dia chuvoso e feliz hoje... Aniversário do meu filho e
lançamento de Preconceito, orgulho e CAFÉ.
Yay!DISPONÍVEL EBOOK E BROCHURA |
Essa estória é muito querida, escrevi com muita facilidade, muito prazer. É leve e divertida, intensa e corrida... Começa em Janeiro e quando chega Dezembro- Oops, quase soltei spoilers. Sorry!
Mas é viciante e reconfortante como café quentinho...
Como já deve ter visto na página do livro, as personagens foram rebatizados como Maria Antonia e Luís Maurício. Todos os outros também...
Quer ver como ficou?
Só um cafezinho?
Lá vai...
Preconceito, Orgulho & CAFÉ
Livremente inspirado em O&P, fluff, comédia romântica, 18+
Capítulo 1
na íntegra
‘Nossa, acho que torci o tornozelo...’ Maria Antonia
Marisguia fez cara de quem poderia chorar a qualquer minuto.
‘Na obra do café da Gisele?’ A irmã mais velha respondeu com
solidariedade incondicional instantânea.
‘Saindo do prédio.’ Maria Antonia sentou na cadeira em
frente à mesa de Maria Luiza, tirou o sapato, e girou o pé em um círculo
grande. ‘Tinha uns idiotas levando caixas para cima e deixaram vários rolos no
piso, na saída do elevador de carga. Estava distraída com o telefone e
tropecei.’ Fez careta sentindo as juntas dos tornozelos estalarem.
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‘Cara, acabei de salvar uma gata. Mereço o título de Cidadão
Carioca!’ Dr. Henrique Fialho abriu um sorriso preguiçoso nos lábios quase
escondidos pela barba de lenhador que penteava com os dedos.
‘Merece o uniforme de bombeiro.’ Dr. Luís Maurício Noronha
resmungou da sua mesa.
Testa franzida, rosto inclinado para o lado, Henrique olhou
para o sócio sem entender. ‘Não!’ Riu. ‘Uma mulher bonita, não um felino
fêmea.’
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‘Um gravatinha me
segurou.’ Maria Antonia revirou os olhos. ‘Teria sido melhor cair sobre os
tapetes.’
A irmã mais velha deu a volta na mesa e sentou na outra
cadeira de interlocutor da sua sala para massagear o tornozelo da mais nova. ‘E
mais vergonhoso.’
‘Totalmente!’ Sorriu com ironia. ‘Mas não teria torcido o
tornozelo.’ Suspirou triste.
‘De novo.’
‘De novo.’
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a sua mesa o terceiro sócio, Dr. Danilo Bicudo, sacudiu a
cabeça mantendo os olhos no computador. ‘Se você só foi visitar a obra do
escritório novo, como pode ter tido a chance de salvar alguém?’
‘Denise sempre precisa de ajuda.’ Maurício levantou as
sobrancelhas.
‘Mas é a sua que minha irmã quer.’ Danilo apontou para o
amigo desde a faculdade.
‘Não necessariamente. Qualquer um que não considere desperdício
bancar seus devaneios, serve.’ Maurício disse sem interesse. ‘Pode ir fundo, Henrique,
não vai abalar nossa sociedade.’
‘E nossa amizade?’
Danilo prendeu os lábios para os amigos discutindo sua irmã como se ele não
estivesse presente.
Maurício bufou impaciente. Dividir espaço com os amigos
tinha sido prático e econômico quando começaram, mas já iam bem o suficiente
para que tivessem privacidade. No escritório novo cada sócio teria sua própria
sala e espaço para respirar; ele próprio perdia a esportiva com facilidade
ultimamente. ‘Ainda não achei uma mulher para me colocar no cabresto, muito
menos acabar com minhas amizades.’
‘Bicho, não viu a gata que salvei!’ Henrique cortou a
potencial discussão sobre a irmã decoradora de um sócio que esticou um caso
frio com o outro sócio por meses.
‘Não foi a Deny?’ Danilo insistiu.
‘Não!...’ Henrique sacudiu a cabeça com veemência. ‘Bicho,
que gostosa!’
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‘O que houve?’ A irmã caçula, Maria Catarina - Kat, entrou
na sala com vários documentos que despejou na mesa da irmã mais velha sem
cerimônia e entregou duas pastas finas para outra.
‘Um caramelo
macchiato quis bancar o herói e me ajudou a torcer o tornozelo...’ Maria
Antonia, Toni, resmungou contrariada e se contorceu de dor com a massagem de Maria
Luiza, Luli.
‘Fígado gourmet?’ Catarina debochou da rabugice da irmã em
rotular as pessoas pelas preferências gastronômicas.
Bufou petulante. ‘Totalmente cara de quem tem nojinho de
bife de fígado... Aposto.’
Riram como sempre achando graça da escala inventada, mas na
verdade morriam de nojo de fígado bovino cru, ou órgãos de qualquer animal. Seu
querido avô tinha insistido para que se acostumassem a comer bife de fígado
dizendo que era ‘bom para o sangue’ e aprenderam a gostar por causa do seu amor
pelo pai de sua mãe.
‘Aquele prédio vai ser campo minado. Pencas de gravatinhas e modeletes
de Fórum...’ Antonia torceu os lábios em desgosto.
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‘A gostosa saiu do elevador apressada olhando para o celular
e não viu os caras levando nossos móveis para cima.’ Henrique irradiou sua
aventura. ‘A portaria está uma bagunça, várias mudanças na verdade, tinha um
monte de caixas e ela saiu rápido do elevador de cargas, virou de lado para
desviar e não viu os rolos de tapete no chão. Salto alto, vestido alinhado...
Bicho, mulherão! Pinta de advogata,
mas nunca a vi no Fórum... Ia me lembrar se tivesse visto...’ Ele sorriu para
si. ‘Vou me lembrar agora! Ela tropeçou e ia cair se o super-homem aqui não
tivesse a segurado pela cintura. Cabelo castanho com aqueles tons todos
diferentes, corpo bonito, vestido coladinho azul de bolinhas brancas, salto. Ó-’
Sacudiu a cabeça forçando o lábio inferior para frente. ‘Gostosa.’
‘Babaca.’ Danilo sacudiu a cabeça mais uma vez. ‘Aproveitou
para passar a mão na mulher...’
‘Temo pela reputação do nosso escritório... ’ Maurício
resmungou.
‘Não está em risco. Fui extremamente cavalheiro e ela muito
educadamente me agradeceu pela ajuda com um deslumbrante sorriso dos lábios brilhosos.
’ Henrique bateu continência e os dois sócios reviraram os olhos.
‘Trocaram telefone?’ Um sócio investigou.
‘Não...’ O sócio herói fez cara de tristeza.
‘Viu? Babaca.’ Outro sócio decretou.
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Antonia suspirou se deixando afundar na cadeira estofada.
‘Pago cinquenta reais para uma de vocês dar apoio a Gisele.’
‘É o seu trabalho.’ Luiza sacudiu a cabeça.
‘E cinquenta nem dá para a manicure da semana.’ Catarina fez
bico.
‘Pago manicure do mês.’ Antonia tentou novamente.
‘Por atendimento ao cliente de café novo, de donos
inexperientes?’ Foi a vez de Catarina bufar. ‘Vai levar meses!’
‘Lucas, o barista, é muito aplicado...’ Argumentou. ‘Luli...’
Tentou fazer charminho, mas a irmã mais velha sacudiu a cabeça novamente prendendo
um sorriso.
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‘Ano novo, vida nova e nosso novo escritório vai bombar! O prédio está show de bola,
alta classe, escolhemos bem quando decidimos juntar quase todas as nossas
economias e comprar a sala lá.’ Completou orgulhoso, o sorriso esticando a
barba pesada.
‘Nosso orçamento já
bombou. ’ Danilo resmungou. ‘Denise perdeu a linha. ’
‘Precisamos subir de nível, é investimento.’ Maurício tinha
em mente o projeto aprovado e os novos clientes que atrairiam estando em um
ponto nobre do Centro do Rio de Janeiro, mais próximos do Palácio da Justiça
onde os tradicionais e renomados escritórios de advocacia gravitavam. Quanto
mais perto do Fórum, mais importantes eram os advogados. ‘Como vai a obra, no
prazo? Precisamos entregar essas salas aqui, os estagiários já estão preparando
a mudança dos arquivos.’
‘Tudo certo! A placa já foi instalada, ficou ótima.’ Henrique
tirou o celular do bolso do paletó do terno para carregar as fotos que tinha
tirado.
---
‘Se eu estiver certa,
vai ser uma tortura... Pelo menos revezem comigo.’ Implorou. ‘Devemos à Gisele,
nós todas.’ Antonia lembrou às irmãs levantando uma sobrancelha.
‘Bobeira!’ A mãe entrou na sala falando alto. ‘Ninguém
forçou Gisele a casar com o filho imbecil do meu primo idiota. Se ficaram tão
mexidas, o irmão dele ainda está solteiro!’ Maria Bernadete Marisguia piscou
exageradamente para as filhas que reviraram os olhos.
‘Vanilla duplo
caramelo de bosta!’ Antonia grunhiu quando Luiza liberou seu tornozelo.
‘Vai ter um monte lá...’
‘Vou ter que te mandar para Itália de novo para aprender o
valor de uma bebida de café?’ Bernadete ameaçou a filha do meio.
‘Prefiro o campo minado de gravatinhas.’ Antonia arregalou
os olhos. ‘Por favor, outro curso de barista, não!’
‘Volta para os perfumes.’ Luiza convidou com saudades de
trabalhar em parceria com a irmã.
A mãe gesticulou impaciente. ‘Ela é ótima no café!’
‘Ela é esnobe e odeia qualquer café que não seja shot de espresso.’
Catarina argumentou.
Suspirou profundamente. ‘Péssima ideia ter vocês como minhas
gerentes...’
‘Mãe!’ As três filhas reclamaram.
‘Eu sou ótimo gerente! Manda elas embora e eu cuido de
tudo!’ Frederico Levi gritou da sala dele.
Bernadete sacudiu a cabeça.
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Os três advogados jovens por volta dos trinta e poucos anos,
atléticos, solteiros, competentes e no momento com as finanças prejudicadas
devido ao estabelecimento de um escritório novo em um prédio recém-reformado no
coração do Centro Financeiro do Rio de Janeiro, se juntaram para admirar seus
esforços refletidos na tinta prata impressa em vidro temperado verde:
Bicudo, Fialho & Noronha
Advogados associados
---
A alguns quarteirões de distância, exatamente em frente ao
Palácio da Justiça, de seu grande escritório de importação de produtos de luxo,
Bernadete apontou para o pé da filha do meio ainda fora dos scarpins de couro
envernizado, bico e saltos finos.
‘Tropecei. Esse salto é muito alto.’
‘Seu pai vive te comprando essas roupinhas de advogatinha sem gosto e com vergonha do
corpo. Não sei por que você aceita usar.’ Levantou o nariz petulantemente e
bufou contrariada.
‘Esse salto é tipo fuck
me, mãe.’ Catarina argumentou e calçou o sapato da irmã gesticulando os
dedos impacientemente para que o outro pé também fosse liberado e passeou pelo
escritório. ‘É lindo! Pena que Toni é trinta e sete e eu sou quase trinta e
oito...’
‘Velho babão gosta de ver pernas femininas em saltos altos,
mas tem medo de ver peitos e não segurar as calças.’ Bernadete sacudiu a cabeça
resmungando.
‘Ai meu Deus.’ Luiza suspirou.
‘Já viu como as patetas se vestem para ir ao Fórum?’ A mãe
insistiu.
‘Tem mulher bonita lá!’ Antonia esticou as duas pernas e
flexionou os pés para frente e para trás. ‘Em pencas!’
‘E vestidas de velhas!’ A mãe, tão bem arrumada quanto as
filhas, insistiu.
‘Verdade.’
‘Hoje você vai para casa, moça. E amanhã vai estar vestida
com mais bom gosto.’ Decretou com autoridade materna. ‘Vão todas jantar em casa.’
‘Tenho aula de circo.’ Antonia disse e teve o desprazer de
ver sua mãe e irmãs revirando os olhos.
‘Chego depois da aula de mandarim.’ Catarina informou. ‘Nove.’
‘Passo em casa e vou.’ Luiza sorriu.
‘Nove.’ Bernadete marcou hora feliz com a rara possibilidade
de jantar em casa com as três filhas adultas. Maria Luiza nunca voltou para
casa depois do divórcio e ainda morava em Ipanema sozinha no desértico apartamento
de quatro quartos. Maria Antonia sempre se dividia entre a casa do pai e da mãe
– muito para dor no coração de Bernadete que só acalmou quando Antonio Froes,
seu ex-namorado, comprou a cobertura ao lado da sua no prédio onde morou desde
menina. Maria Catarina era a única a morar com ela ainda, mas adulta e cheia de
afazeres, mal passava tempo em casa.
‘Vou mandar fazer torta de caranguejo.’
‘Muito bom.’
‘Vinho branco?’
‘Delícia!’
A mãe balançou a cabeça confiante. ‘Dormimos todas em casa hoje.’
Antonia já sabia que acabaria a noite atravessada nos pés na
cama grande enquanto a mãe e as irmãs
dormiam lado a lado. No meio da noite acordaria quebrada e se arrastaria para
sua própria cama. ‘Bom, vou trabalhar.’ Se levantou com cuidado, testando o
tornozelo.
‘Trabalhar dá trabalho!’ Bernadete levantou o dedo pequeno
com unha grande pintada de vermelho. ‘Meu pai dizia isso sempre.’
Antonia caminhou descalça para sua sala pensando em tudo que
ainda tinha que fazer e lembrou que havia esquecido a roupa de ginástica no
estúdio da casa da mãe. Poderia pedir para o motorista do pai trazer se
estivesse no estúdio da casa dele, mas... Reynaldo, o mordomo do pai não
entrava na casa da mãe nem se dava bem com Hilda, empregada de Bernadete desde que
Luiza nasceu. Suspirou pensando que ainda se enrolava com a eterna divisão
entre as casas da mãe e do pai, mesmo depois de passar a vida toda na roda viva que só aliviou quando os dois
concordaram em deixa-la ocupar os escritórios dando à filha de quem dividiam o
afeto a chance de morar sozinha na casa de um ou do outro.
As coberturas eram apartamentos grandes de quatro quartos,
três salas e um escritório com acesso independente. Após muita discussão, Antonia
conseguiu montar apartamentos de solteira tanto no escritório da casa do pai que
dava para o hall social da casa da mãe quanto vice-versa. Apesar de ter duas
camas, dois armários, dois banheiros, duas escovas de dente, dois shampoos, e
dois de tudo mais; seus pais ficavam mais conformados quando ela optava por um
dos estúdios já que o cômodo autônomo era praticamente separado do apartamento
de quatrocentos metros quadrados. Com a economia de chantagem emocional dos
pais, sua vida era mais tranquila.
Ia ter que parar na sua loja de artigos de ginástica favorita
na rua da Quitanda antes de pegar seu carro e ir para as aulas de fitas
suspensas e parkour. Talvez o shopping na rua Sete de Setembro. ‘Kat?’ Gritou
da sua sala.
‘Quê?’
‘Vamos no shopping depois das cinco?’
‘Sim!’
‘Também vou com vocês!’
‘Isso aqui não é feira livre! Vão trabalhar!’ Bernadete
gritou ainda mais alto que as filhas.
Ainda bem que a suíte de escritórios das Marisguia era
separada do restante da empresa de importação de artigos de luxo ou os quase
cem funcionários teriam participado da discussão em gritos entre as irmãs e a mãe
proprietária.
bestanimarions/beverages/coffee |
Que tal?
Promissor?
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