Olha só!
Série PRINCESAS POSSÍVEIS
VOLUME 2
romance inspirado em 'Cinderela'
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~ 8.05 ~
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~ 8.05 ~
Na semana seguinte, a cidade em antecipação ansiosa do frenesi da compra
de ingressos inflacionados, Serafina e
Melissa foram convidadas para a festa pré-Olímpica da empresa onde a amiga
Bianca trabalhava. Era uma grande companhia multinacional de exploração de
petróleo, um dos grandes patrocinadores do evento que distribuiria ingressos antes
e faria festas durante os dezenove dias de competições.
‘Gostaríamos de agradecê-la por sua gentileza em diversas maneiras, mas
meras palavras não seriam suficientes, Bia. De mais a mais, queremos mesmo é aproveitar
o open bar e torcer para ganhar algum ingresso nos sorteios!’ Serafina sorriu
enquanto a irmã ria.
‘Ah, mas vou querer todas as palavras que conseguir encaixar em frases
rebuscadas, senhorita!’ Bianca riu da gaiatice da amiga.
‘As meninas vêm?’
‘Ceci disse que viria, mas está atrasada.’ Levantou o telefone indicando
uma mensagem de texto. ‘Ari disse que não quer encontrar ninguém do trabalho e
Bele viajou com Pedro. Somos só nós por enquanto... Podemos ir ao bar. Algumas
vezes. Depois você começa com a formalidade!’
‘Fui!’ Serafina se virou.
Bianca segurou-a pelo braço. ‘Fica de olho, Mel. Não deixa ela estragar
o emprego novo antes mesmo de começar.’ As duas irmãs Mello se entreolharam. ‘A
tal entrevista semana passada?...’ Um sorrisinho de lado.
‘Foi você!’ Serafina apontou para o nariz de Bianca e riu. ‘Por que não
me falou?’
‘Não posso. Tem que vir de uma agência, coisa de protocolo.’ Bianca deu
de ombros. ‘Ouvi dizer que você pediu uma grana alta. Pode esperar uma contraproposta.’
Piscou um olho.
‘Espera, estou confusa.’ Melissa levantou a mão. ‘Ofereceram a Rafí um
emprego na HHO. Como você sabe-’
‘O quê?’ Bianca arregalou os olhos.
‘Não foi bem uma oferta... A mulher disse que eles precisam montar um
departamento para caçar ecologistas.’ Serafina explicou.
‘Ai, quando meu chefe ouvir isso... Te indiquei para trabalhar com a
gente, não com eles para nós!’ Bianca cruzou os braços no peito sacudindo o
cabelo cleópatra para tirar dos olhos e procurar entre as muitas pessoas na
festa. ‘Achei!’
‘Mmm... Bia, não fala nada agora.’ Serafina torceu os lábios. ‘Seu chefe
é aquele gordinho carequinha? O cara bonitão conversando com ele?’ A amiga e a
irmã esticaram o pescoço. ‘Ele trabalha lá na HHO.’
‘Não vou deixar essa traição passar em branco.’ Bianca suspirou tentando
derreter a irritação.
‘É o Otariano que te falei, Mel.’
‘Gato, né?’
‘Sim...’
‘Otariano de que modalidade?’ Bianca apertou os olhos para analisar o
espécimen com cuidado.
‘Master.’ Uma sacudida de cabeça vigorosa o suficiente para bagunçar o
cabelo. ‘A tal esquisitona magrinha que me convocou saiu para almoçar na hora
que marcou comigo, fiquei de castigo esperando.’
‘Que cretina!’ A amiga se solidarizou.
‘Então.’ Serafina franziu a testa. ‘Esse Otariano chegou, a
recepcionista disse que a esquisitona deixou ordem para me entrevistar, mas ele
disse que estava ocupado demais.’
‘Nem disse ‘foi mal’?’
‘Ofereceu café.’
‘Master otariano.’
Concordaram todas com um decisivo aceno de cabeça.
‘Mas sabe, a cretina tinha dois furos em cada orelha.’
‘Ainda acho que é coisa antiga isso, de ter vários furos.’
‘Coisa de mãe, Rafí. Nossa mãe tem três em cada.’
Serafina suspirou. ‘Ainda assim, vou fazer mais um...’
Bianca balançou a cabeça devagar, olhos ainda no chefe conversando com
Nicolas. ‘Melhor esperar mesmo... Que tal um espumante?’
Durante a festa, Bianca não teve muita chance de falar com o chefe sobre
o assunto e menos ainda quando pudesse fazê-lo se interessar. Tinham que dar
atenção à muita gente interessante, fornecedores, coordenadores, acionistas e a
festa empolgante tomava conta de todos.
Quando apresentações artísticas de modalidades olímpicas começaram no
palco, Serafina de repente se achou cara a cara com o Otariano.
Tinha ido ao bar para outra minigarrafa de vinho espumante e ao se virar
quase bateu nele. Um longo momento constrangido se passou quando seus olhos se
encontraram até que ela corou o vendo corar.
‘Desculpe.’
Serafina sacudiu a cabeça baixa.
Ele arrumou a camisa, coçou a nuca, passou a mão no cabelo, mas não
conseguiu tirar os olhos da garota bonita. O dia que ela esteve no seu
escritório, ele estava muito ocupado para trabalhar para sua recrutadora. Era
uma profissional tão competente quanto esperta, vivia montando esquemas para
delegar suas funções para outras pessoas. Mas se arrependeu de resistir ao
apelo da garota bonita, a economista excêntrica. Agora ela estava perto o
suficiente para uma segunda chance.
Como o cara não saía da sua frente, Serafina precisou olhar para cima e
pedir licença, mas ficou presa na horda de pessoas em busca de caipirinhas e o
Otariano acabou sendo sua chance de sair de perto do bar. Bem mais alto, ele
levantou o braço sobre a cabeça dela, pegou sua cerveja e gentilmente abriu
caminho para ela passar na frente dele.
‘Valeu.’ Ela sorriu sem jeito.
‘Sem problema.’ Ele devolveu o sorriso.
Serafina já estava pronta para fugir quando sua impertinência falou por
ela. ‘HHO, certo?’
‘Sim.’ Ficou contente de saber que ela se lembrava.
‘O cara ocupadíssimo.’ Ela levantou uma sobrancelha. ‘Deve estar ocupado
agora também...’ Talvez fossem as bolhas do vinho falando por ela.
Nicolas corou e teria levantado as sobrancelhas de susto se não tivesse
se contido a tempo.
Serafina estudou a reação dele com cuidado. O cara não tinha um rosto
exatamente bonito, mas era muito agradável. Era charmoso, alto, atlético,
carregava a camisa da Grã Bretanha e o jeans velho com muita elegância.
Estranhamente ela se sentiu atraída pelo Otariano e seu olhar intenso. Corou
constrangida e se surpreendeu com sua própria reação. Poderia ser o mini
espumante que ela havia bebido quase todo antes de ficar quente, ou o outro
congelando seus dedos enquanto ela esperava o cara responder, mas qual fosse a
razão para sua impaciência, resolveu oferecer trégua. ‘Antes que seus muitos
compromissos te chamem, eu sou Rafí.’ Disse esticando a mão ironicamente.
Nicolas acabou rindo baixinho. ‘Muito prazer. Nico.’ Sacudiu a mão
delicada com vontade.
‘Nico...’ Ela franziu os lábios para o lado. ‘Apelido?’
‘Sim, como Rafí.’ Ele espelhou as sobrancelhas elevadas. ‘Apelido para
Nicolas. Brent, sou Nicolas Brent.’
O nome lhe pareceu familiar. ‘Mas você não é Brasileiro, é? Tem um
sotaque...’
‘Fifty-fifty. Mãe Brasileira, pai Inglês.’
‘Would you rather talk in English?’ Perguntou
franzindo a testa.
Ele sacudiu a cabeça. ‘Tranquilo, sempre falei Português em casa; moro
aqui há anos.’ Ficou satisfeito com a oferta, ela pretendia continuar a
conversar com ele. ‘No escritório falamos muito Inglês, talvez por isso não
tenha conseguido perder o sotaque ainda.’ Sorriu sem jeito.
Serafina fez bico para alcançar o canudinho e bebeu com olhos nele
pensando que o cara tímido tentando flertar não lhe era bem vindo. Nem um cara
desinibido flertando também. Ela tinha tipo um caso com Jorge e... Ah, que
bobeira. Ela não tinha nada demais com Jorge que flertaria com um poste se
estivesse de saias. Mas dar uma chance a esse otariano... Sua paciência estava
prestes a abandonar Nicolas. ‘Sabe meu nome... Então me fala da proposta de
emprego que seu escritório me fez.’
Ele prendeu os lábios. ‘É assunto para ser discutido no escritório. Os
clientes sempre pedem discrição para não alertar a concorrência.’
Serafina mordeu o lábio. “Claro, Rafí.
Que burrice! Dando furo na frente do otariano gato. Otária!”
‘E de qualquer forma, não tenho detalhes sobre a oferta que lhe foi
feita.’ Nicolas continuou por receio de que ela encerrasse sua conversa tatibitate
e não percebeu que tinha instigado sua curiosidade.
‘Achei que a tal Zara tinha deixado recado para você falar comigo... Ainda
assim não sabe nada do que conversamos?’
‘Mmmm...’ Nicolas tentou achar uma saída.
‘E sei que seu escritório soube de mim porque uma amiga que trabalha na
empresa que está dando essa festa me indicou, querem que eu trabalhe com ela
ajudando nas ações de proteção do meio ambiente – o que é irônico, na minha
opinião. Explorar petróleo e cuidar do meio ambiente. Enfim, se fui indicada
por uma empresa para ser contratada pela sua agência, como me ofereceram um
emprego de recrutadora? Pelo menos foi o que entendi.’ Ainda Nicolas continuava
mudo e Serafina pensou ouvir o cérebro dele funcionando. ‘Mas bem, discrição,
concorrência, ocupadíssimo e tal.’ Deu de ombros e bebeu de novo.
Nicolas piscou, olhou sobre o ombro direito, esquerdo e apontou para as
mesas atrás dela. ‘Está vendo aquelas mesas perto da piscina?’ Serafina se
virou e balançou a cabeça. ‘Srta. Mello, podemos conversar por alguns minutos?’
Perguntou mudando a expressão do rosto. ‘Uma reunião informal, se me permitir.’
‘Sabe até meu sobrenome.’ Ela levantou as sobrancelhas mais uma vez.
‘Vamos lá, Sr...’ Apertou os olhos tentando lembrar.
‘Brent.’ Ele disse apontando a direção.
Ela o acompanhou pela cobertura do hotel de luxo na praia de Copacabana
sentindo-se constrangida pela camiseta do Brasil rebordada de paetês e o short
jeans. Sem falar dos tênis! Quando ele entregou a cerveja pela metade a um
garçom que passava, ela fez o mesmo e quase sem querer encontrou os olhos da
irmã. Apontou para o cara na sua frente e fez careta, Melissa respondeu com
outra e ela deu de ombros.
Em volta da piscina, Nicolas escolheu a mesa mais afastada, puxou uma
cadeira para ela e sentou à sua frente.
‘Como lembra meu nome?’
‘Sua ficha.’ Ele disse, ela balançou a cabeça achando óbvio. ‘E eu sabia
que tinha sido convidada para uma entrevista.’ Ele emendou uma explicação ao
mesmo tempo sucinta e detalhada da história da HHO.
‘Li no seu site. Pesquisei porque achei a insistência em me entrevistar
muito esquisita.’
‘Peço desculpas se Zara foi lacônica. Mas como o herdeiro vem assumindo
os negócios aos poucos, estamos redefinindo alguns processos. Nossa meta é
focar em profissionais jovens para oxigenar o sistema e oferecer inovação aos
nossos clientes.’ Nicolas explicou que quando pesquisaram sobre ela para o
cliente descobriram seu potencial para eles que ainda não dominavam a área.
Desculpou-se por não tê-la atendido pessoalmente e sutilmente deixou-a entender
que seria convidada para uma nova entrevista.
Em um misto de orgulho e desânimo, Serafina viu que ele flertava com ela
profissionalmente e não romanticamente. Todo o tempo ele queria a convencer de
que a empresa dele era um lugar maravilhoso para se trabalhar... Nenhum
interesse pessoal. Foi salva de mais constrangimento pelo início dos sorteios e
ambos levantaram para voltar ao restaurante onde estava o apresentador.
‘Obrigado por sua atenção, Srta. Mello.’ Ele disse educadamente a
acompanhando em volta da piscina.
‘De nada, Sr. Brent.’ Sorriu. ‘Pode me chamar de Rafí. Nico?’
‘Rafí.’ Ele sorriu de volta, desta vez espontaneamente e seu rosto todo
mudou; sorria como um menino. ‘Mais uma apresentação.’ Disse esticando o
pescoço na direção do palco. ‘Ginástica artística, acho.’
‘É... Vamos às Olimpíadas.’ Prendeu os lábios. ‘Iupi.’ Ela olhou ao redor
procurando a irmã ou a amiga, precisava de colo.
‘Não parece muito animada, Rafí…’
Ela deu de ombros deixando a alça bordada escorregar. ‘Não ligo, até
evito me envolver muito. Perdemos tantas medalhas por falhas, não temos um
programa bacana de incentivo ao esporte... É frustrante. Tem nadador com mais
medalhas de ouro que o Brasil.’
‘Mas ele é um caso excepcional.’
‘Still.’ Ela deu de ombros,
ele balançou a cabeça. ‘Você gosta?’
‘Adoro. Sou viciado em Olimpíadas.’ Sorriu espontaneamente de novo e
esticou o braço mostrando uma tatuagem antiga.
‘Anéis Olímpicos? Nossa!...’ Ela se admirou sem se admirar pensando com
tristeza no 7x1. ‘Ué, seis anéis?’
‘Bronze. Atenas, 2004.’
‘Jura?’ Agora ela se admirou realmente, levantou as sobrancelhas e um
sorriso lhe escapou os lábios.
‘Juro. Em Pequim caí nas semifinais.’
‘Está brincando, não está?’
Ele sacudiu a cabeça. ‘Fencing, foil.’ Ela franziu a testa sorrindo tão
linda, ele fez força para pensar em como a modalidade se chamava em Português.
‘Esgrima.’ Pensou. ‘Florete?...’
‘Espada fininha e comprida, que nem de mosqueteiro?’
Ele riu. ‘Mais ou menos.’
‘Nossa!... Que… máximo!’
Ele sorriu de orelha a orelha.
‘Era novinho.’ Ela corou, sem querer tinha perguntado a idade dele.
‘Dezessete anos. Foi incrível.’
Serafina riu. ‘Uau! Parabéns!’
‘Obrigado.’
‘Vai ver as competições aqui?’
‘Claro!’ Ele riu satisfeito. ‘Meus amigos do time já me mandaram
credencial, estão hospedados comigo para treinamentos, reconhecimento do local,
essas coisas.’
‘Boa sorte para Inglaterra.’
‘Great Britain.’ Sorriu
apontando a camisa. ‘Boa sorte para o time do Brasil também!’
Trocaram ainda alguma conversa sobre competições e espírito olímpico até
que ele a deixou perto da irmã e amiga a quem foi apresentado.
Ficou de olho na garota bonita e esperta, tão fora do seu alcance quanto
antes de juntar coragem o suficiente para ir ao bar quando ela foi. Nem sabia
dizer por que esta garota bonita
dentre as muitas garotas Brasileiras bonitas mexia tanto com ele, mal a tinha
conhecido, mas incrivelmente a havia visto de longe como naqueles romances
açucarados de amor à primeira vista.
Andava distraído, pensando em cinderelas e mistérios intrigantes,
fantasmas até e de repente lhe apareceu a bela muito real. Quão... Curioso!
Pensou a observando de longe.
Serafina, nome incomum. Um anjo, se não estava enganado. Serafina Mello,
linda, curiosa, esperta. Rafí.
Ela tinha noção que ele esteve sempre por perto enquanto ela ficou na
festa, mas não tinha mais graça.
Bia: o cara é gato,
mas mau caráter
Rafí: nem sei se é
Ceci: me esperem, tô
chegando!
Mel: sei que é gato
*foto*
Serafina parou de digitar para repreender a irmã ao seu lado na festa.
‘Não acredito que fez isso! E se ele te viu tirando a foto?’ Bianca riu
oferecendo a mão para um high five com
Melissa.
‘Viu nada, agora é que está de olho em você!’
Serafina piscou sentindo o rosto queimar.
Ari: gato
Vai fundo
Rafí: ele só quer me
contratar
Ceci: que safadeza é
essa?
Pedi para me esperarem!
Bele: gente, duas
horas sem celular e todas essas mensagens?
Gato safado querendo contratar quais serviços?
*emoticon de piscadela*
As três amigas riram, uma delas sem muita convicção.
Sabia que era bonitinha, tentava manter uma rotina preguiçosa de esporte
na praia, estava em forma, se vestia bem (mesmo que de short, tênis e
camiseta), cabelo bonito, maquiagem em ordem... Mas o cara charmoso só via a
economista especializada em ecologia.
Tudo bem, ser vista como uma boa profissional era bacana. Tipo. O
problema era que toda mulher bonita queria ser apreciada por um homem bonito.
Foi como se tivesse feito gol contra.
É... nem tudo é fácil.
Ou é?
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