& Moira Bianchi: Tem um romance escondido no MANUAL DO BOM COMPORTAMENTO!

quinta-feira, 10 de março de 2022

Tem um romance escondido no MANUAL DO BOM COMPORTAMENTO!

 Um projeto lindo que está no forno há anos!



O 'Bom Comportamento, um manual comentado para moças' 

é a tradução comentada, editada, e muito pesquisada do clássico de Florence Hartley, a mestra da etiqueta no século 19.

leia agora mesmo!

Uma das coisas que eu mais gosto na pesquisa para montar um romance de época é mergulhar nos detalhes e regras minuciosas da convivência social na era Vitoriana.



Por gostar tanto, eu achei os manuais para pesquisar na fonte primária, adorei ler o que as garotas liam na época. É legal como imaginar que a minha personagem poderia ter existido de verdade!


Escondido nas muitas regras e dicas que listamos, escondemos um romance lindinho para te guiar na leitura.



É a história de Dorca, ou melhor, Cassy, um moça simples que herda uma inesperada fortuna e precisa aprender a viver na cidade grande. Tal qual My fair Lady, essa moça é transformada pelas regras da vida aristocrática e precisa descobrir seu lugar nesse mundo.

Olha, vou te mostrar os primeiros capítulos de Dorca Cassy:


Capítulo 0 - CONDUÇÃO

Há males que vêm para o bem. 

Melhor dito, há males de uns que vêm para o bem de outros.

Esse foi o caso de Dorca e da família Higgins, em 1860. 

O abastado senhor dos negócios de seguro, Sr. James Higgins, rumava com a esposa Mary e filha Catherine pelo interior em direção à propriedade de Lord Tanbridge a fim de oficializar o noivado destes últimos. O longo dia no trem deu lugar a uma jornada de carruagem que, infelizmente, foi interrompida logo no início por um horroroso acidente. Já caía a noite, eram desconhecidos, socorro foi demorado e dali sobreviveram somente um lacaio e um dos cavalos. 

Dessa tragédia que levou Sr. Higgins, Sra. Higgins e Srta. Higgins, única herdeira viva dos cinco que o casal teve, veio o revés de Dorca Smith. Alguns poderiam – e o fizeram – chamar de boa sorte, mas no turbilhão que seguiu, a vida de Dorca foi um tormento.

Sr. Higgins fazia força para esconder suas origens humildes e, portanto, foi um choque para os procuradores descobrir que ele tinha parentes no interior. Rose Smith era essa pessoa, prima distante do falecido segurador, e como empobrecida meeira de fazenda de ovinos, não resistiu ao se descobrir rica: morreu de ataque apoplético assim que os senhores procuradores bem-vestidos lhe deram a notícia, ainda em meio às malcheirosas ovelhas que ela criava.

Sua única filha era Dorca, moça de 19 anos de vida, possuidora de alguma beleza, talento para a lã e pouquíssima educação. Sabia suas letras e números, tinha um sorriso cativante, mas era como um coelho selvagem – de tudo corria!

Com muito custo, os procuradores convenceram a enlutada herdeira a rumar à cidade para tomar posse de suas heranças: imóveis, investimentos, fundos no banco.

Mal havia chegado à mansonete abandonada há quase dois meses, tempo gasto na procura e convencimento dela, Dorca ouviu batidas na porta. Inocente, incerta, gentil, ela atendeu.

— Ah, olá. — Disse a elegante dama parada nos degraus. — É nova aqui?

— Sim, senhora.

A mulher entrou sem esperar convite. — Sou a Sra. Von Vauteigh, vizinha. —  Apontou sua mão enluvada para trás do ombro. — Era muito amiga de Mary, que Deus a tenha.

— Amém.

— Vim dar boas-vindas à herdeira.

— Agradecida.

A mulher uniu as sobrancelhas sob o bonnet rebuscado, desgostava de criadas atrevidas. — Pode ir chamá-la.

— Estou aqui, senhora. — Dorca limpou a mão no avental que usava sobre o vestido obviamente tingido de negro e ofereceu. — Dorca Smith.

Ouvir aquilo foi um choque para a mulher. — Não!... 

— Sim, minha mãe... — Um suspiro triste. — Era prima do Sr. Higgins, Smith é nome do meu pai. Os dois morreram. Ele, faz bastante tempo, ela caiu dura quando ouviu a quantidade de dinheiro que ganhou. — Dorca olhou em volta. — Se tivesse resistido, ia morrer vendo tudo que tem para limpar aqui...

— Você não é a criada?

— Não, senhora.

— Mas está vestindo um trapo surrado.

— Era o vestido que dava para tingir. Luto não é barato.

— Você herdou fundos, Mary era rica.

— Só recebi o dinheiro quando cheguei aqui. — Dorca balançou os ombros. — Nem sei onde comprar roupa a bom preço, conheço nada aqui, nenhuma loja de segunda mão. Sabe indicar?

Jane Von Vauteigh estava boquiaberta. Nunca, jamais, sua amiga Mary cogitaria usar roupas usadas. Nem permitia que sua filha usasse as suas! — Sei da modista de Mary que também atendia Catherine, é para lá que você deve ir! 

— Cataporas... É careira?

— Não para você, Srta. Smith.

— Dorca. —  Mais um aceno de ombros. — Prefiro.

— Que nome horrível. — Jane fez careta. — De onde vem isso? 

A garota levantou o nariz. — Minha mãe escolheu.  

— Me desculpo pela impertinência. Estou tomada pelo assombro. Você é a única herdeira da minha boa amiga e a vejo vestida de criada cuidando da limpeza! — Uma sacudida de cabeça. — Por que faz isso?

— Alguém tem que fazer.

— Criados.

Dorca corou. — Eu, tendo criados? Cataporas!

— A mansão Higgins sempre teve criados. Onde estão?

— Acho que todos foram demitidos, ou partiram quando descobriram que o Sr. Higgins deixou algum dinheiro para eles.

— James era um bom homem. Mau marido, mas bom homem, que Deus o tenha. 

— Amém.

— Ao menos é religiosa.

Dorca fechou o rosto.

— É moça?

Dorca alisou as saias do vestido surrado.

— Já foi deflorada? É isso que pergunto.

— Dona Vovo...

— Von Vauteigh.

— Vovo...

— Fon-Vo-tiss. — Jane disse pausadamente com bastante ênfase no último fonema sibilado entredentes. — Von Vauteigh. 

— Vovoti.

— Von Vauteigh.

Doca esticou o pescoço para frente, testa franzida. — Vo-vo-ti.

— Von Vauteigh! — Jane perdeu a paciência. — Diga, Von Vauteigh! 

— Dona Vovoti, por que quer saber das minhas... — Gesticulou às saias. — Intimidades.

Vovoti, oh céus! Era ela realmente avó, chamada de vovó por seus netos crescidos entrando na idade casadoira; ela havia contraído matrimônio cedo, cedo demais, teve rebentos demais, agora, era avó cedo demais. Tinha tez fina, cabelos fartos, viço... Considerava um desperdício já ser avó. — Pergunto porque se você não tem marido ou pretendente apalavrado, logo vai ter. É rica.

— Acha mesmo? — Rosto corado de novo.

— Certeza. — Um decisivo aceno de cabeça. — Então, deflorada?

— Ainda não. Billy queria adiantar as intimidades, mas esteve adoentado e quando voltou a insistir, mamãe faleceu e...

— Acertou o que com Billy quem? 

— Billy, ajudante do curtume. Lá de onde eu morava. 

— Céus, céus... — Jane tirou o bonnet. — Seu noivo. 

— Não! — Um risinho. — Só um... sabe... um...

— Sem vergonha com quem fazia sem-vergonhice.

— Dona Vovoti!

— Pois bem, é solteira, desimpedida, despreparada, inocente, quase bela. Precisa de mim.

— Como sabe disso tudo?

— Deixou uma estranha entrar quando está sozinha, obviamente não conhece os riscos da vida na cidade. Usa roupa antiga mal tingida enquanto seus fundos jazem no banco. Faz limpeza ao invés de se hospedar em um hotel enquanto os novos criados cuidam da casa. Me parece que tem alguma beleza por trás desses cabelos desgrenhados e pele bronzeada. — Jane pousou o bonnet na mesa mais próxima, tirou as luvas e segurou a cintura. — Pois bem, será meu presente de despedida para Mary. Sinto falta de minha amiga a cada dia, dolorosamente. Estávamos animadas com os preparativos para o casamento da filha espevitada dela com o lorde falido, campeão dos investimentos infelizes. Planejávamos anos tranquilos depois que ela se livrasse da dor de cabeça que era controlar a filha. Mary merecia mais da vida... — Piscou para esconder lágrimas. — Você tem que honrar a memória dela. Está de luto, ninguém vai suspeitar se você não aparecer em sociedade por algum tempo. — Torceu o nariz olhando para a garota. — Um bom tempo, precisaremos de um ano, no mínimo.

— Um ano para quê, dona Vovoti?

— Te transformar em uma dama! 

— Cataporas! E eu preciso disso?

— O palavreado tem de melhorar. Também postura, costumes, aparência, tudo. Primeiro, o mais fácil, esse nome... Não, não... 

— Dorca Smith é meu nome.

— E será nas suas mais íntimas intimidades. Na sociedade, você precisa de um nome que não lhe cause desvantagem. Ao ser apresentada, você deve causar boa impressão em todos os aspectos... — Jane andou pela saleta empoeirada. — Dora, Orca, Morta, Móca, Cassy! —  Estalou os dedos. — Cassy Higgins.

A garota emudeceu.

— A partir de hoje, será Cassy Higgins, herdeira dos falecidos Higgins, jovem dama cumprindo luto até que faça sua entrada em sociedade. — Bateu as palmas sorrindo. — Ao trabalho, Cassy!


Que tal?

Gostou do início da jornada de Cassy?



Venha com ela nesta caminhada pela transformação rumo a se tornar uma lady da sociedade e, quem sabe, achar um grande amor.


São mais de 30 capítulos explicando de um tudo na vida Vitoriana de uma mulher. 

Veja mais detalhes aqui.



Leia agora mesmo!


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