Alô!...
45 dias na Europa com Sr. Darcy foi meu primeiro romance em Português, na verdade a tradução do romance escrito em Inglês. '45 days in Europe with Mr. Darcy'.
Esse meu 'Dizzy' foi apresentado aos Super Fãs de Jane Austen em um conto para o Festival de Inverno do site/grupo/sisterhood Jane Austen Fanfics - Dimensões mais claras - que acontece logo depois que eles se conhecem. O bacana deste conto é que une Austen com Simply Red (adoro) - é uma songfic de 'Stars'.
Além desse, existem outros contos que enriquecem 45 dias na Europa com Sr. Darcy como Royal Baby... Todos estão listados na ordem no ebook revisado e na versão de livro físico disponível para compra aqui.
Então... S'imbora?
Realmente não é
possível controlar as rédeas do destino.
Uma pessoa
presunçosa e marcada pela crueldade deeventos inesperados pode até tentar, mas
com certeza vai se frustrar com os resultados. Tem sido assim desde Eva, a maçã
e o mau humor de Adão quandoele teve que procurar outro lugar para viverem após
a ordem de despejo. O tiranossauro Rex tentou mostrar ao destino que ele era o
rei do mundo jurássico gritando de peito aberto do alto de uma montanha durante
a tempestade de poeira quando o meteoro caiu, e não deu certo.
As
pessoas mais experientes vão atestar que é uma verdade universalmente
conhecida, tanto quanto temida, que o destino sabe brincar com as nossas vidas.
E não o contrário.
O
Fitzwilliam Darcy de alguns meses atrás diria que o destino não tinha nenhuma
influência em sua vida. Desde que alcançou a maioridade ele tomou as rédeas da
sua vida, livrando-se da jurisdição de seus tios e assumindo controle de sua
herança, uma das cinquenta maiores da Inglaterra. Uma vez independente
financeira e judicialmente, William Darcy, como ele preferia ser conhecido, declarou
independência das dores de um órfão milionário.
Ele
sempre lutou contrao rótulo de “pobre menino rico”. Seus pais haviam falecido
consecutivamente, porém não conjuntamente, deixando filhosórfãos ainda na
terceira infância. Primeiro seu pai descobriu que sua dificuldade em respirar
era algo muito pior doque o hábito de fumar charutos, e a doença o levou à
morte em menos de um ano. Sem saber como lidar com a dor, o coração de sua mãe
enfraqueceu tanto que acabou por parar de bater logo depois. Duas crianças
inesperadamente deixadas nas mãos dos irmãos de sua mãe, que os criaram com
todo carinho sem fazer distinção entre seus próprios filhos, mas que
infelizmente não eram seus pais.
Quando Darcy completou amaioridade ele estava
terminando a faculdade. Os poucos anos restantes e os seguintes de MBA
calcificaram nele a certeza de que sua vida lhe pertencia e a ninguém mais.
Rico,
bonito, educado. Já que seus pais saíram de cena sem cerimônia no meio do
primeiro ato, ele poderia decidir como conduziria o restante da obra prima.
Assim, Darcy decidiu que a segunda metade dos seus vinte anos seria vividasem
limitações, e para tanto, todas as responsabilidades ligadas à gerência de sua
fortuna continuariam a ser de seu tio Earl Fitzwilliam e de sua tia Catherine
F. de Bourgh.
Gentil
nas ações, porém nem sempre nas palavras, caladão, arrogante. Darcy sabia que
seu jeito incomodava algumas pessoas. Considerando que ele se sentia bem
consigo mesmo e Gegê estava de bem com avida, pouca coisa mais tinha
importância suficiente para fazê-lo rever suas crenças.
Poliglota,
prático, sagaz. Desde que decidiu curtir seus vinte e poucos anos, Darcy tinha
visitado todas as capitais da Europa e boa parte de suas belezas escondidas, o
que a Ásia e a Oceania tinham para lhe oferecer de bom e a América do Norte.
Viajar era seu hobby, que era interrompido somente quando ele era requisitado para
compromissos familiares inadiáveis: Gegê, sempre que os irmãos combinavam de
passar tempo juntos, festas de aniversários e eventos que necessitavam de sua
presença VIP para fins marqueteiros.
Uma
das empresas da família era uma rede mundial de hotéis de luxo que algumas
vezes por ano sediava eventos de gala para angariar fundos para obras de
caridade. Nessas ocasiões, para levantar a atenção da mídia, os herdeiros
solteiros eram convocados para abrilhantar a festa, imitando a nova geração das
famílias reais Europeias. William e Gegê Darcy, Anne de Bourgh eGray Fitzwilliam eram os príncipes do
reino De BourghHotels e planavam
majestosamente em roupas de grife e joias exuberantes durante tais eventos.
Foi
por causa doBaile de Gala do De Bourgh
Amsterdam que Darcy deixou Gegê curtindo sua depressão em Pemberley, sua
fazenda no norte da Inglaterra, e foi com seus amigos mais chegados para a
Holanda. Foi assim que Darcy conheceu Lizzy Bennett.
Morena, graciosa, atrevida. Filha de pai Inglês, ela era um furacão que tomava conta de qualquer ambiente apesar da sua estatura mediana. A pele bronzeada pelo sol de Ipanema, o inglês fluente apesar do sotaque carioca carregado e as maneiras espontâneas compunham um cartão de visitas excelente que fazia Lizzy cativante.
Petulante, intrigante, instigante. Quando Darcy foi
apresentado à nova paixão de seu amigo
de escola,Charles Bingley, que o acompanhava na Holanda, achou incomum uma
família tão grande. Jane Bennett tinha quatro irmãs. Dentre elas, a única que Darcy “viu”
foi Elizabeth.
Audaciosa, impulsiva,questionadora.Qualquer um que já a tenha abraçadopoderia dizer como ele estava se sentindonas poucas ocasiões que Amsterdam lhe proporcionou de tê-la em seus braços. Após alguns poucos dias juntos, Darcy não poderia negar que ela tinha mexido com ele. A moça tinha cabelinho nas ventas!
Amsterdam foi até
generosa com Darcy lhe apresentando Lizzy no momento em que achar uma ficante não estava em seus planos. Para
ser sincero,Amsterdam tinha sido bastante generosa com ele. Também cruelmente gaiata.
Primeiro o destino criou a demanda e depois lhe informou o custo altíssimo.
Quando Lizzy o
atropelou no labirinto vivo no parque das flores, o abraço foi inesperado e momentâneo.
Depois, quando ele finalmente a achou no fim da noite resolvendo o mistério do
seu desaparecimento, Darcy não a abraçou porque ele tinha um autocontrole
invejável. Tal qualidade foi especialmente posta à prova na noite em que Lizzy
o beijou e fugiu logo depois. Pelo menos foi esta a maneira que ele leu a situação.
Ela tinha uma
maneira deliciosa de flertar com ele, fazendo insinuações por muitas vezes
inocentes, por vezes maliciosas,o instigando com espetadas que vinham
acompanhadas de um irresistível desafio no seu olhar. E como Lizzy sabia se
comunicar com os olhos...
Ela era mais nova
que ele, na verdade ela tinha a idade de Gegê.Mas o problema não era esse.
Qualquer um que já a
tenha desejado tentaria lhe dizer o que ele sentia por dentro. Era uma bagunça
em seu ordenado universo, uma presença explosiva e inesperada. Como ele poderia
resistiràvontade de convidá-la para dançar no baile de gala? Ela estava linda
de salto e vestido de noite, bem diferente do jeito moleca estilosa que ele tinha visto até então. E ele, que já a
tinha achado muito interessante antes, ficou hipnotizado quando viu suas belas
pernas bronzeadas dentro de meias de seda.
A única coisa que Darcy
sempre quis era a impressão de que ela não estivesse fingindo, mas depois que a
ouviu conversar tão animadamente com ninguém menos que George Wickham, a
memória das lágrimas e do silêncio de Gegê tomaram conta dele.
Darcy nunca gostou
das aventuras cariocas de Gegê, tinha detestado a ideia desde que soube. Mas ele
tinha liberdade para viver sua vida como queria,e isso significava que não
tinha controle sobre as vidas das pessoas queridas e próximas a ele.
Responsabilidade era algo que Darcy definitivamente não queria assumir.
Gegê e Lizzy... A
mesma idade, morando na mesma cidade, no mesmo bairro, se relacionando com as
mesmas pessoas... Certamente Lizzy também estava envolvida pelo mesmo canalha, o tom da conversa deles dizia
isso a um bom entendedor.
O único que Darcy
nunca poderia pensar... Wickham!
Espere um minuto, como
ele não pôde ver? Era o destino lhe mostrando que ele não controlava nada que
não lhe fosse dada a chance de controlar.
Darcy poderia
decidir o destino de sua próxima viagem, se embarcaria em voo particular ou
público, se seria noverão ounoinverno.Mas não decidiria quando conheceria uma
mulher que mexeria tanto com ele, quando ia querer cair das estrelas diretamenteem
seus braços. Da maneira que Darcy via, era como se eles tivessem uma conexão direta esperando para ser
estabelecida, mas que sofria a interferência
maléfica daquele desgraçado
interesseiro de bosta.
Darcy
podiasenti-la... Mas mesmo assim fugiu.
Foi embora de
Amsterdam sem trocar contatos ou promessas.
Ele esperava que Lizzy
o compreendesse. Apesar do fato de que nenhuma explicação tenha sido oferecida
ou requisitada.
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Meses passaram e
Darcy teve a distinta noção de que sua vida voltara aos trilhos. Seu universo
estava novamente em ordem e ele retomou seus planos de viajar pelo mundo. Gegê
finalmente parecia estar dando a volta por cima, Bingley havia desistido da
tolice de também passar algum tempo no Rio de Janeiro e agora estava no Canadá
com a irmã, seus tios não o amolavam com os negócios e, como bônus,Gray tinha arranjado tempo para
acompanhar Darcy pelo mundo.
Depois de muita discussão,
os primos concordaram em seguir os planos de Anne e fazer o caminho de Santiago
de Compostela. Não que algum dos três fosse particularmente religioso, mas o
passeio era afamado. Não que algum dos três - especialmente Darcy–tivesse consideradoprecisar
refletir sobre os rumos que sua vida tomava, mas a rota tinha uma mística
inegável. Não que algum dos três tenha dadoimportância ao misticismo, mas o
livro que romanciava a jornada era um
best-seller.Um best-seller escrito por um brasileiro.
E de novo Elizabeth
Bennett invadia a vida de William Darcy.Num intrincado vai e vem do destino que
caprichosamente jogou o taciturno milionário para cá e para lá entre as
fronteiras da França, Espanha e Itália, num zig-zag de luxo, Darcy acabou descobrindo
que novamente estava na mesma cidade que Lizzy.
Não havia nele
maneira de expressar a surpresa ao ouvir de sua enfadonha tia que “a menina Brasileira”tinha excelentes
ideias e queera uma pena ela ainda não trabalhar para eles como a amiga
Charlotte Lucas.
Charlotte,amiga,
brasileira, menina. Se as bolhas nos seus pés não oincomodassem tanto, Darcy
perceberia que o ritmo do seu coração era o responsável pelo seu desconforto.
Depois dos últimos
meses empurrando-a para fora de sua mente,
vê-la em pessoa e ouvir seu riso
espontâneo era fantástico. E o seu olhar desafiador estava ainda mais afiado.
Ele escolhia o que falar para que sua observação disparasse nela o desejo de
apertar os olhos negros, respirar fundo e provoca-lonuma réplica que mereceria
uma tréplica, e o flerte era absolutamente irresistível.
Gray era o primo
mais próximo que Darcy tinha, e talvez seu amigo mais leal. Bingley tinha mais
tempo disponível, já que sua fortuna lhe propiciava imitar o amigo na
exploração do planeta pulando de um hotel de luxo para o próximo. Gray
trabalhava duro fazendo a vida fora
do império da família e só tinha tempo para acompanhar o primo mais novo nas
férias.
No momento que Gray
testemunhou a troca de farpas entre seu primo e a gostosinha Sul Americana, ele
soube que Darcy estava perdido. Quando Darcy comentou sobre a menina que tinha
conhecido em Amsterdam, Gray pensou que era meramente uma atração passageira.
Como Darcy nem tinha o telefone da mulher, o que mais poderia acontecer entre
eles?
Mas vendo os dois
juntos, dava para sentir a vibe entre
eles, era como se fosse palpável, dava para ver
no ar. E Darcy estava de quatro. Ela
tinha uma maneira diferente de flertar com seu primo.Parecianão gostar dele,na
verdade, mas como Gray nunca tinha namorado ninguém dos trópicos, ele não tinha
como saber se era algum costume peculiar. Assim ele deu força ao primo quando
este decidiu investir.Mas o destino tinha mais uma surpresa guardada para
Darcy.
Para o homem que tinha
tentado feri-lo, contando mentiras para Lizzy sobre Gegê, Darcy poderia
facilmente explicar o modo como se sentia. Arrasado.
Depois de tê-la em
seus braços por uma noite inteira, ele a havia perdido irrevogavelmente. Desiludido.
Darcy suspeitava de
que ouviria as palavras de Lizzy reverberando em seus ouvidos para sempre num modo repetição infinito. Destruído.
Por todo o ciúme
que ela lhe causou falando do idiota Wickham com carinho enquanto deixava claro
para Darcy o quanto ela o desprezava.Humilhado.
‘Eu só te dei uma
chance porqueGegê insistiu que você era uma boa pessoa!’ Lizzy havia rugido no
auge da ira.
Nem sozinho no
quarto escuro, onde ela o havia deixado, ele poderia declarar a razão pela qual
tentou esconder a verdade sobre o detestável Wickham. Por um segundo,Darcy
cogitou expor toda a nojeira que seu
amiguinho tão querido era capaz de causar na vida dos outros, mas não
conseguiu. Apesar da maneira e do que Lizzy lhe disse Darcy não queria brigar
com ela. Não com ela. Não sobre isso.
E todas as coisas
que ela o havia ensinado no instante em que Darcy entendeu a real intenção dela
nas insinuações, que ele acreditava serem flertes, haviam enviadoseu futuro para
dimensões mais claras. De repente as cores ficaram mais nítidas, tudo entrou em
foco. Lizzy não era intrigante, ela era direta.
Agora ele se via(ou
sabia ou simplesmente via – depende do que você quis dizer) como ela o via: um
playboy abominável e aborrecível.Ela repudiava a maneira descuidada que ele
levava a vida e Darcy não havia sido capaz de perceber seu desprezo.
Tudo ficou tão
claro que incomodava os olhos.Uma dimensão tão bem determinada com vetores palpáveis,
onde ela era oposta a ele. Considerava-sequase uma adversária.
Ela nunca saberia o
quanto o havia ferido simplesmente porque ele nunca contaria. Nem a ela nem a
ninguém. Ela e Gegê se falavam com alguma frequência e mesmo assim ele não
soube de nada, não percebeu nada, não entendeu nada.
‘Fique um minuto,
não pode ver?’ Ele tomou fôlego para falar antes que se despedissem para
sempre. ‘Que eu... Eu quero cair das estrelas diretamente em teus braços?Eu...
Eu sinto você e esperava que você
tivesse me compreendido. ’Mas faltou coragem.
---
Muitos corações estavam
partidos no momento.Um em Londres, sentado em frente ao computador olhando o
formulário de e-mail em branco enquanto a cabeça não conseguia achar palavras
para explicar o que o seu dono sentia, como deveria se desculpar, como deveria
explicar o que realmente aconteceu e como pediria uma segunda chance.
Outro no Rio de
Janeiro, levando a vida da mesma forma que fazia antes daquele encontro na
Europa. Sua dona seguia sua rotina de faculdade e trabalho, mas agora parecia faltar
alguma coisa quenunca havia estado presente. O pior era a distinta e indesejada
sensação de lacuna em branco.
A dor no arrependimento era muito cruel,
tanto do lado direito quanto do esquerdo do Atlântico. As infindáveis possibilidades
do que poderia ter acontecido e como deveria ter acontecido davam piruetas nas
cabeças de Lizzy e Darcy incessantemente, por mais que eles quisessem passar
por cima de tudo.
Uma promessa de
amor nunca vem com um talvez.Tantas
palavras foram deixadas por dizer e tantas outras ditas para ferir.
Se ela não tivesse
sido tão explosiva... Mas ele foi absolutamente cretino! Se ele tivesse sacado que ela era a amiga que Gegê
falava tanto... Mas ela sabia e não falou nada. Se os dois não estivessem tão
bêbados... Mas estavam e se deixaram agir por instinto.
As vozes
silenciosas estavam deixando-olouco. Darcy não iria conseguir dar a volta por
cima se não tentasse o perdão. Ele tinha que se explicar e fazê-la ver o que
ele via.
“Depois de toda a dor que me causou, fazer
as pazes pode nunca ser sua intenção.
Você nunca saberá o quanto me feriu.”
Ele digitou. Parou
por um instante,olhando para a tela do seu computador sem ver nada e depois leu,
iluminou tudo e apertou delete.
Por que ela não
conseguia ver que ele cairia das estrelas diretamente emseus braços?Ele a
sentia tão perto e ao mesmo tempo tão longe...Esperava, não,queria que ela compreendesse.
Do outro lado do
mundo ela estava pronta para cair das estrelas diretamente nos braços dele. Ela
o sentia muito mais perto do que gostaria.Mas não
compreendia.
.FIM.
Ame Jane Austen! 💕
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