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Capítulo 1
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‘Como foi seu fim de
semana, Sr. Bingley?’ Geralmente desconfortável e ansioso perto de mauricinhos, William Collins forçava-se
a ser atencioso com esses dois. Charles Bingley era amigo de Fitzwilliam Darcy e
este era sobrinho de sua chefe e orientadora no Mestrado, Catherine de Bourgh. Uma
performance obsequiosa era mais um
tijolinho na estrada dourada que o levaria a seu objetivo maior.
‘Collins!’ Bingley exclamou,
a princípio surpreendido pela inesperada proximidade do funcionário do Rosier, cumprimentou-o
com um tapinha nas costas. ‘Foi fantástico!’ Ele riu alto chamando a atenção
das outras pessoas no refinado saguão do Rosier
D’Amsterdam Hotel. ‘Tivemos
companhia da maior qualidade.’ Ele sorriu de orelha a orelha.
Charles Bingley
poderia ser modelo de anúncio de pasta de dentes, não só pelo seu sorriso largo,
mas por sua ótima aparência. Um jovem bonito, vinte e poucos anos, cabelo
castanho claro que era meticulosamente mantido desalinhado no estilo bed hair, amável e muito educado. Bingley
era o tipo de cara que era bem vindo em qualquer grupo.
Ao contrário do seu brother “Will Darcy” que, entretido com
seu smartfone, levantou os olhos da pequenina tela para dar um pequeno riso de
desdém.
Igualmente bonito, Fitzwilliam Darcy era um homem de poucas
palavras. Vinte e mais anos, cabelo escuro, corpo em forma e torneado, olhos
castanhos-mel; ele se arrumava de forma impecável raramente se rendendo a
modismos e sempre seguindo o estilo mauricinho
rico que o identificava. O horroroso sobrenome de sua mãe herdado como nome
de batismo, “Fitzwilliam”, raramente era utilizado; Darcy era conhecido como “Will”.
Muito alto e esbelto, postura perfeita devida à sua predileção por natação, ele
poderia ser tachado de enfadonho não fosse sua atual situação. Órfão e herdeiro
de uma considerável fortuna, sua única chance de curtir a vida livremente era
nesse momento: recém-formado e decidido a aproveitar seus vinte anos, ele fugia
de toda e qualquer responsabilidade.
Bingley riu. ‘Admite, Darce! Foi um ótimo fim de semana, os
melhores dias em Amsterdam que eu já tive!’
‘Isso é fabuloso, Sr. Bingley!’
Collins tinha uma visão clara do seu futuro. Ele terminaria o Mestrado com
mérito e Lady Catherine o premiaria
com a tão sonhada promoção a gerente sênior, dando-lhe a responsabilidade de
inaugurar os famosos Hotéis Rosier no
promissor Brasil. Ele seria o regente de um sucesso absoluto, as unidades
Brasileiras do Hotel honrariam a fama da rede e, por conseguinte, ele seria um
famoso businessman. Já estava tudo
alinhavado (em sua cabeça) e então ele precisava ser muito atencioso com o
amigo do sobrinho de sua chefe. Na verdade, o amigo simpático era o único meio
que Collins tinha para se aproximar do esnobe e arisco Will Darcy que também era herdeiro do grupo. ‘Fico muito contente
em saber que sua estadia no Rosier
D’Amsterdam esteja sendo deveras aprazível. Tenho trabalhado com afinco em
algumas melhorias-‘
‘Não tem nada a ver
com o hotel, Collins.’ Darcy disse, olhos atentos à tela do seu telefone.
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imgfave |
‘Perdão, senhor?’ Collins
perguntou confuso.
‘Ele conheceu outro anjo.’ Darcy tripudiou da animação do
amigo.
‘E não fui só eu!...’ Bingley
implicou num sorriso.
Finalmente Darcy
desviou a atenção do seu celular. ‘Certo...’ Ele franziu as sobrancelhas. ‘Mas
eu não acho que Caroline vai gostar de saber que você está falando pelas costas.’
Bingley riu da
resposta juvenil do seu amigo. ‘Qual é, Darce?
Todos vimos as fagulhas que você trocou com aquela Brasileira gostosinha... Lizzy.’
‘Você viu o que você
quis ver porque acredita estar apaixonado pela outra.’ Darcy respondeu e
novamente voltou ao seu celular.
‘Jane...’ Bingley
sussurrou sorrindo.
Collins tossiu
limpando a garganta. ‘Ah! Alguma semelhança com a Rainha dos Nove Dias? Longos
cabelos ruivos, pele alva?...’ Ele sorriu mecanicamente.
Darcy levantou os
olhos e deu outra pequena bufada de desdém sacudindo a cabeça.
Bingley franziu a
testa como se Collins tivesse falado javanês. ‘Acertou no cabelo longo, cara,
mas o resto...’ Como seu amigo, ele sacudiu a cabeça. A lembrança da linda
garota lhe fez sorrir e equilibrando-se nos calcanhares, continuou. ‘Ela é uma
Brasileira encantadora, cabelos castanho claros, olhar doce, voz suave...
Linda! Jane!...’
Collins continuou
sorrindo porque Bingley estava sorrindo, era contagiante.
‘A gente encontrou com
elas no Sábado e acabamos passando a noite em um bar lá na... Aquela praça que
está sempre tão cheia... Aquela cheia de ombrelones e-‘
‘Leidseplein.’
Darcy resmungou.
‘Leidseplein!’
Bingley bateu palma enfaticamente.
‘Foi o máximo, as Brasileiras tinham um grupo grande, eles conversam rindo -
cara, eles falam muito rápido em Português! E as garotas têm família na
Inglaterra, então falam Inglês bem fluente e algumas das pessoas do grupo já
moram aqui. Foi ótimo!’
Collins manteve seu
sorriso de plástico congelado tentando absorver todos os detalhes enquanto Bingley
continuava animadamente falando num golpe só.
‘Daí a gente assistiu
o ‘Concertos a céu aberto’ no parque ontem à noite. Nós sentamos em mantas na
grama, tomamos cerveja e comemos croquetes. Meu amigo azedo até comeu torta de
maçã!’ Bingley deu tapinhas nas costas de Darcy.
‘Eu estava tentando
ser gentil.’
Bingley riu. ‘Você
estava era tentando flertar, Darce! Bem tosco, por sinal.’ Ele riu mais alto.
‘Cala a boca, Bingley.’
Darcy retrucou assim que seu telefone bipou.
‘Aquelas garotas, as
Brasileiras, elas têm uma família enorme e estavam todos no parque... Qual era
o nome do parque, Darce?’ Bingley perguntou.
‘Voldenpark.’ Darcy e Collins falaram juntos, um sem paciência e o
outro forçando interesse.
‘Isso. Que lugar
bonito... Mas nada se compara a ela, meu anjo. Pele bronzeada, cabelos longos...’
Bingley suspirou.
E Darcy sacudiu a
cabeça. Para ele, as coisas tinham sido diferentes do ‘copo meio cheio’ de seu
amigo. Foi agradável, mas nem de perto tão maravilhoso. As garotas eram
educadas e falavam sua língua bastante bem – quando queriam. Elas eram
agradáveis e bonitas. Não, elas eram gatas e quando flertavam sabiam muito bem
o que estavam fazendo. Em pequenas doses, talvez...
‘Brasileiras!...’ Collins sorriu para sua boa
sorte. Ele poderia (e até gostaria) fofocar sobre a dolce vita desses playboys mauricinhos, mas tinha que tomar cuidado
para não dar um fora; havia muito em jogo. Brasil... Só podia ser um sinal. Ele
tinha planos para reinar no país em alguns anos, ele até já tinha uma
estagiária Brasileira! ‘Garotas Brasileiras são realmente encantadoras, todos
dizem. Digo, eu sei que são. Tenho uma estagiária Brasileira para mim aqui no
hotel.’ Ele disse.
Darcy levantou os
olhos e uma sobrancelha, Bingley levantou as duas.
Collins corou
violentamente. ‘Não!’ Ele disse quase em um grito. ‘Não... Vocês entenderam-‘
Ele gaguejou. ‘Digo, sim mas... Não, senhores. Eu só quis dizer que-‘
‘Collins, pára com
essa bobeira de ‘senhor’. Temos quase a mesma idade, cara.’ Bingley sorriu.
‘Mesmo concordando que as garotas Brasileiras são encantadoras, eu não acho que
namorar uma estagiária seja correto, sabe?...’ Ele falou em um sorrisinho.
Darcy bufou e retornou
ao seu celular.
‘Não senhor – Bingley.
Senhor.’ Collins sentiu sua testa molhada de suor, que bobagem ele havia dito!
Agora o esnobe playboy ia achar que ele era um safado tarado por estagiárias. E
se ele comentasse com a tia? ‘Quero dizer que Charlotte é uma jovem muito inteligente, muito esperta que tem
ajudado bastante e-‘
Bingley mostrou as
palmas das mãos para Collins. ‘Espera, Charlotte?’
Darcy novamente
sacudiu a cabeça. “Cacete, Bingley. Sutil
como um hipopótamo.”
‘Sim, senhor.’ Collins
disse, testa suarenta e tudo. ‘Bingley.’ Ele se corrigiu. ‘Charlotte Lucas,
senhor.’ Ele completou.
‘Charlotte! O mesmo
nome de uma das Brasileiras que conhecemos. Não pode ser coincidência!’ Bingley
acotovelou o amigo. ‘Ouviu isso, Darce?’
Darcy não se deu ao
trabalho de reagir.
‘Ela está aqui, Collins?’
Charles perguntou tão ansiosamente que quase se entregou.
‘Sim!’ Ele disse
enfaticamente. ‘Manhã de Segunda-feira toda a minha equipe está trabalhando com
afinco e-‘ Collins engrenou seu discurso institucional e por sorte viu a magra,
alta e loura Charlotte passar pela portaria carregando alguns fichários e
conversando com o Maître do restaurante. ‘Ali está ela.’ Ele respirou aliviado
e chamou seu nome, ansiando por uma forma de escapar do constrangimento.
Charlotte parou onde
estava, olhou para seu chefe e após gastar mais alguns instantes conversando
com o Maître, foi ao encontro de Collins. Ao se aproximar, ela reconheceu os
dois caras que colaram nas suas amigas e sorriu tentando achar graça em mais
uma coincidência.
‘Bom dia.’ Ela disse
num sorriso de lábios fechados. Charlotte era a filha mais velha de um adido
consular que carregou sua família ao redor do mundo por anos até ser transferido
para o Rio de Janeiro. Pulando de cidade em cidade sem passar tempo suficiente
para criar raízes, quando chegou à pequena cidade de Petrópolis no interior do
Rio de Janeiro em sua adolescência, Charlotte mal se lembrava de Londres onde havia
nascido. Seus pais tinham feito questão
que ela e seus irmãos estudassem em escolas Britânicas pelos três continentes por
onde haviam passado e em Petrópolis não foi diferente, mas Charlotte logo
descobriu que adoraria ter uma vida carioca e foi isso que solidificou sua
amizade com a vizinha Lizzy Bennett que tinha o mesmo desejo.
E era por isso que ela
achava uma chatice esses caras colados nelas durante o pouco tempo que Charlotte
tinha com sua amiga querida e de quem sentia saudades já que agora ela não
morava mais com os pais. Por pura falta
de sorte, seu chefe direto os estava cobrindo de atenções forçando-a a caprichar
na simpatia profissional.
‘Charlotte!’ Bingley, em
um esforço de cavalheirismo, sorriu trazendo a mão dela aos lábios para um
beijo rápido. ‘Que bom te ver! Como vai?’
Ela conteve o riso lembrando-se
de Lizzy resmungando ‘Moçoilos formais.
Tão agradabilíssimo que me sinto no tempo de vovó mocinha’. ‘Bem, Charles. Tanto
quanto há...’ Charlotte checou seu relógio. ‘Cinco horas atrás!’
Ele riu. ‘E você
trabalha aqui? Que coincidência!’
‘Sim, lembra do
estágio internacional que Lizzy falou?’ Charlotte perguntou. Curiosamente, só
então o indiferente Darcy tirou os olhos do telefone em suas mãos.
‘Charlotte.’ Ele
meneou a cabeça.
‘Will.’ Ela respondeu
no mesmo tom. ‘Ocupado?’ Ela sorriu e apontou para o celular.
Darcy corou
discretamente. ‘Sim, desculpe. Negócios de família.’ Não havia nenhuma (boa)
desculpa para sua falta de educação em não a cumprimentar assim que ela se
aproximou deles, ele simplesmente queria ser um discreto e invisível ouvinte da
conversa.
Charlotte assentiu com
a cabeça e, muito incomodado, Collins trocou seu peso de um pé para o outro.
‘Huh... Srta. Lucas,
Sr. Darcy provavelmente tem negócios importantíssimos a tratar.’ Collins tentou
engatar seu discurso rebuscado. ‘Ele é sobrinho da grande Lady Catherine-’
‘Mesmo? Então ele pode
também ser meu patrão. O melhor que tenho a fazer é me ocupar! ’ Charlotte fez
graça.
‘Absolutamente. ’ Darcy
disse como se desculpando. ‘Sou um hóspede como outro qualquer. ’
‘Somos!’ Bingley
disse. ‘E você vai trabalhar o dia todo, Charlotte?’
‘Sim. ’ Ela respondeu
levantando as sobrancelhas e percebeu Collins ter um espasmo ao seu lado.
‘Quero dizer... Eu pensei...
’ Bingley sorriu sem jeito. ‘Bem... Tentei imaginar o que as charmosas
Brasileiras teriam planejado para o dia, se gostariam de companhia...’ Ele coçou
o pescoço.
‘Ah... Você quer dizer
Jane!’ Charlotte disse em um risinho. ‘E Lizzy.’ Ela esperou para ver se Darcy
reagiria ao nome da amiga e o viu endireitar-se. ‘Elas vão passar o dia com a
família. Só temos planos para a noite. ’ Ela viu a reação de Bingley mudar de
triste para esperançosa em segundos e decidiu jogar mais uma isca para, quem
sabe, pegar dois peixes de uma vez. ‘Na verdade, Lizzy está vindo aí. Já, já
ela chega para pegar os convites da festa de Sábado. O baile beneficente anual
do hotel, sabe? Ela mesma pode te falar dos planos para hoje... ’
Imediatamente Darcy
olhou na direção da porta do hotel e corou de novo.
“Na mosca!” Charlotte, em um sorrisinho de lado, pensou vitoriosa. “Viu, Lizzy bobona?”
‘Massa! Quando ela
vem?’ Charles quase bateu palmas em seu entusiasmo.
‘Ela acabou de mandar
um torpedo dizendo que passaria por aqui no final da corrida.’ Charlotte disse
e olhou para o seu próprio celular que estava equilibrado sobre os fichários
que ela carregava. ‘Vocês vão ficar por aqui pelo saguão?’
‘Estamos esperando
minhas irmãs descerem.’ Charles respondeu.
‘Beleza. Quando ela
chegar, eu falo com vocês.’ Charlotte sorriu educadamente, Charles de orelha a
orelha, Collins piscou tentando decidir se a amizade de sua estagiária com os
playboys era bom para ele e Darcy prendeu os olhos no seu celular.
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fbclabelle |
As diversas nuances de
paciência envolvidas no ato de esperar por alguém ou alguma coisa acontecer
nunca agradaram Will Darcy. Ele nunca gostou de esperar até a manhã de Natal
para abrir os presentes arrumados sob a árvore, ou o Domingo de Páscoa para
comer ovos de chocolate, nem a eternidade que uma garota leva para se aprontar.
No entanto, por educação, ali estava ele: vinte e três minutos esperando pelas
irmãs Bingley. Se é que elas viriam.
Todos haviam esticado
a noite anterior e as mulheres provavelmente dormiriam até mais tarde, mas Bingley
tinha insistido em convidá-las para passear pela cidade mesmo sabendo que elas
precisariam de muitos minutos para se aprontar pela manhã. Pelo menos a espera
não foi uma total perda de tempo já que Darcy pôde acalmar sua preocupação
fraternal em preciosos minutos online com Georgie e, quem sabe até poderia ver
a gata Brasileira de novo. Ela com
certeza era atraente - fora de seus padrões, mas atraente.
‘Fora dos padrões’ era
o lema dele na atualidade - ao menos Darcy se esforçava para viver a vida bem
longe de seus padrões convencionais. Ele tinha vinte e seis e estava determinado
a viver livre de regras que o atassem.
Algumas porém eram inevitáveis,
como a chatice do Baile beneficente do Rosier em alguns dias. Pelo menos ele
poderia tirar vantagem da situação. Will Darcy e Charles Bingley tinham chegado
à Amsterdam no início da noite de Sexta para aproveitar o final de semana e o
Festival de Música Indie que tomava conta da cidade.
Não que tivessem
qualquer outro compromisso. Eles que sempre foram bons filhos, bons alunos,
bons irmãos e que já tinham completado suas Pós-graduações, poderiam curtir uma
folga - folga essa que já durava um ano e que não tinha previsão de acabar. O problema
era o peso morto de Bingley (e que Darcy fazia força para aturar): suas irmãs Caroline
e a recém-casada Louisa com seu marido.
Vinte e cinco minutos.
Fora dos padrões não era sinônimo de estupidez.
‘Bingley, isso já é
demais. Não vou perder meu dia preso em saguão de hotel.’ Darcy resmungou e
levantou da confortável poltrona. ‘Vou sair e depois a gente se encontra.’
‘É...’ Charles disse
miseravelmente. ‘Acho que tem razão.’ Mas assim que ele se levantou, o elevador
abriu e Caroline apareceu trazendo consigo seu perfume tão pronunciado que
poderia ser outra pessoa.
‘Bom dia!’ Ela disse.
‘Bom dia.’ Darcy
resmungou de volta e vestiu seu casaco.
‘Bom dia, Carol.
Estamos há meia hora esperando por você!’ Bingley reclamou e deu-lhe um beijo
na bochecha. ‘Quando te liguei você disse que já estava vindo.’
‘E vim!’ Ela sorriu.
‘Vou só tomar uma xícara de chá, comer uma fatia de queijo branco e podemos ir.
Rapidinho!’
‘Não se apresse, Caroline.’
Darcy disse franzindo a testa. ‘Me ligue quando finalmente sair, Bingley.’
‘Espera, você vai sem
a gente?’ Caroline perguntou surpresa.
‘Nós estamos saindo sem você, Carol.’ Bingley respondeu por Darcy.
‘Espere por Louisa.’
‘Ela não vem.’ Caroline
fez bico.
‘Ela é recém-casada, Carol.’
Bingley prendeu os lábios.
‘Bingley, até mais
tarde. Caroline.’ Darcy a cumprimentou com um aceno, decidido a se livrar da
inútil conversa entre irmãos.
Caroline se
desesperou. ‘Mas Charles, você tem que me esperar. Só estou aqui por sua culpa,
você me acordou!’ Ela insistiu.
‘Carol, meia hora-‘
‘Charles!...’
Darcy sacudiu a
cabeça, deu um passo na direção da porta e congelou.
‘Darce, podemos
esperar mais cinco minutinhos?’ Bingley perguntou.
‘Claro.’ Darcy
balbuciou.
‘Caroline já gastou sua paciência?’ Bingley
zombou rindo. ‘Ela ainda nem começou a choramingar-‘ Ele olhou para onde os
olhos do amigo estavam atentos. ‘Lizzy!’
Elizabeth Bennett
estava conversando animadamente com o porteiro do hotel e se surpreendeu quando
ouviu seu nome. Os dois olharam para dentro do saguão e apertando os olhos ela
precisou de alguns momentos para reconhecer quem a havia chamado. ‘Charles?...’
Mais ou menos uma hora
antes, Elizabeth teve que lutar contra sua preguiça deixando sua consciência pesada
a convencer a sair para correr. A noite anterior tinha sido regada a cerveja e
croquetes fritos que colocavam sua cintura em sério risco, apesar do tanto que
ela dançou e se divertiu.
Não que ‘Lizzy’, como era conhecida pela família
e amigos, tivesse algum problema com sua silhueta petite. Apesar do corpo feminino aos vinte anos absorver tais
ataques com desenvoltura, ela era bastante cuidadosa com seu peso e shape. Sua mãe sempre foi obstinada em
manter a forma física e infinitamente repetia seu mantra para as cinco filhas: ‘Uma
mocinha deve sempre sair da mesa desejando mais uma garfada.’ Lizzy
especialmente ouvia uma ácida variação: ‘Lizzy,
pare de comer imediatamente! Você tem os quadris da Vovó Bennett; pare, pare,
pare!’
De alguma forma esses
comentários sempre a fizeram se sentir culpada por herdar traços da querida avó,
mesmo não conseguindo ver-se tão parecida com a mãe de seu pai. Lizzy era meio
Brasileira – meio Britânica e sua pele clara era mantida cuidadosamente bronzeada
por constante exposição ao sol da praia de Ipanema; cabelos castanho-escuros
que por causa de tanto sol e das mechas acobreadas pareciam bem mais claros do
que eram; olhos escuros que dançavam quando ela fazia graça de alguém, dava
suas famosas espetadas ou perdia a paciência. Também Lizzy tinha dois atributos
totalmente Brasileiros: cintura fina e belos glúteos fazendo dela uma perfeita
‘ninfeta’, a bonitinha irresistível. Já sua Vovó Bennett tinha pele claríssima,
nariz fino, cabelo claro e absolutamente nenhuma cintura para realçar seus
quadris largos.
Com as palavras de sua
mãe misturadas à ressaca, Lizzy se arrastou para fora da cama, bagunçou ainda
mais sua mala até achar short, camiseta, casaco de corrida – tudo preto- e
quaisquer meias que fossem possíveis. Seus tênis de corrida estavam tão
encaixados dentro das botas de cano alto que, na tentativa de retirá-los, ela
quase acordou sua irmã Jane com quem dividia o quarto. O xingamento foi
inevitável e com o esforço, de acocorada ela caiu de costas. “Você vai ter que aprender a fazer malas, Lizzard”
ela se advertiu usando o apelido irreverente. A sonolência lhe permitiu
ficar feliz com a singeleza de encontrar uma liga de cabelo que ela tinha
lembrado de esconder dentro dos tênis. Pelo menos isso estava fácil.
Foram precisos uns
quinze minutos no banheiro – pelo menos cinco perdidos cochilando sentada no
vaso – até que ela saísse do hotel para correr na manhã de brisa fria. Maio no
Rio de Janeiro tinha pelo menos 34°C e praia todo final de semana, já Maio em
Amsterdam tinha 8°C, tempo nublado, frio, brisa gelada e dias cinzentos. Mas Lizzy
estava adorando cada minuto na Holanda, imensamente orgulhosa de si mesma. Seu
blog a tinha trazido, seu querido, antenado, irreverente blog.
Determinada, ela correu
do simpático bairro Jordaan até o
hotel de luxo onde Charlotte trabalhava seguindo o primeiro canal que encontrou.
Era extremamente agradável ver a cidade acordar – não eram nem nove da manhã –
as casas-barco que realmente abrigavam famílias, as casinhas geminadas que
pareciam saídas de um conto de fadas, as pessoas bonitas... Sim, um lindo
cenário para uma boa corrida. Só seria melhor se ela tivesse se lembrado de trazer
leggings ao invés de shorts...
Uma hora correndo
deixou Lizzy sem fôlego, com fogo nas bochechas e vento nos cabelos que
provavelmente pareciam com as cobrinhas de Medusa presas num rabo de cavalo e
finalmente ela avistou o majestoso hotel com seu adorável bar na varanda.
Gradativamente ela reduziu o ritmo de suas passadas até chegar à porta do hotel
se sentindo muito bem, serotonina solta em suas veias potencializando a
sensação prazerosa de dever cumprido.
‘Bom dia, senhorita!’
Jamal, o porteiro Sul-africano, disse num impressionante sorriso branco. ‘Os
jovens sempre têm pressa...’
‘Oi!’ Lizzy riu. ‘Tudo
bem contigo, senhor?’ Era impossível não bater papo com o extremamente amável
porteiro que já conhecia Lizzy pois ela já tinha visitado Charlotte no hotel diversas
vezes desde que chegou à cidade alguns dias antes.
‘Tudo em cima!’ Ele
respondeu. ‘E com a senhorita?’
‘Tudo beleza, mais
magrinha espero!’ Os dois riram. ‘Charlotte?’
‘Trabalhando. Acabei
de vê-la passar carregando um monte de documentos, poucos minutos atrás. Por
favor.’ Ele gesticulou amplamente em direção ao saguão.
‘Ih, não... Eu não
poderia entrar no saguão principal assim...’ Lizzy torceu o nariz apontando
para sua roupa suada, o casaco grudado no corpo.
Antes que o porteiro
pudesse argumentar que ela não estava diferente dos hóspedes que chegavam de
uma corrida, eles ouviram alguém chamar o seu nome.
‘Charles?...’ Lizzy
franziu a testa. O cara que estava caído pela Jane… E sua entourage intragável. Ela suspirou.
‘Lizzy!’ Bingley
levantou os braços sorrindo. ‘Que maravilha!’
“Ele está curtindo com a minha cara?” Ela pensou. E o Darcy Prego estava franzindo a testa para ela... Mais uma vez Lizzy
quis mostrar a língua para ele, mas resistiu. Acenando para o porteiro, ela entrou
no saguão em passos lentos. ‘Pois é, correndo atrás do estrago daquela
cervejada da noite passada...’ Ela disse e prendeu os lábios.
‘Eu sinceramente não
vejo onde a cerveja pode estar atrapalhando você, está uma gata!’ Bingley disse
espiando as suas pernas torneadas.
Lizzy sorriu. ‘Então… caiu
da cama também...’
‘Sim. Darce quer
visitar o Van Gogh antes que a manada de
turistas tome conta do museu e...’ Bingley deu de ombros.
Darcy corou de raiva. “Cala boca, Bingley.” Ele pensou.
Lizzy concordou com a
cabeça pensando que tamanha babaquice só poderia vir dele mesmo e levantou a
cabeça para olhar Darcy no rosto. Ele meneou a cabeça como cumprimento e tentou
um pequeno sorriso de lado que ela ignorou desviando os olhos para a recepção.
‘Então, eu vim aqui
rapidinho só para falar com a Charlotte e já estou de saída. Nem vou atrapalhar
seus planos.’ Ela disse procurando uma chance de fugir desses caras. Depois de
uma corrida tão agradável, aturar esses pregos
era tudo que ela não precisava.
Caroline pigarreou
chamando a atenção. ‘Vou tomar café da manhã e encontro vocês em alguns
minutos. Eliza.’ Ela disse
formalmente e partiu na direção do restaurante do hotel.
‘Charlotte disse que
você estava vindo, dá para acreditar que ela trabalha aqui? Que coincidência,
bem aqui no hotel da família de Dar-‘ Bingley calou-se ao sentir uma cotovelada
em suas costelas. A careta que direcionou a Darcy foi correspondida com um
discreto aceno negativo de cabeça.
Elizabeth percebeu a
troca entre eles, mas apesar de achar estranho, não teve interesse suficiente
para considerar o que significava. Fazendo contato visual com o recepcionista gatinho,
ela sorriu e sussurrou perguntando por Charlotte.
Darcy, sempre atento a
ela, franziu ainda mais a testa. “O
recepcionista? Será que se conhecem?”
‘Errr, Lizzy...’ Bingley disse bagunçando seu já desalinhado cabelo.
‘Sim?’ Elizabeth
respondeu olhando do recepcionista para ele.
‘Jane está com você?’
Ele perguntou.
Elizabeth riu. ‘Jane,
correndo? Nunca!’
Sua risada rouca era
tão gostosa que Darcy se pegou sorrindo por osmose.
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‘Jane preferiria ser
oferecida em sacrifício a um vulcão do que correr por quinze minutos. Qualquer
exercício mais energético que ioga é proibido em Janópolis!’
Bingley riu com Lizzy.
‘E o que as meninas Brasileiras têm planejado para esta manhã de Segunda-feira?’
Os Bennetts tinham
planos de passear em família por dois dias visitando as fazendas de flores nos
arredores da cidade e apesar de sutilmente excluí-los, Lizzy não conseguiu se
livrar de encontrá-los no Keukenhof no
dia seguinte, um magnífico programa
de índio. Charlotte resgatou a amiga chegando com Caroline que ainda olhava de
rabo de olho para Lizzy, seja lá por que. Após mais alguma conversa jogada
fora, o grupo de Ingleses partiu e as Brasileiras puderam conversar com
privacidade.
‘Ah, Char... Você é
tão maléfica! Por que não me disse que esses pregos estavam hospedados aqui?’ Lizzy
reclamou. ‘Eu teria pego os convites para o baile outro dia, em qualquer outro
lugar que nos encontrássemos...’
‘Eu não sabia também, Bennett. Eles não disseram nada antes...
Sabe, tenho quase certeza que você mencionou o nome desse hotel quando
conversamos com eles...’ Charlotte disse pensativa. ‘Enfim, descobri uma coisa!’
Elizabeth levantou as
sobrancelhas.
‘Darcy, ele é um dos
donos disso aqui!’
‘O Prego? Não!... Do
Rosier?’
Charlotte assentiu com
a cabeça e Elizabeth assoviou.
‘Ricaço. O outro deve
ser também.’ Charlotte disse seriamente. ‘E até parece que eles estão grudados
na gente!’
‘Exactaling!’ Elizabeth imitou o gato safado de Alice no País das
Maravilhas. ‘Dono! Só daqui ou de todos?’
‘Da rede. Sobrinho da
dona.’
‘Lá se vai meu
glamour...’ Elizabeth fez bico.
‘Ah, tá!’ Charlotte
zombou. ‘Devolve o dinheiro que o hotel investiu no seu blog.’
Elizabeth sacudiu a
cabeça enfaticamente em negativa e sorriu.
‘Ele tem participação,
na verdade. A tia dele é majoritária.’ Charlotte deu de ombros. ‘Aqui Srta.
Reclamona, cinco convites para o baile.’ Charlotte entregou a Lizzy um elegante
envelope de papel grosso com um sorriso. ‘Foi tudo que consegui.’
‘Minha mãe vai pirar!
Muito obrigadinha, amigucha!’ Lizzy disse e tentou abraçar Charlotte que deu um
passo para trás.
‘Suadona!’ Ela disse
franzindo o nariz.
‘Foi mal.’ Elizabeth corou
discretamente.
‘Eu sei de alguém que
ia querer receber um abraço suado vindo de você...’ Charlotte disse em um
sugestivo sorriso maroto.
Elizabeth revirou os
olhos. ‘Por obséquio, diga-me quem seria. A mulher esnobe que não consegue
encontrar coragem para ficar com a Isabella ou o Prego que está sempre com cara
de quem chupou limão?’
Charlotte sorriu. ‘Caroline
não está de olho em você, oh irresistível
Eliza.’
‘Eu odeio isso, é como
a tia Philipa me chama... Éca!’ Elizabeth fingiu um calafrio.
‘É mesmo!’ Charlotte
riu da amiga. ‘Mas eu estava falando de Will Darcy, e você sabe! Nem vem!’ Ela
levantou o dedo indicador para Elizabeth. ‘Nem tenta desmentir. Ele está sempre
de olho em você.’
‘Está! Que prego!
Sempre procurando alguma coisa errada em mim… Acho que ele está esperando
quando vou sacar a cobra que devo carregar no bolso já que sou uma selvagem das
florestas Amazônicas. Ooh, uma anaconda!’ Ela deu uma risada maléfica e a amiga
a acompanhou. ‘Senhor Naftalina é tão otário, nem desconfia que seja uma lagartixa!’
Ela completou em um risinho.
‘Lizzy, você é de
matar! Senti tanto sua falta nesses últimos meses.’ Charlotte disse mas
resistiu a abraçar a amiga de adolescência. ‘Você vai me encontrar em Paris
quando eu for transferida, certo?’
‘Calaro!’ Lizzy disse, olhar travesso e brilhante . ‘Já até estou
economizando. Noite passada eu deixei o Prego pagar duas cervejas para mim!’
‘Sua mãe não te
ensinou nada? Uma mocinha não deve aceitar bebidas de estranhos.’ Charlotte
caçoou. ‘Estranho danado de bonito e esnobe.’
‘Minha mãe me ensinou
várias coisas. Que cerveja dá barriga, por exemplo!’ Elizabeth disse e elas
riram. ‘Também que um estranho danado de bonito é de quem se deve aceitar favores!’
‘E Jane aceitou o que Charles
ofereceu?’ Charlotte perguntou levantando uma sobrancelha.
‘Ih, Char, já esqueceu
de nós?’ Elizabeth perguntou também levantando uma sobrancelha. ‘Jane não
aceitaria nem uma rosa de um estranho no primeiro encontro.’ Ela fez graça. ‘Se
é que aquilo foi um encontro! Ela pode vir a aceitar um beijo na próxima vez, se ele for um bom cachorrinho comportado!...’
Elas riram e
combinaram os planos para os próximos dias já que Charlotte, no momento morando
a quase dez mil quilômetros de distância, tinha que trabalhar e não poderia
passar tanto tempo quanto gostaria com as amigas que estavam de férias.
Dá gosto de ver a inteligência
Movendo um corpinho como esse
Achando promissor? Essa Lizzy já te conquistou?... Agora vai...
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Capítulo 2
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Amsterdam
Jovens ricos tendem a
se considerar superiores ao que consideram plebe. Jovens ricos Britânicos são
ainda mais elitistas. Talvez não tanto quanto os yuppies de Uptown Nova Iorque,
mas certamente se consideram acima destes também.
Esse era o caso dos
irmãos Darcy e Bingley.
Se o destino fosse um
pouco mais caprichoso, os dois irmãos Darcy formariam casais com dois dos três
irmãos Bingley, mas esse não era o caso. Inclinações sexuais a parte, eles eram
bons amigos que frequentavam os mesmos círculos sociais e dividiam algumas
aventuras.
Will Darcy tinha
conhecido Charles Bingley quando adolescentes no colégio interno e mesmo com a
diferença de idade, a amizade era forte. Bingley foi colocado na turma de Darcy
no meio de um ano letivo, e sendo um geniozinho precoce precisou de alguma
proteção e muita orientação. Darcy era sério demais para não tomar o fardo para
si e talvez tivesse meramente visto no menino prodígio e cabeça oca um contraponto,
uma personalidade oposta à sua: um era alegre e animado; o outro taciturno e
tímido. Amizades, porém eram parcialmente feitas de tolerância e Bingley por
muitas vezes exasperava Darcy. Além de ser alegre demais; Bingley insistia em
depender de suas irmãs mais velhas.
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reveresehomesickness |
Os dois jovens ricos
tinham o plano de passar um período sabático explorando os prazeres que o mundo
oferecia. Eles já haviam visitado o Camboja, as ilhas Phi Phi, as Pirâmides do
Egito e o Muro das Lamentações. Mantendo-se longe das responsabilidades de suas
respectivas fortunas, eles se consideravam muito destemidos explorando o mundo pulando
de um hotel luxuoso a outro.
Darcy achava que tinha
uma boa razão. Ele se sentia traído por seus pais que morreram próximos um do
outro deixando filhos muito jovens. Primeiro seu pai faleceu de câncer de
pulmão e alguns meses depois sua mãe sofrendo de depressão profunda, teve um
ataque cardíaco, provavelmente devido à dor de perder o marido. Darcy foi feito
órfão, milionário e com responsabilidade demais nas mãos aos doze anos. Os
irmãos de sua mãe, Matlock Fitzwilliam e Catherine Fitzwilliam De Bourgh assumiram
tanto os filhos quanto os negócios da família desde então e devido à sua
competência Darcy não via necessidade de mudar a situação apesar da insistência
de seus tios. O sabático era como um prêmio de consolação antes de aceitar seu destino.
Para ter direito ao
sabático foi necessário um acordo e para honrá-lo, ocasionalmente Darcy tinha
que fazer presença VIP nos negócios
da família, reuniões de conselhos consultivos ou festas como um embaixador de luxo. Agora era a vez de
Amsterdam.
Bingley também era
órfão, mas ele mal se lembrava de seus pais que haviam falecido em um trágico
acidente de carro quando ele tinha nove anos. Para quem sempre dependeu das
irmãs mais velhas, acompanhar Darcy em suas aventuras parecia ser um plano
bastante bom.
A tarde de Sexta-feira
encontrou Darcy com sua entourage no aeroporto
de Heathrow.
Com o tempo perdido na
pequena diferença de fuso horário, rotina nos aeroportos, trânsito e a cidade
cheia de turistas para o final de semana; a primeira noite na Holanda de Darcy,
os irmãos Bingley e os recém-casados Hurst permitiu somente um jantar relaxante
no luxuoso restaurante do hotel com vista para o canal Prinsengracht.
A fortuna Darcy era investida
em diversos segmentos, dentre eles a rede de hotéis de luxo The Rosier de sua tia. Sempre que
viajava, ele se hospedava nas ‘suítes da família’ – grandes quartos
confortáveis que não eram alugados a não ser que a unidade em questão estivesse
em overbooking e, portanto estavam
frequentemente disponíveis aos proprietários e acionistas. Os amigos alugavam
quartos regulares no mesmo padrão de conforto.
No Sábado, o grupo de
Britânicos aproveitou para matar as saudades da adorável Amsterdam. Logo cedo, uma visita ao Museu Rijks depois ao charmoso Begijnhof, duas paradas obrigatórias.
Quando chegou a hora do almoço, Darcy sugeriu um pequeno restaurante que
gostava perto do jardim secreto onde
estavam, e acabaram por escolher uma mesa ao lado de um alegre e barulhento trio
de moças lindas.
As moças abriam mapas
e guias de viagem denunciando ser turistas que o grupo de Britânicos rotulou
como mochileiras depois que Louisa, a
Bingley mais velha, achou ter ouvido-as falar espanhol. Mas assim que os
Britânicos pediram suas entradas, o grupo de moças fez um barulho tremendo e as
risadas ganharam o reforço de dois homens jovens. Nem dez minutos depois, mais
três pessoas se juntaram a elas e quando os Britânicos estavam no meio de seus
pratos principais, o grupo já tinha uma dúzia de pessoas.
Risadas de variadas
intensidades tomaram conta do pequeno restaurante e de alguma forma a alegria
do grupo maior incomodou o menor. Exceto por Bingley que era incapaz de resistir
a se unir à alegria de outro ser vivo, especialmente mulheres tão bonitas.‘Eu as ouvi falar do Rio de Janeiro.’ Ele disse.
‘Não ouviu, não.’ Caroline
revirou os olhos.
‘Ele ouviu, sim.’ Darcy
disse e tomou o último gole da sua cerveja. ‘Eu também ouvi.’
‘Eu disse! E Bahia.’ Bingley sorriu.
‘Eu também.’ Disse
John Hurst, o marido gorducho e debochado de Louisa.
‘Charlie, pára com
essa bobeira de passar meses perdido no Terceiro Mundo.’ Louisa chamou a
atenção do irmão caçula.
‘Por favor!’ Caroline
fez coro com a irmã. ‘Dez dias já deve ser suficiente para ver tudo que pode
interessar a alguém de bom senso.’
‘Vocês não sabem do
que estão falando! Tem tanta coisa para ver na América Latina: Rio de Janeiro,
Cataratas do Iguaçu, Patagônia... Como é que chama aquela cidade no Brasil,
aquela dos tubarões?...’
‘Recife.’ Darcy
resmungou.
‘Isso! Recife.’ Bingley
riu. ‘Vi umas fotos de praias tão estonteantes-‘
‘Por que alguém ia
querer se enfiar em um avião por dez horas para ver o que temos aqui na
Europa?’ Caroline zombou tendo a irmã como cúmplice. ‘Fora o risco de sequestro!’
‘Doze.’ Darcy resmungou
de novo e tentou sem sucesso chamar a atenção da garçonete.
‘O quê, Will?’ Caroline
perguntou afetadamente.
‘Ele disse que o voo
para o Brasil dura doze horas.’ Hurst explicou.
‘Ai, como ele é tão
inteligente!...’ Louisa exclamou agarrando o pescoço do marido para um beijo.
‘De qualquer forma,
elas disseram Rio de Janeiro e Salvador.’ Bingley balançou a cabeça
enfaticamente.
Caroline revirou os
olhos mais uma vez.
Darcy levantou a voz
para chamar a garçonete, mas o barulho do grupo maior fez seu esforço inútil. Ele
levantou a mão no ar no mesmo instante que uma das moças barulhentas também o
fez e seus olhos se encontraram. Darcy era um cavalheiro antes de tudo, então
levantou as sobrancelhas e gesticulou com a mão dando-lhe a vez. Ela acenou e
chamou a garçonete.
Ele precisou de mais
uns dez minutos para ter a chance de fazer um pedido e mais outros dez para
conseguir uma nova cerveja. A esse ponto, o grupo maior tinha finalmente
terminado a infindável divisão de uma única conta, todos tinham pago suas parcelas
e estavam se arrumando para ir embora.
Caroline e Louisa
reclamaram e debocharam das centenas de fotos tiradas e quando as tradicionais
tortas de maçã que elas haviam pedido de sobremesa chegaram, o restaurante
estava silencioso.
Mas infelizmente, o
lugar parecia mais vazio do que tranquilo.
Uma grande surpresa
foi encontrar o mesmo grupo de jovens alegres e barulhentos se divertindo em Leidseplein naquela mesma noite.
É uma verdade universalmente conhecida, tanto
quanto temida, que o destino sabe brincar com nossas vidas.
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holland dot com |
Era uma noite
agradável de Maio e todos em Amsterdam haviam feito ‘o esquenta’ nos variados
eventos do Festival de música Indie, eventualmente se encontrando na lotada
praça para ver e ser visto. Rodeada de bares e boates – algumas com música ao
vivo – Leidseplein oferecia um
desafio para quem quisesse achar uma mesa.
A única chance do
grupo de Britânicos era... ao lado do mesmo grupo que haviam encontrado no
almoço. Bingley celebrou a coincidência com palmas de felicidade, suas irmãs
fizeram bico, Hurst considerou o tipo de cerveja artesanal que ele pediria e Darcy
franziu a testa. O lugar era barulhento demais e ele preferia ter ido ao Pub
Inglês no quarteirão seguinte de onde eles teriam vista para a praça.
Instalados na mesa, pedidos
de bebidas feitos, eles tentaram bater papo entre si, mas a balbúrdia em volta
não deu trégua. Hurst fez algum comentário sobre a qualidade da cerveja
Holandesa quase gritando no ouvido de Darcy, fazendo Caroline e Louisa sentadas
em frente a eles morrerem de curiosidade. Tão mundana distração deu a Bingley a
chance que ele precisava para se aproximar da mesa vizinha.
‘Brasileiros!’ Bingley
gritou para sua mesa.
‘O quê?’ Caroline
perguntou franzindo a testa. ‘Esse lugar está cheio demais. A gente deveria ter
ido para o pub que Will queria.’
‘Eles são
Brasileiros!’ Bingley sorriu de orelha a orelha.
‘Quem?’ Hurst
perguntou antes de tomar um longo gole da sua caneca de cerveja que já estava
quase vazia.
Bingley riu apontando com
o polegar para a mesa ao lado. ‘Que coincidência, encontrar com eles duas vezes
no mesmo dia!’ Ele disse. ‘E na mesma situação!’
O grupo inteiro se
contorceu em um movimento sincronizado para conferir a informação, o que fez
metade dos vizinhos imitar o movimento. Um breve constrangimento tomou conta
das duas mesas enquanto cinco pessoas fitaram seis pessoas até que uma das
bandas de uma das boates fez um solo mais alto e quebrou o encanto.
‘Rio de Janeiro e
Bahia, certo?’ Hurst falou. ‘Estou lembrado.’
‘Você falou com eles?’
Horrorizada, Caroline perguntou levantando a voz.
‘Claro! Eles são muito
bacanas!’ Bingley respondeu. ‘Alguns moram aqui, outros estão de férias. Na
verdade, as três gatas que estavam terminando de almoçar quando chegamos ao
restaurante hoje cedo são Charlotte que está morando aqui faz alguns meses, Jane
e Lizzy que chegaram do Rio de Janeiro na semana passada para visitar a amiga. Os
outros são Isabella e Fred que já moram aqui há dois anos, Adriano-‘
‘Charles, como isso
pode ser interessante?’ Caroline perguntou.
Darcy concordou com a
cabeça.
‘Ora, eu pensei que...
Sem problema, vou apresentar vocês.’ Antes que alguém pudesse protestar, o
grupo de Britânicos foi apresentado ao de Brasileiros. Todos eles. Não só os
doze da hora do almoço, mas também os amigos dos amigos, tanto Brasileiros
quanto Amsterdaneses. As irmãs Bingley perderam o interesse na quarta mulher e
apesar de reconhecer sua ótima aparência, não prestaram atenção aos nomes e só
contabilizaram as diversas nacionalidades.
Hurst sorriu e meneou
a cabeça, Darcy mal moveu os músculos da face mas registrou todos os nomes e
nacionalidades. Não que tivesse algum interesse em particular, sua boa memória
apenas funcionava assim.
As moças Brasileiras
sorriram e acenaram, os mais familiarizados com costumes sociais europeus
apenas menearam as cabeças ou levantaram seus copos em cumprimento e o grupos
se misturaram. Ou quase.
Darcy praticamente só
conversou com Hurst, mas manteve seus olhos no grupo ao lado, incapaz de conter
sua curiosidade. As irmãs Bingley se bastavam – quando juntas elas raramente se
misturavam a outras pessoas - e seu irmão mais novo conversou animadamente com
as Brasileiras sobre as belezas naturais do país e o quanto ele gostaria de
visitá-lo.
‘Claro que o Rio de Janeiro
continua lindo! Mas o Brasil é muito mais que o Rio.’ Lizzy disse sorrindo. Ela
estava debruçada sobre a mesa para falar com Charles que estava sentado ao lado
de Jane e em frente a ela. Charlotte estava ao seu lado e os quatro conversaram
sobre turismo tanto quanto Lizzy conseguia se destacar da conversa do grupo de
amigos.
‘Lizzy é a melhor
pessoa para te dar conselhos de viagem, Charles.’ Jane, disse num sorriso doce.
‘O quê?’ Ele gritou de
volta.
‘Eu disse-‘ Jane
recomeçou.
‘Você vai ter que
gritar, Jane!’ Charlotte implicou com o jeito suave de Jane e Lizzy emendou no
risinho.
‘Eu disse que você
deveria aceitar os conselhos da minha irmã!’ Jane gritou mais perto do rosto de
Bingley e corou.
‘Eu deveria?’ Ele
perguntou sorrindo para Lizzy.
‘Sim! Ela é
especialista!’ Jane disse dando a sua irmã a chance de corar.
Lizzy ficou aliviada
que a noite já estava avançada e a pouca iluminação não permitia que
percebessem suas bochechas avermelhadas como as de uma criança. ‘Menos, Jane!’
Charlotte e Jane se
entreolharam e dividiram um sorriso maroto: Lizzy sabia o que estava por vir.
‘Lizzy, Lizzy, Lizzy!’
Elas começaram a cantarolar e bateram palmas juntas para Bingley e Lizzy
ouvirem. Logo o grupo de amigos percebeu a provocação e todos acompanharam a
brincadeira. Alguns bateram palmas, alguns bateram as mãos na mesa e todos
encorajaram: ‘Lizzy, Lizzy, Lizzy!’
Lizzy corou e corou, tentando
conter a vergonha. Mesmo não sendo tímida, ela nunca ficava confortável atraindo
a atenção de muitos, especialmente em uma praça lotada no meio de Amsterdam
onde este tipo de demonstração esfuziante era exótica. A segunda mais velha de
uma família alegre de cinco filhas, uma mãe histriônica e um pai irônico, Elizabeth
não estranhava a brincadeira, mas o centro das atenções não era lugar para ela.
‘Shhh!’ Ela gritou com
o dedo indicador nos lábios e riu. Todos os olhos estavam neles, os do grupo
estendido e os demais da praça. ‘Calem-se, calem-se, calem-se!’
‘Ah Lizzy, não seja
boba. Seu blog é demais! Se alguém aqui pode dar dicas de viagem, esse alguém é
você.’ Charlotte bicou sua cerveja.
‘Um blog, que massa!
Você trabalha com turismo?’ Charles perguntou.
‘Eu estudo turismo.’ Lizzy disse. ‘Faço bacharelado
em turismo na faculdade.’
Darcy não estava lado
a lado com ela mas ouvia partes da conversa e bufou com desdém. “Quem cursa anos de faculdade para se formar
em turista? Hedonismo sem vergonha!” Ele pensou.
Hurst que estava entre
Darcy e Charlotte ouviu o desdém e riu baixo. Se por algum acaso o desdém não
tivesse sido ouvido, o riso de sarcasmo chamou atenção suficiente.
‘O quê, maridão?’ Louisa perguntou do outro lado
da mesa e sorriu em expectativa, mas ele desviou os olhos indicando que era
relacionado a Darcy.
Mantendo-se impassivo, Darcy bebeu de sua
cerveja e olhou à frente sem fixar os olhos em nada, como de costume. Para ele,
nada de errado havia ocorrido.
‘O quê foi, John?’ Louisa
insistiu.
‘Nada.’ Ele respondeu
e fez um sinal indiscreto para sua mulher dando-a a entender que contaria mais
tarde. Ela riu lascivamente e fez que sim com a cabeça.
‘O quê foi isso, Louisa?’
Caroline perguntou olhando de Lizzy para Hurst para Darcy.
As duas irmãs então
viraram face a face para confabular entre elas e Lizzy se sentiu muito
desconfortável. Ela tinha quase certeza que o cara alto e bonitão tinha feito
algum comentário maldoso depois que ela falou do seu curso na faculdade, mas
ela não conseguia pensar qual razão ele poderia ter. Nunca tinham se visto, o
que a vida dela poderia significar para ele?
Bingley piscou várias
vezes tentando decidir o que fazer. Darcy obviamente desaprovou alguma coisa
que a gata falou, sabe-se lá por que, e estava prestes a estragar a noite. Ele
tinha que tentar acertar as coisas pois estava se divertindo com essas pessoas
tão bacanas e essa Jane era um anjo. ‘Bem...’ Ele balbuciou olhando para Lizzy.
‘Um blog brasileiro? Massa!’
‘É tipo internacional,
na verdade.’ Lizzy disse, um pouco contrariada com o que ela viu como
complacência.
‘Ela fala várias
línguas.’ Charlotte disse sorrindo. ‘Nossa menininha poliglota…’
‘Corta essa, Char.’ Lizzy
sacudiu a cabeça.
‘Não entendo por que
você não gosta de falar nisso. O blog é um mega sucesso, Charles.’ Charlotte
disse.
Jane concordou com a
cabeça bebericando sua cerveja.
‘Massa!’ Ele sorriu.
‘Não é que eu não
goste de falar nisso, eu gosto. O que não gosto é de gastar onda...’ Como Charlotte
revirou os olhos ao que ela disse, Lizzy cutucou a amiga. ‘É um blog sobre
turismo, um tipo de ‘The lonely planet’
só que mais individualizado. Eu não quero dar grandes conselhos; eu só curto contar
o que fiz e dar minhas opiniões.’
‘É como um diário
então?’ Bingley perguntou.
‘Não exatamente-‘ Lizzy
começou a explicar, mas novamente ela ouviu alguém bufar desdenhando. Ela
debruçou sobre a mesa para olhar diretamente para Darcy, mas ele estava olhando
para frente como se não houvesse ninguém ao redor que merecesse sua atenção. Ela
apertou os olhos, mas não comentou.
A partir daí ela
levantou o tom de voz. ‘‘Wanderlust Lizzard’ tem mais de trinta mil visitas ao mês, Charles,
e minha fanpage no Facebook tem vinte mil seguidores. As
pessoas gostam do que eu posto sobre viajar por aí, alguns até planejam suas
viagens para ir aonde eu já fui!’
‘Verdade?’ Bingley
ainda estava sorrindo, agora um pouco ansioso.
‘Ela passa a maior
parte do tempo no blog.’ Jane disse sorrindo. ‘A gente tem que implorar para
ela nos dar um pouquinho do seu tempo valioso.’
‘Jane!’ Lizzy
reclamou. ‘Você sempre me deixa culpada falando isso.’
‘Ela está certa, Lizzy.
Quando você entra em blog mode, você
viaja. Na real.’ Charlotte concordou.
‘É que sempre tem
tanto para fazer, responder perguntas, novos posts e honrar meus
anunciantes...’ Lizzy deu de ombros.
‘Anunciantes? Eu já
tinha ouvido falar que era possível lucrar com blogs, mas nunca tinha conhecido
ninguém que realmente fizesse dinheiro.’ Bingley comentou e tomou um gole da
sua cerveja.
‘Não exatamente
lucrar... Só é dinheiro suficiente para viajar de vez em quando se eu
economizar tudo.’ Lizzy disse.
‘O hotel onde eu
trabalho acabou de comprar um banner
no blog dela.’ Charlotte sorriu orgulhosa.
Lizzy se virou para Charlotte
e a abraçou. ‘Muito obrigadinha, amigucha!’
As três meninas riram
certas que o aumento significativo na parca renda mensal de Elizabeth seria
gasto inteiramente em viagens.
‘Elas têm feito isso
desde que chegamos aqui!’ Jane disse a Charles. ‘Charlotte está trabalhando
aqui em Amsterdam; ela ganhou um concurso de estágio internacional da famosa
rede Hotéis Rosier há uns meses
atrás.’
‘Verdade, o Rosier?’ Charles
levantou as sobrancelhas e olhou para Darcy.
‘É, e eles viram o
potencial do blog da minha grande amiga. Eu não fiz nada, só apresentei o blog
a eles.’ Charlotte disse sorrindo.
‘Muito obrigadinha,
amigucha!’ Lizzy repetiu e abraçou a amiga de novo.
Como Bingley
continuava a olhar furtivamente para Darcy que franzia a testa como se
contrariado, Lizzy acompanhou o movimento suspeito e franziu a testa. “Qual é a babaquice agora?”
‘Charles, seu amigo
está bem?’ Lizzy perguntou, um pouquinho alta depois de uma caneca grande de
cerveja artesanal.
Ele piscou olhando
para Lizzy intrigado.
‘Ele sentou no
croquete, coitado?’ Ela perguntou se debruçando na mesa.
Darcy desviou os olhos
para ela e congelou corando violentamente. Ela tinha olhos absolutamente
encantadores e ele poderia jurar que viu um lampejo de malícia passar no seu
olhar eloquente.
...
Com seu jeitinho tão faceira
Fez o povo inteiro cantar...
... o segundo capítulo continua ...