& Moira Bianchi: Dark romance

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Dark romance

Olá,
eu hoje descobri a roda. Acho.
Explico.
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eita, que tá quente aqui no Rio!... Nem te conto.
Jenn LeBlanc
Romances históricos focados em personagens principais negros.
Não escravos que se escondem no mato fugindo do dono, 
não amantes fazendo a vida heroica no quilombo, 
não o barão branco rico que se encanta pela escrava negra bonita, 
não a moça branca que cai de amores pelo bonitão de pele chocolate: 
o casal é negro e pelo que vi, quase nunca o romance gira em torno da senzala.

Me permita falar, logo de cara, que detesto essa estória de nós x eles; somos todos iguais, bicho. Aqui no Brasil, TODOS têm sangue negro nas veias. Eu sou um mix daqueles de dar gosto: avô paterno descendente de indígenas, avó materna branca, avó paterna de cabelo pixain, avô paterno branco. Sou cor de canela, qualquer solzinho fico preta, não sei sambar, faço escovinha no cabelo, adoro cachaça, mas não aguento com dobradinha. Sou tudo junto.
Digo isso porque acredito que tanto aqui quanto no EUA, a escravidão construiu uma nação miscigenada. Somos assim, tenho orgulho disso e não gosto quando ouço 'os africanos', 'afro-descendentes' porque entendo que exclui os outros tantos da nação.
Sei, papo longo e espinhoso que não cabe nesse post de romance boddice ripper.


Então vamos lá.
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aff que nesse verão tem dois sois aqui, viu? Nem sei de onde vem esse calorão que sinto...
Jenn LeBlanc
Descobri que existe, nos Estados Unidos, um mercado para romances de época negros. Pensei: olha, que novidade! Será que só eu nunca vi isso antes?

Fui pesquisar. O assunto muito me interessa, tenho escrito sobre a condição do negro nos EUA e Inglaterra na Era Vitoriana e essa É A MAIOR RAZÃO para me manter afastada de romances de época no Brasil Colônia, Reinados e 1ª República. Ela, a temida e odiada escravatura era a via de regra no mundo todo; um dos comércios de maior rentabilidade, cheio de meandros e detalhes, bolsa de valores e custos de perdas (oh, meu Deus) e etc. 
Mas, eu sei porque pesquisei MUITO MUITO MUITO que haviam as exceções à essa regra. Homens e mulheres de pele negra que furaram o bloqueio social e constuíram vidas produtivas nos mais diversos níveis: comerciantes classe média, aristocratas, milionários. Alguns? Cito. Todos gringos, tá?
- Antonio, the negro
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Anthony Johnson, angolano, é dito como o primeiro negro a cruzar a fronteira sul dos EUA, sec XVII. Conquistou a liberdade na colônia da Virgínia em  depois de cumprir seus anos de servitude em um regime usado pelos colonizadores Europeus para seus compatriotas. Ele se tornou um proprietário que possuía escravos legalmente. Mais tarde ele se tornou rico produtor de tabaco em Maryland e é referido como "o" patriarca negro "da primeira comunidade de donos de propriedades negras na América. Wiki
- Gustavus Vassa, the african

Olaudah Equiano conhecido como Gustavus Vassa, escritor e abolicionista da região Igbo (Nigéria hoje em dia) foi escravizado quando criança, levado para o Caribe e vendido várias vezes até que eventualmente ganhou a liberdade em 1766 por meio de negociações inteligentes e economias cuidadosas. Em Londres, lidando com sua vida difícil, atormentado por pensamentos suicidas, ele encontrou a paz na fé quando se tornou cristão protestante. Equiano (identificando-se como Peter Duley) fez parte dos Filhos da África, um grupo abolicionista composto de africanos que moravam na Grã-Bretanha, e atuou entre os líderes do movimento anti-escravo na década de 1780. Ele publicou sua autobiografia, A narrativa interessante da vida de Olaudah Equiano (1789), que retratava os horrores da escravidão.  Depois de se estabelecer em Londres, Equiano se casou com uma inglesa chamada Susannah Cullen em 1792 e eles tiveram duas filhas. Ele morreu em 1797 em Middlesex. A morte de Equiano foi reconhecida em jornais americanos e britânicos. Placas comemorativas de sua vida foram colocadas em prédios onde ele morava em Londres. 
Estudiosos sugerem que Equiano nasceu na Carolina do Sul e foi renomeado Gustavus Vassa por um comerciante britânico quando estava a caminho da Inglaterra. wiki Nem sempre as raízes de escravos são claras, os comerciantes faziam questão de apagar qualquer laço para desumanizar a 'peça'.
- Dido Belle
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Dido Elizabeth Belle nasceu como escrava filha natural de Maria Belle, uma mulher africana escravizada nas Índias Ocidentais Britânicas, e Sir John Lindsay, um oficial naval de carreira britânico que estava estacionado lá. Seus pai levaram Belle à Inglaterra em 1765, confiando-a aos seus tios Conde e Condessa de Mansfield que a educaram como uma dama livre em Kenwood House, sua propriedade, juntamente com outra sobrinha-neta, Lady Elizabeth Murray, cuja mãe havia morrido. Belle viveu lá por 30 anos e só em seu testamento, 1793 - 28 anos depois , Lord Mansfield confirmou sua liberdade juntamento com uma anuidade fazendo dela uma herdeira. Enquanto ela recebeu 500 libras + 100 libras anuais, a outra sobrinha branca recebeu cujo pai estava na linha de sucessão do título recebeu 10.000 libras. 
Belle se casou com o Francês John Davinier, um capataz de propriedade rural, e teve 3 filhos. wiki
Essa imagem dela, tão famosa, é parte do retrato das duas primas.
- Sara Bonetta
Sara Forbes Bonetta (15 September 1862) (cropped).jpg
Sara Forbes Bonetta, princesa egípcia Egbado do povo iorubá que ficou órfã na guerra intertribal, vendida como escrava e, em uma reviravolta notável, foi libertada da escravização por ter sido dada como presente para a Rainha da Inglaterra, Victoria, então jovem com 31 anos, Sara tinha 7 aninhos -era 1850 e o reinado completava 12 anos. A menina se tornou uma afilhada da rainha, batizada com o nome Bonetta por ser o navio que a levou para Inglaterra. A rainha ficou impressionada com a inteligência excepcional da jovem princesa, a quem ela chamou Sally, e ordenou que fosse criada como sua afilhada na classe média britânica. Em 1851, Sara desenvolveu uma tosse crônica, atribuída ao clima da Grã-Bretanha. Seus guardiões a enviaram para a escola na África em maio daquele ano, quando ela tinha 8 anos, e ela retornou para a Inglaterra em 1855 aos 12 anos. Ela casou com o Capitão James Pinson Labulo Davies, um rico filantropo vitoriano de Lagos e teve 3 filhos. Morreu na Ilha da Madeira. wiki

Dito isso, fica claro que houveram pessoas de sucesso apesar da crueldade socio-econômica da escravidão. E o que mais me impressionou nos romances históricos black, vou chamar assim, é que eles parecem focalizar nesses nichos.


gente engolida pela história
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Muito já foi escrito, muito bem e definitivamente, na Cabana do Pai Thomás, Escrava Isaura, etc. Então, esses bodice rippers mostrando outro lado da vida no século XIX é muito bacana, não acha?
Eu adorei!

Uma das autoras, Beverly Jenkins, diz que tem quem desconfie do valor histórico do que ela se baseia, por isso ela inclui notas bibliográficas - na série CUPIDOS EM DEVON tenho algo similar, já viu? Curiosidades & Explicações - e ela gosta de dar voz a quem ficou esquecido pela história.


Eu também!
Debutante da Florida, entre 1885 e 1910
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Por isso falo dos criados, das pessoas de classe média! Já me perguntaram assim: 'Mas isso vende?' Respondi: 'Isso dá mó tesão escrever! Para mim, está bom demais!'

Olha o que a Jenkins disse no site Shondaland: ''Quando a Avon comprou meu primeiro livro, e tinha dois personagens afro-americanos, não fazia sentido que eu os colocasse contra a maioria. Eu sabia que a história afro-americana neste país é muito ampla, havia base suficiente para construir uma história. ... Tendo trabalhado em bibliotecas a maior parte da minha vida adulta até aquele ponto, a pesquisa foi muito, muito fácil. ... Colocamos uma bibliografia nas costas [dos meus livros] para os que duvidam e para aqueles que queriam pesquisar um pouco mais sobre coisas como o Êxodo de 1879, que deu origem àquelas pequenas cidades nas planícies do Kansas e Nebraska e Iowa. E estou aprendendo também. Ainda estou aprendendo, ainda estou encontrando coisas que me fascinam. Eu ainda estou colocando as pessoas na frente que eu chamo de "anônimo" - aqueles que já tiveram lugares na história e fizeram a diferença, mas que agora foram esquecidos. Porque, você sabe, você os traz de volta à vida [quando você escreve sobre eles], e eles vivem novamente. Muitas pessoas não sabem sobre a história e as partes que as pessoas de cor desempenharam na formação deste país e na construção deste país. É um estudo fascinante daqueles que são o que eu chamo de "anônimo". '  Ela usou o termo unsung, ao pé da letra, 'não cantado'. Bacana, né?

Então, pelo que vi nos blurbs de seus muitos livros, os personagens são médicos, filhos de médicos, oficiais do exército, damas da sociedade, noivas por correspondências, proprietários rurais. Estão no nicho de pessoas que, no século XIX, desbravaram os EUA no limiar do fim da escravidão - pós Guerra da Secessão. 
Veja esses:


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shondaland
Captured: Capturada
linda escrava e corsário patife vivem paixão proibida em alto mar
Midnight: Meia-noite
bela espiã disfarçada - notória "Lady Midnight" ajuda rebeldes a lutar pela independência de uma nação em relação aos britânicos - com um aventureiro imprudente e arrojado em uma missão de vingança pessoal.
Wild Sweet Love: Selvagem doce Amor
Teresa teve vida difícil, mas agora ela tem a chance com um novo emprego como cozinheira para uma das famílias de elite da Filadélfia apesar do filho do patrão: lindo e nariz em pé. Madison está cansado de ver sua mãe comprar suas pretendentes, por isso ficar de olho em Teresa. Mas quando alguém do passado dele  ameaça o futuro dela, os dois amantes relutantes devem unir forças.

Gostou tanto quanto eu? Tem muitas outras autoras... Mulheres, é...


Bora começar o ano com leitura nova?

Pourquoi, pas?
Marie S Williams, primeira estrela soprano negra a se apresentar na Casa Branca em 1878.
upworthy

update: este ano, 2019, teremos um 'Orgulho e Preconceito' negro! Bacana ou bacana?
bj

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