& Moira Bianchi: dezembro 2020

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Bridgerton na Netflix: primeiras impressões

 Olá!

Feliz Natal!!

Para encerrar esse ano singular, temos uma série novinha pra endoidar: 

Bridgertons de Julia Quinn

Tô aqui agarrada, mas parei pra compor esse post que vou atualizando conforme for assistindo.... pausa.

Agora que acabei, vi em dois dias - precisei parar no meio porque comecei a achar arrastado, especialmente no núcleo de Anthony que é meu irmão favorito.

Agora posso fechar as pesquisas.

Em termos de precisão histórica, faço uma escala Belgravia - Sanditon - O&P 2005.


Digo que:

>> achei a ambientação linda, deslumbrante. Me apaixonei pelas panorâmicas da cidade na era Georgeana, as externas são de babar - tenho tido muita curiosidade sobre o quanto as ruas eram movimentadas. 

>> As músicas modernas em cover clássico foram um charme, uma surpresa! Reconheceu todas? 

- Thank u, next de Ariana Grande - por Vitamin String Quartet

- Girls like you de Maroon 5 - por Vitamin String Quartet

- In my blood de Shawn Mendes - por Vitamin String Quartet

- Bad guy de Billie Elliot - por Vitamin String Quartet

- Wildest dreams de Taylor Swift

e uma sem letra, só instrumental - bem melooosa!

- Strange de Kris Bowers

>> A indumentária está linda, adorei. Deslizes, sim! Falo aqui em baixo. Mas os figurinos das Featheringtons, sedas espalhafatosas e coloridas, muito bacana. Aliás, gostei mais delas em pessoa do que nos livros.



>> As locações, show! Tantas e tão variadas...

- Bridgerton House em Londres: para fachada foi Ranger’s House, Chesterfield Walk, Greenwich e RAF Hilton para interiores

- Hastings House (casa do Duque) em Londres: Wilton House em Salisbury para fachada, e para interiores... Wilton House em Salisbury para galeria de retratos, hallway, e hall de entrada; Badminton House em Gloucestershire para parlour (sala de visitas) e morning room (saleta) e Syon House in London para outros interiores. 

- Clyvedon Castle (sede do Ducado): Castle Howard em York para fachadas e alguns interiores; Wilton House em Salisbury para sala de jantar; Badminton House em Gloucestershire para sala de visitas e jardins; North Mymms Park para o quarto do bebê.

- Vila da propriedade do Ducado: Coneysthorpe Village em York e Primrose Cottage.

- Bailes: Leigh Court em Bristol; Castle Howard em York, Bath Guildhall e Dundridge Manor Farm em Bucks.

- Featherington House: RAF Hilton e Hatfield House

- Danbury House: Holbourne Museum of Art em Bath

- Queen's residence: Hampton Court para exteriores e Lancaster House para interiores

- Buckingham (em construção e ampliação, que lindo!!) house - não era palace ainda: Wilton House, Lancaster House e Syon House

- Teatros: Theatre Royal em Brighton, Hackney Empire em Londres, Lancaster House

- Vauxhall jardim dos prazers: Castle Howard em York, Stowe Park (Templo de Venus)



- Ginásio de Boxe: Normansfield Theatre em Teddington e Chatham Dockyard em Kent.

- Igreja: interiores na St Mary’s Parish Church (St George’s Church) em Twickenham e exteriores em Wilton House.

- Clube de Cavalheiros: Hatfield House e North Mymms Park

- Ruas de Mayfair: Bath (Bath Street, Alfred Street, Royal Crescent e Beauford Street), Londres (The Queen's House em Greenwich, Somerley House)

- Ruas de Pall Mall: Trim Street (sorveteria), Abbey Street (modista), The Columbian Company (bar onde o Duque vai)

- Ruas mais pobres: Chatham Dockyard, Badminton House (hospital onde Featherington leva Marina)

- Hyde Park: Wilton House em Hampstead Heath, Somerley House em Hampshire, Windsor Great Park

- Estalagem na estrada: Dorney Court em Bucks


então vamos lá...



>> Dito isso, tenho muitas observações e dúvidas e coisitas que fui procurar.

- Apresentação na corte: traje das garotas e a família toda assistindo.

Para começar, a coroa me intrigou. Já pesquisei bastante a apresentação na corte para meus livros 'CUPIDOS EM DEVON'. Quem leu o livro 3 - Dilemas em Leilão - sabe que Anne Pauline, a mocinha mimada, tem uma ligação estreita com a corte (sem spoilers...) e por isso, ela vai se incumbir de apresentar as meninas - serão 5, fora os muitos meninos. Mas minhas pesquisas são centradas na era vitoriana. Daí fui pesquisar a era Regencial e descobri que os vestidos usados estão incorretos. Ah, que chato... desgosto quando a adaptação não respeita o óbvio. 

Vamos ao básico rapidinho da apresentação, firsts first: 

No reinado do Rei George III da Grã-Bretanha (1760-1820), a Rainha Charlotte (falei dela aqui, a princesa de 'mixed race') iniciou a tradição de apresentar e introduzir as mulheres da aristocracia (filhas ou esposas de nobres, filhas do clero, de oficiais militares e navais, de médicos e de advogados)  à sociedade através da cerimônia de visita à soberana. Para as "debutantes" as regras de etiqueta foram ficando mais rígidas, até que na Era Vitoriana alcançaram o ápice com determinação até da largura da cauda do vestido. 

Quando uma menina era apresentada, aos olhos da sociedade, ela passava de proibida a subitamente casável. A ocasião era sempre anunciada nos jornais alguns dias antes quando era divulgada a ordem em que as carruagens deveriam entrar na fila - o que significava a ordem que entrariam na presença da rainha.

Como era feita essa apresentação?

Moças eram apresentadas várias vezes na temporada elegante no palácio de St. James, 2 ou 3 dias de cada semana eram reservados para as apresentações, cerca de 100 a 200 por dia. 

Imagina essa fila de carruagens do lado de fora do Palácio de St. James (mais tarde Palácio de Buckingham)! 

Uma vez lá, ninguém sentava, todos ficavam de pé por horas e horas esperando nas saletas até o momento que fossem chamadas. Imagine essas salas lotadas, abarrotadas, como a família Bridgerton estaria ali para assistir - especialmente as crianças? O Visconde, que certamente já teria feito sua levée (apresentação dos meninos) poderia acompanhar a mãe (que deveria ter sido apresentada antes), e ninguém mais.


Não admira que ela desmaiou!

Quando era chamada, a moça caminhava até à Rainha e fazia uma profunda reverência (courtsy) - que havia sido praticada e praticada usando a roupa desconfortável com saias armadas (veja os trajes abaixo). Algumas gentilezas eram trocadas se a Rainha iniciasse uma conversa, a jovem responderia qualquer pergunta e nada mais. Quando a Rainha indicava que estava satisfeita, a jovem fazia mais uma reverência profunda, e andava de costas até sair da presença real (nunca se vira as costas para um monarca) o tempo todo lidando com o obstáculo do vestidão para não tropeçar.

Beijo na testa - na era Vitoriana - era para parentes ou filhas de nobres muito proeminentes. Se os Bridgertons eram assim próximos, não me lembro de ter lido isso. 

Quem se apresentava?

Os pedidos de inclusão de moças na cerimônia de debutante deveriam ser feitos por outra mulher tivesse sido apresentada quando moça, frequentemente a mãe, avó, madrasta ou outra conhecida pela família; quanto mais alto na posição aristocrática, melhor. 

Quando a moça se casava com um homem que cumpria os critérios, ela podia ser apresentada, mas não como parte das cerimônia de debutante. 

Quando a moça atingia a 'maturidade' de acordo com sua família, ela era apresentada representando que havia concluído sua educação e estava pronta para ser membro da sociedade e casar. Longe de ser baseada em anos, maturidade era determinada por desenvolvimento físico e educação completa - requisitos para um bom casamento.

Quando uma jovem estava “apresentada”, ela imediatamente começava a receber convites para todos os eventos. Uma garota popular seria muito procurada e os cavalheiros a “visitariam”.

Então servia para que?

Para mostrar que a mulher (jovem ou nem tanto) era bom partido e merecia ser incluída entre os bons.

A roupa da mulher na corte - visitas ou apresentação: 

la Belle Assemblé , 1817 - Court dress with the new hoop por Candice Hem

As regras da Corte eram rígidas, rainha Charlotte fazia questão absoluta de manter a tradição que vinha de antes de George III assumir e perduraram até quando seu filho assumiu o trono (era Regencial).

- saias armadas (tipo crinolina) e cauda, ​​

- penas brancas de avestruz no cabelo, presas a babados que pendiam até abaixo dos ombros. Repare no arco de cabeça: é um bandeau chamado de tour de tete.

- as jovens tinham que usar vestidos principalmente brancos ou tons pastéis claros, as damas da nobreza tinham mais liberdade de cor em seus trajes da corte.


inews


- cabelo solto em público de Daphne, Eloise e Penelope

A moda era Neo-grega na estética em geral. Prédios tinham colunatas, estátuas, haviam muitas lembranças de viagens ao continente  e espólios de guerra mostravam como fazer. Nos vestidos das moças e nos cabelos - de ambos os sexos -  era 'norma' que recriassem as imagens da Grécia antiga. Homens tinham cabelo tipo Brutus e Julius Cesar, mulheres prendiam em um coque.

Há relatos de mulheres com cabelos soltos nesta época, mas eram cortados curtinho como o masculino. Mesmo assim, elas usavam caracóis, tiaras, bandeaus e pregadeiras para juntar mais no topo da cabeça.

twitter

Algumas características eram:
- cabelo preso no topo da cabeça, voltado para trás, quase sempre em um coque simples e frouxo. Era alto o suficiente para ser visto pela frente,
- geralmente era puxado para trás, mas havia quem usava partido no meio (para depois formar o coque),
- o rosto era emoldurado por caracóis soltos para dar aparência de cuidadosamente descuidado,
- para a night, os coques eram mais elaborados e decorados com fitas, flores, joias, etc


Esconder os tornozelos e prender o cabelo mostrando o pescoço eram marcas da moça madura para o casamento, adulta e pronta para entrar na sociedade - mesmo que fosse no interior. Dentro de casa, ela poderia usar solto, passar o dia secando as madeixas, trançar, como quisesse. Mas em público, ela usaria preso. E coberto por um bonnet para manter a pele alva e livre de sardas.
A cultura Hindu fala que prender o cabelo protege a mulher da influência de energias malignas, a Bíblia fala em cobrir a cabeça na presença do Divino, e vale lembrar que ter cabelos bem penteados era símbolo de classe social elevada já que os trabalhadores não tinham tempo nem dinheiro para cuidar do cabelo.

- Duque sans cravat

"Pode algo ser descoberto no vestuário, que possa ao mesmo tempo traçar uma distinção forte e aparente entre um cavalheiro e seu oposto?" A pergunta vem do livreto Neckclothitania de 1818, Inglaterra. Era dedicado à arte da cravat e de maneira um tanto jocosa, listava razões e modos de usar o acessório da vestimenta masculina. 

Era a moda neo grega que queria fazer de homens figuras perfeitas como as estátuas, com pescoços longos e eretos - a cravat bem que dificultava movimentos!

O bonitão aí era um DUQUE, acima dele só príncipes e reis, talvez arcebispos. Por mais cool e bacana que ele fosse, ele faria questão de mostrar sua posição na sociedade e o quão mais nobre que os nobres ele era. Para isso, ele usaria cravat branca, engomada, absolutamente limpa e sem amarrotados. 

Por que? Porque ele podia! Era rico o suficiente para ter criados disponíveis para lavar, engomar, passar e manter várias cravats brancas que ele trocaria inúmeras vezes durante o dia, sempre que ficasse suada ou suja. Entende? Era símbolo do nobre que não precisava trabalhar, que era elegante o tempo todo.

Beau Brumel, o famoso dândi ditador da moda e influencer, fez das cravats volumosas e atadas de maneira elaborada uma tendência de moda que todos seguiam. Todos os que podiam. 

Quem era trabalhador e mesmo assim tinha alguma situação na vida, usava cravats coloridas e escuras para não mostrar sujeira durante o dia.

wiki


O Duque do seriado só usa um lacinho preto sobre camisa preta, gogó sempre à vista. Fui pesquisar se tinha fundamento e achei no Neckclothitania o nó Napoleão. Transcrevo e traduzo:

"pode ter vindo do estilo do Imperador Napoleão quando ele voltou do exílio em Elba. É feito colocando primeiro na nuca, as pontas sendo trazidas para a frente e cruzadas, sem amarrar, e então presas a suportes (na camisa, sob o colete?) , ou carregadas sob os braços e amarradas nas costas. Tem uma aparência muito bonita, dando ao usuário uma aparência lânguida e sedutora. A cor violeta e la couleur des levres d'amour (vermelho, a cor de lábios apaixonados) são as mais adequadas para isso."

- boxe para gents 

Certeza que era o esporte mais popular entre os nobres e aristocratas, o apelo de homens se matando é antigo e era um must na era Regencial. A maioria dos gents gostava de assistir as lutas - armadas como muitas eram realmente ou de exibição. Alguns, como Simon, fazia aulas com os famosos mestres como John Jackson (que chegou a ser tido com um gentleman por sua fama e destreza no esporte), Tom Belcher, Tom Cribb and Mendoza. No meu livro Dilemas em leilão, o mocinho Kin fica todo felizinho com Anne Pauline lhe arruma a cravat ao estilo Belcher. Era símbolo de virilidade, de sucesso!

pra mim, o pugilista tem mais porte de Duque que o ator que fez Simon. Ui, que beleza!

Jackson é creditado por manter o esporte honesto em uma época em que as lutas eram frequentemente armadas e por desenvolver um tipo de Comissão de Boxe e Clube Pugilístico, que coletava assinaturas de clientes ricos e patrocinava lutas várias vezes por ano. Para cada luta, um banqueiro era nomeado para cuidar das apostas, muitas vezes ele mesmo era nomeado para esta posição.

Além de ensinar e organizar lutas, Jackson também organizava demonstrações pugilísticas para a aristocracia, incluindo lutas perante o imperador da Rússia, o rei da Prússia, o príncipe de Gales e o príncipe de Mecklenburg. Na coroação de George IV em 1821, Jackson forneceu um grupo de pugilistas para atuar como guardas para impedir que mortais menores comparecessem ao evento.

E, vergonhosamente, haviam as lutas homem x bestas com pugilistas lutando contra ursos, por exemplo. Procura aí no google, não vou falar disso. Éca!

- mulheres mais velhas de branco no baile

Branco nos vestidos de baile era reservado para as jovenzinhas, virgens e debutantes para mostrar exatamente o que eram: iniciantes. 
O vestido branco era associado à virtude, as flores de lírio branco em particular, eram associadas à pureza virginal e à castidade. Mais, como a iluminação era feita por velas (1 candela de iluminação por cada unidade), a cor ajudava a fazer a moçoila brilhar.
Por isso, sempre vi que as casadas preferiam outras cores. No entanto, no seriado as casadas, de meia idade, de terceira idade, todas usam branquinho das mocinhas...


Para o dia, vestidos simples de algodão branco eram versáteis, aceitavam adornos e reformas de adornos que poderiam mudar totalmente o look. O branquinho era associado à vida pastoral idealizada: as pessoas mais morais e felizes que viviam honestamente no campo, pastoreio, ovelhas. 


De novo, como já falei aqui, era A MODA NEOGREGA, a simplicidade e elegância dos escritos dos antigos gregos, romanos e neoclássicos do século 18. O vestido branco, portanto, possibilitava às mulheres se identificarem com a contenção virtuosa no vestir.



- todos os gents têm suíças e usam botas o tempo todo

Falei disso no Instagram: A moda masculina na era Georgiana e Regencial era bem variada, os homens seguiam regras de elegância quase tão rígidas quanto as mulheres. A onda neo grega ditava a estética do homem viril perfeito como as estátuas da Grécia antiga. 


Botas (hessians - as bicolores- ou John Bull -as pretas- especialmente) eram para o dia quando o boy cavalgaria, andasse pelas ruas sujas (imagine todas as carruagens e cavalos soltando dejetos e lama e tal) ou se estivesse em sua casa de campo. Se ficasse somente indoor, entrando e saindo de carruagens, preferiria as meias de seca com sapato escuro. 

nytimes

Bailes ou visita à corte, JAMAIS de botas. Seria sapatilha escura com meias de seda. Claro, o homem Regencial era elegante!

Wiki diz para moda, 1810. "Homens: fraques justos e trespassados; gravatas enroladas até o queixo; costeletas e cabelo natural estilo Brutus; calças justas; meias de seda, relógios de ouro, bengala, chapéus."

gay times


Quanto às costeletas, eu sempre associo à era Vitoriana quando os homens cultivavam mais os pelos faciais, mas sim, era moda também na Georgeana e Regencial. Mas note, a five o'clock shadow do Duque, a barba por fazer, oh-so-sexy, nunca exisitiria...

metro

- contorcionista de salto agulha

Comé? 

Eu nem acreditei quando vi isso!


Stilettos só foram inventados na década de 1950 pelos estilistas italianos. Acredito que a intenção foi mostrar como a corte se virava do avesso para entreter os soberanos, a pobre contorcionista fazia aí das tripas coração e a rainha, entediada, lia a coluna de fofoca.
Um trope conhecido, a mulher que faz de um tudo pra se virar na vida.
jane austen center


Os sapatos femininos nesta época eram baixos em sua maioria. Quando havia algum saltinho, era em botinhas para sair à rua (que era suja, sempre) e nos sapatos de carruagem, pelo mesmo motivo. Já postei um no insta. Saltos, quando estavam na moda no sec 18, eram beeem menores e largos.

- por que ela é SENHORITA e não LADY se é filha de Visconde?

Somente se o pai tivesse virado nobre APÓS o nascimento dos filhos é que ela seria Senhorita. Mas foi esse o caso?

Se quando Daphne nasceu, seu pai já era Visconde, ela seria LADY,

Se quando se casaram, Violet não fosse filha de nobre e o marido já tivesse um título, ela seria LADY BRIDGERTON,

Se quando se casaram, Violet fosse filha de um nobre, pouco importaria se o marido tivesse ou não título, ela seria LADY VIOLET,

Não entendi porque decidiram errar nisso! Tão óbvio...

Que bobeira, né?


Muitas dúvidas, algumas boas pesquisas e o gostinho amargo de terem tirado licenças poéticas desnecessárias. Já estavam lidando um nobreza negra, oriental, todos convivendo felizes e em paz, precisava mudar outras coisas?

no guilt fangirl


Na época de Sanditon, falei disso tudo também. Tá aqui.

Minhas pesquisas históricas estão aqui.



Me fala sua opinião: assistiu? Gostou? 

Notou esses deslizes?



Pra te curar da ressaca, listei aqui 15+ seriados de época

bjs, M.


pesquisei aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e em meus arquivos pessoais. Pics sem fonte vieram do twitter oficial da série.



quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Natal na era Vitoriana

 Olá!

Comemorando o lançamento da coletânea 'Era uma vez no Natal' da editora Pitangus onde eu assino o conto Vitoriano 'Conspiração Natalina', quero falar um pouco sobre os costumes de Natal da era Vitoriana. Repito, como já falei em outros posts, que a esquisitice Vitoriana é o que me encanta. O exagero, os valores, os costumes são muito legais.

engraving mid victorian - V&A museum


Para escrever o conto, até me perdi em tantas referências, tentei organizar algumas dicas das maluquices mais bacanas na narrativa, mas é impossível incluir tudo. Tinha até manual para comemorar o Natal de maneira correta!

Desta forma, quero falar aqui de algumas tradições e curiosidades

***

árvore de Natal

As árvores decoradas vêm da Alemanha na Idade Média, mas há muitos detalhes nessa história. 

pinterest


No livrinho especializado em Natal 'The holidays: Christmas, Easter, and Whitsuntide: their social festivities, customs, and carols' de Nathan B. Warren em 1868, é dito que 'O costume de decorar a árvore de Natal, embora de origem alemã e de grande antiguidade, foi recentemente introduzido com sucesso na Inglaterra e neste país (EUA). Na verdade, parece que foi naturalizado conosco antes mesmo da Inglaterra. Pois na Pensilvânia, onde muitos dos colonos são descendentes de alemães, a véspera de Natal é observada com muitas das cerimônias praticadas na antiga pátria. A árvore de Natal se ramifica em todo o seu esplendor, e o Menino Jesus - de acordo com a lenda alemã - vem voando pelo ar com asas douradas e faz com que o ramo produza à noite todos os tipos de frutas, doces dourados, maçãs, nozes, etc., para os bons filhos.- "Diz-se que Lutero em sua família celebrava a véspera de Natal de acordo com o costume alemão. Em uma gravura publicada em Leipsic, do grande reformador, que gostava de crianças e a música, contribuiu para cristianizar um costume perverso derivado dos tempos pagãos, ao colocar uma imagem da Madonna della Seggiola entre as velas para iluminar a mais bela representação infantil dAquele que trouxe bons presentes até homens e, assim, para santificar o antigo costume alemão de pendurar presentes em uma árvore, que data da época da vida pagã em uma floresta.'

Bem, árvores são ligadas ao divino desde muito cedo, os Egípcios, Romanos, Celtas e Vikings já a tinham como símbolo da renovação, saúde e alegria. Especificamente ligada à árvore de Natal como conhecemos, se acredita que vem de Martinho Lutero, o reformador protestante do século 16, a invenção de primeiro adicionar velas acesas a uma árvore. Caminhando em direção a sua casa em uma noite de inverno de 1536, escrevendo um sermão, ergueu os olhos para ver as estrelas brilhando através das árvores como ornamentos adornando seus galhos. O espetáculo o inspirou, ele ficou tão maravilhado que para recapturar a cena para sua família, ele ergueu uma árvore na sala principal de sua casa em Eisleben e prendeu seus galhos com velas acesas.

Pelo que estudei, o costume das árvores de Natal chegou na Inglaterra com a rainha Charlotte, esposa do Rei George III, aquela que era meio Portuguesa, meio mulata, meio branca. Falei dela aqui e parece que ela será a sensação da série Bridgertons na Netflix. Enfim, foi ela quem instalou a primeira árvore indoor para marcar a época festiva em Queen's Lodge, Windsor, em dezembro de 1800. Ela havia deixado o ducado de Mecklenburg-Strelitz em 1761 para se casar com George, trazendo consigo a lenda do reformador protestante Martinho Lutero. 

A aristocracia adorou, todos copiaram e as árvores ficaram fechadas nos lares endinheirados.

independent


A Wiki diz que 'a devastação da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e as guerras entre os principados alemães e a França causaram parte da imigração de alemães da área do Reno para a América. Membros desse grupo fundaram o bairro de Germantown, no noroeste do condado de Filadélfia, Pensilvânia, em 1683.' Mas só há registro de árvores em lares de descendentes alemães na Pensilvânia a partir de 1830.

No entanto, quem ficou famosa por 'inventar' a árvore de Natal foi o Príncipe Albert, marido da rainha Victoria. Em 1848, o jovem casal já tinha vários filhos e eles criavam a imagem da família estável, fértil e conservadora. Assim, quando ele importou uma árvore de sua terra natal, Coburg, foi uma inovação. Antes disso, as árvores eram puxadas com raiz e tudo e arrastadas para dentro de casa. A divulgação de uma ilustração deles em volta da árvore decorada solidificou a tradição da classe alta para o povão da classe média.

essa é a ilustração famosa que causou o furor das árvores

***

cartões de Natal

O costume era escrever uma cartinha para cada amigo. Imagina quem era popular como Sir Henry Cole que em 1843 recebeu pilhas de correspondência? 

Esse foi o primeiro cartão de Naral, ainda sobram uns 100 no mundo. V&A museum


Era época do início do Penny Post - correio com preços módicos, e todos podiam mandar correspondência. Ele, preocupado em como responder todas as cartas de congratulações de final de ano, pediu a um amigo ilustrador para montar uma ilustração bacana, de gente feliz e gente ajudando ao próximo e todas as outras boas práticas da estação. Com a imagem, ele mandou imprimir 1000 cópias com um espaço de pois do 'Para:____'. 

A ideia de uma saudação enviada pelo correio gradualmente se popularizou na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Em 1875, Louis Prang, um imigrante prussiano com uma gráfica perto de Boston, criou o primeiro cartão de Natal dos Estados Unidos. Era muito diferente do de Cole , por não conter uma imagem de Natal ou feriado. O cartão tinha uma flor com o “Feliz Natal”. Em 1915 com Hall Brothers (Hallmark), com sede em Kansas City, criando um cartão dobrado vendido com um envelope em 1915.

pinterest


Daí eles começaram a mostrar cada cena prá lá de esquisitas. Olha algumas:

várias fontes. Pinterest, V&A museum, etc

veja mais aqui, aqui e aqui. Se prepara, é cada um!...

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São Nicolau 

Papai Noel, também conhecido como Pai Natal, São Nicolau, São Nicolau, Kris Kringle é originário da cultura cristã ocidental baseado em São Nicolau, um bispo grego do século IV e presenteador de Myra, daí a entrega de presentes para crianças bem comportadas. Alguns afirmam que o Papai Noel também absorveu elementos da divindade germânica Wodan, que estava associada ao evento pagão do inverno de Yule e liderou a Caçada Selvagem, uma procissão fantasmagórica pelo céu.

pinterest


A imagem tradicional do homem corpulento, alegre, de barba branca - às vezes com óculos - vestindo roupa vermelha com gola e punhos de pele branca, calças vermelhas com punhos de pele branca se tornou popular nos Estados Unidos e Canadá no século 19 devido à influência significativa do poema de 1823 "Uma visita de São Nicolau" e do caricaturista e cartunista político Thomas Nast.

wiki

O poema de autor anônimo (possivelmente o professor Clement Moore) conta que, na noite da véspera de Natal, uma família está se preparando para dormir quando o pai ouve barulho do lado de fora. Olhando pela janela, ele vê São Nicolau em um trenó no ar puxado por 8 renas. Depois de pousar no telhado, São Nicolau entra na casa pela chaminé, carregando um saco de brinquedos. O pai observa o visitante encher as meias penduradas perto da lareira. Ao partir, ele deseja um "Feliz Natal e uma boa noite a todos.

amazon

De acordo com a Biblioteca do Congresso dos EUA, Clement, um professor do Seminário Teológico Geral de Manhattan, ficou "envergonhado com o trabalho, que foi tornado público sem seu conhecimento em dezembro de 1823. Moore não o publicou em seu nome até 1844."

***

Krampus

É uma lenda popular da Europa Central, um monstro meio bode e meio demônio que pune crianças que se comportam mal na época do Natal, companheiro diabólico de São Nicolau. Acredita-se que Krampus se originou na Alemanha, e seu nome deriva da palavra alemã Krampen, que significa "garra".

pinterest


Acreditava-se que Krampus fazia parte dos rituais pagãos do solstício de inverno. Segundo a lenda, ele é filho de Hel, o deus nórdico do submundo. Com a expansão do cristianismo, Krampus tornou-se associado ao Natal - apesar dos esforços da Igreja Católica para bani-lo. 

usc news


A criatura e São Nicolau chegaram na noite de 5 de dezembro (Krampusnacht; “Noite de Krampus”). Enquanto São Nicolau recompensa as crianças simpáticas com presentes, Krampus bate naquelas que são travessas com galhos e gravetos. Em alguns casos, ele os come ou os leva para o inferno. Em 6 de dezembro, Dia de São Nicolau, as crianças acordam para encontrar seus presentes ou cuidar de seus ferimentos.

chicago tribune

As imagens do Krampus vão de cartunizadas a hots. Eu prefiro as históricas.

***

No meu conto Vitoriano de Natal, cito essas tradições e algumas outras, também a origem alemã das celebrações de Natal da era Vitoriana que nos acompanham até hoje. Além, claro, de muito amorzinho regado a magia natalina!

Para ler a coletânea, clique aqui.

Para mais de Natal Vitoriano, falo de Dickens (Christmas Carol) aqui

Para mais pesquisas históricas, aqui

até mais, M.


pesquisei aqui, aqui, aqui, aqui, e minhas notas pessoais.

Era uma vez no Natal

Então chegamos ao Natal, e o que você tem feito neste ano?
Está na hora de fazer as contas com o bom velhinho e aquecer o coração. Tenho aqui uma boa opção para te colocar no clima...

Era uma vez no Natal
coletânea de contos de final de ano

A editora Pitangus, casa dos Lordes Imperfeitos, me convidou para entrar nessa coletânea fofa com as outras autoras do quadro. Achei a ideia inspiradora, ainda não tinha composta nada de Natal & de época. Topei!

Sinopse oficial:
O que pode ser mais gostoso do que uma linda história de amor no Natal?
Que tal seis histórias apaixonantes?
A Pitangus Editorial convidou seis autoras maravilhosas para esse projeto delicioso onde cada uma traz uma linda história de amor tendo o Natal como pano de fundo.
Lordes apaixonados.
Colegas de trabalho.
Amigos de infância.
Um amor do passado.
Estranhos que se apaixonam.

Venha se apaixonar por esses seis contos!
-Lorde Natal - Lucy Dib
-Conspiração Natalina - Moira Bianchi
-Santa Baby - Cris Castro
-O Trem - Ceça Lopes
-O Que Eu Quero de Natal é Você - Nathalia Cabral
-Por Favor, Venha Para Casa no Natal - Sissi Freire
***

Na Pitangus, eu e Lucy Dib temos a série de romances de época e por isso, achamos que deveríamos ficar na mesma linha. Um Imperfeitinho rapidinho não estava nos nossos planos - sovinice, embriaguez, etc; temos os defeitos já escolhidos até, mas esse projeto apareceu e então, vieram os LORDES MISTERIOSOS cheios da magia do Espírito Natalino!

Apesar da proposta não ter limites ou diretrizes além de trazer a positividade do Natal, logo de cara eu imaginei um conto de época. Ah, que delícia!

Falar do Natal Vitoriano é mergulhar nas esquisitices clássicas do período e as bases do que somos hoje, nossas influências culturais e cotidianas. Árvore de Natal, cartões de Natal, a comemoração, troca de presentes, etc, etc, etc, tudo muito bacana de pesquisar e para falar a verdade, até tive dificuldades de onde começar!

Acabei escolhendo esse como meu ponto de partida:
cartão natalino, final do séc 19. Coleção do Museu V&A


Os cartões de Natal Vitoriano são tão esquisitos! Muito diferentes do que estamos acostumados hoje. Falo mais do Natal Vitoriano aqui.

De volta ao conto da 'Era uma vez no Natal', eu parti das mariposas e como um gato é fascinado pela caça a elas. Daí cheguei em um Lorde misterioso que se faz de morto para escapar da caça de moças casamenteiras, até que, durante a celebração de Natal de um hotel refinado, ele reconhece uma alma gêmea em alguém de maneira muito inesperada.


Meu conto é 
'Conspiração Natalina' 
que conta a história de Breena, uma lady filha de Conde, prendada e bela o suficiente cuja vida acontece aos galopes, a cada mês de Dezembro. 
De certa forma, ela até teme a chegada do Natal.
Eis que em um determinado ano, às vésperas do seu aniversário, a magia dos espíritos Natalinos de Krampus e São Nicolau fazem com que ela conheça alguém bem diferente... E tudo começa a fazer sentido quando ela entende que a chave é deixar a magia no Natal entrar no coração.

Conto de época, Era Vitoriana, do universo dos LORDES IMPERFEITOS - neste caso, um gato chamado DUQUE que é muito MISTERIOSO... miau!


Que tal um trechinho?
Breena vagou pelos salões do hotel refinado até achar um assento perto das lareiras.
— Boa tarde. — Ela sorriu constrangida. — Posso? — Apontou a poltrona vazia ao lado da que um cavalheiro ocupava. 
— Pois não.
Ela sentou, acomodou as saias, a reticule, suspirou e se pôs a estudar o folheto da programação de Natal. Então empurrou os óculos no nariz e coçou as unhas no estofado da poltrona, esperou e repetiu. Ia fazê-lo de novo quando ouviu um miado baixo vindo de longe. Alguns momentos depois viu uma sombra se aproximar devagar.
O Cavalheiro soltou um barulhinho na garganta. — Mmm. 
O gato de Breena sequer olhou para ele, também não olhou para Breena. Preferiu conferir a lareira e se encaminhou para outro canto da sala.
— Mistério resolvido, ele é seu. O Krampus.
— Senhor? — Breena perguntou.
— O gato marrom, peludo, muito mal humorado. Eu chamo de Krampus.
— Ele atende?
— Não.
— É porque o nome dele é Sr. Duque. — ela chamou o animal.
O gato parou, virou a cabeça, olhou com desdém e pareceu cogitar voltar, mas preferiu seguir em frente.
Breena deu de ombros. — Ele não gosta daqui. — Explicou. — Ele morreu aqui, coitado. Vem porque não tem escolha; é pequeno, eu enfio ele na bolsa, ele tem que vir. Se pudesse escolher, duvido que viesse.
A curiosa fala sem emoção capturou a atenção do homem. — Seu gato me parece bem vivo.
— Corpo de gato, espírito do meu noivo que morreu aqui. — Ela pausou. — Sabe quem eu sou? — Sabia que ele sabia, todo mundo conhecia todo mundo naquele hotel.
Ele prendeu os lábios. — Sinto muitíssimo.
Ela inclinou a cabeça. — Achei esse gatinho miando em baixo da minha janela há dois anos, no dia seguinte ao falecimento do meu noivo. Ele morreu a caminho daqui no dia do nosso casamento, sofreu um acidente de carruagem na curva da estrada, antes do lago, depois da gruta. — Breena deu de ombros e ficaram em silêncio por alguns momentos.
— Por que Duque?
— É curto. Acidente era longo demais. Carruagem também. Morte é feminino, e ele é macho.
O cavalheiro riu antes de conseguir se segurar. — Desculpe. 
— Imagine. Sei quem você é, o novo Krampus. Aterroriza as crianças.
Ele concordou com a cabeça.
— Achei que só viesse no terceiro dia.
— Este ano sobraram quartos. — ele mentiu.



São muitas reviravoltas, segredos e fofurice de um amor Natalino.
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E quem é Krampus? Já ouviu falar?
Te conto aqui neste post de Natal Vitoriano!


Opiniões, sim! Muitas!