prendeu os lábios por um
momento. ‘Minas?’
Ele levantou as sobrancelhas.
‘Mineiros são tradicionalistas...’ Ponderou em voz alta. ‘Gosta
do passado devagarinho no coador de pano, bem preto, mas longo... Caneca,
xícara é pouco. Acertei?’ Apontou o dedo indicador bem manicurado.
‘Na mosca!’
Sorriu satisfeita, convencida.
Linda, gata de lábios brilhantes em rosa avermelhado da cor
das unhas.
‘Gosto, mas fui estragada por cursos de barista e aí viciei
na exuberância da pressão.’ Deu de ombros e ele acompanhou o movimento da pele que
o vestido navy de corpo acinturado e saia listrada de branco deixava aparecer.
‘Luís Maurício Noronha.’
‘Maria Antonia Marisguia.’ Sorriu.
‘Prazer!’ Ele ofereceu a mão para ela apertar achando o
apelido (que ela não mencionou e que portanto ele não usaria porque tinha
ouvido dos empregados do café) divertido.
‘Encantada!’ Respondeu gaiata debochando dos modos
antiquados.
O telefone tocou e ela suspirou.
‘Problemas?’ Ele perguntou entre bicadas no café quente.
‘Talvez, é minha chefe.’ Ela apontou para o aparelho, mas
não atendeu. Ele levantou as sobrancelhas abocanhando metade do grande pão de
queijo. ‘Vai reclamar que não estou na minha sala e dando muita atenção a
cliente. Se não dou o suficiente, ela reclama também. Vai entender...’ Deu de
ombros novamente.
‘Vai ter que voltar correndo?’ Perguntou quando engoliu. ‘É
longe?’
‘Assembleia, 11.’
Ele balançou a cabeça. Torre de escritórios tradicional em
frente ao Fórum, edifício renomado no padrão do Nether Field onde estavam.
‘Tenho que voltar, mas vou devagar. Saltos.’ Indicou os pés
dentro de sapatos alinhados de salto fino altíssimo e apoiou o peso nos braços
cruzados sobre a mesa.
‘Precisa de escolta?’
‘Acabou de vir do Fórum!’ Ela riu. ‘Parece que sempre tem um
herói de plantão aqui nesse prédio.’
‘Está falando do cara que te salvou durante a obra?’
Arregalou os olhos cor de mel e inclinou o rosto para o
lado.
‘Seu herói é meu sócio.’ Ele disse engolindo a segunda
metade do pão de queijo.
‘Não precisava de
ajuda, na verdade ele me ajudou a torcer o tornozelo.’ Ela corou e prendeu os
lábios.
Maurício segurou o riso e o sorriso. ‘Ele adorou a baboseira de café que lhe serviu semana
passada.’
‘Que alívio!’ Ela debochou e ele finalmente riu. ‘Não conta
do que te falei ainda agora!’
‘Da baboseira de café ou do tornozelo?’ Ele sacudiu a cabeça
negativamente tentando manter o rosto sóbrio. ‘Se fosse minha cliente, não
poderia expor seus esquemas por confidencialidade.’
‘Advogado, certo?’
‘Fórum.’ Ele levantou as sobrancelhas.
‘Poderia ser perito de qualquer natureza.’ Ela argumentou
levantando uma sobrancelha desenhada. ‘Tabelião. Réu.’
‘Verdade.’ Se deu por vencido. ‘Advogado.’ Tirou a carteira
do bolso e lhe estendeu um cartão de visitas.
Ela se inclinou para trás recostando as costas na cadeira. ‘Também.’
Disse distraída em analisar o cartão dele.
‘Verdade?’
Reciprocou o cartão de visitas tirando da carteira de grife
caríssima ao lado de seu telefone. ‘Nunca advoguei. Dei minha carteira da Ordem
para meu pai de presente, com laço e tudo.’ Ele riu. ‘Mas não preciso de
confidencialidade por que não é um esquema.’ Colocou o cartão antiquado entre
os cartões de crédito e fechou o zíper vermelho da carteira. ‘Não quero
confundir ou enganar seu sócio. Só acho que ele faz muito esforço de graça.’
‘Nenhum apelo para você?’ Ele perguntou a olhando de lado.
Sacudiu a cabeça com pena e novamente se apoiou nos braços
sobre a mesa.
‘Melhor não falar mesmo. Rejeição de uma mulher bonita assim
é emasculante.’
Ela riu com gosto e o telefone tocou de novo. ‘Lá vou eu...’
Suspirou e juntou seus papeis colocando a carteira por cima.
‘Não, espera.’ Ele levantou a mão e chamou a garçonete. Quando
a moça chegou perto, reclamou do café e pediu um formulário para fazê-lo por
escrito. A moça tirou do bolso do avental decorado, ele escreveu meia dúzia de
palavras com a arrogante caneta tinteiro importada mal rabiscando três linhas
da reclamação. A moça pegou e afastou-se. ‘Pronto! Agora tem que ficar para atender
a outro cliente.’
Ela grunhiu e ele riu baixinho. ‘Agora terei uma burocracia
danada para resolver. Aqui.’ Estendeu um formulário. ‘Vai começando para me
poupar tempo.’
Correu os olhos pelo formulário, frente e verso. ‘Tudo isso?’
Deu de ombros. ‘Chefe chata mesmo! Adora burocracia, é cria
dos anos de ferro. Sabe? Ainda vê a necessidade de auxiliar para o vice-carimbador.’ Suspirou com tristeza. ‘Somos
praticamente uma repartição pública!’
Ele riu encantado.
O telefone dela tremeu e apareceu a foto de um livro. Quase pornográfica,
a foto mostrava um dorso de homem nu com braços femininos entrelaçando por trás
e mergulhando no cós rebaixado da calça jeans. ‘Minha companhia para o final de
semana.’ Ela comentou quando viu que os olhos dele também tinham ido para o
telefone dela.
‘O homem da foto?’
‘Seria bom...’ Antonia disse com pena de si mesma. ‘O livro!’
Corou vendo a expressão no rosto dele. ‘A previsão diz que teremos tempo
fechado, então nada de praia. Shopping com minhas irmãs, sítio da família ou
minha casa. Ganhei uma luminária de piso bacana e uma poltrona de couro, na
verdade era do meu avô e minha irmã mandou forrar. Um livro pareceu ótima opção
e pedi indicação a uma amiga do mercado editorial.’
‘É, parece.’
Sorriso apertado, incerto, inseguro.
Reciprocado.
‘Você?’
‘Bicicleta na Lagoa depois do remo.’ Manteve o sorriso
apertado e fraco.
‘Mesmo com tempo ruim?’
Deu de ombros. ‘Gosto, moro perto.’
‘Ar livre é sempre bom.’ Ela balançou a cabeça, o cabelo
dançando ao redor do rosto. ‘Talvez leve meu livro para a varanda se ele
merecer, se for bom o suficiente.’
Maurício inclinou a cabeça e a observou por alguns segundos.
‘Fiquei curioso.’
‘Mommy porn. Nunca
achei que homens lessem esse tipo de estórias, mas te falo se gostei na semana
que vem.’ Disse e se chutou por dar em cima do cara sem querer. Foi reflexo. Estava
indo tão bem, flertando com classe, ia dizer ‘não’ se ele a chamasse para
sair... Mas ele não ia. E acebolado
não era para se investir mesmo. Além do mais ela estava em condicional ainda.
‘Na verdade...’ Maurício segurou a xícara quase vazia por
cima com os quatro dedos da mão direita.
‘Pouco se importa com pornografia para mulheres?’ Antonia sorriu.
‘Nunca me interessei, mas se me disser que é bom, tento ler.’
Sorriu achando o máximo.
‘Na verdade, ia perguntar se pretende comer enquanto se
dedica ao playgirl aí.’ Mexeu as
sobrancelhas com ironia. Ela inclinou a cabeça para o lado esperando-o se
explicar. ‘Se pretender parar de ler por um tempo, te convido para jantar.’ Disse
e levou a xícara à boca, cotovelos apoiados na mesa, olhos atentos aos dela.
Antonia piscou e prendeu os lábios.
Cebola. Duas para um único bife de fígado. Picadas bem
finas.
Talvez molho Shoyu a julgar pela caneta tinteiro.
Café com leite.
Gravatinha.
Condicional.
Cinco boas razões para dizer não. Seis se contar as duas
cebolas. Mas disse sim e ele sorriu muito charmoso. Teria pego o cartão que o
tinha dado, riscado ‘Maria Antonia’ e escreveria ‘Toni’ se ele não tivesse
guardado imediatamente após ela o entregar. Tinha posto no bolso interno do paletó,
no peito. Depois deu aquelas batidinhas por cima para ter certeza que estava
seguro.
Pensando bem, deveria ser fígado picadinho. Iscas sob uma
montanha de cebola, pensou com desdém.
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Quem não gosta de café?
Quem não sonha em se apaixonar assim, sem querer, em plena segunda-feira?
É a vida deles (re)começando...
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